segunda-feira, 20 de novembro de 2023

"Angelis". Exposição de pintura de Maria De Fátima Silva, com texto meu, na galeria municipal da Ericeira. Imagens da inauguração.

                               Dos Anjos nos dias de hoje....
Quem contemplar com olhos curiosos, indagadores, as pinturas de Maria De Fátima Silva não pode deixar de reconhecer a sua destreza artística em chamar e harmonizar nas telas tão criativa e admiravelmente a pluridimensionalidade e interelacionalidade dos elementos e seres da vasta Natureza, que se alonga desde o reino mineral e animal até ao angélico e ao divino.
   Face à crescente artificialidade e materialismo do transhumanismo-infrahumanismo que vai tentando reger opressivamente as almas humanas, negando-lhe as suas raízes naturais e espirituais, são muito
importantes os criadores que evocam nas suas obras tais seres e forças subtis e espirituais, como é o caso de Maria De Fátima Silva que, na sua carreira ou senda, vai prosseguindo no desbravamento das brumas misteriosas do passado, do presente e do futuro e perseverando na aproximação e desvendação da riqueza pluridimensional do ser humano e do angélico.
   Embora já nas suas exposições, Mitos e Lendas (2008, 2009), Atlantis (2012, 2014, 2015, 2016) e Inês e Pedro (2016, 2018, 2019), o Anjo surgisse ocasionalmente, foi a partir da sua recente residência artística em 2020 durante dois meses em revisitação trisemanal da igreja de Fandega da Fé, em Safaruxo, Encarnação, próxima da sua casa e a 14 km da Ericeira, e onde houve outrora uma evocação e irmandade de S. Miguel e as Almas, que ela se dedicou mais artistica e animicanente aos Anjos e à sua presença na história de Portugal e seus monumentos e na nossa vida, locais de trabalho, questões de saúde, família, educação, práticas de yoga, comunhão com a Natureza, peregrinações, amores, etc. E em 2021, no Porto, realizou  uma primeira exposição sob o tema Angelis, e com os primeiros trabalhos.
    Embora a generalidade dos portugueses ao longo dos séculos tenha acreditado na existência dos Anjos, poucos os têm conseguido ver na sua visão espiritual pelo que a necessidade de pinturas e gravuras sempre foi sentida e deu origem a muitas obras belas ou inspiradoras, sobretudo desde o século XVI, nomeadamente em esculturas, pinturas e gravuras dos Anjos na vida de Jesus, do Arcanjo de Portugal, dos Arcanjos S. Miguel, Gabriel e Rafael, e ainda do Anjo da Guarda, devoção esta acelerada após o Concílio de Trento, no movimento de Contra Reforma, já que a Reforma protestante abolira a reverência ou culto dos Anjos, de Nossa Senhora, dos santos e santas, e em especial da suas belas imagens, por se tornarem ídolos, algo que o mais destacado dos Humanistas na Europa no começo do séc. XVI, Erasmo, embora crítico das superstições, lamentou quando consequentemente foram queimadas pelos protestantes dezenas e dezenas delas em 1529 em Basileia, além de se proibir a missa, forçando-o a trocar tal cidade pela católica Friburgo.
Foram pois os católicos que conservaram tal culto icónico intercessório através de pinturas, gravuras, ou dos registos emoldurados artisticamente nas paredes ou oratórios das casas, mas
será já só no século XIX que a posse individual de imagens, ditas santinhos, com os Anjos se vai democratizar extraordinariamente e
assim muitas das crianças para a 1ª comunhão recebiam santinhos, com a representação de Jesus, a Eucaristia, o Anjo da Guarda, aprendendo ainda desde tenra idade, e assim se tornando uma de cor,
ou de coração, sempre pronta a brotar em nós, a oração típica em quadra popular, com variantes: "Anjo da Guarda, minha doce companhia, guardai (ou inspirai) a minha alma de noite e de dia".
Nos nossos tempos de muito maior número de imagens acessíveis, infinitas mesmo pelos meios digitais, e numa época em que a Humanidade na sua evolução cada vez mais pode compreender, se não se distrair e alienar, a interioridade, imensidade e pluridimensionalidade do universo e dos seres, é importante realçar
que os Anjos não foram desmistificados ou mortos (tal como queriam e querem em relação à divindade) pelos positivismos, materialismos, cepticismos, post-modernismos e novas ideologias transhumanistas-infrahumanistas, mas continuam a inspirar, motivar ou impulsionar nas pessoas uma busca, uma aspiração, uma devoção, uma comunhão amorosa que justificam o aparecimento de tantos testemunho,  livros obras e de arte que deles se tentam mais acercar, intuir, conhecer, recriar, evocar, para melhorarmos as nossas vidas, intuições e religações à Divindade.
                                     
Maria de Fátima Silva, preparada pelas suas investigações no mundo da arqueologia e da história da arte, pela sua proximidade e peregrinação de locais sagrados ou angelizados, pela sua espiritualidade interior, pelo seu incessante e quase omnipresente amor a Inês e de Pedro e pelos seus dotes artísticos seria naturalmente levada a sondar e alargar os mistérios do relacionamento dos espíritos celestiais com os humanos através da sua criatividade e assim oferece-nos esta série de visões e recriações dos Anjos na história, no amor, no dia a dia humano, proporcionando aos que os admirarem alguns eflúvios da sua elevada ou alada essência, bem como da subtil dimensão em que vivem e em que nos envolvem ou mesmo transfiguram, já que todos estamos entretecidos no infinito campo de consciência, energia e informação cósmica, e todos temos, nos corpos, almas e espíritos de luz e amor e que assim se podem transfigurar, angelizar...
                                       
Ao não se deixar prender nos modelos correntes das representações e
tipificações dos Anjos, e antes manifestar uma tão criativa diversidade de perspectivas e aproximações aos Anjos e Arcanjos e às pessoas, símbolos, seres e monumentos a que ela os vê associados ou criativamente interelaciona em formas e cores tão belas, resulta um vasto horizonte de potenciais reacções, percepções, leituras e hermenêuticas das suas pinturas e consequentemente uma intensificação da presença angélica e da beleza divina pelos sentidos
nas nossas mentes-almas e logo uma expansão de consciência dos Anjos e da nossa natureza angélica e divina, a qual pode então ser mais sentida permeando e penetrando os corpos, as pedras, as aves, os burricos, o espaço, a história, a humanidade em diálogos infinitos...
   Este alargamento consciencial é obtido pela Fátima na sua arte sem ter de estudar e seguir doutrinas ou dogmas sobre o mundo angélico,
embora seja conhecedora dos textos sagrados ou históricos em que entram, mas apenas sentindo ou discernindo nos locais, nas pessoas e
nos acontecimentos a presença subtil ou possível deles e intuindo as
representações ou materializações plasmáveis, que depois vêm fixar-se impressivamente nas telas graças à sua boa destreza manual e excelente domínio das cores, sombras, formas, texturas, estruturas,
planos, movimentos, perspectivas.
   Maria da Fátima da Silva oferece-nos então nesta exposição Angelis, Para os Anjos, à contemplação dezassete ícones grandes e quatorze pequenos invocadores e evocadores dos Anjos e Arcanjos, e da dimensão angélica humana e do Amor, apresentando-os sob diferentes identidades, ângulos, regiões, dimensões, uniões e momentos históricos, e cada um de nós que os admirar, apenas na exposição, no blogue ou ao adquirir algum, para quando quiser nele se poder harmonizar ou inspirar, participa com ela nesta dinâmica humanista e espiritual da Humanidade que não quer ser reduzida a uma dimensão animal e quantitativa e opta com o seu livre arbítrio por cultivar os elos intermediários da ligação com o mundo espiritual e com o mistério supremo e íntimo da Divindade que são tanto os Anjos e Arcanjos, como os santos e santas e as grandes e humildes almas.
  E que na Ericeira e em Portugal sempre houve e sempre foram acolhidos com amor e que agora graças à Fátima são reactualizados com o grande dinamismo e profundidade, alegria e impacto com que ela os consegue assimilar e transmitir humanamente, e na actualidade do aqui e agora mais luminoso e transparente, poderoso e pacificado, unificado e universalizado....
                                             Pax Angelis!
       Imagens da inauguração, a18-XI-2023. A exposição na Galeria Municipal Orlando Morais e casa da Cultura Jaime Lobo e Silva encerra a 10-XII.
O Presidente da Câmara Municipal de Mafra, Hélder de Sousa Silva (e que homenageou o seu homónimo galerista Hélio Alfaiate, recentemente falecido)  e o vereador do Turismo, Pedro de Carmo Silva, vieram acalentar a Cultura, já que acreditam que é por ela que avançamos, que melhoramos...
Margarida Marcelino, com a sua autêntica lira grega, a pedido do presidente da Câmara, tocou para toda a gente em silêncio uma música que angelizou ainda mais as almas por momentos....

Uma instalação feita pelo Nuno e o Simão, marido e filho da Fátima.
Saudemos e demos graças, com muito amor, aos Anjos e Arcanjos, em especial aos nossos!

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