Para celebrarmos o 147º aniversário do nascimento do notável mestre alemão Bô Yin Râ resolvemos traduzir do francês para português, este tão valioso texto escrito em 1925 em alemão por Bô Yin Râ e oferecido a Oswald Wirth, que o traduziu em francês e o publicou em 1926 na revista mensal que dirigia Le Symbolisme organe d'Initiation a la Philosophie du grand Art de la Construction Universelle, com treze linhas de apresentação e duas pequenas notas, com pouca importância e que não transcrevemos.
O texto de Bô Yin Râ é bem valioso sobre a essência da realização espiritual e que a Maçonaria Mística que surgiu nos primórdios civilizacionais saberia e transmitiria, ao ensinar a construir templos e edifícios exteriores e simultaneamente o templo espiritual interior, . As pedras vivas, a pedra de fundação são expressões da mesma linguagem e tradição no Cristianismo, que perpassara também nos mistérios egípcios e greco-romanos, e em vários dos seus livros Bô Yin Râ utilizará esta linguagem simbólica, com alguns dos seus quadros dando-nos perspectivas visuais dos templos internos ou espirituais de que os terrenos são aproximações.
O texto é tão bom, toca nos aspectos mais importantes da realização espiritual e religação íntima divina, que dispensa, pelo menos por agora comentários, embora deva surpreender os mais conhecedores da obra publicada de Bô Yin Râ pois desconhecerão este texto, do qual provavelmente o original em alemão se perdeu ou eventualmente se encontra inédito. Oiçamos então o profundo e tão elevado ensinamento deste notável mestre.Os sistemas em prática reduzem-se a duas categorias, segundo a sua tendência seja esotérica ou exotérica.
O Ir: Henry Gray mostra-nos na [revista] Acacia, como ela se desenvolveu sob a influência das tradições dos Companheiros Artesões [des traditions compagnonniques]. Que nos seja permitido aqui chamar a atenção do leitor para uma evolução mais misteriosa, que não foi suficientemente tida em conta.
No decorrer de uma longa série de milénios, o ser humano concebeu inúmeras formas de culto divino. Dependendo da representação que se conseguiu fazer da Divindade, alcançaram-se inúmeras possibilidades de expressão, desde as manifestações mais grosseiras até se atingir a mais alta espiritualidade.
Os modos superiores de semelhantes cultos são susceptíveis de fecundar o sentimento religioso, dando o impulso germinante a aspirações muito nobres, inspiradoras de símbolos expressivos de concepções refinadas.
Pode resultar para o ser humano uma estimulação poderosa impulsionando-o a descobrir o mundo espiritual, mas o seu avanço só é proveitoso à sua própria alma, pelo que não há serviço divino, no sentido rigoroso da palavra.
Que o ser humano peça aos cultos exteriores para contribuírem à sua elevação espiritual e que a acção do culto seja para a sua alma uma fonte de emoção salutar. Mas nem por isso deixará de ser certo que ele só pode unir-se a Deus devotando-se sem reserva à realização das intenções divinas.
As aspirações espirituais saudáveis do ser humano nesta Terra tendem, em última análise, à manutenção da individualidade em plena consciência por toda a eternidade, para além da dissolução do corpo e sem ser afetada por essa dissolução. Ora, como realizar esta imortalidade, senão pondo todas as forças em concordância com a centelha divina eterna: o núcleo de cristalização coordenador de tudo o que é consciente.
O que é essencial é que
não nos abandonemos à direção do intelecto, quando, à luz pálida
da nossa aurora intuitiva, enveredamos na via das explorações que
nos devem conduzir à descoberta do núcleo vital que nos é comum a
todos, tal como temos em comum o mesmo domicílio ultra-íntimo, uma
mesma maravilha para sempre inconcebível, uma mesma "joia
central da flor de lótus".
O intelecto é um excelente
explorador, hábil a apanhar os traços susceptíveis de levar ao
discernimento das coisas, cuja última manifestação se efectua
através do mundo físico dos sentidos. Neste domínio, o intelecto
merece toda a nossa confiança e devemos favorecer o seu pleno
desenvolvimento, pois também ele é de essência divina e, desde que
não ultrapasse as suas atribuições, a sua ação é benéfica.
Para chegar a Deus, não
procuremos exteriormente, nem mesmo nesse exterior que tantos
investigadores consideram como "interior", simplesmente
porque não lhes é revelado por nenhum dos seus sentidos! A mente
humana eternizar-se-ia em vão a procurar de Deus nas mais elevadas
regiões espirituais; jamais a Divindade será encontrada aí, pois
só se manifesta dentro de entidades espirituais: a divindade nunca
será encontrada aí, pois só se manifesta no seio de entidades
espirituais que são da sua própria natureza. Não procuremos
representar-nos Deus isolado, como uma personagem existente por si
mesma, confinada nas regiões espirituais mais sublimes; dele se dirá, como
da força da natureza, que é acção até ao mais minúsculo átomo do
universo físico, mas que se oculta a qualquer percepção
direta.
Cabe a nós descobrir Deus em nós próprios, onde ele
vive a sua vida eternamente criadora. Esta descoberta expõe-se a um
erro de extrema gravidade, pois pode levar-nos a erigir-nos em ídolos
aos nossos próprios olhos. É portanto prudente confiarmos nestes
assuntos à orientação daqueles que já participam na consciência
divina, cujas forças estão postas ao serviço de Deus e que vivem
em união com o tipo primordial criador.
É a estes eleitos que operam sobre a humanidade desde as eras mais recusadas que a Maçonaria deve as suas origens, pois, por intermediário da Arte,
eles transmitiram ao homem ainda animal, o anúncio de um reino
espiritual.
Sob a sua inspiração, o homem começou a construir.
A construção do templo exterior fê-lo aprender a erigir um
santuário no seu interior. Ao talhar a pedra para o edifício
material, foi levado a trabalhar simbolicamente sobre si próprio, a
fim de se adaptar ao Templo espiritual a que aspira tornar-se uma
pedra viva.
Esta Maçonaria primitiva desenvolveu-se e manteve-se
até ao Renascimento, época que determinou em declínio.
Num artigo intitulado Le
Temple ensevelli, O Templo enterrado, propomo-nos explicar o que
foi esta Maçonaria primitiva e como ela se constituiu.»
Bô Yin Râ.
Dado em português à luz no dia de aniversário de Bô Yin Râ, de 2023. Que ele nos possa inspirar luminosa e divinamente!
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