domingo, 23 de agosto de 2020

Aurora madrugante (6ª p.): Leonardo Coimbra por Sant'Anna Dionísio. O génio pitagórico-platónico, o cientismo, o Logos. e a

Esta sexta parte da leitura comentada que fiz da obra Leonardo Coimbra. Pensamento e drama, escrita em 1983 por José Sant'Anna Dionísio, corresponde ao V capítulo, Se os cumes da ciência são ou não são acessíveis ao homem comum, e nele vemos Sant'Anna sondar algumas das justificações doo ensino acroático ou acroamático, isto é, silencioso, para ser ouvido, em "certas escolas helénicas": «O ter existido entre os Gregos, a par do ensino relativamente acessível, um ensino para raros apenas; ou seja: para alguns iniciados somente, prova bem que os antigos compreendiam talvez um pouco melhor do que nós, modernos, esta verdade didáctica tão simples: a de que a transmissão do saber de último grau tem de ter, pela atmosfera e pelo silêncio, algo de sacro. / Na verdade, o conhecimento essencial jamais poderá ser atingido pela visão indolente e passiva do senso comum./ Daí a justificada e discreta advertência que, um dia entre nós, há mais de meio século, um espírito esclarecedor e eloquente, (Leonardo), num curso de extensão universitária livre, perante um público silencioso de pescadores, proferiu: "Só há um processo de vulgarizar o pensamento das altitudes: é subir o vulgo à altura do homem."»

Menciona depois como a filosofia ocidental acabou por preferir a discursividade ou silogística aristotélica em vez da dialéctica pitagórica-platónica, caindo depois na escolástica medieval e modernamente fazendo que a Ciência livre «converte-se num cientismo, que vulgarizável, é motivo essencial  de toda a falta de grandeza, de dignidade, de nobreza espiritual do homem moderno».

Estas palavra são cada vez mais actuais no séc. XXI e em especial com a crise do Covid e o fracasso de uma verdadeira e credível Ciência se ter pronunciado em relação a ele, nos seus mais diversos aspectos, tal sendo bem visível nas lutas entre médicos e cientistas e as políticas e medidas contraditórias  da maioria dos governantes. Resta a cada um de nós de fazer a sua síntese, fortificando o seu sistema imunitário e estando atento e intuitivo e não sujeito à manipulação televisiva e dos media, completamente vendidos a quem lhes paga.

Transcreve Sant'Anna Dionísio alguns apontamentos inéditos que o seu antigo aluno e filho de Leonardo Coimbra, o médico Leonardo Augusto, lhe passara, no qual o génio de Amarante valorizava o espírito humano (não mera coordenação neuronal, como querem António Damásio e outros) e apelava ao aprofundamento de um conhecimento verdadeiramente unitivo: «A Ciência feita pode parecer uma obra de acção da Natureza sobre o espírito, deixando aparecer este como um simples epifenómeno da fenomenologia universal; a ciência em acção (como o revela a criação histórica) é claramente uma obra da liberdade espiritual do homem, indo com as suas invenções (hipóteses) do seu pensamento ao encontro do pensamento implícito nos fenómenos, encontro do logos participado [cada espírito na sua dimensão criativa de amor e sabedoria] com o Logos criador [A divindade ou o Espírito Divino Primordial e substante].»

Dizia ainda mestre Leonardo Coimbra, que certamente seria hoje uma voz insuperável em Portugal, «A verdadeira cultura do espírito é essa consciência de si mesmo, reencontrando-se unificada numa teoria da Ciência, completando-se na arte e na moral, convivendo em integral dependência e universal solidariedade de religião/ Só uma consciência perfeitamente esclarecida do valor e dos limites da Ciência, pode por um lado, acabar com um tecnicismo que ameaça a vida moderna e, por outro lado, com um exclusivismo cientista que promete limitar o destino do homem à mediocridade dum conquistador do Universo físico», algo tão visível nos nossos dias na conquista do espaço e a disseminação de todas as últimas invenções tecnológicas sem se olhar a consequências para a humanidade e o planeta...

                              

No seguimento do seu texto Sant'Anna considerará Leonardo Coimbra como o pensador (e citará vários nomes) que mais dominou  a epistemologia e a unificação das ciências, dominando e valorizando a matemática, que atinge a realidade em plena intimidade e substância», e considerando a ciência como «a mais bela demonstração da substancial realidade do Inteligível».

Realçará ainda de Leonardo Coimbra a noção de Ciência como um "corpo anímico (involutivo e vital) de noções", numa linha pitagórico-platónica, explicitando a sua visão da escala ascensional: «Da noção ao conceito, do conceito à intuição, da intuição à reminiscência, da reminiscência à ideia ou arquétipo, vai um caminho levitante que Leonardo considerava a grande via, ao mesmo tempo reveladora e dialéctica, do conhecimento essencial».

Pela expressão "reveladora" penso que Sant'Anna e Leonardo se referem à meditação e à visão interior possível, essa que facto consubstancia a intuição, a reminiscência e a contemplação das ideias, arquétipos, formas geométricas ou ordem do Universo. Certamente que poderemos ver esta escala de outros modos e eu não poria a reminiscência no mesmo nível do deles... 

E já transcrevemos bastante do belo texto de Sant'Anna (com quem tanto dialoguei no Porto)  e de Leonardo, que encontrará com diferente comentário no interior da gravação, que termina abruptamente pela falta da bateria, mas já quando lia a nota de rodapé final em que Sant'Anna Dionísio concluía que Leonardo fora um génio não acolhido na época, sobretudo pelo meio universitário mais formal ou mesmo invejoso, mesquinho...Pax. Lux. Criatividade.

Oiçamos no link:  https://youtu.be/QqFuf1ytBSc

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Vida e Ensinamentos de Sri Ramakrishna, por Mahendranath Gupta. Breve biografia e o seu encontro com Tota Puri.

Shri Ramakrishna foi um dos  grandes yogis dos últimos tempos, com uma realização espiritual e divina muito elevada, constantemente agraciada com estados iluminados e de partilha da sua realização. Viveu entre 18-II-1836 e 16-VIII-1886, desde muito novo entrando em estados de unidade espiritual com o ambiente, e acabou por se estabelecer em 1855 em Calcutó onde foi sacerdote de um pequeno templo (mandir) da deusa Kali, em Dakshinewar, tendo-se casado com a muito jovem Sarada Devi, por pressão da família preocupada com o seu excessivo misticismo. 

O seu dia a dia durante muitos anos de ensinamentos, satsangas, diálogos, estados iluminativos, amizades foi maravilhosamente registado por sri Mahendranath Gupta (na imagem,1854-1932), embora só dez anos depois da morte de Ramakrishna, em 1897, tenho saído a sua 1ª publicação, em bengali, Sri Sri Ramakrishna kathaamrita, As palavras de Néctar de Ramakrishna. E em 1907 sai a obra traduzida para inglês por ele, com uma edição  revista em 1921, sob o título The Life and teachings of Ramakrishna e que veio a ser conhecida como a Gospel of Ramakrishna. Posteriormente houve a tradução do bengali por Swami Nikhilananda, a qual se tornou a oficial, embora tenha sofrido provavelmente  alterações. No Ocidente, Max Muller e Romain Rolland foram dos principais divulgadores e no Brasil houve uma tradução pioneira, sob o título o Evangelho de Ramakrishna, não completa mas razoável, que já nos meus 18 anos me impressionou luminosamente.
Em 1995-96 estive um ano na Índia, dos quais seis meses em Calcutá, no Ramakrishna Mission Institute of Culture, em Gol Park, convivendo com alguns investigadores e a traduzir partes da vida de Ramakrishna e textos da espiritualidade indiana com o professor de sânscrito Satchitananda Dhar, tais como os Narada Bhakti sutras, algumas Upanishads e os Yoga Sutras, deste tendo fornecido um dos manuscritos da tradução possível, à Maria Ferreira da Silva, que esteve também um mês no Instituto, e o publicou comentado nas Publicações Maitreya, estando já hoje em 3ª edição.
Tendo traduzido manualmente numerosas páginas, eis-me a começar a partilhar alguns extractos significativos, até para pagar uma certa dívida da hospitalidade e o simpático acolhimento do swami que dirigia o Instituto de Cultura, no qual proferi uma conferência sobre as relações espirituais entre a Índia e Portugal, bem como a grande paciência e disponibilidade de Satchitananda Dhar em relação aos meus desejos de tradução imediata dos textos a partir do meu questionamento dos melhores termos a serem empregues. Por fim, devo agradecer ter sido iniciado nos últimos dias na tradição de Ramakrishna pelo então ainda apenas vice-presidente Ranganathananda (1908-2005), em cerimónia para pequeno grupo e com bons resultados.
Eis então o 1º fragmento, passado em 1865, e referente ao encontro e ensinamentos do mítico naga yogi, Tota Puri:
«Peregrinando em direcção ao templo de Jaganath, em Puri, o yogi vedântico Tota Puri ficou encantado ao ver um jovem de face muito luminosa junto ao templo de Dakshinewar e perguntou-lhe, já que parecia apto, se estava interessado em aprender o caminho da realização directa da Vedanta. Este respondeu que iria perguntar à Mãe e dirigiu-se à imagem da deusa Kali no templo e recebeu dela a instrução de aprender com o yogi que para isso mesmo ali viera.
Combinaram então fazer a iniciação às escondidas, pois Ramakrisna era um brahmane e teria de ficar nu, sem o fio sagrado e cortar o tufo do cabelo. Durante alguns dias Tota Puri transmitiu os ensinamentos preliminares do Advaita Vedanta, ou do Vedanta não-dual, pensando que Ramakrishna cedo abandonaria a sua devoção emocional à Mãe Divina.
No dia e hora propícia ao findar da noite, Tota Puri e Ramakrishna encontraram-se dentro do bosque sagrado onde aquele estava e iniciaram os ritos e mantras preliminares, tais como:
«Possa a verdade do Supremo Brahman (Ser, Divindade) penetrar-me. Possa a Realidade suprema que tem a característica de suprema felicidade (Ananda) atingir-me. Possa a indivisível, homogénea e doce realidade de Brahman manifestar-se em mim.
Ó Supremo Eu, que és eternamente coexistente com o teu poder de revelar a consciência de Brahman a todos os teus, - devas (anjos), seres humanos e outros -, eu, teu filho e servidor, sou um objecto especial da tua compaixão. Destrói todos os meus sonhos negativos, as percepções da dualidade, ó grande Senhor, destruidor do sonho ilusório dos mundos.
Ó supremo Eu, eu ofereço-te as minhas forças vitais como oblação e controlando os meus sentidos, eu ponho a minha mente em ti.
Ó Ser efulgente, que diriges cada ser, remove de mim todas as manchas negativas que são obstáculo ao conhecimento correcto e permite que o conhecimento da Realidade, livre de absurdos e oposições, possa desabrochar em mim.
Possam todas as coisas do mundo - o sol, o ar, a brisa, a água pura dos rios, os cereais como o trigo e o centeio, as árvores -, coordenadas por Ti, iluminarem-me e ajudarem-me a atingir o conhecimento da Verdade (Sat).
Tu estás manifestado no mundo, ó Brahman, sob várias formas, de poder especial. Eu ofereço oblação a Ti, que és o Fogo, com o objectivo de atingir a pureza do corpo e da mente e a capacidade de manter o conhecimento (Jnana). Sê propício».
Depois de oferecer em sacrifício o tufo de cabelo, o fio sagrado e de ter recebido a veste ocre alaranjada de renunciante ou sannyasin, Ramakrishna sentou-se ao lado de Tota Puri para receber o seu ensinamento e ouvir as escrituras adequadas a levarem-no do seu estado de dualidade divina ao estado da transcendente Unidade. Para isso devia abandonar nome e forma (nama rupa), toda e qualquer imagem e mergulhar nas profundezas de si próprio até encontrar o Atman, o espírito.
O pior é que quando Ramakrishna tentava cessar o fluxo mental e ultrapassar a dualidade, a imagem da Mãe Divina surgia e embora tudo o mais desaparecesse, ele ficava nesse estado contemplativo ligado a Ela e não consegui passar dali. Desesperado, Ramakrishna, a certa altura, exclama: «É impossível de se realizar. Não consigo libertar a mente do seu funcionamento normal e forçá-la a mergulhar no Atman, no Eu espiritual.»
Ralhando comigo severamente, o sannyasin naga (renunciante serpente) exclamou indignado: «O quê, não consegues? Mas tens de o fazer!» Olhou então à volta na cabana e encontrou um pedaço de vidro, pegou nele e com força perfurou com a sua ponta aguçada como uma agulha a zona da testa entre as sobrancelhas e disse: - Reúne, concentra a tua mente neste ponto. Sentei-me então para meditar de novo firmemente determinado e logo que a forma da Mãe Divina apareceu diante de mim, assumindo o conhecimento como uma espada e eu cortei-a mentalmente em duas. Então mais nenhuma função da mente subsistiu, e eu transcendi rapidamente o domínio dos nomes e das formas (nama rupa) e entrei em samadhi."
Tota Puri, sossegado por fim, sentou-se ao lado de Ramakrishna e elevou-se também à Unidade do Espírito. Depois retirou-se silenciosamente da cabana e sentou-se debaixo da grande árvore do Panchavati a aguardar serenamente que o Ramakrishna o chamasse. Três dias assim decorreram até Tota Puri decidir espreitá-lo e deparar-se com ele tendo o corpo completamente imóvel mas a cara radiosa e continuando num estado iluminado. Tota Puri estava muito admirado com o poder divino que fazia com que aquele homem em poucos dias chegasse ao nível que ele conseguira após 40 anos de esforços. Por fim, com os nomes sagrados de Hari Om, despertou-o...
                                                     
Escultura actual de Tota Puri no seu mahasamadhi, o local de desencarnação, no Advaita Brahma Ashram, de Puri.

Tota Puri permaneceu ainda onze meses com Ramakrishna mas como habitualmente não ficava mais do que três dias em cada sítio, a certa altura o tempo em que ali estava já era longo. Mas como gostava muito de Ramakrishna e como ambos estavam no mesmo nível elevado de realização foi permanecendo. Entretanto a sua saúde que era de ferro ou por causa do clima ou por causa das águas começou a enfraquecer e a disenteria tomou conta do seu corpo. Resolvera partir, mas sempre que se encontrava com Ramakrishna para se despedir as conversas e o alto nível a que chegavam impediam-no de concretizar a decisão. Em determinado momento a doença começou a tornar-se tão pronunciada que Ramakrishna tentou curá-lo mas os seus esforços foram em vão.  E se ao princípio Tota Puri conseguia apesar das dores elevar-se ao plano da transcendência, a dado momento as dores tornaram-se tão fortes que a sua mente mal acabava de tocar no plano do silêncio era obrigado a descer e a apegar-se na zona dolorosa.
Uma noite Tota Puri desesperado com a situação, considerando inútil continuar naquela gaiola de ossos e carne que não lhe permitia estar em samadhi, ou estado unificado, resolveu atirar-se ou afogar-se no rio Ganges. E ei-lo a caminhar  pela margem e avançando até chegar a uma zona com profundidade suficiente. Mas em vão continuava a avançar e apenas a chapinhar até que subitamente se apercebeu que as luzes da outra margem  já estavam próximas. Então repentinamente de todos os cantos do rio e do Universo a realidade da Mãe Divina emergiu triunfante e ele só ouvia dizer: «Ma, Ma, Mãe, Mãe».

                                         

A luz fazia-se nele. Afinal Ramakrishna tinha razão. Brahman, o Absoluto, não-dual, ou sem dualidade era também a Mãe Divina, Kali, o poder (shakti) da manifestação e eram eles que lhe salvavam a vida e o introduziam num novo tipo de samadhi, mais pleno e feliz. Regressando à cabana meditou finalmente livre da opressão conceptual e compreendeu que estava curado. Ramakrisna quando o foi procurar sossegou e a lição última de Tota Puri em Dakshineswar tinha-se realizado: o seu encontro com a Mãe Divina, a Shakti. Após alguns dias despediram-se e ele partiu...» Digambara, digambara, isto é, vestido apenas pelo céu...

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

O prefácio aos "Sonetos" de Antero de Quental por José Manuel dos Santos. Uma crítica.

Um prefácio aos Sonetos de Antero de Quental é, sobretudo para os anterianos, sempre interessante ou mesmo valioso. Publicado numa edição popular ou gratuita do jornal Expresso, 2017, da autoria de José Manuel dos Santos, contém 22 parágrafos e todos eles são certamente notáveis, revelando a cultura, inteligência e sensibilidade do autor, mas com várias interpretações ou afirmações discutíveis. Neste meu dia de anos nada como o ler e comentar brevemente aspectos que me parecem de realçar, e só dos dois primeiros parágrafos, ficando o resto, com as suas partes valiosas, para uma próxima oportunidade. Quanto à escolha da capa parece-me má, como que empalhando, ou dependurando num cabide, Antero, mas pode ser apenas impressão ou interpretação minha... 
No 1º parágrafo diz e belamente que quem  lê os Sonetos «ouve uma voz que o silêncio atacou, mas não conseguiu possuir», restando-nos lembrar que a 1ª edição de 1886 teve pouco sucesso, embora uma 2ª edição logo de 1890, com numerosos sonetos traduzidos, sinalizasse que a obra era valiosa e não passara desapercebida e sem escola. A 3ª edição surgirá apenas nos anos 20, e  depois virão a comentada e reordenada por António Sérgio, em 1956, e a dos Clássicos Sá da Costa, que levarão Antero ao grande público ainda mais. No séc. XXI mais frequente ainda será a sua entrada nos prelos, pois tornou-se leitura obrigatória escolar. 
Uma obra fora do sistema, da religião, do optimismo superficial e não questionador, dramática, interpelando a morte, a solidão, os conflitos, as ansiedades, as limitações humanas, o sentido da vida, pela genialidade com que fora vivida e escrita, e pelo selo algo imortalizante do suicídio, não poderia ser abafada pela mortalha do silêncio limitador e censurador...
No 2º parágrafo lemos esta bela mitificação: «Na nossa mitologia cultural, os Sonetos ocupam o lugar do morto. Neles, a vida que quer morrer persegue a morte que quer viver. É desse lugar de onde a morte já não foge que a vida se vê. O soneto Solemnia Verba é dessa fatal visão, o vértice. E é também o vestígio velado numa vertigem do vazio». Ora se a primeira parte é valiosa, admitindo-se até que Antero vivo perseguia a morte que ele queria viver, e que os Sonetos ocupem o "lugar do morto" na nossa poesia, a conclusão parece-me bem errada, pois o Solemnia Verba é um dos sonetos com mais luz e fora de uma visão fatal de vertigem do vazio, que se foi cultivada por Antero em vários sonetos dentro das tendências da época, sabemos também que a ela reagiu fortemente, afirmando várias vezes que só alguns dos sonetos correspondiam à melhor poesia que ele gostaria de fazer, a do futuro, que congraçava ciência, filosofia e espiritualidade, nos quais incluía o Solemnia Verba.
Ora envolver tal soneto na roupagem costumeira do vazio, da fatal vertigem parece continuar a tentar-se passar a imagem de um Antero de Quental perdido seja no inconsciente, no vazio ou na atracção da morte, algo que tem sido aliás defendido por vários ensaístas de valor.
Ora no Solemnia Verba Antero entra em diálogo meditativo com a sua voz interioru do coração ou do espírito e, lamentando-se sofridamente das negatividades, desilusões, angústias e dores do mundo, que todos nós conhecemos, e mais ainda hoje no séc. XXI em que a ética e a justiça mais desapareceram,  ouve-o responder-lhe de modo admirável no penúltimo terceto que é de uma riqueza que não se compadece com morte,  vazio ou vértice fatal de vertigem ou morte. 
Pelo contrário devemos destacar  a filosofia moral e a iniciação, de um coração, ou alma, tornada corajoso, através das lutas e sofrimentos, no caminho estreito mas que leva ao alto,  do penar ou sofrer purificador que torna a pessoa mais humilde e grata e a abre ao acreditar, à fé, ao Divino, à imortalidade, ao sentido da Vida.  
O terceto final é então magnífico e representa um dos momentos mais luminosos de afirmação do triunfo do amor e só por insensibilidade ou preconceito se negará tal.
Oiçamos então neste soneto dos seus últimos, escrito em 1884, na "década dourada" de Vila de Conde,  o diálogo travado por Antero de Quental com a sua Voz da Consciência, por ele tantas vezes enaltecida na sua valiosa epistolografia (nomeadamente nas cartas ao seu grande amigo da Índia Fernando Leal) e à qual ele denomina aqui Coração, e que tantas e importantes avatarizações terá para terminar até Na mão de Deus no soneto final  da sua obra, liberto: 

         Solemnia Verba

«Disse ao meu coração: «Olha por quantos
Caminhos vãos andámos! Considera
Agora, desta altura fria e austera,
Os ermos que regaram nossos prantos...

Pó e cinzas, onde houve flor e encantos!
E noite, onde foi luz de Primavera!
Olha a teus pés o Mundo e desespera,
Semeador de sombras e quebrantos!»

Porém o coração, feito valente
Na escola da tortura repetida,
E no uso do penar tornado crente,

Respondeu: «Desta altura vejo o Amor!
Viver não foi em vão, se é isto a vida,
Nem foi de mais o desengano e a dor.»

  Ora ao contrário da vertigem do vazio, encontramos uma alma forte que consegue olhar para todo o passado e consegue abraçá-lo, acolhê-lo como tendo sido necessário para chegar à posição ou estação do caminho de peregrino em que se encontra donde já vê o Amor!
Poderíamos perguntar que Amor é este, o platónico, o psicológico, o Divino, mas isso cada um deverá sentir e sondar por si, mas demos graças por Antero a dado momento do seu percurso tão difícil e doloroso, depois de ter sido um jovem de tão romântico e revolucionário amor, tenha conseguido intuir o vero Amor substante e divino, que no dizer de Dante move as estrelas, ao que poderemos acrescentar que cada um de nós é uma estrela, tal como Antero de Quental, agora já no firmamento subtil dos manes e vates da Pátria da língua portuguesa ou da Tradição espiritual Portuguesa, em que mau grado várias circunstâncias e resultados foi claramente um Cavaleiro do Amor, como aliás outro dos sonetos mais fulgurantes afirma, e esse com a particularidade de ter sido escrito na França da Europa moderna, em Paris, 1877, e quando o seu coração batia mais por uma amada: o Mors-Amor, que se poderia dizer que toda a gente deveria conhecer  de cor e que é quase alma-gémea do Solemnia Verba, embora com outras imagens metafóricas, concluindo com a vitória do Amor, já não sobre um sem sentido da vida, mas sobre a própria morte: 

         Mors - Amor

«Esse negro corcel, cujas passadas
Escuto em sonhos, quando a sombra desce,
E, passando a galope, me aparece
Da noite nas fantásticas estradas, 

Donde vem ele? Que regiões sagradas
E terríveis cruzou, que assim parece
Tenebroso e sublime, e lhe estremece
Não sei que horror nas crinas agitadas?

Um cavaleiro de expressão potente,
Formidável, mas plácido, no porte,
Vestido de armadura reluzente,

Cavalga a fera estranha sem temor:
E o corcel negro diz: "Eu sou a Morte!"
Responde o cavaleiro: "Eu sou o Amor!"» 

Este terceto final é  mântrico, iniciático, e glosa no fundo um dos motes ou lemas, que o seu fiel amigo Joaquim de Araújo e posteriormente Fernando Pessoa também afirmaram e aprofundaram, vindo já da tradição grega órfica, pitagórica e eleusina
e consignado na Antologia grega Palatina: Morrer é ser iniciado!
Saibamos nós merecer, com Antero de Quental, o Amor que triunfa da Morte: AMOR!
                                              

Nascer e morrer na Terra: conseguir entrar mais no Coração e no Amor Divino e recuperar a identificação Espiritual perene

Viemos como aviões, naves, avionetas, helicópteros ou aves ao nascer na Terra, e aterramos de bojo, mas o que deveria ser uma descida temporária vai-se complicar pela transformação da nave quase que num hangar de avião, no qual vamos começando a receber tanta informação, a sofrer tanta experiência e a acumular tanta coisa, memória e apego que, quando queremos levantar voo, já não conseguimos facilmente, algo subsistindo ainda dessa capacidade voadora nos sonhos em que pelo amor ou um esforço mais intensificado ainda voamos ou damos grandes saltos, por vezes com receio de descermos de tão grandes alturas...
Algo subsistindo de tal sensibilidade de estarmos ou funcionarmos num corpo espiritual livre também nas meditações, quando subitamente nos sentimos acima ou fora o corpo, ou dentro dele, ou expandindo-nos, ou quando aspiramos tão ardentemente que algo dos mundos ora distantes ora espirituais se desvenda.
Mas, claro, à hora da morte, o que devia ser a simples viajem de regresso de avião passa a ser um passo no escuro ou mesmo no abismo, um abandonar do conhecido e afeiçoado, e logo uma passagem receada e temida por muitos ou quase todos, estacados no umbral do além, perdida a consciência da nossa pátria e origem , pouco desenvolvida a auto-consciência espiritual e ignorada a mala de viagem do nosso coração, onde vai tudo o que se sabe de cor, ou seja, o que se ama de coração e está vivo e imortal, e asas flamejantes ao coração dá...
                                                         
Na história da religiosidade e espiritualidade cristã mas não só, as ordens religiosas e seus grupos tiveram diferentes fundadores, regras, hábitos, cerimónias, vestes, alimentações, devoções, história mas tudo isso deveria ter servido sobretudo como meios diferentes de se tornarem pobres em si e face ao mundo e a Deus, para melhor poderem concentrarem-se, receberem, partilharem e viverem espiritualmente. Boa metodologia e realização seria então esta: não estar agarrado a nada, não pertencer a nada, estar aberto ao sopro do espírito e ao amor que une tudo no Cosmos. Amo acima de tudo a Deus e ajudo o Universo a melhor conhecê-lo e a vivê-lo e a fazer a Sua vontade, isto é o bem, a verdade, o amor. Mas já não quero apegar-me a nada em especial e por isso estou numa ordem ou caminho que tem como regras balizadoras o menor consumo, o controle sexual e a obediência espiritual, e assumo criativamente algo destas formas de auto-controle.
Todavia, o que era relativamente fácil outrora tornou-se bem mais complexo hoje pelas teias da vida moderna e por pouquíssima gente estar para se sujeitar a tais votos ou ideais ou tendo capacidades e interesse em tal. Contudo, todos nós devemos ir cultivando tais virtudes, mesmo que apenas em certos momentos ou fases, e irmos morrendo em vida para o nosso ego ser cerceado e assim fortificarmos a nossa identificação e corpo espiritual, aquele subtil no qual o centro de identidade e consciência é o espírito e que está ligado, mais ou menos, aos santos e mestres, aos Anjos e a Deus.

Uma certa pobreza exterior, ou um controle dos diversos tipos de consumismo, é então necessário para descobrirmos e realizarmos melhor a riqueza interior, pois se estamos sempre no exterior, nos "media", nas grandes superfícies, não conseguimos chegar e entrar pela porta estreita do coração e descobrirmos ou avistarmos e sentirmos o que nunca o olho humano poderá ver. Cada ser é infinitamente rico no seu interior e delícias de sensibilidade, intelectuais, estéticas, afectivas e espirituais  podem ser contempladas ou sentidas em toda e qualquer alma, desde que não se perca nos caminhos do abismo, do ódio, da violência...
Que felicidade me pode tocar subitamente quando medito na minha essência espiritual e a sinto, na linha dos antigos rishis
ou poetas videntes da Índia, como Sat chit ananda, Ser, consciência e beatitude?
Que maravilha de Amor divino posso eu vivenciar quando adoro a Divindade íntima no meu coração, ou quando o invoco e sinto o Graal do Espírito no meu coração?
Porque estamos então tão viciados no exterior e nos outros e perdemos tanto a capacidade de vermos, sentirmos e comungarmos interiormente com o nosso ser, com os mundos espirituais e os seus seres e, maximamente, com a Divindade e as suas correntes e bênçãos?
Que maldição é esta que leva meio mundo alienado nos desportos, espectáculos e submetido políticos, partidos e governos tão ignorantes, egoístas, ineptos, opressivos e causadores de tanto sofrimento da Humanidade?
Todos temos então diariamente, ainda que lúcidos e resistindo à opressão e à violência, de nos desprendermos um pouco das impressões externas e assumir momentos de grande pobreza ou renúncia ao mundo, e logo podermos orar, sentir e aspirar, meditar espiritualmente e logo elevarmos o nosso coração à função de taça graalica da invocação e comunhão espiritual e divina.

                            
Para entramos no coração, temos de andar para trás. Como se recuássemos passo a passo para contrabalançar a corrente centrífuga do coração. É difícil realizar tal acção psíquica e meditativa pois estamos demasiado na cabeça e centrífugos
Há um movimento de sístole e diástole do coração que sanguineamente é fundamental para a nossa vida, mas em geral não estabelecemos qualquer relação analógica ou simultânea com a actividade psíquica, com alguma palavra-ideia, algo que só se tem feito um pouco e sobretudo na Yoga, com a respiração.
Pouco fazemos por elevar a nossa compreensão do coração de como mera bomba sanguínea automática a centro de forças, sentimentos, emanações, e assim pouco se trabalha mais conscientemente o coração, é claro à parte os que meditam e que espontaneamente ou voluntariamente sentem ou mesmo se concentram nessas sensibilidades e irradiações subtis do coração, qual a de ser amor-sabedoria, sentir devoção, adoração, gratidão, maravilhamento e unidade, e conseguem espalhar tal corrente pelo sangue e aura, em nós e à nossa volta.
Ora admitirmos que a concentração memorizadora ou repetitiva de algo (seja imagem, oração, mantra, ser) possa iniciar uma actividade que singre numa direcção centrípeta ou interiorizante das nossas correntes psíquicas na zona do coração, é certamente um começo de entrada no coração, uma aproximação à sua mística ou silêncio... Esta prática cardíaca permite explicar melhor o valor do saber de cor, ou de ter no coração algo ou alguém, de termos as nossas devoções e ligações angélicas ou humanas para não falarmos dos que sabem de cor ( e sentidamente...) belas poesias ou grandes livros ...
Será por isso que quem amamos muito está mais presente em nós, no coração, este sendo como o ninho, o cofre, o graal, as asas do nosso ser?
Será por isso que a lembrança-desejo, por alguns sentida limitadoramente como saudade tristonha do bom passado perdido, que ocorre entre os que se amam, ainda que subtilmente, se distantes ou se algum está morto, os torna presentes um ao outro, num nível ou frequência da alma do mundo hoje denominada campo unificado de energia consciência?
Ora estas actividades psíquicas fortificadoras de laços subtis entre os seres explicativas de sincronias e telepatia, além de actualizarem o Amor entre os que se amam, desenvolvem-no também como fonte de energia e ainda como culto do Amor Divino Primordial, intensificando a nossa aspiração-amor à Divindade.
Mas quantas pessoas tentam merecer o Amor vivendo-o em circunstâncias difíceis? Tentamos nós sondar com persistência ou verdadeiramente o nosso coração subtil? Quantas conseguem mesmo aproximar-se ou adentrar-se nele, e sentirem a devoção, a adoração, o Amor divino, ou verem-no seja como flor ou emanador de pétalas e raios, seja como jóia de filigrana celto-portuguesa, seja ainda como microcosmos do Sol da Divindade e receberem assim alguns raios ou bênçãos de Sat, Chit, Ananda, Ser, Felicidade e Amor?

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

"Tributes to and Remembrances of Gurudev R. D. Ranade, The Saint of Nimbal", (2º p), by Rajendra Chauan and Deepak V. Apte. A spiritual review.

Let us enter in a second approach to the so laudable book Tributes to and Remembrances of Gurudev R. D. Ranade, The Saint of Nimbal, by Rajendra Chauan and Deepak V. Apte, just released, and we shall begin with the motto that Rajendra Chauan has transcribed from his teacher, the recognized specialist of gurudev Ranade, V. H. Date: «Gurudev R. D. Ranade was a unique coalescence of the universal compassion of the Buddha, the catholic love of Jesus, the penetrating intellect of Kant and the profound wisdom of Shankaracharya», and choose from the second half of testimonies some of the more substancial teachings. 
 After the beautiful 50º tribute of Shri K. D. Sangoram, already approached in a separated article, we find  the 56º, 
from Dr. Modak, the Registrar of the Nagpur University, with good explanations on the gunas or types of energies present and shared by gurudev Ranade: «He used to speak with haste, as his thought current had a high speed. Hence, to reap the full benefit of his lecture, completely concentrated attention was absolutely necessary. His students attended his lectures with onepointed rapt attention, on account of a wide awareness that they were in the presence of a highly learned professor. Prof. Rambhau was not a mere professor of philosophy. His students could readily realize that he was a great man of realisation, who had found the path for the realisation of Reality and had merged in its meditation.»
This last sentence is interesting as it seems to point that gurudev Ranade had attained a so strong and clear vision of the path of love and wisdom for realizing the Divine as the Reality  that in his meditations he would be so much atracted to the, or by the, Divine that  would merge in Him. We can interpret also that as meaning that Ranades's meditations were so deep that he could attain the higher, divine and infinite levels of Reality.
                                                     
The testimony nº 64 of the professor of Philosopy Georges Bosworth Burch show us also how prema bhakti was the strongest aspect of gurudev Ranade, «a frankly and friendly person», «eager to talk to me, to learn as well as to teach, to discuss both his intelectual interests and mine», recognizing that «To love your family and your friends and, above all, God was Ranade's doctrine and Ranade's life. 
Spiritual meditation and mystical contemplation were the central activity of his daily life. He was a mystic in the perennial tradition of the mystic saints. Much as I appreciate Ranade's spiritual and intellectual achievements, it is his loving personality which I remember best. Surely for many, as for me, he was a friend never to be forgotten. For his disciples, he was much more. For India, he was one of her great men.
In India, as also in other countries, there are many great scholars engaged in various researches, many great philosophers with deep insight into reality, many great mystics with ineffable visions, many great teachers who inspire their pupils, many great souls, whose integrity and personality are radiant. But we seldom see one person who is all of these at once. Such a one was Ranade, one of those rare spirits who show us how fine human nature can be. »
Very significant these divisions, first:
"spiritual meditation and mystical contemplation" and second: researching, having deep insights on the Cosmos,  having subtle and sublime visions, and living in such a harmonious or inspired way that the inner light is shinning to all coming in contact with him, and so becoming more complete human beings or even disciples, sthita bhaktas and jnanis...
                                                        
Prof. Vinayaka Krishna Gopaka, a scholar in Kannada literature,  gives us also a testimony of his powerful soul and tapasya: «Dr. Ranade was an illustrious son of the Indian Renaissance and he did a great deal, constructively, intellectually and spiritually, to promote it further towards its own fulfillment. The frail body of Dr. Ranade housed a great soul. He was a great builder, teacher and scholar and a serene philosopher and mystic. For several years he hardly lived on any other nourishment but tea. But he needed no other food: for he on honeydew hath fed, and drunk the milk of paradise», indeed a higher and difficult realization but attained by gurudev Ranade and helping him in his long meditations in grounds and solitary places..
Shri V. S. Page, Chairman, the Maharashtra State Khadi and Village Industries Board,  in the tribute 68º, remembers some unusual capacity of Gurudev, from his own interaction with him, and reflects on his so conscious and expanded soul, indeed one of a mahatma: “Though Shri Gurudev behaved like an ordinary man in this world, his every action was purposeful, and the purpose was purely spiritual one. Without a shred of doubt, he read the thought in my mind and gave proper answer to me. This is not possible for an ordinary Yogi. It is only those, who have identified themselves with universal consciousness, who can read correctly the minds of others and give proper answers. It has left an indelible impression on my mind of the grandeur of Shri Gurudev’s spiritual height.”
His understanding of gurudev Ranade picking his thoughts, sugests us also to be more detached from our ego limitations and expand our heart and consciousness to the infinite, ananta, so near the true ananda, and that through love, compassion and unity with the others, and for the goodness of all the sentient beings and the fulfilment of the Divine Will..
                                                             
Shri Basappa Danappa Jatti, acting President for six months in 1977, and also 5th Vice President of India, remembers from his association with Gurudev Ranade that since «Gurudev built an Ashram near Nimbal Railway Station, his followers began to flock into the Ashram where they took initiation either from Gurudev himself or from his recognized disciple, Kaka Karkhanis of Bijapur.»
  
And in  «one occasion when Prof. Ranade was in a particularly happy mood, he narrated to me his belief in the presence of a spiritual current, which like rain-water is percolated in the soil. This current is found in different volumes and at different depths. Sometimes the spiritual current is near to the surface of the ground. In such a case, any person with high spiritual power walking over such ground will immediately feel that some force underground is exerting a pull on his feet. Such spots are said to be sacred spots and are selected by saints as places for erecting ashrams and temples. So long as the spiritual current in such spots flows strongly, crowds are attracted to visit those temples and ashrams. Sometimes the current will disappear and flow in another direction. Spots once sacred where the spiritual current is not flowing anymore are abandoned and become deserts. Gurudev said that he had seen three such spots in his life; Allahabad where he was working as Vice-Chancellor of the Allahabad University, Nimbal and Jamkhandi. He told me that the spiritual current at Jamkhandi was comparatively more powerful than at Allahabad and Nimbal»
This clairvoyant intuition about spiritual teluric currents of energies and how they affect people is quite original, specially that «this current is found in different volumes and at different depths» as many times people tend to identify them as homogeneous lay lines. And shows us also some subtle reasons for pilgrimages to the sacred spots...
                                                                    
In the tribute 75º we find the revered Dada J. P. Vaswani, the founder of the Sadhu
 Vaswani Mission, in Pune, presenting in a nutshell (may be not knowing that Ramachandra Ranade was already high in the spiritual path from childhood) how he saw gurudev Ranade, and extolling the dwaita vedantic and the bhakta ("meditating in the Divine name and form") as a saint and a prophet, a perennial fountain to Mankind: - «Gurudev Ranade was a great scholar, a gifted author, a highly learned man. In the history of humanity, there have been very few academics, who have attained spiritual illumination. Gurudev Ranade was one of them. He was a man of books who attained divine bliss through spiritual wisdom. He was a scholar, who became saint. He was a professor, who became a prophet.
Acceptance of the Will of God and meditation on His Form and Name: those two things made Gurudev Ranade the great soul that he was. May Gurudev Ranade’s life and teaching be a perennial source of inspiration to us all!»         »                                                                                                          

                                                      Holy Samadhi of Gurudeo at Nimbal
 
                                                          
Prof. Shiva Shankar Roy, head of the Department of
Philosophy at Allahabad University, and succeeding Shri Gurudev R. D. Ranade in that position, after pointing the higher philosophical level attained by gurudev Ranade, give us a very detailled and deep understanding of the main caractheristics of  his divine realization, that was pervading his inteligence and words, coming from "the free existence, innately self-shining in its effulgent immediacy", and how his eyes were so much shinning externaly this awareness and comunion with the Divine Presence 
within and everywhere.
Prof Shiva Shankar Roy affirms that “as an academician in Philosophy his place i
s as high as that of Radhakrishnan and Krishnachandra Bhattacharyya. In the history of Indian Philosophical thought of the Vedantic tradition Gurudev Ranade, in the manner of the great Acharyas of the Vedanta, has commented on the prasthana-trayi: the Upanishads, the Brahmasutras and the Bhagvadgita», but with such a deep quality «that Gurudev’s utterances are full of spiritual significance. They rise from the depths of a divinized consciousness - from the inexhaustible reservoir of intuitive experience- a cognitive function, divested of its object-oriented stance and from an awareness conjugate with limitation – free existence, innately self-shining in its effulgent immediacy.»
«He appeared to me as the very confluence of the human and the divine, full of
compassion for the world, yet wholly detached from it. His bodily frame, frail and fragile, looked like the symbol of a transcendent glory and a sign, functioning as a spiritual antenna. Verily could the discerning eye behold in his demeanour the marriage of the numen ineffable and the ratio aeterna. His fast vanishing earthly visage signified his unbroken communion with an Everlasting Presence-knowing which, as the Upanishad tells us, the knower knows all, crosses the river of sorrow,and stands confirmed in immortality»
Also in this paragraph, prof. Shiva has conveyed to us some teachings embodied by
gurudev Ranade, like being a spiritual antenna, and having achieved the union of the "Divinity that can not be spoken" with the Logos, Budhi or Ratio eternal, that makes man a knower, a Jnani of  the antaryamin, and of the  omnipresent Brahman.
«Prof. Ranade, every moment of his life was in a state of contemplation, studded to
the cradle of THEORIA of TURIYA- living in the world and yet transcendent to it. The joy we used to get in his company was just a dispersal of his beatific existence in an environment circumscribed by space and time and inhabited by creatures most unlike him - creatures, who had not even a tangential contact with his spiritual existence. He scattered joy whenever he sat or stood; and it was only on very rare occasions that I saw him angry, sad or morose. His anger, if there ever used to be one, was the expression of his disappointment with his own self. His sadness and sorrowful moods only reflected a sense of estrangement with himself.»
In this also challenging paragraph we can see how gurudev Ranade could be in
inner contemplative state (theoria) of union with his Atman, and so in a state of beatific conscience, and simultaneaseouly radiating that ananda to the ones around him and sometimes suffering from some limitations on that "skill in karma that Gita (II. 50) calls Yoga.
«In November 1941, I went to see him just after the morning sitting of the Music
conference had concluded. He asked me about the songs and the performance I liked, and I told him that Pt. Onkar Nath Thakur’sजोगी मत जा’ appealed to me the most. Uttering these words sent a thrill, yhrough his entire being and I could see his eyes assuming a half-open, half-shut mystical appearance. I generally wanted to see his eyes like that, and for all I know, there could hardly be anything more beautiful and expressive in the world than those two eyes, which concealed beneath their dreaming transparency a universe transfused in his Deva, a world submerged in his
Narayana - a being lost in the scintillating Dawn of Atmanic awakening. »
After the so recorrent testimony of the blazzing light passing through the eyes of gurudev Ranade, may be pointing us, as his disciples or devotees. to smile more from the joy of the spirit within, in our daily interactions, prof. Shiva Shankar Rau concludes with a deep explanation, about the transparency and light of the smilling eyes of gurudev Ranade, still a bit misterious: are they originated from his Deva or spiritual Being, or from his Ishtadeva or Dwaita vision of the personal Brahman, may be Narayana, in such a way that his being is so transfused or united with his Atman that the universe, and him and around him, become also transparent to that Divine Presence...
Dr. Shiv Narayan Lal Shrivastava (without photo), Head of Department of Philosophy, Vikram University, Ujjain,  has given us also a very subtle and spiritual approach to gurudev Ranade, extoling his luminous radiations, his deep pratice of dhyana and his so harmonious and pacified being who could be felt as an Angel (or manifesting him...), even a Seraphic one, these ones being the celestials spirits considered to be more near the Divine Being, by their intense love:
«Whoever has come in contact with Dr. R. D. Ranade cannot forget him till the end of his life. He was an angelic personality radiating joy and peace and spiritual light. An electric smile ever played on his lips and his eyes shone with a brightness reflecting his inner illumination. I never found him ruffled or sour or bitter or stooping to petty things. He was above all narrow considerations of caste, creed and community. People felt uplifted in his presence and the more one came in contact with him the more one sought his presence. He was an अजातशत्रु (one who has no enemies) and a friend of everybody, a seraphic soul - with malice toward none and charity for all. 
Ranade was a teacher of teachers. Gurudev Ranade’s life was a life of absorption in meditation. He was a Dhyana-Yogi par excellence. Prof. Ranade’s bungalow at Allahabad was a rendez-vous for all aspiring souls of all ranks in life. In these gatherings sparks from the anvil of his luminous mind would often fly and enkindle spiritual fire in the hearts of the assembled.”  
Also very original is the comparation in his rendez-vous or satsangs of the psyche of gurudev Ranade as an anvil, from where he could blow arrows of spiritual fire into the souls of his disciples and listeneres. It is a nice metaphor of the power of his love, or may be of his aspiration to help the others, or even the conscious intensification of the radiation or sparks coming out intentionally of his Atman.               
 The 99º testimony, from the surgeon N. S. Christian, founder of the Jyoti Mandir Trust, Aurangabad, is also very worty as he shares with us, in a religious comparativism, the universality of gurudev Ranade, initiating him with a name or mantra of the indo-christian tradition, and enduring all the hardships of the body with serenity and detachment, conquering and controling in this way his basic instints and unconscious mind, and achieving such a unification of his animic energies that the Angel in himself, the Atman and even the Ishta devata Divine Being was felt or sensed by many:
"Every time I visited the Ashram at Nimbal, I rejoiced in the sanctity, aura and
affection of Gurudev. He graciously initiated me in the supreme Yoga of meditation on God’s Name. He gave me Christa-Name. He was a saint who conquered hunger and thirst. He proved in his life what Christ had said that “Man doth not live by bread alone.” For many years he was sustaining himself on a few cups of tea a day. He defied bodily ailments and refused all medicines and treatment when he happened to be ill. As the Rishis of old, he shunned publicity and lived to perfection the teaching: ‘Let thy light so shine before men that they may see thy good works and glorify thy Father who is in Heaven.’
With the dazzling brilliance of the rising-Sun, the Master’s face reflected the vast
Universe. Everytime I sat beside him amidst the devotees at Nimbal with his favourite green shawl covering his body, he appeared to me to have resembled the ancient mystic parrot, reciting the Infallible Vedas. He has been a perfect preceptor after the Ideal of Shri Sankaracarya’s Vivekachudamani description of a Guru, without the slightest taint of human egoism. He was an embodiment of humility. Gurudev Ranade was a self-sustained Angel of The Lord, in brief: “God in flesh and blood.” 
                                         Om shri gurudev Ranade namah!

domingo, 9 de agosto de 2020

Resistir, não se cousificar e antes criar, amar, ao santo Graal chegar, empunhar, dar a beber.

Nestes tempos de  apreensão pelo futuro de muitas pessoas e famílias atingidas pelas consequências de um misterioso vírus tornado numa pandemia, explorada e intensificada pelas mais aterrorizadoras, extravagantes, contraditórias e nocivas notícias, teorias, tratamentos e medidas, cada pessoa tem mais do que nunca manter-se lúcida, não se deixando naufragar no excesso de informação tendenciosa e atemorizante, e voltar-se para sua vontade criativa, exercendo-a em que campo ou sementeira for,  não se deixando, oprimir, petrificar ou cousificar pelos meios de comunicação e os ineptos ou corruptos governantes mundiais, mais do que nunca controladores e opressivos, seleccionando muito bem quem deve ser fonte de informação e criando mesmo o seu jornal, televisão ou rádio local, nacional ou mundial a partir dos sites ou pessoas que o merecem...
No fundo temos de ser criacionistas, como queriam, na Tradição Espiritual Portuguesa, Leonardo Coimbra e Sant'Anna Dionísio, isto é, lutarmos por criar, intuir, acrescentar, aperfeiçoar, amar, seja na nossa interioridade, amando a Divindade, o Mestre, o Anjo e Arcanjo nacional, a amada ou amado e quem nos rodeia próximo, seja na exterioridade das acções, na partilha de conhecimentos e de bens, na solidariedade,  profissionalismo,  ecologia e activismo.
Assim vão desabrochando a rosa ou Graal no coração, a ligação ao espírito, ao Anjo, ao Mestre e à Divindade, e o corpo espiritual imortal formando-se e brilhando mais...
                                     
É numa vida harmoniosa, mais em contacto com a natureza, numa alimentação mais biológica e numa resistência interior e criativa à massificação escravizante ou entristecida que nos querem impor, que aumentamos as nossas defesas imunitárias, e desenvolvemos a nossa capacidade de mantermos a esperança e o amor vivos, o nosso sentimento de felicidade, na Índia antiga tão valorizada como Ananda, beatitude, considerando-se mesmo que o ser humano se pode sinterizar ou definir-caracterizar como sendo: Ser, Consciência e Felicidade, isto é, Sat Chit Ananda, mantra que ainda hoje muitos repetem meditativamente para afastarem outros pensamentos do foco da atenção e para assim poderem receber as bênçãos luminosas que advém do facto de eles quererem religar-se conscientemente ao seu ser espiritual, conseguindo sentir a felicidade ou amor que resultam de tais estados unitivos ou de yoga, que nada tem a ver certamente com os malabarismos de asanas e os gurus de marketing modernos...
Desta mais elevada felicidade, Ananda (também denominada Shukam, satisfações, que de certo modo é o mesmo que Amor),  que podemos atingir na Terra não podemos abdicar nem desistir e teremos que resistir a todos os velhos do Restelo, a todos os políticos vendidos, a todos os meios de comunicação manipulantes dispersantes e alienantes, a todos os Bill Gates das vacinas e da morte da naturalidade e convivialidade, buscando e trabalhando diariamente, persistentemente o Amor e Felicidade, com comensurabilidade ou prudência, criatividade ou sabedoria,  amor ou coragem...
Não se deixe prender nas malhas ou teias da fake new Age e seus grupos e seitas, canalizações e mistificações, merkabas, hipnoses e regressões, fontes intraterrestres e extraterrestres, e não seja assim um basbaque de nomes, graus, decretos, iniciações, planos, entidades, reencarnações, antes apure bem o seu discernimento nisso (intuitivo até pelas vozes e comportamentos dos instrutores, canalizadores, iniciados, gurus...), bem como nas leituras e vídeos que faça ou veja e nas suas amizades dialogantes e  conviviais, que devem ser evolutivas, amorosas, iluminantes e libertadoras.
 E pratique então mais a oração-invocação-meditação-adoração da Divindade, do espírito em si e dos mestres e anjos a que está mais ligado, e abra o seu coração à Fonte primordial divina que então o tocará ou encher momentaneamente  de Amor (Prem) e Felicidade (Ananda), paz e gratidão, e seja assim um verdadeiro portador ou portadora do santo Graal, vivendo e irradiando tal o mais adequada e merecidamente possível... 

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Uma oração ou invocação dos Anjos da Guarda e demais Espíritos Celestiais em tempos de crise.

                                                                                                                                             Aum, Amen, Nour...

Acerquem-se e sejam bem-vindos queridos Anjos da Guarda e Anjos e Arcanjos atraídos por misteriosas afinidades e enviados da Hierarquia Celestial e da Fonte Primordial Divina.

Agradecemos por pairarem ou mesmo entrarem neste local, providenciando mais claridade, limpeza ambiental e intensificação espiritual e gerando alegria e paz luminosas nas pessoas que aqui estão ou vivem, e mesmo no ambiente à volta.

Muitas graças por intensificarem qualidades como paz, alegria, cura, firmeza, pureza, beleza, harmonia, sabedoria, amor e intuição.

Saibamos comungar por momentos convosco, limpando a nossa mente, abrindo o coração, emanando boas vibrações e assim melhorarmos a aura anímica da Humanidade e da Terra.

Inspirai-nos a realizar os nossos melhores desejos, aspirações e deveres para o bem da realização espiritual nossa e da Humanidade.

Dai-nos forças para resistirmos a todas as mentiras mediáticas e a todas as opressões estaduais, farmacêuticas, financeiras e imperialistas.

Possa o espírito luminoso e amoroso, imortal e poderoso, verdadeiro e feliz ser a nossa identidade sentida, desenvolvida e vivida...

Muito amor para vós. 

Demos graças.   

Aum, Amen, Nour!