quarta-feira, 10 de junho de 2020

O trânsito extático de Maria Madalena, em 22.VII. Pintado em 1664 por Josefa de Óbidos.


                               
É ainda hoje uma história mal conhecida e contada a de Maria Madalena, discípula de Jesus, ou seja, sabe-se pouco e incertamente (embora nas últimas décadas uma imaginação frondosa tenha-se desenvolvido), e cedo foi sujeitada ou resumida, nas referências dos primeiros padres da Igreja, biografias, sermões e na arte, a duas caracterizações principais: Madalena, a Pecadora, e Madalena, a Penitente...
As fontes evangélicas eram escassas: Marcos, 16, 9-11,  Lucas 8, 2-3 e João 20, 1-2, 11-18. 
A caracterização rápida na descrição da ressurreição no evangelho segundo S. Marcos,  de Jesus ter expulso dela sete demónios deveria até corresponder mais a problemas psíquicos de que à má vida sexual da futura penitente, que depois de tal cura passou a fazer parte da comunidade de Jesus e estaria presente na crucificação e morte na Golgota, vindo ainda a  testemunhar a legendária ressurreição, quando se preparava para o ir ungir. 
A essa caracterização algo masculina ou brusca de S. Marcos, vem  depois a transmitida por S. João, o discípulo mais amado (sem falarmos talvez na discípula Madalene), que valoriza ser ela o 1º ser que o viu e que tentando-lhe tocar recebeu a tão citada resposta,  "não me toques", noli me tangere, pois Jesus dirigir-se-ia para o Pai em primeiro lugar, tema que aliás também veio a ser bastante cultivado artisticamente.
Houve outras Marias com quem foi confundida: a dita pecadora que vem beijar-lhe e lavar-lhe os pés no banquete dum fariseu, o qual queixando-se a Jesus da sua má vida, recebeu o poderoso ensinamento: «Perdoados lhe são os seus pecados, que são muitos, porque ela muito amou», tal como nos relata Lucas, VII,  e Maria de Betâmia, a mais amorosa e mística, que ungiu com o dispendioso nardo os pés de Jesus pouco antes da Paixão, em cena descrita por  João em XII, 1-8.
Será  um dos primeiros padres da Igreja, Tertuliano, que as confundirá numa, nisso seguindo-o o papa Gregório o Grande, e em seguida a generalidade da Igreja Católica.  
 Já outros padres da Igreja mais sábios como Orígenes e depois toda a Igreja Ortodoxa, distinguem-nas bem, sendo festejada a 22 de Julho e tendo sido ao longo dos séculos patrona de muitos ascetas e conventos, onde as suas representações em estátuas ou pinturas serviam de algum modo para que a sexualidade masculina tivesse alguma imagem da doçura do amor em que se sublimasse, tal como podemos ver no Convento da Arrábida.
Contudo, pesem as vicissitudes da sua vida misteriosa tanto nos seus possíveis prazeres como nos sofrimentos, chegaram-nos ecos de que ela seria a discípula preferida ou mais próxima de Jesus, invejada ou menosprezada por alguns. Estão neste caso dois dos evangelhos gnósticos encontrados em Nag Hammadi. Nas últimas décadas, contudo, ampliou-se e exagerou-se tal eco e, infundadamente, são às centenas os livros que fazem de Maria Madalena, a mulher de Jesus, gerando-se uma descendência feminina que teria vindo para a Europa. Sem entramos nestas mistificações, convenhamos  que era um ser de muito afecto e que terá sido orientada pelo mestre Jesus para realizações mais espirituais divinas de tal amor. 
Quanto à sombra dos pecados que a perseguiria e quanto às ásperas penitências a que se obrigaria ou se castigaria, há campo aberto para todos, desde os mais moralistas e ascetas aos mais místicos do amor ou mesmo libertinos... 
São milhares as imagens artísticas de Maria Madalena, desde a pintura e a gravura às esculturas nos mais diversos materiais, devendo-se relembrar a sua inclusão ou participação nas famosas esculturas do Menino Jesus Bom pastor, belas peças em marfim indo-portuguesas desde o séc. XVII.
Entre a nossa criatividade artística devocional a pintura de Maria Madalena, de 1664, pela Josefa de Óbidos (1630-1684), filha de um pintor português de Óbidos e que sabia do amor versus penitência pelas suas estadias em conventos e igrejas, tendo gerado cerca de 150 pinturas, dá-nos até uma possibilidade de leitura diferente da rotineira  caracterização dualista pecadora-penitente agarrada a uma caveira ou a uma cruz que contemplaria e à qual oraria, arrependendo-se do que fizera.
                            
Vemos então em vez disso Maria Madalena como sacerdotisa do Amor, paramentada ou vestida como tal, semi-desnuda e de cor de rosa, a cruz como eixo e coluna do mundo, coroada de flores e de longos cabelos soltos, em êxtase (pois trata-se do seu rapto final aos céus), com a auréola do espírito, ou de iluminada e santificada, no momento que foi chamado também o beijo da morte, ou da realização da imortalidade pelo Amor, rodeada só de Anjos, os mensageiros da Luz e do Amor Divinos...
Não há tristeza nem choro nos Anjos e vemo-los claramente como elos da Luz dourada que vem do mundo Divino e exercendo a sua missão de acompanhantes e transmutantes vibratórios do momento da morte.
O pulsar  do coração amoroso de Maria Madalena é ascultado muito subtilmente no pulso da mão direita por um Anjo, que parece estar realmente num esforço de sensibilidade para captar tal subtil sopro vital pulsante, enquanto que um outro grande Anjo, talvez o seu da Guarda, apoia o seu pescoço semi-tombado com uma mão, enquanto que com a outra  deposita ou segura uma vela que passa  pelos dedos de Maria Madalena que, já lassos ou abandonados, não mantêm a verticalidade da chama.
Será que o Anjo da Guarda está a pôr ou a fortalecer a vela, ou luz da fé e da esperança de Madalena nesse trânsito sempre difícil, ou significa que ele está a receber ou a orientar esse lume espiritual que se exala dela e que será atraído por um caminho aberto para o Céu, ou nível do mundo espiritual a que terá acesso, pelos cantos e movimentos coloridos e emotivos dos anjos e anjinhos?
Eis uma belíssima pintura propícia à contemplação harmonizadora e iluminante, ou mesmo à prática da arte de bem morrer, tão valorizada por místicos e humanistas (como Erasmo), ou não tivessem dito os antigos gregos na Antologia Palatina e depois entre nós, em poesias, Antero de Quental, Joaquim de Araújo e Fernando Pessoa (este interrogando-se também em prosa), "Morrer é ser iniciado"?
Saibamos pois morrer em vida e iniciados no Amor renascer espiritualmente...
Anote-se, para concluirmos oiro sobre azul, que Josefa de Óbidos realizou, tal como Maria Madalena, o seu trânsito ou êxtase final no mesmo dia do ano,  22 de Julho, em que ambas se celebram, podendo-se assim imaginar que ela também se representou a si mesma, em alguma proporção sibílica ou clarividente, nesta pintura tão sagrada e comungante...

Mandalas pessoais, desenhadas durante um Congresso em 2009.

Desenhar mandalas espontaneamente é um acto introdutor de dinâmicas de contacto com o não-consciente e que servem até para face a um confronto externo que nos afecta reagirmos com forças interiores nossas que se exprimem nesses desenhos, trazendo ao de cima símbolos, diagramas, energias, mensagens que protegem a nossa aura e ser desse impacto a que estamos sujeitos por ter de ouvir alguém, aproveitando até a ocasião para se utilizarem ou transmutarem algumas energias que estejam em maior vibração...
Nesta mandala o mantra ocidental ou som de oração IAO (repita-o e sinta-o interiormente ligando o céu e a terra...) foi tecido ou discernido numa estrela de oito pontas, em baixo com seres abertos e aspirando, quais aves voadoras e elevantes para o espírito estrela...


A nossa capacidade de vermos e sentirmos a dimensão de profundidade num desenho ou pintura estimula ou está em sintonia com o ver subtil e portanto com o olho espiritual, que todos deveremos desenvolver como um sentido essencial do nosso corpo espiritual ou de glória.... 
Isto pode realizar-se em qualquer desenho simples, ou numa flor, ou no contemplar do céu e do horizonte, ou sobretudo no de pinturas realizadas por quem já via ou vê com o olho espiritual e deixa sinais e linhas de força na sua obra...

terça-feira, 9 de junho de 2020

O espírito no oceano do Amor: Antero de Quental, o Infante Santo, D. Sebastião, Camilo, F. Pessoa e nós.

«O Amor é um oceano de luz, ou a sua Luz. 

Antero de Quental matou-se na terra em que nascera, Ponte Delgada, S. Miguel, "a ilha" como ele lhe chamava, encostado ou junto a um muro, num banco do  largo de S. Francisco, ao anoitecer, sozinho. Sentir-se-ia o seu ego fechado ao imenso oceano e quis entrar nele à força? E porquê?
Por desespero da doença, por erros cometidos, por impaciência, por destemor guerreiro de quem sempre vira na morte uma libertadora, para apor o selo de mártir no final da sua vida?
Poderemos admitir que tal acto serviu bastante para ele se tornar conhecido como o Santo Antero ou já o demonstrara em muitas circunstâncias da sua vida genial mas atribulada?
 Serão essas provações de seres excepcionais o leitmotive do Infante Santo D. Fernando, do rei D. Sebastião, de Camilo Castelo Branco, de Fernando Pessoa, uns mais outros menos conhecedores do Espírito mas todos sacrificadores ou sacrificados ao espírito da época?
É se é só no Espírito que Deus pode ser conhecido, aproximaram-se eles nas suas mortes da Fonte Primordial, ou o descanso e bom porto a que pensavam chegar não se lhes desvendaria assim tão facilmente?»
Tendo escrito isto (agora transcrito com acrescentos) há bastante tempo, sem conhecer muito de Antero de Quental, e agora bem mais estudioso da sua vida e obra,  terei de admitir que embora em jovem ele estivesse muito aberto  ao oceano do Amor, manifestando-o  forte e livremente, depois, por uma série de desventuras, desilusões e doença, acabou por ficar nas margens ou orlas dele, embora especulando bem, amando seus amigos e próximos, tentando especular e intuir mais a grande unidade oceânica de consciência, energia e ideia, sem contudo conseguir sentir-se nela plenamente em Amor e com ligação à Divindade, Absoluto ou Fonte primordial.
Ora para além da doença que tanto fatigou e abalou o seu sistema nervoso, levando-o a desistir de viver mais na Terra, quando tinha apenas 49 anos, embora estes tivessem sido bastantes vivenciados e marcados no seu corpo e alma, também alguns erros de percurso, de valorização de estudos, escritas e opções filosóficas e religiosas  acabaram por o impedir de se abrir suficientemente ao mundo espiritual e divino e nisto nos estimulando ou obrigando mesmo a constantemente pormos em causa a nossa verticalidade e empenho na mais alta realização espiritual que nos é possível
Pensaria Antero de Quental que como alma sobreviveria à morte física e que tal acto de suicídio não era condenável pela justiça cósmica e divina, ou não acreditaria ou valorizaria ele muito uma sobrevivência individual sob que forma fosse, embora alguns dos seus últimos melhores sonetos sejam exactamente os que falam sentidamente de uma comunhão com os mortos?
Santo Antero, peregrino da justiça e da liberdade, santo  por ser bondoso, pesquisador da verdade, sóbrio no viver, estóico no sofrer e disseminando a ética e a sabedoria, a bondade e o amor nas suas relações, diálogos e cartas?

Santo por se ter entregue à sua missão, ao swadharma, ao seu impulso de dever interior, moral, ético, algo sacrificial, fazendo sagrada a sua via dolorosa, tal como os outros seres, todos sofridos e ora santificados ora mitificados pela história e o povo?
Quem conheceu ou vivenciou mais o Espírito dos cinco, por amor, conhecimento ou visão? 
O Infante Santo D. Fernando pela sua interioridade cristã e dura e longa vivência de 16 anos de provação sofrida? 
Antero de Quental, na sua juventude vivendo corajosamente a imensa força do amor e da sede de justiça, liberdade e verdade, e na sua maturidade procurando-a estóica e  filosoficamente? 
Camilo Castelo Branco, na sua criatividade amorosa de investigador, polemista e romancista genial  mas destroçado pelas desgraças familiares e a cegueira?
Fernando Pessoa, na sua demanda solitária sociológica e, patriótica, poética e gnóstica, tão estudioso da criatividade poética, dos mecanismos do génio, dos meandros do ocultismo e do esoterismo?
Bem difícil de compararmos e julgarmos, tanto mais que não é tão evidente o meio de aferirmos comparativamente tal realização em cada um deles, embora possamos pensar que avançou mais lucidamente, mais desperto na vida post-mortem, e rapidamente se internou nos mundos espirituais,  quem  estaria mais identificado ao espírito ou porventura ligado ao seu mestre ou santo, anjo ou Deus.
 Todavia, podemos considerar ainda que as orações que lhes foram enviadas depois das suas mortes os terão ajudado a religarem-se ao espírito e avançarem para o divino. E aí talvez as preces, missas e rituais dos cavaleiros e religiosos da ordem de Santiago, de que D. Fernando, o Infante Santo, era mestre, tenham sido  poderosas no impulso para a alma desincarnada se auto-consciencializar, iluminar e avançar no mundo espiritual. E talvez sendo também ele no fundo quem se tenha  mais sacrificado e santificado, voluntária e involuntariamente, na longa provação mortífera que lhe coube como fava no bolo-rei da Ínclita geração.
 Fernando Pessoa, que no fim da vida bastante desiludido afectiva e socialmente se estava a alcoolizar, embora muito conhecedor das mais importantes doutrinas espirituais, e Antero de Quental, a desanimar-se do meio nacional e insular, rumo ao suicida, embora ambos carregados de valiosos poemas, quão melhores estariam que o jovem ambicioso, e algo fanatizado no império da conquista, D. Sebastião que, tombando na força da juventude em Alcácer Quibir, sem confirmação absoluta de tal, logo muito rezado, foi erguido miticamente a encoberto salvador que virá, algo que Fernando Pessoa tanto exaltará e cultivará depois, inserindo-se ele próprio na Mensagem nessa linha ou veia, pelo menos como profeta dela? Mistério...
Agora, hoje, se conseguem eles ou não movimentarem-se bem à vontade no grande oceano da Anima Mundi, na autoconsciência de espíritos luminosos, de cavaleiros do Amor, quem sabe até inspirando-nos, é uma questão que cada um de nós poderá sentir ou intuir seja na meditação das suas vidas e obras, seja na nossa capacidade de (inspirados por eles ou outros), nos erguermos acima das circunstâncias ambientais que tanto  dispersam, desanimam ou vitimam e cumprirmos as nossas missões libertadoras e iluminadoras...
 No fundo, embora a linha do horizonte do mar marque um umbral oceânico, será sempre no mar do nosso sentir e do ver no nosso interior que a Luz e o Amor do Espírito e da Divindade deverão ser descobertos e recebidos, cultivados e vividos e daí partilhados...

domingo, 7 de junho de 2020

Bernardo Moreira de Sá, biografia por Higino da Costa Paulino e uma carta de Antero de Quental e uma dedicatória de António Arroyo..

                                 
Bernardo Moreira de Sá (1853-1924) foi um notável violinista, maestro, professor e conferencista, nascido em Guimarães e, destacando-se precocemente no meio artístico nacional, mereceu uma biografia de outro artista, Higino da Costa Paulino, meu bisavô materno, publicada na revista que dirigia com Josefine Amann, A Gazeta Musical, no nº 21, de 15.XII.1884. Com a ajuda da arquitecta Maria Antónia Bacelar Antunes, amiga portuense investigadora e que conhecendo a importância de Moreira de Sá na urbe invicta se prontificou a dactilografá-la, podemos hoje oferecê-la.

Acrescentámos, cruzando almas amigas e que certamente se conheceram, a carta enviada por Antero de Quental em 1888 a Bernardo Moreira de Sá, na qual testemunha o valor da  espontaneidade e graça na obra verdadeiramente criativa de um artista, carta onde repete a constatação que a musa poética o deixou de inspirar, tendo parado de versejar, o que aconteceu na realidade a partir de 1886, pois nos últimos anos da sua vida dedicou-se  a publicar os seus Sonetos e a redigir o seu Testamento Filosófico, como bem lhe chamou Sant'Anna Dionísio, o fiel discípulo directo de Leonardo Coimbra e indirecto de Antero de Quental, que a ambos  dedicou vários estudos e com quem muito dialoguei na urbe duriense.

Enquanto Higino da Costa Paulino se fixaria e criaria família (na fotografia) em Goa, Moreira de Sá viajaria pelo mundo tocando com celebridades como Pablo Casals, Viana da Mota e Harold Bauer e escrevendo e leccionando no Porto, onde fundou várias instituições musicais, algumas ainda  não existentes e mencionadas nesta biografia de Costa Paulino, que vale contudo pela profundidade e beleza psicológica, musical e de estilo revelados e com que nos eleva. 

 Oiçamos então a magnífica pintura que Higino da Costa Paulino, também pintor, esboçou de Bernardo Moreira de Sá, com 31 anos, e no fim leiamos o verbo magistral de Antero de Quental, pois é nas suas cartas que se encontra melhor o seu génio humano e espiritual.

Sugestão musical: Beethoven, sonata à luz da Lua, por Anastasia Huppmann: https://youtu.be/-VmQNKaOeEw

**

«Ami, cache ta vie et repands ton esprit, dizia Victor Hugo a um poeta. Tal conselho, porém, apenas encontra seguidores exactamente nesses que trabalham pelo amor do trabalho, que lutam por uma ideia pela própria ideia, sem ao seu esforço generoso misturarem um vislumbre sequer de interesse pessoal.
Bernardo Moreira de Sá é um desses raros trabalhadores. Vive um pouco ignorado, envolto na penumbra sem aspirações sociais que lhe roubariam o sossego; mas o seu espírito infatigável espalha-se no campo da arte e da literatura, concebe, empreende e realiza, sempre cheio de uma vitalidade, que raro se encontra naqueles que ostentam à luz das glórias mundanas o seu talento inútil.
As dificuldades de uma empresa qualquer não o desalentam; o ardor e convicção com que empreende a luta, mostram-no, como que animado, às vezes, do extraordinário vigor de um apostolado.
E verdadeiro apóstolo é ele, na verdade; apóstolo fervoroso do belo que cultiva numa das suas mais insinuantes manifestações: a arte musical.
O seu espírito eleva-se para o mundo da arte, como o poeta para o mundo risonho da fantasia; é como se ali nascesse, e ali encontrasse um ideal de venturas, ou o fim da própria existência. Hoje para ele a música não é um modus vivendi, que o seu espírito oscila e se reparte entre as lidas do professor e do literato, a música alimenta-lhe a força de uma paixão, duma atracção irresistível a denunciarem uma alma essencialmente artística, que não se satisfazendo com as desarmonias do mundo, busca no mundo das harmonias alguma coisa elevada e pura onde se ache bem e feliz.
Aquela organização privilegiada para a arte não é evidentemente um produto do meio em que viveu, nem representa nele a continuação das tradições artísticas de uma família; é uma natureza que nos aparece assim, formada, uma vocação decidida, patenteando-se logo no alvorecer da existência, como que a marcar a senda gloriosa por onde tem de decorrer. Em outro país, num outro meio, essa vocação teria sido cuidadosamente aproveitada e guiada nos seus primeiros passos; ter-se-ia robustecido e assinalado bem cedo no convívio dos grandes artistas, sob a direcção benéfica dos grandes mestres. Infelizmente para ele nasceu em Portugal, e, ainda para mais, sem uma dessas fortunas sólidas que suprem todas as deficiências de um país. A sua juventude foi, por isso, uma longa peregrinação, desde Guimarães, sua terra natal, até ao Algarve, através de um meio rude e incapaz de desenvolver aptidões artísticas, mas onde seu pai, magistrado distinto, era obrigado a estabelecer-se por algum tempo, sujeito como estava, ao esforçado cosmopolitismo da magistratura. 

Afinal acabou por se fixar no Porto, que em questão de arte, não sendo o mais esterilizador do país, não é dos mais avançados da Europa. A educação musical que recebeu na infância, boa ou má, serviu-lhe ainda assim para se infundir mais tarde naquela região luminosa, embora para tantos ainda obscura, onde, desde Gluck a Wagner, se tem ido acumulando todas as sublimes belezas da arte de hoje.
As quatro cordas do seu violino, vibradas pela mão débil de criança, começaram por certo por lhe levar o espírito nas ondas sonoras, através da arte italiana, espécie de porta, cujos umbrais, caprichosamente rendilhados, todos os artistas meridionais têm de transpor nos êxtases dum cantabile, ou no entusiasmo frenético de um thema com variações; mas acabaram por levá-lo até ao mundo onde viveram os espíritos de Mozart, Mendelssohn e Beethoven, tríade sublime, no seio da qual o verdadeiro artista é tão feliz em viver um momento, como o piedoso hindu uma eternidade no seio do grande Brahma!
Foi assim que a vocação musical de Moreira de Sá se aperfeiçoou e se robusteceu, e que ele adquiriu esse gosto apurado, e finíssimo critério, que tanto o distinguem actualmente. Do estudo perseverante e da observação nasceu o artista correcto que Lisboa teve ocasião de apreciar no esplêndido concerto de Mendelssohn e em outras composições, e que o Porto constantemente admira. E um produto do seu trabalho; porque, se se deve aos mestres alguns daqueles velhos triunfos da criança que se apresenta em público, executando com perícia e um talento precoce, qualquer fantasia italiana, a si, exclusivamente a si, deve ele agora a justeza, valentia e primor com que ataca e interpreta as mais difíceis composições das músicas alemãs.
Muito novo ainda reuniu-se no Porto, a um grupo desses amadores de música clássica que cultivavam as composições de Haydn e Mozart muito às ocultas, como se fossem doutrinas revolucionárias e heterodoxas em país ultra-católico, celebrando as suas sessões, apenas para um pequeno número de correlegionários sinceros, talvez para não serem acoimados de ímpios pelo que então ainda choravam a dirotte lagrime nos arrancos do Trovador ou dos Due Foscari.
Daquele centro de conspiradores contra o domínio exclusivo da melodia sensual e lânguida das composições italianas, nasceu mais tarde a sociedade dos quartetos, uma verdadeira demolidora de crenças e opiniões, que nos metia no crisol de um andante de Mozart, para depois entrarmos com a alma purificada num adagio de Beethoven, espécie de templo majestoso, onde o espírito se sente dominado por uma fascinação indizível, possuído pelo que quer que seja de sobrenatural ou divino!
Moreira de Sá era então o segundo violino da benemérita sociedade, mas indubitavelmente naquela plêiade de artistas ilustres, o mais entusiasta, o mais cheio de abnegação e de um espírito de proselitismo, que procura conquistar pela revelação completa de todas as belezas contidas numa criação genial, e por tal forma que é considerado, como um dos mais resolutos e inteligentes propagadores da música clássica entre nós. O arco manejado magistralmente, e a pena habilíssima do escritor vão realizando a árdua tarefa de devastar os entranhados preconceitos contra a música alemã; a execução conscienciosa do trecho e a sua critica apurada, unem-se para lhe porem em relevo toda a formosura. Nisto é Moreira de Sá auxiliado por uma verdadeira intuição musical. As suas faculdades estéticas adquiriram tal delicadeza e perfeição, que ele adivinha por assim dizer, toda a beleza e sublimidade duma dessas concepções que a muitos parecem vazias de sentimento, faltas de inspiração, de verdade ou de plano. Foi o que sucedeu com a música de Wagner.
Quando em Portugal apenas havia, talvez, notícia da existência daquele ousado inovador, como lhe chama Lavoix, daquele imortal criador do drama lírico moderno, já ele era um wagneriano enrajé, pronto a lutar pela música do futuro, e cheio de sincero entusiasmo pelo seu desenvolvimento.
Hoje, porém, graças à dedicação das sociedades de quartetos e de música de câmara, e à poderosa iniciativa de Moreira de Sá, as composições clássicas são justas e devidamente apreciadas. Os modernos trabalhos dos compositores alemães, russos, suecos, e de todos que seguem as belas tradições de Beethoven, Mendelsson, Chopin e outros, não existem já para nós apenas na noticia de algum jornal estrangeiro; têm sido auxiliados e saudados com entusiasmo nas obras mais notáveis de Brahms, Rubinstein, Grieg e tantos outros, que vão enriquecendo a arte moderna com verdadeiros primores.
Um outro modo de iniciação da boa música, e ao mesmo tempo um valente impulso na generalização e levantamento do gosto pela arte, empreendeu-o Moreira de Sá heroicamente, organizando o Orfeão Portuense, o único que existe em Portugal. É triste chamar-lhe o único, mas é verdade, porque outro não existe no nosso país! Contra as dificuldades que sempre surgem em instituições desta ordem, contra o indiferentismo, que passado o primeiro momento de entusiasmo, vem sempre matar os mais alevantados empreendimentos, aí está bem patente a vontade inquebrantável dum homem decidido, lutando porfiadamente por uma ideia nobilíssima, procurando mostrar às outras nações, que não nos conservamos de todo estranhos ao movimento artístico nelas realizado.
Moreira de Sá não é apenas um espírito de artista, animado pelo santo entusiasmo de propagar a sua arte predilecta, teve a par da educação musical uma educação literária e científica, amplamente demonstrada em vários trabalhos apreciáveis.
Trabalhador tão modesto como incansável, dotado de um carácter honestíssimo, de uma alma verdadeiramente pura, que converte em amigos sinceros todos os que o rodeiam, não consome a sua vida de constante labutação mirando a honrarias, a distinções oficiais, ao reconhecimento sequer dos seus concidadãos. Nada disso se dá com o seu génio despretensioso, trabalha pelas almas… de Beethoven e Mozart, talvez, e parece perfeitamente recompensado dos seus esforços, mandando-lhes para lá alguns centenares de admiradores genuínos.»

                                                                    * ~~~*

Depois deste magnífico parágrafo final, no qual Higino da Costa Paulino, refere o corpo místico da humanidade, ou a comunhão dos santos, sábios, artistas e heróis, dum modo muito peculiar: Moreira de Sá trabalhando pelas almas de Beethoven e de Mozart, ao dar a conhecer e ouvir as suas obras e portanto remetendo energias e almas admiradoras para eles, vejamos, através de uma fotografia de uma página do número de 15.XI.1905 do mensário A Revista, de Joaquim de Araújo, grande amigo de Antero, a carta que este, onze anos mais velho que Moreira de Sá, lhe dirige com tanta humildade e sinceridade acerca da sua musa e graça criadora, bem como do engenho, saudando "um homem tão inteligente e tão consciencioso artista", a quem "beijo as mãos", pelas palavras que lhe dirigiu e por "tudo", um tudo de infinita gratidão artística à Divindade...

   Transcrevamo-la para facilitar a leitura:

«A carta de V. Ex.ª, deixa-me penhoradíssimo, e preciso de uma certa força para resistir a um desejo expresso por maneira tão honrosa para mim.

Mas vai em três anos que deixei de fazer versos.

 A um homem tão inteligente e tão consciencioso artista, como V. Ex.ª, posso dar a verdadeira razão deste facto, porque sei que a compreenderá, aprovando o meu modo de proceder. Eu entendo que o artista e o poeta devem cessar de produzir desde o momento em que sintam enfraquecida ou perturbada na sua harmonia íntima e espontânea a faculdade criadora. É um sacrifício que lhes impõe a probidade estética, se assim posso dizer. Ora vai em 3 anos que este é o meu caso. Possuindo um processo e conhecendo os segredos da arte poética, podia, como tantos outros, continuar a fazer versos mecanicamente. Achei mais honrosa a solução contrária. Achei-a até mais prudente, porque a vontade e o processo não podem suprir a graça, quero dizer, a espontaneidade criadora, sem a qual as obras mais bem feitas não passam de sepulcros caiados.

Deixei-me pois de versejar, e cuido ter feito bem.

Entrei nestas explicações, até certo ponto íntimas, porque às expressões de V. Exc.ª, tão honrosas para mim, pensei não poder responder dignamente senão com a mais completa franqueza. Por elas e por tudo beijo as mãos a V. Ex.ª, de quem sou, com a maior consideração, 

Criado muito obrigado,

                          Anthero de Quental».

 

Acrescente-se entretanto  o início da sentida e valiosa dedicatória que Bernardo Moreira de Sá e a sua acção em Portugal receberam de António Arroyo no seu livrinho Parisina, Poema symphonico (segundo Byron) de Leopoldo Miguéz. Esboço crítico. Porto, 1896: «Meu caro Bernardo. Deixa-me pôr o teu nome no topo deste curto estudo de crítica; ele provém do movimento musical devido à tua vigorosa iniciativa, movimento que tem tornado conhecidas do público portuense as obras orquestrais de Mozart, de Beethoven, de Wagner, de Saint-Saëns, de Grieg, de todos os grandes compositores enfim. Eu desejara vê-lo fecundado pelo auxílio de todos os que pensam e sentem nesta malfadada terra; desejara ver nascer um dele um instituto que tu dirigisses com as tuas formosas qualidades de artista, de sábio e de professor, aliadas à maior tenacidade e a um ideal de vida que há muitos anos vejo sempre o mesmo no fundo e maior, cada vez mais completo e mais largo em dimensões. Venho por isso pôr  minha pedra nos fundamentos do edifício, embora tosca de forma, cheia de lezins e mal argumentada. Mas o filosófico pilriteiro já legislou para estes casos: "Cada qual dá o que tem, Consoante a sua pessoa". A obra de Miguéz, que tu acabas de nos revelar e tantas noites dum trabalho cruel te custou, foi executada de um modo notável, mercê dos teus esforços e do entusiasmo que soubeste inspirar aos artistas da orquestra, aos amadores como aos profissionais; eles sentem por ti a veneração e o carinhoso afecto que a bondade inteligente acaba por sempre por impor aos mais difíceis de convencer. (...)» 

«On se lasse de tout, excepté de comprendre...»

Porto, 17 d'Abril de 1896.     

A. Arroyo.»

 

Anote-se que António Arroio (1856-1934; e a vinheta final deste artigo é do seu livro) publicou em 1901 a narrativa algo fantasiosa da Viagem de Antero de Quental à América de Norte, onde a desilusão lúcida dele com a civilização capitalista norte-americana é evidente e profética, e que Joaquim de Negrão, o dono da embarcação e organizador da atribulada viagem e em que Antero calhou entrar, narrara a Bulhão Pato, e este publicara no I volume das suas Memórias. Em 1917 António Arroio publicará Singularidades da Minha Terra (na Arte e na Mística), num in-4º de 347 páginas e onde, após narrar belamente suas viagens ao norte, ao Sameiro, a Camilo Castelo branco, num dos capítulos, intitulado Em S. Carlos, aborda bastante a música, a mística e Beethoven, Berlioz, Wagner  e Massenet.

sábado, 6 de junho de 2020

Poesia Espiritual: da Natureza a Deus, do Universo ao Cosmos, a essência do Caminho espiritual.

 
Passeios à natureza e ao mar,
fontes de Divindade sem par.
Encontrar lá sua força imensa,
que incarna em nós intensa.

- Sou o Amor infinito e divino
capaz de suportar todas as penas
com a alegria da eternidade viva,
o júbilo determinado no íntimo.

Saibamos dar as mãos e ajudar,
pouco querendo aproveitar,
Deus é a grande alegria do doar
  e o nosso melhor prazer, ensinar.

Pelo pensamento e sentimento,
palavra justa e vivo exemplo
se constroem os lanços do Templo
onde Tu habitas, ó Deus imenso,
espírito inefável que em mim brilha
como luz e calor em sábio ardor.

Enfim, cada dia arrancar da minha inércia
o canto de rouxinol, o esforço de cavador.
Graças muitas dar pela graça recebida
de compreender Deus e seu desígnio
de fazermos do universo um Cosmos.

Sonhou Pascoaes o Regresso ao Paraíso,
outros a realização do Plano divino,
a Comunhão dos Anjos, mestres e humanos,
o santo Graal do fogo do amor unitivo
ardendo em todos os fraternos viventes.

Só sei que pouco ou nada sei
e que sou apenas uma centelha de ti,
mas aspiro: -Vem nascer em mim!

Poema escrito já há uns anos e reconstruído ou aperfeiçoado em 6-VI-2020, ilustrado comd uas Pinturas de Bô Yin Râ.
Poetizar a participação e comunhão da Humanidade e Divindade no Cosmos... Aum...

quarta-feira, 3 de junho de 2020

Poema de invocação do Espírito santo, subtil e misterioso.


Ao Espírito Santo

Ó tu, Espírito, tão misterioso e desejado,
Há tantos séculos procurado e cultivado,
Quem te conhece verdadeiramente,
Quem te ama sincera e plenamente?

Também eu me fiz ao caminho
A subir a montanha sagrada
Que leva para além da morte,
Olhos fixos nos que já passaram.

Vejo o Antero de Quental e o Pessoa
Vejo o Leonardo e o Agostinho da Silva,
Sá de Miranda e Luís de Camões,
S. António e Damião de Goes.

Chegam-me estes vultos de almas
Embora o Ficino e o Bô Yin Râ,
O Pico dela Mirandola e o Erasmo
O Lefévre d'Étaples e o Bouvelles
O Reuchlin e o Beroaldo
O Pitágoras e o Jesus
Me sejam também amigos.

Oh que grande comunidade
De viventes em tua realidade,
tentando passar em mensagens
O que de vivenciável é conseguido.

Vem, ó subtil Espírito Santo
Cada vez mais às nossas vidas
Não as deixes perderem o ritmo,
de arderem na tua intensidade.

Voo luminoso do Espírito Santo
Afasta distracções e preocupações
E põe-nos a sintonizar  e a discernir
pelas orações e meditações,
a tua presença como alma do mundo,
Santa Sofia tingindo-nos de sabedoria.

Embora longa vá já a procissão
Poucos conhecem bem a Tradição,
O que se transmite pelo coração;
Vem pois e aumenta a nossa comunhão.

Sim, só com a porta aberta,
Do peito dissolvidas as grades,
Pode então o coração voar alto
E reconhecer-se livre na unidade.

O Espírito santo é a libertação
Da alma das suas limitações,
É o amor rosa derramando-se
Dum peito ensanguentado
Como o do abnegado pelicano.

Os braços ao alto que clamam
Pela vinda do Espírito divino
Cumprem sua missão sacerdotal
de unirem o Céu e a Terra num abraço.

E se pensas nas pessoas que amas
Os braços abertos em cruz de doar
Irradiando na aspiração do coração 
Desce o Amor em abraço a circular

As três Graças renascentistas
A ilustrarem a natureza do Amor:
Parte, ama e retorna, sê e dá,
Assim sabe agir e criar paz,

Ora criando e partilhando,
Ora desfrutando a comunhão,
Ora refluindo sobre o Divino
O coração acesso em gratidão.

Permanece pois connosco, ó espírito
Em cada dia da peregrinação terrena
Irradiando mais luz no nosso coração
Que agora já é todo teu em doação. 

Poema começado há já algum tempo e concluído na quarta-feira depois do Pentecostes, 3.VI.2020. Lisboa sacra.

Os Mestres do Irão e seus valiosos ensinamentos: Najm al-din Kûbra, ou Kobra. Por Pedro Teixeira da Mota.

                              
O ensinamento de Najm al-din Kûbra, ou Najmodin Kobrâ, (1145-1221, Konya. Possa ele inspirar-nos), divulgado no Ocidente principalmente por Henry Corbin (em geral e sobretudo no aspecto das cores que se revelam na meditação), Fritz Meier e Paul Ballanfat, é inegavelmente portador de grandes forças espirituais e está de acordo com a realidade espiritual vivenciável pelo peregrino sincero de qualquer tradição boa, pelo que conhecê-lo é útil e valioso.
 A sua visão do ser humano, fruto do ensinamento do seu mestre Ruzbihan Baqli e de longas vigílias, asceses e meditações, é a de que cada pessoa é ou tem, além do corpo físico, uma alma (potencialmente) da cor do céu e que surge como a água que brota duma fonte, e uma inteligência e um espírito luminoso (no seu nível superior sendo já a denominada "consciência secreta") provenientes de Deus. 
Quanto ao objectivo da nossa aspiração (muito importante, pois sendo um atributo de Deus é vivendo-a ou intensificando-a que a Luz divina em nós cresce), e da nossa demanda ou viajem (para Kubrâ o ser humano é basicamente um viajante, sayyâr, tendo mesmo escrito um tratado das Regras da Viajem) é Deus, do qual saímos na pré-Eternidade e num Pacto primordial pelo qual existimos na Unidade Divina. 
Este pacto de fidelidade é contudo sem dúvida um dos níveis e estados do nosso Ser mais difíceis de se realizar ou relembrar, pois a nossa consciência está demasiado limitada a esta vida e corpo e quase apenas no plano físico. Já como pode o nosso espírito unir-se com a Luz que desce da Divindade será talvez a principal questão tratada nos seus escritos com grande sabedoria.
 Os principais caminhos para se chegar à Luz são então a diminuição ou moderação do descanso e dos alimentos ("sufismo é fome, fome"...), a entrega a um mestre (com o qual se estabelece no coração um laço iniciático que permite a consulta ou a comunicação tele-anímica a qualquer momento), uma vida ascética (pelo qual se transmuta o corpo grosseiro e se aprende a controlar a paixão, irmã- gémea da alma, e a ouvir a inteligência superior, irmã-gémea do coração íntimo, bem como a morrer para si próprio) e o desenvolvimento de certas qualidades, tais como a paciência, a vigilância sobre si mesmo, o contentamento, a confiança, a atenção a Deus e a prática da invocação de Deus, através da repetição dos seus nomes de Deus, repetidos como mantras.
  Kûbra distingue três caminhos ou vias: o mais lento da gente piedosa, religiosa, cumpridora dos seus deveres. Depois, o dos que lutam fortemente no seu interior, os justos. E, finalmente, a via mais rápida da aspiração amorosa e da morte em Deus, na qual se viaja em estados de amor e êxtase. Este caminhar mais rápido será o seu e que dinamizará nos seus discípulos: a via kubrawîe, a dos que voam para Deus, sem dúvida uma bela imagem a cultivarmos e que é comum a outras tradições, nomeadamente na cristã com a representação da alma como um coração dotado  de asas.
Acerca do valor do desejo no caminho, Najm al-din Kûbra costumava contar a história do sheikh al-Kharaqâni:  na meditação do meio-dia, tendo subido às alturas do trono do Deus (uma imagem do acercamento Divino comum nos sufis) e feito mil circunvalações, encontrou um grupo de seres tão espantados com a velocidade com que ele rodava à volta de Deus, que lhes respondeu que  seria certamente a sua natureza de fogo e de luz, movida pelo desejo ou aspiração.
Kûbra valorizava muito a confiança pura em Deus, como a melhor forma de evitar os ataques de forças negativas, indicando como a oração mais própria para sermos libertos de forças negativas, esta: «Yâ ghiyaâth al-mustaghîtîn aghithnî,» «Ó Socorro dos que imploram o socorro, socorre-me».
Já para saber se devíamos fazer isto ou aquilo, ou se tal pensamento era ou não da alma, se era ou não de Deus, preconizava a consulta tele-anímica com o mestre e o desenvolvimento dum sentido de gosto espiritual, através do qual o sabor doce revelava o divino e o amargo o que não deveríamos assimilar. Este trabalho sobre um dos sentidos espirituais menos comuns ou trabalhados, o do sabor, é certamente uma sugestão valiosa...
Podemos dizer que o caminho espiritual é no fundo uma via alquímica de extracção do ouro filosofal pela visão espiritual, pois é a abertura do órgão contemplativo  que nos permite ver a luz interior e divina, bem como discernir as características subtis do estado ou estação do caminho da vida em que nos encontramos. Assim Najmal-din Kûbra dá-nos vários exemplos do ultrapassar das influências dos cinco elementos (terra, água, ar...) nos sonhos e visões, e realça que a visão do poço da alma que podemos obter nas nossas meditações surge ao princípio como algo que está em cima de nós, depois em frente e, por fim, ao fundo de nós próprios, e que se trata da abertura progressiva do coração para o mundo espiritual, em simultâneo com a clarificação da sua luz, até ela se revelar angélica, de amor e de cor verde, que caracterizam a condição mais purificada, denominada Senhorial.
Sobre as cores que se revelam no interior, nas meditações ou concentrações visionárias, segundo a sua tradição, são ao princípio a cor amarela e cores menos claras e depois à medida que o discípulo se vai purificando e concentrando começa a ver o azul da alma viva, depois o vermelho do poder da concentração e, por fim, o verde do coração espiritual. 
Há certamente outras graduações das cores, tanto mais que elas dependem da cor principal de cada um, mas Kobra pela sua experiência deu esta gradação. Mas não  somos visitados pelas cores pois há outras importantes visitações, tal a dos anjos que entrando pelas costas descem no coração e derramam serenidade, com os nossos pensamentos permanecendo mais em Deus. Eis uma boa (e real) indicação de abertura ao Anjo...
Najm al-din Kûbra praticava sobretudo a invocação do santo Nome de Deus, Allah, recomendada no Corão, II=152: «Invocai-me, Eu vos invocarei», ou ainda (XVIII=24) «Invoca o teu Senhor quando o esqueces», e chegava mesmo a ouvir Anjos cantarem o fundacional bismillah: «Em nome de Deus, tal como não há divindade senão Ele, o todo Compassivo, o muito Compassivo», (II=163), de tal modo que parecia que Deus descera das Alturas para o Céu que rodeia a Terra, visitação esta que os cristão deveriam estar familiarizados, pois tal também pode acontecer durante a celebração do Natal.
Kûbra deixou-nos muitas páginas de ensinamentos sobre a invocação (o dikhr) e a sua grande importância, pois é ela que nos pode levar acima do tempo, ao nosso corpo espiritual e à existência divina, nomeadamente as características e modos (por exemplo, ao pronunciá-la simultaneamente ouvi-la), os objectivos e resultados, pois é por ela que o coração mais é iluminado e que a luz divina se une connosco, devendo ser verdadeiramente apreciada, amada, para que ela se revele na sua plenitude e nos desvende os segredos e poderes íntimos.
Invocação não só da língua, audível, mas sobretudo do coração e da consciência secreta, estes níveis dando a energia e a capacidade ao invocando de se ligar, ou mesmo tornar-se de certo modo, o Invocado, num processo gradual em que a repetição do nome de Deus, dirigido mesmo para o coração, purifica-o e torna-o habitação divina e por fim patenteia a revelação e unicidade divina. 

São indicados dois percursos energéticos, aquando da repetição ou invocação do nome de Deus (Allah, e Huwa, Ele), ou da sua unicidade lâ ilâha illâ ‘llâh, não há deus senão Deus, aliás presentes em muitos dos ensinamentos dos mestres sufis: lâ ilâha repete-se subindo do ventre para a cabeça, e o illâ ‘llâh, descendo para o coração, ou então as mesmas palavras, a 1ª subindo pelo lado direito e a 2ª descendo pelo lado esquerdo para o coração, este de afirmação do senão Deus (amor, luz), que vai entrando no coração. Outro percurso conheço pessoalmente, que me ensinou um sufi alfarrabista turco em Istambul, que traduzira Ibn Arabi para turco. 

Se feita com atenção e amor, esta prática pode gerar vários resultados, desde a substituição da dominação do coração pela nossa alma e as suas relações com o mundo, pela de Deus (e a consequente iluminação do coração até então entrevado) até à abertura da visão espiritual e à descoberta da consciência secreta, ou cimo do nosso espírito. Estas recomendações são bem valiosas de se lembrar, quando no Ocidente e em alguns grupos de Yoga pratica-se demasiado mecanicamente o Om e outros mantras

Já a oração é a conversa no íntimo do nosso ser com Deus, realizando-se no seu aspecto mais elevado no coração que dialoga com Deus, pois por cada palavra ou frase ou sentimento que a pessoa exprime Deus responde-lhe com outras palavras e vibrações. Tem de ser o coração a orar: a Palavra, o Verbo, está lá, e os sons são apenas testemunhos dessa ardência.
Ora esta forma de oração derrama também no sentido espiritual do gosto uma grande doçura, e portanto é importante estarmos mais conscientes deste gosto interior, o qual se vai obtendo pela transmutação do corpo grosseiro no corpo verdadeiro, que deve ir aparecendo a partir das práticas, da ascese, das provações difíceis e do amor. Será ele que nos une ao corpo verdadeiro dos outros seres, permitindo manifestarmos mais o nosso corpo espiritual. A independência deste corpo nobre ou espiritual em relação aos cinco elementos é vivenciada por toda a gente pelo menos em alguns sonhos, e pelos discípulos ou iniciados através da concentração visionária.
A potência interior da invocação do nome de Deus, da sua repetição consciente está também visível nos relatos que Najm al-din Kûbra partilha de começar a emanar de cada membro do corpo uma invocação com um som parecido ao de uma trompa ou chifre ou ainda dum tambor, vindo mais tarde a estabilizar-se como o zumbido duma abelha. É interessante notar que estes sons audíveis interiormente são também descritos pelos yogis e praticantes da meditação, sendo chamado na Índia anahata nada, o som sem som, atribuindo-se para cada chakra ou centro energético ao longo da coluna vertebral um tipo próprio de som. Na Índia mogol do século XVII o mestre Dara Shikoh, filho de Mumtaj e do imperador Shah Jahan, trabalhou bastante este aspecto nas suas práticas e escritos, como tenho divulgado.
Estes sons são resultado de o homem conter dentro de si os cinco elementos e surgem assim também como a ramagem das árvores agitada pelo vento, ou o crepitar do fogo, e são sinais do cântico de glória a Deus de todo o nosso ser que a invocação origina. Aliás Najm al-din Kûbra descreve mesmo o processo internamente dizendo-nos que as palavras sobem do coração para a cabeça e para Deus e que Deste descem energias espirituais ou mesmo a cor verde vivificando o coração de tal modo que ele vai crescendo e fortificando-se chegando mesmo a dizer, num bom sinal de ecumenismo,  que o coração é como Jesus em criança e a invocação como o seu leite.
O aprofundamento da invocação e repetição do nome de Deus leva à sensibilidade do corpo espiritual e dos movimentos energéticos e luminosos que aí acorrem, seguindo-se estados de resplandecência e de certa união com o Invocado ou, pelo menos diremos nós, com o nosso espírito.
Claro que esta invocação implica um trabalho hercúleo da limpeza das estrebarias  dentro da nossa alma comum e das quais em geral nem sequer estamos cientes da quantidade de animais, vícios e distracções pois só quando começamos a meditar e a praticar a invocação de Deus é que  nos damos conta ou tomamos consciência.
Com a continuidade das práticas o nosso corpo nobre ou precioso vai-se desenvolvendo e com ele a capacidade de visão, pois o espírito é um órgão subtil celestial, capaz não só de ver como de viajar no mundo subtil e chegar mesmo ao Sol. A contemplação pode ser dirigida para o mundo físico, para o mundo subtil ou oculto, com as suas terras, seres e coisas, e livros (escritos com pontos, letras e imagens, que lidos permitem a ciência intima) e, finalmente para o que o céu contém (tal como os planetas com as suas características próprias, segundo Kûbra: Saturno e a capacidade de concentração visionária, Marte da discórdia, Vénus da alegria e emoção, e Mercúrio do conhecimento e ciências), chegando-se por último à pureza de Deus. 
Outros aspectos possíveis de meditação, invocação ou contemplação são os atributos de Deus ou os Seus Nomes (algo muito praticado tanto no Islão como no sufismo) e que por vezes nos chegam inesperadamente, e dos quais alguma essência acaba por depositar-se no nosso coração e aí crescer.
Estas práticas assentam numa comunicação de energias ígneas, de luzes e fogos, que tanto sobem do coração e da sua porta aberta para Deus, como descem do trono de Deus, e que vão purificando-nos até que a face brilha e irradia luz do 3º olho, chegando mesmo uma pessoa a ver-se com uma face totalmente luminosa e, por fim, a ver uma personagem, o Mestre do mundo escondido, o pré-Eminente, a Balança do mundo oculto, que acabará por fundir-se connosco, e que no fundo é o Eu divino em nós, embora este nível seja complexo de ser verbalizado em identidades distintas...
Kubrâ descreve pois uma ascensão da capacidade de visão interna que começa por abrir-se pelo olho espiritual, em seguida pela face, depois pelo peito e finalmente por todo o corpo. Certamente que as pessoas podem ter experiências fora desta ordem, mas já que se limitam muito ao olho espiritual é bom este testemunho vivenciado de Kubrâ...
O conhecimento do tão procurado e exaltado Nome supremo de Deus brotará do coração e inclui todos os signos e letras, e disto nascerá o Amor no seu máximo, original, incriado, onde o invocador ou nobre viajante se unificará ou aniquilará, como diz citando Al-Hallaj: «Admiro-me de Ti e de mim: tu aniquilaste-me a mim mesmo em Ti. Aproximaste-te de tanto e tão bem que Acreditei que Tu és Eu.»
O mesmo se passa no Amor, como em geral os grandes místicos e amantes têm experimentado: o amante aniquila-se de tal modo no amor que se torna amor, aniquilando-se depois na amada. Aqui há a passagem do amor do coração, ao amor fervente, do espírito, numa ascensão à aniquilação ou superação de si na essência bondosa, luminosa e divina.
Falamos no início deste texto que Najm al-din Kûbra apresenta a ascese como uma parte do caminho e de facto a sua ideia é a de que há necessidade dela na alma tanto como purificação, arrependimento e pacificação, para que se torne verdadeiramente coração, como no desejo ou apetite, o qual deve trocar os objectos dos cinco sentidos perecíveis pelo que é permanente e eterno, o espírito divino, passando do nível corporal para o desejo do coração e a aspiração ao Alto, e recebendo então as luzes da beleza e da compaixão divinas.
A evolução ou maturação do ser humano é caracterizada pelas asas da esperança e do receio dos jovens, no seu limitado saber, da contracção e da dilatação (do coração) do homem maduro, com o seu livre arbítrio emanando do poder do espírito pré-eterno (e assentes nas suas qualidades de paciência e de gratidão), e as da intimidade e veneração do ancião (assentes na sua satisfação e confiança), que ainda se transformarão nas do conhecimento e do amor, até chegar às da renúncia e da estabilidade. Esta graduação biográfica, em forma de asas, é bastante original e valiosa...
A revelação dos Atributos Divinos pode surgir em duas linhas principais, a da Beleza íntima, e a da Majestade venerada, a primeira mais doce e generosa, a segunda mais poderosa, impetuosa ou violenta até.
É valioso notarmos que para Najm al-din Kûbra os atributos divinos de beleza, compaixão e benefício sejam virgens belíssimas e puras, por detrás dos seus véus....
Acerca do famoso verso corânico III=103: «Protegei-vos segurando a rédea de Deus e não vos dividindo», dirá que no aprofundamento da concentração visionária e da relação entre o discípulo e Deus, quando cresce a aspiração e o pedido é sincero, emana de Deus uma luz que une os corações dele Consigo, de tal modo que se sente o gosto da ligação íntima amorosa e se vê mesmo uma corrente vinda do céu até ao coração, que é assim protegido. Isto é a rédea de Deus. Muito original esta visão, ligada até com a raiz Yug, de Yoga e do nosso Jungir, pôr sobre jugo ou rédea...
Esta concentração visionária que provém do recolhimento tem o seu oposto na dispersão, que é para Kubrâ o pior castigo que podemos ter. Ora, se observarmos o que se passa hoje e no estado psíquico das pessoas tão sujeitas a informações e contra-informações, publicidades e aliciamentos, e como lhes é tão difícil recolherem-se e portanto abrirem o seu olho espiritual e religarem o coração a Deus, concluiremos quão grande e difícil é actualmente a nossa tarefa. Najm al-din Kûbra exortar-nos-á pois a roubarmos tempo, uma hora que seja, a todos os ladrões da nossa alma, para a consagrarmos a Deus, à Sua invocação.
Dirá ainda que o recolhimento é o apego do coração ao trono de Deus, ou o apego do trono ao coração, ou ainda o encontro dos dois a meio do caminho. Depois, Deus instala-se no coração e, a propósito da polaridade primordial Rahman Rahim, dirá que Deus assente no trono é o Todo, ou o Mais, Compassivo (Rahman), e o que se manifesta no coração é o Muito Compassivo (Rahim). É na frase que se recita antes de cada sura do Corão, a basmala, "bi-smi llāhi r-raḥmāni r-raḥīm" "Em nome de Deus, o Mais Gracioso e o mais Misericordioso" que encontramos ar-Rahman e ar-Rahmin, sendo ainda usada em muitas outras circunstâncias como bênção..
No avanço do murid (discípulo) para Deus surgem as fases da sobriedade e do inebriamento quando o discípulo sente que na morte do seu ego o Eu divino é ele, e exclama (tal como na Índia, os místicos do Advaita Vedanta, nomeadamente no Astravaka-Gita, que traduzi, comentei), nesses estados de maior exaltação divina: «Glória a mim, Glória ao meu Eu. Como o meu nível é elevado». Estes estados de grande comunhão com o Divino foram experimentados por Kubrâ que explicou também o verso corânico II=255, «O Vivo, o Sempre existente, em quem nem sono nem sonolência entram», como referente à consciência sempre em oração ou ligação a Deus. Um estado de realização que pode provocar alguma insónia em quem, a dado momento da noite, já queria dormir....
Kubrâ valoriza bastante os retiros, que idealmente não devem sequer ter prazo, e que são como uma oficina de ferreiro onde o jejum (conforme o hadith canónico: «O demónio escorre através da descendência de Adão pelos canais do sangue. Não estreitareis estes canais pelo jejum?», a pureza e a oração e a invocação apuram a ligação ao mestre e a Deus. Invocação que faz com que a energia espiritual entre por essas artérias e veias, purificando-nos e que deve chegar a um ponto em que é ela que nos invoca, ou melhor que invoca em nós...
No seu suporte da respiração, revela-se como o som (presente no nome Allâh) e que é o nome de Deus, que sobe do coração, e que desce do trono de Deus. Certamente que como disse o mestre Abû ‘l-Najîb, comentando o verso corânico XXVI=89: «Só aquele que vem a Deus com um coração são», o meu coração é apenas como um canjirão que se esvazia para Ele».
A tradicional linguagem dos pássaros referida pelos místicos é considerada por Kûbra de dois modos: brota dos afectos que existem no peito das aves, e pode emanar do coração do ser que está intimamente unido a Deus, como sinal da sua alegria. Kubrâ diz-nos mesmo que não aprovando muito isto (por ser um sinal exterior), um dia ouviu esse canto subtil espiritual num fakir que se dirigia para a cidade santa Karbala (hoje em dia no Iraque e famosa pelas barbaridades norte-americanas quando o invadiram), mas que este lhe respondera que se Deus o permitia, era uma bênção.
A descrição dos estados mais intensificados de consciência é apresentada de vários modos, como por exemplo, a de que quando o ardor e a concentração aumentam, o nobre viajante tem a impressão que ora os sinais entram dentro dele ora ele penetra neles, ou ainda que as estrelas do céu se derramam sobre ele ou que o céu desce sobre ele ou, finalmente, que saboreia o céu inteiro dentro do seu peito ou mesmo que é levado ao alto e que vê a terra de cima.
E, finalmente, a revelação do seu ser de luz, do guia do mundo oculto, o sol da fé, o sol do coração, que o sábio Henry Corbin tão bem relacionou com o filão pré-islâmico do ensinamento de Zoroastro sobre a união com a nossa Daena, o Anjo feminino que é a nossa contraparte celestial, e que de certo modo pode ser compreendida seja como a nossa alma gémea, seja como a manifestação em nós do Eu divino, individualizada num corpo de luz ou de glória originado a partir do coração purificado e ligado ao  mestre e aos nomes e atributos de Deus.
 Para terminar este texto, concluído agora dia 3.VI.2020 e tendo sido gerado à volta da minha peregrinação ao Irão em 2012, e que resume frustemente algo do tão valioso ensinamento de Najm udin Kûbra, sobretudo a partir da sua obra principal As eclosões da Beleza e os perfumes da Majestade, fiquemos com uma bela definição dada por ele do Amor: «o Amor é a obediência do amante à amada.»
Saibamos nós viver tal, nos seus diversos níveis...