Ao Espírito Santo
Ó tu, Espírito, tão misterioso e
desejado,
Há tantos séculos procurado e
cultivado,
Quem te conhece verdadeiramente,
Quem te ama sincera e plenamente?
Também eu me fiz ao caminho
A subir a montanha sagrada
Que leva para além da morte,
Olhos fixos nos que já passaram.
Vejo o Antero de Quental e o Pessoa
Vejo o Leonardo e o Agostinho da Silva,
Sá de Miranda e Luís de Camões,
S. António e Damião de Goes.
Chegam-me estes vultos de almas
Embora o Ficino e o Bô Yin Râ,
O Pico dela Mirandola e o Erasmo
O Lefévre d'Étaples e o Bouvelles
O Reuchlin e o Beroaldo
O Pitágoras e o Jesus
Me sejam também amigos.
Oh que grande comunidade
De viventes em tua realidade,
tentando passar em mensagens
O que de vivenciável é conseguido.
Vem, ó subtil Espírito Santo
Cada vez mais às nossas vidas
Não as deixes perderem o ritmo,
de arderem na tua intensidade.
Voo luminoso do Espírito Santo
Afasta distracções e preocupações
E põe-nos a sintonizar e a discernir
pelas orações e meditações,
a tua presença como alma do mundo,
Santa Sofia tingindo-nos de sabedoria.
Embora longa vá já a procissão
Poucos conhecem bem a Tradição,
O que se transmite pelo coração;
Vem pois e aumenta a nossa comunhão.
Sim, só com a porta aberta,
Do peito dissolvidas as grades,
Pode então o coração voar alto
E reconhecer-se livre na unidade.
O Espírito santo é a libertação
Da alma das suas limitações,
É o amor rosa derramando-se
Dum peito ensanguentado
Como o do abnegado pelicano.
Os braços ao alto que clamam
Pela vinda do Espírito divino
Cumprem sua missão sacerdotal
de unirem o Céu e a Terra num abraço.
E se pensas nas pessoas que amas
Os braços abertos em cruz de doar
Irradiando na aspiração do coração
Desce o Amor em abraço a circular
As três Graças renascentistas
A ilustrarem a natureza do Amor:
Parte, ama e retorna, sê e dá,
Assim sabe agir e criar paz,
Ora criando e partilhando,
Ora desfrutando a comunhão,
Ora refluindo sobre o Divino
O coração acesso em gratidão.
Permanece pois connosco, ó espírito
Em cada dia da peregrinação terrena
Irradiando mais luz no nosso coração
Que agora já é todo teu em doação.
Poema começado há já algum tempo e concluído na quarta-feira depois do Pentecostes, 3.VI.2020. Lisboa sacra.
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