quarta-feira, 3 de junho de 2020

Poema de invocação do Espírito santo, subtil e misterioso.


Ao Espírito Santo

Ó tu, Espírito, tão misterioso e desejado,
Há tantos séculos procurado e cultivado,
Quem te conhece verdadeiramente,
Quem te ama sincera e plenamente?

Também eu me fiz ao caminho
A subir a montanha sagrada
Que leva para além da morte,
Olhos fixos nos que já passaram.

Vejo o Antero de Quental e o Pessoa
Vejo o Leonardo e o Agostinho da Silva,
Sá de Miranda e Luís de Camões,
S. António e Damião de Goes.

Chegam-me estes vultos de almas
Embora o Ficino e o Bô Yin Râ,
O Pico dela Mirandola e o Erasmo
O Lefévre d'Étaples e o Bouvelles
O Reuchlin e o Beroaldo
O Pitágoras e o Jesus
Me sejam também amigos.

Oh que grande comunidade
De viventes em tua realidade,
tentando passar em mensagens
O que de vivenciável é conseguido.

Vem, ó subtil Espírito Santo
Cada vez mais às nossas vidas
Não as deixes perderem o ritmo,
de arderem na tua intensidade.

Voo luminoso do Espírito Santo
Afasta distracções e preocupações
E põe-nos a sintonizar  e a discernir
pelas orações e meditações,
a tua presença como alma do mundo,
Santa Sofia tingindo-nos de sabedoria.

Embora longa vá já a procissão
Poucos conhecem bem a Tradição,
O que se transmite pelo coração;
Vem pois e aumenta a nossa comunhão.

Sim, só com a porta aberta,
Do peito dissolvidas as grades,
Pode então o coração voar alto
E reconhecer-se livre na unidade.

O Espírito santo é a libertação
Da alma das suas limitações,
É o amor rosa derramando-se
Dum peito ensanguentado
Como o do abnegado pelicano.

Os braços ao alto que clamam
Pela vinda do Espírito divino
Cumprem sua missão sacerdotal
de unirem o Céu e a Terra num abraço.

E se pensas nas pessoas que amas
Os braços abertos em cruz de doar
Irradiando na aspiração do coração 
Desce o Amor em abraço a circular

As três Graças renascentistas
A ilustrarem a natureza do Amor:
Parte, ama e retorna, sê e dá,
Assim sabe agir e criar paz,

Ora criando e partilhando,
Ora desfrutando a comunhão,
Ora refluindo sobre o Divino
O coração acesso em gratidão.

Permanece pois connosco, ó espírito
Em cada dia da peregrinação terrena
Irradiando mais luz no nosso coração
Que agora já é todo teu em doação. 

Poema começado há já algum tempo e concluído na quarta-feira depois do Pentecostes, 3.VI.2020. Lisboa sacra.

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