sexta-feira, 10 de maio de 2024

Dos Anjos e da nossa ligação com eles.

O Anjo como amigo celeste e guia da alma peregrina no Caminho.

Outrora os seres humanos tinham mais perto de si os Anjos e cultivavam tal relacionamento, em geral até de um modo familiar, através de um pequena ara ou altar e que era fonte de inspiração e protecção. Na Pérsia chamados Fravashi, na Grécia Daimons, em Roma Génios, na Cristandade Anjos da Guarda, e com outros nomes noutras tradições, representados, e correctamente, com asas das energia subtis, eles faziam com que os seres não se sentissem tão sós ou desamparados, pois quando se sofria por  isto ou aquilo ou quando havia dúvidas quanto ao que seria o mais correcto ou verdadeiro, cogitava-se, orava-se e deixavam-se vir à mente as consolações, inspirações e intuições que eles poderiam fomentar,  harmonizando as pessoas e contribuindo também para que a ligação entre a Terra e o Céu, a Humanidade, os seres Celestiais e a Divindade estivesse mais viva.

Hoje a maioria dos seres perdeu a relação interior e vertical com eles e talvez os próprios anjos se tenham de certo modo afastado, já que nos horiontalizámos ou mesmo animalizámos muito, E se oramos e os invocamos para que ajudem nos nossos pedidos, preces, trabalhos, fazemo-lo apenas por uns minutos e depois admiramo-nos de não receber nada e desistimos.

Todavia esses minutos talvez nem tenham chegado para diminuir a agitação mental e as sombras na nossa aura que impedem que os nossos pedidos se elevem nítidos até ao plano consciencial deles, mesmo que em volta de nós...

A comunicação com os Anjos não é como uma chamada telefónica para uma central, onde logo está pronto a responder um deles, ou mesmo o que imaginariamente tem um nome que seria o do Anjo do dia do nosso nascimento, uma mistificação cabalística que no séc. XIX e XX, nomeadamente com o francês Haziel, recebeu um tratamento de pronto a vestir superficialíssimo e enganador em vários livros de grande sucesso no new age comercial que alienou e aliena ainda tanta gente com miranbolices e cabalices.

Não, nada disso. Só o esforço dos nossos trabalhos e de vida e depois uma meditação e oração mais perseverante e longa, que deve partir do coração, com aspiração e amor, é que vai abrindo por entre a neblina da aura, e a agitação da mente, um canal de ligação entre eles e a nossa visão espiritual.

A ligação com o Anjo da Guarda, ou a conversa-convergência com ele é portanto um trabalho bem difícil para quem está muito envolvido nas dispersões e preocupações do mundo e só por uma prática de vida mais harmoniosa e auto consciente, pautada perseverantemente por momentos regulares de oração, meditação e contemplação,  é que podemos ser agraciados com as suas bênçãos ou mesmo com a sua visão abençoadora e inspiradora.

Boas religações e inspirações. Mantenha o graal do seu peito e coração acesso com a chama do amor e da invocação do Anjo e da Divindade!

quinta-feira, 9 de maio de 2024

A conversão e morte de Leonardo Coimbra, vista por Teixeira Pascoaes, segundo Sant'Anna Dionísio, em "O Poeta, essa ave metafísica"

                                                  

O princípio do 4º capítulo do livro O Poeta, essa ave metafísica, (Lisboa, Seara Nova, 1953), consagrado a uma visita de Sant'Anna Dionísio a Teixeira de Pascoaes na sua casa em Gatão, Amarante, intitulado Fim de tarde, é verdadeiramente de antologia pois Sant'Anna Dionísio consegue fazer-nos quase sentir que estamos na Grécia ou no Mediterrâneo nos tempo antigos, ao mesmo tempo que nos aproxima do mistério do fatum anímico-espiritual de Leonardo Coimbra e de Teixeira Pascoaes:
«Depois de uma pequena volta pelo jardim, sentamo-nos junto de uma antiga fonte sob um dossel de velhas videiras ainda com alguns cachos de uvas brancas e lilases, de Corinto. Por momentos afasto-me para provar alguns bagos de um belo cacho doirado.»...

Estamos bem preparados, aguçados mesmo no sorver o néctar, para entrar no diálogo mais dramático que  os dois vão travar nesse memorável dia outonal de 1949 e talvez  sobretudo para Sant'Anna Dionísio, o discípulo mais fiel e pleno de Leonardo Coimbra, constantemente envolto em polémicas em sua defesa,  quer no valor de sua personalidade, vida e obra como também acerca da sua conversão ao catolicismo e súbita morte em acidente de automóvel numa curva da estrada da Lixa.  

Sant'Anna Dionísio

Vejamos como Sant'Anna Dionísio narra o diálogo e as ideias que Teixeira de Pascoaes concebia quanto à conversão e morte de Leonardo Coimbra:
«E voltamos ao assunto do Leonardo Coimbra. Pascoaes, como sempre, em dois traços define o desaparecido companheiro: 
-  Era uma alma forte e alegre... Mas foi pena aquele passo final... aquela conversão... Foi o Diabo....
S. Dionísio.- Na verdade..., respondo. Mas Leonardo viveu sempre em estado de perigo diante do catolicismo. Era uma espécie de vertigem a chamá-lo.
T. Pascoaes. - Pois sim. Mas foi pena que se convertesse na ocasião em que o fez. Se estivesse um governo anti-religioso, duro, avermelhado, - está bem; a sua atitude seria justificada e heróica. Assim, - foi o diabo.»
Falam depois de outros assuntos mas de repente Pascoaes, certamente sabendo da grande devoção de Sant'anna Dionísio a Leonardo Coimbra, e consciente de ser misteriosa a sua afirmação, contra-ataca: «E não julgue que digo que foi o diabo, como quem diz merecia uma surra. Digo foi o diabo porque estou em crer que foi o próprio Satanás quem esmagou o pobre Leonardo naquela noite de breu, no fundo de uma horta, - foi o filho das Trevas... A não ser que tenha sido outra a força invisível que o moveu. E essa razão pode ser ainda mais trágica que a caprichosa vontade do Diabo. Pode ter sido a força do Desespero. A queda na descrença ou na crença religiosa é sempre o mesmo acto desesperado»

Esta última afirmação parece desvendar-nos Pascoaes na sua velha linha anarquista, libertária, mas muito dualista de Deus Jehova e do Diabo,  pois equipara a descrença, do agnosticismo, com a crença religiosa, considerando-as ambas como actos de desesperados, e talvez possamos aceitar tal se ele se refere a certo tipo de crença cega num corpo de dogmas, doutrina e ritos, ou a concepção de Deus violenta e absurda que é a de Jehova. Mas que haja uma força do desespero que pode matar quem se converte, só se pensarmos que o Diabo ou as forças do Mal desesperadas pela conversão de Leonardo decidiram matá-lo, apoiando ou causando invisivelmente as circunstâncias geradoras do acidente fatal.

Na realidade, a frase de Pascoaes é profundamente contestária da adesão religiosa, pois considera-a um acto de desespero, e poderemos equipará-lo mais luminosamente, para não ser o desesperado-perdido-atemorizado e sem mais recursos, que não assenta em Leonardo Coimbra,  como o não se ter conseguido esperar por um conhecimento, por uma gnose individidual, auto-conquistada. Ou seja, Leonardo teria renunciado à sua autonomia, subsumindo-se na tradição cristã, pela conversão, que não seria tanto  conversão como mais a aceitação dessa tradição religiosa portuguesa e que contém tantos grandes seres e ensinamentos, como igualmente aspectos mais de crença infantil ou no absurdo, recomendada por alguns teólogos mais conservadores ou conformistas.

Teixeira Pascoaes parece apresentar uma visão quase política da morte de Leonardo Coimbra. Num momento em que o salazarismo e a igreja do cardeal Gonçalves  Cerejeira cresciam, triunfavam Leonardo não deveria ter aceitado a conversa do sábio e santo padre Cruz, que o converteu ou conduziu à conversão, ocorrida a 23 de Dezembro de 1935, ainda que se diga que ele reentrara no seio da Igreja  apenas para se poder casar e legitimar o filho. E assim, tendo errado, deixando de estar no seu caminho de Luz, Leonardo ficou exposto a que dez dias depois de tal reingresso no Catolicsmo, se desse o acidente de automóvel e, após dois dias no hospital, a desencarnação.

Leonardo Coimbra nos seus últimos anos

Se admitirmos, como queria Teixeira de Pascoaes que a conversão foi errada, seja por não ser a hora-época, seja por em si mesma ser algo de desesperado, então poderemos facilmente pensar também que Pico della Mirandola, que estivera semi-excomungado alguns anos pelo carácter esotérico ou mesmo herético de algumas das suas teses religiosas,  morreria tão precocemente com 32 anos já que abandonara parte do seu independente universalismo esotérico e, sob a influência austera de Jerónimo Savonarola, se entregara ao cristianismo mais simples ou de ser mesmo um missionário de uma crença religiosa.

Eram indubitavelmente dois seres de grande coração e amor e abertura intelectual e espiritual e que cederam às influências de dois seres, Padre Cruz e Frei Savonarola, que no Cristanismo se tinham elevado animicamente poderosamente e os encantaram e os convenceram a confessarem os seus pecados e a aceitarem essa intermediarização deles, sacerdotes, e da Igreja e seu corpo doutrinal, para com Deus, abdicando humildemente de o realizarem independente  e talvez como que preparando-se para a morte e para um progresso na vida no além menos desconhecido de direcionament, e mais acompanhado pela Igreja e o seu corpo místico a que se tinham entregue mais formalmente ou oficialmente.

 Poderemos contudo pensar ainda que Leonardo Coimbra aceitou a adesão à Igreja Católica porque sentiu que a sua afinidade religiosa com o Cristo era tão grande que podia aceitar os males menores da instituição Católica e que acreditava tanto nos ensinamentos e na pessoa de Jesus Cristo, que podia bem manifestar essa aceitação do Cristianismo, sem se importar com os seus antigos companheiro, ou os portugueses em geral, que eram anti-religiosos, ateus ou anti-católicos. 

Na hermenêutica de Pascoaes da morte de Leonardo ressalta porém que teria sido mesmo Satanáz o príncipe da trevas, quem estivera por detrás do acidente talvez por odiar que um dos melhores pensadores e oradores de Portugal, sem necessidade de estar a lutar contra perseguições anti-religiosas e ateísmo, aderisse à Igreja, à Religião.

Não é fácil pronunciar-nos com um mínimo de probabilidades quanto à ingerência de forças negativas, satânicas nas mortes súbitas e inesperadas de pessoas e no caso do grande professor e orador, como certamente não conseguiremos adivinhar o que poderia ainda resultar de grande espiritualidade fecundante do catolicismo pela conversão à instituição católica do malogrado Leonardo, que dera já com fundo teor espiritual cristão obras como Jesus e S. Francisco de Assis.

Uma das últimas fotografias de um dos génios de Portugal, como Fernando Pessoa reconheceu.

Nestes vários sentidos cabe-nos orar e vigiar, isto é meditar e estar de plena atenção ou com mil olhos para não nos deixarmos abater precocemente seja pela febre piciana seja pelo acidente de automóvel na Lixa que propulsionou Leonardo de Coimbra para os planos espirituais com passaporte cristão.

Vigiai e orai, pois nunca sabereis quando vem o filho de Deus ou o Diabo...

quarta-feira, 8 de maio de 2024

Das orações ao Anjo da Guarda e ao Espírito Santo, e meditações, por João de Sequeira da Costa, no Cutelo de Predestinados. Com duas pinturas de Almada Negreiros.

                                  

 João de Sequeira da Costa, militar, nascido na Praça de Mazagão, Marrocos, na sua obra Exercício de Predestinados e cutelo de vícios. Tratado de oração e modo de orar, publicada em Lisboa, em 1732, transmitiu a sua visão e vivência do caminho da salvação, pelo Cristianismo, citando muito poucos autores, e deu tanto indicações como orações valiosas, que passamos a transcrever dado o sabor e ou mesmo eficácia perene que algumas encerram.

A obrazinha, in-12º de 116 páginas, rara pois não se encontra na base de dados das bibliotecas nacionais, a Porbase, contém uma dedicatória a Fernão Telles da Silva, Marquês de Alegrete,  onde explica ao seu mecenas e protector, que se singulariza sobre tantos "Heróis da Fama e Corifeus da Virtude", a razão principal de ter escrito o "pequeno volume": não perder o tempo desocupado, tal como os monges antigos que no espaço entre as suas orações dedicavam-se a trabalhos manuais, assim juntando ele este ramalhete de ensinamentos e orações sobre o modo de orar. 

                           

Após a dedicatória, João de Sequeira da Costa dirige-se Ao Devoto Leitor estimulando-o ao santo exercício da Oração, lembrando que o Amor de Deus é o princípio e fim de todas virtudes, e que devemos pôr  com amor os olhos da alma  em Deus, a fonte de toda a formosura, para sentirmos a bem-aventurança da ligação à Divindade e aos seus bens.

Nas licenças da obra, destaca-se a de Frei Simão António de Santa Catarina, que valoriza ele ter sido soldado da guerra santa em Mazagão, e agora a estar a lutar contra os seus defeitos-vícios em Belém (que pode ser o mosteiro dos Jerónimos), e ainda a de Frei João Baptista Troiano que afirma: embora haja «muitos livros místicos que dirigem os Fiéis ao perfeito modo de ter oração mental e vocal para conseguirem o espiritual aproveitamento de suas almas», este  não desmerece e tem até uma linguagem simples.

Quem reza ao Anjo, ou com o Anjo, acede à sua natureza angélica..

Seguem-se algumas orações, as primeiras ao Anjo da Guarda: 

«Anjo de Deus, que sois dado para minha guarda, com piedade superior, alumiai-me hoje, guardai-me, defendei-me e governai-me. Amen. 

«Sagrado Aio, e Angélico companheiro, dado por meu Deus para minha guarda, assiste-me nesta hora, livrando-me das astúcias do infernal dragão, e ajudai-me a servir, e amar a meu Deus.»

                                            

Para invocar a graça do Espírito Santo, exprime-se assim João de Sequeira da Costa, pleno de aspiração à luz e amor Divinos:

«Vinde, dulcíssimo Espírito, vinde amoroso consolador das almas, vinde soberana luz dos corações, e enchei esta pobre alma do vosso Divino amor; para que ilustrada, alegre e fervorosa, medite esta hora, e tire o fruto, que mais, for [da] vossa santíssima vontade.»
                  
Nas folhas preliminares, após a dedicatória ao Marquês de Alegrete, João de Sequeira da Costa no apelo fervoroso Ao Devoto Leitor, exclama no 3º parágrafo: «Se amas uma criatura por formosa, porque não amas a Deus, que é a fonte, e origem de toda a formosura? Se a bondade, e a formosura é objecto da tua vontade, quem mais bom, quem mais formoso, e quem mais digno de ser amado, que Deus? Oh ditosa e sempre bem aventurada a alma, que com todo o seu coração, e com todas as suas forças se emprega no amor, e lembrança do seu Criador, porque a tal possuirá todos os bens, e com eles ao mesmo Deus». 
Valoriza muito, na linha do dito de Jesus, "importa orar sempre, sem desfalecer",  a persistência no «santíssimo exercício da oração, (pois) conseguiremos com a suavidade a graça do Espírito Santo, a qual de tal maneira regala, esforça, e transforma o coração do homem, que (este) conceba novo alento, e gosto para todas as coisas espirituais, e grande aborrecimento  às coisas sensuais, caducas e transitórias.»
A obra partilha a sua crença optimista da possibilidade de comunhão plena do ser justo e devoto com Divindade e são merecedoras de reimpressão as páginas iniciais, onde partilha o seu entendimento da oração e do caminho religioso-espiritual, mas mesmo o pequeno volume pode merecê-lo todo para quem for mais religioso...

terça-feira, 7 de maio de 2024

Das religiões exclusivistas ou de supremacia e a religião da multipolaridade religiosa e espiritual

 Nenhuma das religiões existentes pode aspirar ao domínio da esfera religiosa de todo o planeta, nem pensar e proclamar que é a possuidora da verdade sobre Deus, o ser humano e os mistérios da Vida, pois cada uma contém apenas vislumbres, fragmentos, partes dum Todo incomensurável e inefável.

 A divisão das principais religiões por zonas geográficas foi e é até conveniente para diminuir rivalidades e confrontações e para a distribuição mais fácil das energias vindas dos planos invisíveis de acordo com as crenças religiosas, evitando-se oposições e fricções  tanto nos planos físicos como nos astrais e possibilitando uma maior operacionalidade dos canais  intermediários tradicionais de cada religião invocados ou activos. Se bem que  o adorador de uma religião vivendo em zonas de predominância de outra religião  pode, no seu foro íntimo, suplantar as envolvências estranhas ou menos afins e estabelecer raios de partículas devocionais que directamente tocam e coalescem o seu objectivo cultuado sem serem perturbadas ou destruidas pelas concepções e psicomorfismos divergentes da outra religião, nomeadamente quanto a crenças e concepções de Deus e os modos de religação a Ele.

Apesar dos esforços científicos mecanicistas e materialistas, na versão final actual chamados de transhumanistas, e que são estimulados, apoiados e divulgados pelos membros da Nova Ordem Mundial opressiva e seus meios de informação, caminhamos para uma religiosidade mais verdadeira na qual o discernimento das limitações e mistificações humanas cresce, tal como a consciência de cada ser poder adorar a Divindade conforme os momentos, princípios, preceitos, crenças, práticas e templos de qualquer religião, sem que isso seja considerado uma infidelidade ou traição a si mesmo e à sua religião de nascença. 

O cerne verdadeiro da religião é a ligação interna com o espírito, a Divindade, os mundos e seres espirituais, e o despertar de uma consciência mais alargada, abrangente, profunda subtil, empática, gerando uma vida mais consciente,  harmoniosa e feliz, e para isso muitos  ensinamentos científicos, psicológicos, religiosos e espirituais ajudam e devemos conhecê-los e cultivar os mais apropriados.

Tal como em cada dia há investigadores e cientistas que descobrem novos factos, leis, doutrinas e os meios de informação derramam novas notícias ainda que de formas muito manipuladas, assim também diariamente os raios cósmicos e solares se diferenciam nas suas características e efeitos na Terra e nos planos subtis há energias, forças e influências diferentes a exercerem-se e derramarem-se sobre os seres humanos e a humanidade.. 

Só que estamos pouco conscientes de tais influxos ou influências, aparte os mais sensíveis e clarividentes nas suas introspecções e meditações  pelo que em geral socorremo-nos antes da ciclicidade das constelações ou das posições móveis dos planetas e da lua para astrologicamente tentarmos adivinhar, mostrar ou sugerir causalidades, potencialidades e dinamismos, havendo contudo ainda acrescentar os seres que profetizam, adivinham e aconselham, com maior ou menor capacidade, alguns tendo milhares de pessoas crentes neles, seja como gurus seja como agraciados com revelações divinas ou sobrenaturais.

Todavia cada ser deverá ser independente, laborar na sua religação espiritual e divina e para tal, por exemplo,  ter em conta ou  estar consciente do calendário dos santos, dos dias internacionais,  das personagens importantes e sobretudo das festas religiosas tradicionais pois são meios de participarmos numa relação vertical com energias subtis, com entidades imortais e que pode ser intensificada pela sua frequência horizontal maior, ou seja, quando há muitas outras pessoas a cultuar em uníssono em tal corpo místico da Humanidade. 

No fundo cada pessoa deveria criar o seu calendário, traçar o seu Borda do Céu para congraçar o máximo de linhas de forças para cada mês e seria bom haver mais gente consciente das energias de cada dia ou dos momentos mais impactantes ou importantes, a fim de se estabelecer uma correnteza grande de ligação da Humanidade  com as energias e seres dos mundos espirituais que podem estar ligados a tais conjunções de celebrações e com a Divindade.

Também os aspectos subtis de fenómenos naturais mais belos, tais os eclipses, as chuvas de estrelas, as luas cheias, as marés vivas, as entradas das estações deveriam ser mais consciencializados e logo aproveitadas e acolhidas, individualmente e colectivamente, tal como em certos aspectos no Japão se faz nos locais que se reconhecem como habitados por Kamis, espíritos ou forças divinas, e que ao serem cultuados harmonizam as pessoas.

Nestes tempos de guerra entre o mundo natural, livre, fraterno e multipolar e o império oligárquico que rege a maioria dos governos ocidentais, temos verdadeiramente de lutar bastante para escaparmos às ,armadilhas, alienações e arregimentações que deparamos no caminho da realização interior e da criatividade fraterna social, e quer estejamos numa só religião ou antes abertos e comungantes com o que cada uma delas nos oferece de mais afim ou útil.

A riqueza dos ensinamentos dos grande seres científicos, culturais e espirituais é tão grande e desafiante que temos a obrigação de não esmorecer perante as adversidades e labores exteriores e antes constantemente, incessantemente, lutar, orar, laborar e amar bem, e em comunhão com quem estiver afim, visível ou invisivelmente, desses níveis ou apenas das amizades actuais humanas.

segunda-feira, 6 de maio de 2024

Um poema de invocação do encontro. Escrito já há anos e agora melhorado.

Ó musa sacra, tua aura suave inunda meus olhos

como o vento cheio de maresia a orla do oceano,

e a tua figura ergue-se como castelã benigna,

alma fecunda de obras e gerações abençoadas.


Quisera traçar no éter os signos auspiciosos

marcá-los e confirmá-los nas linhas das tuas mãos

e ouvi-los no silêncio entre as nossas palavras,

enfim alcançado o repouso do Encontro.


A graça divina permanecerá sobre nós

para cruzarmos terras e gentes

irradiando o mistério crístico, o Divino em nós.


Quisera chamar-te agora através dos ares,

sairmos das limitações envolventes

e erguer-nos na terra espiritual subtil

para como chuva fecundar Portugal.


Vivermos nas montanhas sagradas

em íntima comunhão com a Natureza e o Ser

 e ainda a irradiar sobre a civilização,

cientes, mão na mão, do amor e poder divino.


 As páginas do futuro que nos oferecerão?

Meditações, criatividades, elevadas uniões?

O canto das aves pergunta ao fundo da alma:

Saberás ser fiel a ti, ao Amor e à Divindade?


domingo, 5 de maio de 2024

Poema nas vésperas de partida para o Oriente, escrito há já uns anos..

Pintura de Nicholai Roerich. Poema escrito há uns anos nas vésperas de uma viagem ao Oriente.
 
Partir de novo em busca da Verdade
Pedir aos bonzos a sua parte a eternidade.
Mergulhar na monção e no Mekong
        atravessar ruas apinhadas e sorrisos misteriosos
até encontrar a beatitude búdica
e a verdade que o silêncio gera.

Para trás ficam a fama, a glória e o poder
dos portugueses e ocidentais
seres tantas vezes superficiais, aparte alguns
mais fraternos, corajosos, espirituais.

Oh a libertação dos desejos e das ignorâncias,
das afectividades desnecessárias ou dispersas,
partir como a andorinha no Outono
para as paragens onde o Sol não se esconde.

Aqui  está
tudo apanhado pelo dinheiro
e todos o procuram para ganhar ou gastar.
Desgastam-se as almas inutilmente
e  o fim da vida
chegainesperadamente.

Alto, parem, escutem, renasçam.
Quem somos e queremos ser, afinal?
Sombras e ilusões, eus e espíritos
ou a Divindade infinita no Seu devir?

Poesia de querer despertar e saber mais...

                                                        

Escrito já há algum tempo num diário, quando podando uma oliveira caíra dela e partira um braço.

Dormir é difícil com dores nos braços

e as ondas do pensamentos na cabeça.

Bem cansados estão os olhos

mas há que esperar pela hora.

Quem sabe que adormece ou desperta

ou quando nasce ou morre?


Ele, o Espírito, o imortal, sabe certamente

mas em vão lhe pedimos ardentemente

que se revele mais plena e claramente.


Ficam então estas simples palavras,

meros sussurros do fluir da alma,

breve balbuciar duma demanda:

Há um eu divino além do eu ilusório

pairando sobre as sombras do sepulcro?


Deixo escorrer a pergunta no lajedo da noite:

Que o orvalho matutino faça brilhar a rosa,

e a claridade da Verdade ser a minha aurora.