segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Da alma serena e firme, lúcida e mais realizada espiritualmente, na via da harmonia e da verdade, na Humanidade e ligada à Divindade..

 Liberte-se das narrativas oficiais infrahumanistas, que as televisões e jornais transmitem, e inspire-se e realize-se mais plena e divinamente...
Como se deverá designar o estado consciencial  mais propício à mais exequível abertura à verdade do universo, da vida, da alma e espírito e da Divindade, de modo a que desenvolvamos os conhecimentos e actos necessários, materiais ou subtis, que proporcionarão mais justiça e sabedoria, mais paz e fraternidade, em nós e nos outros, e sobretudo mais realização interior do fogo do amor?

Equanimidade, paciência, aspiração, plena atenção, discernimento, mente iluminada, vontade de ser amor?
Certamente que terá de ser um estado de consciência estabilizado, uma unificação interior firme, que se torne bem presente e não nos deixe cair ou demorar na girândola dos estados anímicos algo automatizados e reactivos que se sucedem ao longo do dia e dos anos. 

Ou seja, não pode ser apenas um pensamento, assumido ou auto-sugestionado, como muita gente usa e abusa nas suas tentativas de bem estar baseadas em técnicas de afirmações positivas ou, bem pior ainda, pela mistificação, de decretos aos anjos, com os seus nomes e dias de tabelas imaginadas...
Mas para além dum estado psíquico firme de base, que não pode pois ser apenas um pensamento mas sim uma realização interior estável, ainda que certamente por vezes menos, face a tanta notícia e acontecimento negativo, um estar em amor, em paz, desprendimento ou lucidez, deverá ainda haver uma cosmovisão correcta, do género "donde vimos, quem somos, para onde vamos" e, finalmente, uma arte de bem viver criativa,  já que constantemente a mente e alma se deverá alinhar harmoniosamente tanto com o todo como  com a parte ou as partes em que está mais em contacto ou envolvida.
É pois uma síntese ética, psico-somática e até profissional, trabalhadora, que terá de ser labutada e assumida, uma obra em aberto, em rede global, em sincronia com outras pessoas e grupos (nomeadamente tão exponenciadas com as redes sociais em que porém se perde muito tempo em desafinidades e superficialidades), atenta às energias e lutas mais oportunas, nos vários planos visíveis e invisíveis, constantemente apelando a que aprendamos ou ensinamos, recebamos, lutemos e partilhemos criativamente, conscientes de que estamos num Cosmos, num todo ordenado e belo (ainda que tão desfigurado pelos políticos e outros), com os seus propósitos, princípios, normas e inspiradores, conhecidos e desconhecidos.
                                           
P
elo que tanto devemos ser amor como estarmos sintonizados com o espírito e o divino, como ainda abertos ao melhor do passado e  presente (e não petrificados em dogmáticas sociais, científicas ou religiosas), e ao futuro que possa desabrochar ou ser trabalhado, ainda que  este esteja hoje a ser tão sujeito a manipuladoras agendas económicas mundiais por grupos, poderes e instituições nada ou pouco harmoniosos, pacíficos, ecológicos e espirituais, agendas estas, que "graças a Deus" e à Luz do Oriente, estão a ser postas em causa pela multipolaridade emergente e necessariamente vitoriosa pois corresponde à melhor natureza humana e aberto ao Divino...
Para este estado calmo e aberto de visão multifacetada e consciência integradora é importante trabalharmos, estudarmos ou praticarmos tanto com os aspectos analíticos como com os intuitivos, ou seja, tanto com o hemisfério esquerdo como com o direito, o que de certo modo se pode ainda distinguir como a ciência-conhecimento-Logos e a sensibilidade-espiritualidade-Eros-Agape.
O equilíbrio entre os dois hemisférios é uma condição importante para se estar com estados psíquicos mais harmoniosos e profundos ou calmos e meditativos, e sabe-se mesmo que a mulher tem mais ligações que o homem entre os dois hemisférios, as quais atravessam o separador corpo caloso. Mas o simples fechar dos olhos, o ouvir o vibrar das partículas interiormente, o contemplar a luz (interior ou solar, mormente no nascer ou pôr) são acessíveis a todos, tal como a arte, a cultura, a música, a dança, o abraço e a união amorosa e as práticas religiosas e espirituais que geram certa harmonização dos dois hemisférios e de polaridades nossas, práticas nas quais por vezes recebemos subtis e fugazes intuições de como agirmos, ou nos realizarmos, complementarmos e unificarmos.
Pode-se dizer que muitos dos símbolos cultuais do passado tinham e têm também esta fundamentação ou objectivo de harmonização das dualidades ou opostos, desde a cruz ao yin e yang, do machado de dupla acha aos dois triângulos entrelaçados.
                                   
A
contemplação dos símbolos da arte e arquitectura, ou então da beleza da natureza, do corpo-alma e do espaço, abre-nos para as dimensões mais elevadas, estimula o coração espiritual e cerebralmente o hemisfério direito. E, por exemplo, se contemplarmos só com o olho direito uma imagem ela vai repercutir-se mais no hemisfério esquerdo e de certo modo acalmá-lo, algo com interesse já que é este o mais predominante nos nossos dias, ao vivermos em sociedades como pessoas desgastadas e nervosas com tanta informação, ainda por cima manipulada, e em que portanto o estado de paz ou de amor pouco consegue sobrepor-se à girândola de incessantes percepções, sensações, pensamentos e receios, e em que a visão global, estética e sensitiva, ou do eterno, do infinito e do divino é pouco vivenciada. Mas claro, o mais simples, é fecharmos os olhos e sentirmos, não pensarmos tão discursivamente e fluirmos na respiração, na aspiração e na visão interior, abrindo-nos ao alto, ao infinito, ao Amor, à Divindade, à Verdade.

Há pois que perseverar em deixarmos de ter uma mente estrilhada, manipulada e limitada, ou um cérebro desequilibrado, cheio de informação da manipulação dos media, e antes fortalecermos a alma ou mente serena, discriminativa mas confiante e aberta à natureza, ao amor-sabedoria, ao universal e ao Divino, o que torna o cérebro mais coerente e integrado.
Um dos sinais desta harmonização e integração é o silêncio que conseguimos realizar em nós, sobretudo quando nos recolhemos à noite, gerador por vezes duma extensão ou expansão da consciência pela qual conseguimos sentir ou sintonizar seja o silêncio e o seu som crepitante calmante, seja o espírito, seja o campo unificado de energia e de consciência que nos rodeia, envolve e subjaz e do qual somos parte, algo que hoje a invenção tanto dispersiva como agremiadora das redes sociais tanto potencializa ou exponencia.
Muitos dos problemas com que as pessoas se defrontam, seja de rigidez e dogmatismo, seja de carência, frustração e depressão, resultam das contradições existentes entre a sociabilidade e a intimidade, entre as injustiças e a nossa busca inata de justiça, entre a dispersão consumista e o apelo da realização espiritual imortal, o qual não é acolhido, reconhecido ou trabalhado por muitos.
Há pois que desatar constantemente os nós e excessos que o meio social nos causa e quebrarmos as barreiras que nos impôem ou sugestionam e que nos separam da verdade e harmonia, seja exterior seja interior, a fim de que possamos ter a concha da alma mais aberta às melhores correntes e vibrações e a pérola do espírito a reluzir.
Para isto, frequentemente, é preciso abster-nos de actividades e dispersões, morrermos para certos desejos ou actos e logo depois renascermos mais sintonizados com a nossa essencialidade e missão na vida, renascimento que nos aligeira ou liberta de efeitos petrificantes e obscurecedores do passado, com suas feridas e karmas (consequências negativas), e portanto desabrocha em nós a sensibilidade anímica para sermos mais criativos profissionalmente e melhores no eterno presente, que tão divino é nas suas potencialidade e ao ver puro não dualizado nem limitado.
Podemos pois considerar que a criatividade e a espiritualidade são valiosos e recomendados caminhos para conseguirmos ou merecermos alcançar os estados de consciência e da sensibilidade mais expandidos e logo as intuições, visões, comunhões ou identificações maiores com os seres visíveis e invisíveis e as suas essências, a Vida Cósmica e Divina  e a sua Ordem, princípios, normas e propósitos, a chamada Rita, na tradição indiana, e que subjazendo o Cosmos, começa hoje pela ciência moderna a ser registado como o Campo Unificado de energia consciência informação.
Ora este campo unificado influencia subtilmente o microcosmo humano que cada um é e com o qual ele interage psicosomaticamente, podendo captar e manifestar as energias e princípios cósmicos, que em parte foram intuídos pelas religiões e sobretudo as suas místicas e artistas, os mestres e poetas,  e os quais devemos cultivar de modo a sentirmos e compreendermos melhor os mistérios da Ordem e Harmonia do Universo não apenas por fé mas por experiência de visão ou unidade interior.
                                       
E
 quanto ao que os Antigos ou Priscos Sábios e Yogis realizaram, disseram ou nos legaram por escrito, devemos comentar, acrescentar e aprofundar pois de facto anímica e espiritualmente não estamos sós nem parados como pontas de icebergues mas sim numa corrente luminosa, oceânica, denominada Filosofia Perene, Catena Aurea, Corpo Místico da Humanidade ou ainda a Tradição Espiritual de cada país ou povo, sempre em criativa ou degenerativa, em fase evolutiva ou involutiva.
Assim os P
ortugueses mais despertos e activos na época dos Descobrimentos sentiram-se verdadeiramente naquela posição em que podiam afirmar que "outrora dizia-se mas eles agora viam e sabiam", pelo que hoje em dia,  em relação ao que é tido como certo e sabido pela mediania científica e civilizacional que manipula e rege a Humanidade, e vimos recentemente com a obrigatoriedade de se aceitarem as narrativas oficiais criadas pelos imperialismos farmacêuticos e norte-americanos, devemos ter coragem para resistir a tais opressões e lutar pelo conhecimento, realização e divulgação do que é mais verdadeiro e justo e simultaneamente continuarmos como elos da Tradição Espiritual da Humanidade a investigar e explorar ou aprofundar as dimensões desconhecidas de nós próprios e do Universo divino....

Nesta linha nossa corre a repetida ideia de Teixeira de Pascoaes, Leonardo Coimbra, Fernando Pessoa, Jaime Cortesão, Agostinho da Silva e Dalila Pereira da Costa, entre outros, tais Antero de Quental, Jaime de Magalhães Lima e Sampaio Bruno, que aos Descobrimentos antigos terrestres, marítimos e científicos deviam corresponder hoje os da fraternidade humana na multipolaridade política, o Império do Espírito Santo ou a ilha do Amor, glossavam eles, um desabrochar psico-espiritual que nos religue mais justa e clarividentemente à verdade, à essencialidade, aos planos ou esferas mais elevadas do Cosmos e à Divindade
                                              
A Vasco da Gama, capitão dos nautas portugueses que uniram o Ocidente ao Oriente para sempre, a Deusa mostra em Amor e de mão dada o alto cume onde brilha a Luz Divina
Tr
abalhemos pois harmoniosamente em tal demanda de mais luz e amor na Grande Alma Portuguesa, na Europeia (tão a ser destruída e desgraçada pelas más direcções da União Europeia, escravizadas ao excepcionalismo anglo-americano), e na planetária, tão rica na sua diversidade, mas tão estrangulada e oprimida na sua actualidade.
Estudemos, investigamos e descubramos tanto os conhecimentos científicos recentes, como os símbolos subtis mais operativos, ou o melhores meios de nos harmonizarmos e elevarmos, nomeadamente trabalhando com amor, meditando perseverantemente, dedilhando as orações e os mantras que mais nos tocam e alinham e elevam, de modo a auto-consciencializar-nos e sentirmos a expansão da consciência e o acender do fogo espiritual da vontade do Amor, de modo a Sermos e a harmonizarmos mais os ambientes e comungarmos mais com os seres que amamos e nos amam ou guiam e, no cume a Fonte Divina.

De Bô Yin Râ: Encontro com a Luz da Divindade.

sábado, 23 de setembro de 2023

Do raro silêncio e da elevação espiritual do coração. O Anjo não julga mas harmoniza e impulsiona.

                       

                                          
Fragmentos de lembranças escritas sobre os Anjos e o acesso a eles, nomeadamente o silêncio da noite, a paz, a aspiração, e como devemos perseverar pelo coração envi
ando amor para eles, e relembrando-os com consciência da proximidade  e intenção de religação.
Porque é que os Anjos nos chamam e porque os devemos chamar?
Se outror
a no cristianismo  apocalíptico se acreditava que os Anjos chamariam por uma trombeta ressuscitadora os mortos das suas tumbas para serem julgados, hoje o Anjo chama-nos dentro do nosso peito, mas num apelo tão subtil que só quem consegue desenvolver os ouvidos do coração é que o pode escutar. Mais fácil é ouvir o crepitar da música  das esferas ou partículas e fotões, mas que nos eleva para uma dimensão mais infinita e próxima deles.
                                       
As mãos cruzadas sobre o peito indicam que há uma unificação do pensamento e doo sentimento, e o graal sagrado do coração espiritual está irradiante.

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Elza Paxeco, a 1ª doutorada da Faculdade de Letras de Lisboa, notável investigadora e professora. Biografia pela sua filha, Maria Rosa Pacheco Machado.

                                                                            
Tendo recentemente dialogado (numa rede social) na página da Associação Cultural Sebastião da Gama com Maria Rosa Pacheco Machado, a propósito dos alunos e alunas da sua mãe a escritora Elza Paxeco (e filha do abnegado diplomata e escritor Fran Paxeco), infelizmente hoje pouco lembrada e estudada, ofereci-me para divulgá-la no blogue, tendo recebido então a biografia dela, partilhada em 14-X-2010, na Academia Maranhense de Letras, Brasil, no discurso (conforme a fotografia) de tomada de posse da mesma Cadeira Académica nº 5 que pertencera a sua mãe e que passamos a transcrever:
                            
Elza Fernandes Paxeco Machado
2ª ocupante da cadeira nº 5 Académicos Correspondentes, Academia Maranhense de Letras.
«Nasceu em São Luís do Maranhão, a 6 de Janeiro de 1912 na Rua da Palma, nº 38 1 – na casa de seu avô materno Luís Manuel Fernandes, sócio da Firma “Luis Manuel Fernandes & Irmãos, importadores e exportadores”.
Aí passou sua infância com seus pais, ele Manuel Fran Paxeco (1874-1952) português de Setúbal - jornalista e diplomata, ela maranhense de São Luís que lhe propiciaram um ambiente requintado, culto, de padrão bastante elevado. Para além do ensino normal 2, aprendeu a tocar piano, a dizer poesia, a desenhar, etc, com professores das especialidades.
Ainda não consegui saber onde ela terá estudado em criança, embora tenha andado a bater a várias portas; Colégio Santa Teresa, Secretaria da Educação, Inspecção Escolar, mas os arquivos não estão muito disponíveis.
Sua Mãe, minha Avó Isabel Eugénia Cardoso de Almeida Fernandes (1879-1956) natural de São Luís, também era filha de um português, mas de Lamares, Vila Real (o meu bisavô acima referido) e de uma maranhense de São Luís, minha bisavó Rosa Cândida Cardoso de Almeida Fernandes (1845-1912) que por sua vez também era filha de outro português (de Cascais) e de outra maranhense, mas de Santa Maria de Icatú. Ele, Máximo Cardoso de Almeida (1816-1876) foi dono de engenho de açúcar, capitão de longo curso, dono do barco “Rosabella” e ela, Ana Joaquina Jansen da Silva (1827-1872) era, segundo nos contaram, sobrinha de “Donanna” Jansen.
Tudo isto e muito mais nos foi transmitido oralmente, por minha Avó Isabel e por minha Mãe que veneravam São Luís e todos os antepassados que por cá ficaram sepultados.
Quando minha Mãe partiu com seus pais, definitivamente do Brasil para a Europa (em 1925), foi carregada de recordações poéticas, musicais, etnográficas; de histórias, cheiros e cores, sabores e sons... de que falará com saudade, desgosto, ciente que nunca mais voltaria a São Luís. Citava Gonçalves Dias mal chegava a Primavera...
Lembro-me que, ao decorarmos poesia para as visitas,além de Afonso Lopes Vieira e outros, também vinha Gonçalves Dias:

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Inteligente, imaginativa, sonhadora, boa aluna, estudou com sucesso num convento católico jesuíta no Reino Unido, o Upton Hall School a Nordeste 3, até entrar para a Universidade de Gales, onde se formou em Filologia Românica e Filologia Germânica com altas classificações – Honours Summa cum Laudes. Mais tarde, durante dois anos para a Universidade de Londres para fazer outro curso, de especialização, Master of Arts. Tudo para grande contentamento de seu Pai, que muito admirava e venerava; e de sua Mãe que lhe marcou muito a vida pelos objectivos demasiado ambiciosos que lhe traçou e que lhe marcaram toda a vida.
Quando foi para Portugal, frequentou durante dois anos a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, a fim de tirar as cadeiras de equivalência que lhe faltavam, as de Literatura e Filologia Portuguesas, História de Portugal e Descobrimentos.

Alunos da Faculdade de Letras de Lisboa, bolseiros do Instituto de Alta Cultura, no Centro de Estudos Filológicos, então na Rua Júlio de Andrade, em 1937, rodeando o professor e arabista David Lopes, com a Elza Fernandes Paxeco à sua esquerda e, atrás, José Pedro Machado, de óculos, seu futuro marido e notável linguista. Ao fundo, à direita na porta, Maria de Jesus Pacheco, que viria a ser a mãe do professor de Direito Sousa Franco (que foi meu professor)  

É nesta fase da sua nova vida académica que conhece outro aluno, que alguns anos mais tarde se tornaria seu marido; José Pedro Machado, que frequentava o mesmo curso de Filologia Românica.
Foi a primeira senhora doutorada pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (Outubro de 1938), tendo obtido aprovação por unanimidade 4. Era, nessa altura, o mais novo dos doutores, com
apenas vinte e seis anos.
Fez um estágio de dois anos no Liceu Pedro Nunes e foi chamada para a Faculdade de Letras da mesma Universidade, onde ensinou como leitora de Francês entre Fevereiro de 1940 e Outubro de 1948, quando foi exonerada a seu pedido; igualmente regera as cadeiras de Literatura Francesa e de Língua e Literatura Inglesa, tendo ainda feito parte de júris de admissão ao Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Depois de minha Mãe, duas senhoras entraram para a Faculdade, a Dra. Andrée Crabbée Rocha 5 e a Dra. Virgínia Rau.
Casou em 4 de Setembro de 1940 com meu Pai, José Pedro Machado, tendo dessa união nascido três filhos: Maria Helena (1941), João Manuel (1943), Maria Rosa (1946).
Por indicação de Alfredo de Assis 6, representou em Portugal a Associação das Academias Brasileiras de Letras 7. Foi eleita sócia correspondente da Academia Maranhense de Letras, exactamente para a cadeira Número 5.
No ano lectivo de 1960-1961 ensinou Francês na Escola Industrial Afonso Domingues, escola onde o meu Pai era professor efectivo e se bem me lembro, nesta altura tinha o cargo de Director.
Nunca deixou de ter contacto com São Luís, nomeadamente com a família do Dr. Aníbal de Pádua, com quem sempre se correspondeu, através de quem ia tendo notícias da sua terra natal. Desde criança que eu ouvia falar de Dª Cotinha, de Regina, de Regininha....
Com a família Guedes de Azerêdo que também estava em Portugal, compartilhava laços de São Luís e também laços de família, pois Alfredo (filho) foi o padrinho de baptismo de minha irmã.
Doou a esta cidade, mais propriamente à Associação Comercial do Maranhão, dois quadros pintados a óleo que lhe eram muito queridos, um representando o seu Avô, Luis Manuel Fernandes 8, da autoria de Franco de Sá, e o outro seu pai, Fran Paxeco, da autoria de Paula Barros. Eu era criança, mas recordo perfeitamente a entrega das grandes caixas ao Sr. José Tércio de Oliveira Borges que os trouxe para São Luís, isto em 1957 9.  
Se me permitem gostaria de compartilhar convosco alguns episódios da minha vida:
As crianças aprendem línguas com muita facilidade e eu sou a prova disso: estava a minha Mãe doente e acamada, e como eu era a mais pequena (eu teria 2, 3 anos) e muito irrequieta, chamava-me para o pé dela e ensinou-me a falar francês; foi graças a um mau momento da sua saúde que eu sempre tive uma grande facilidade em falar, compreender francês; a ela o devo, porque ensinou-me essa língua praticamente ao mesmo tempo que o português. Com as outras disciplinas sucedeu a mesma coisa, mas não desta maneira, pois aprendemos os três a ler e a escrever em casa, muito cedo. Recordo perfeitamente a minha luta para mudar a data para 50, nas cópias. Porque sou do tempo em que se faziam cópias.
Nos anos 60, quando minha Mãe ia para os Reservados da Biblioteca Nacional (que na altura ainda estava instalada no Convento de S. Francisco, ali ao Chiado) trabalhar no Colocci Brancuti – O Cancioneiro da Biblioteca Nacional, muitas vezes eu ia com ela.
Aqui permitam-me entrelinhar um testemunho: o trabalho de meus Pais não foi nada fácil, pois tiveram que copiar tudo à mão, não havia os recursos que hoje todos temos à nossa disposição.
Como eu ia dizendo, eu ia muitas vezes com minha Mãe para a Biblioteca Nacional; e como morávamos na Graça, costumávamos regressar a pé para casa. Não que eu gostasse muito, mas como ela andava bem, que remédio tinha eu! Ora numa determinada tarde, voltávamos nós para casa e parámos num miradouro que há sobre Alfama e que tem uma vista soberba, mesmo ao lado do miradouro de Santa Luzia, se alguém conhece a zona. Olhei para baixo, e nos telhados vi um gato (sempre gostei destes animais): chamei-o e ele olhou. Uns dias depois tinha uns versos 10 escritos por minha Mãe, a lembrar esse momento. A sua veia poética vinha à tona muitas vezes, sobretudo com as netas.
A ela devo o meu gosto pela investigação, pelo Medievalismo, pela Literatura Francesa. Todos estes gostos foram sendo burilados ao longo dos anos e muitas vezes com a preciosa ajuda de meu Pai.
Também herdei dela o ouvido musical, pois cheguei a aprender a tocar piano enquanto estive no colégio in
terno.
Neste momento encontro-me a envidar esforços para que o seu nome conste nas comemorações do Centenário da Universidade de Lisboa, isto já em 2011; considero ser mais do que justo que o nome da primeira senhora doutorada na Faculdade de Letras daquela Universidade aí possa constar; possuo fotos, o diploma do doutoramento, recortes de jornais da época.
Estou em contacto com a equipa organizadora, para facultar todo o material necessário.
Dizem-me que a Universidade está com problemas financeiros para a publicação do álbum, espero que os consigam superar.» [Lamentavelmente nada se publicou...]
Bibliografia:
  • Alguns aspectos da poesia de Bocage (1937). - Acerca da tragicomédia de Dom Duardos (1937). - Essai sur l'oeuvre de Samain (1938) Dissertação de Doutoramento em Filologia Românica, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. - Graça de Júlio Dinis (1939). - O mito do Brasil-Menino (1941). - Camões e Elisabeth Barrett (1942). - Negação dupla em português (1944). - Um dos últimos trabalhos de Hércules (1944). - Aucassin e Nicolette (romance dramático do séc XII, tradução anotada em versão em verso e prosa portugueses do texto medieval picardo), (1946). - Da glottica em Portugal (1948). - Estudos em Três Línguas (1948). - Cancioneiro da Biblioteca Nacional (Leitura, comentários, notas e glossário), em colaboração com seu marido, José Pedro Machado. Esta obra ocupa oito volumes e é acompanhada pela reprodução fotocopiada do manuscrito; edição crítica e integral, realizada por Edições Ocidente que a editou sem quaisquer apoios oficiais ou particulares em folhas mensais apensas à Revista de Portugal (1949-1964). - Galicismos Arcaicos (1949).

Deixou colaboração dispersa por numerosas publicações nacionais e estrangeiras de entre as quais se destacam as revistas da Faculdade de Letras de Lisboa, Brasília, de Coimbra, da Academia Brasileira de Letras, do Rio de Janeiro, Revista de Portugal, Ocidente, etc. Era sócia da Sociedade de Geografia de Lisboa e da Sociedade de Língua Portuguesa.
Faleceu na madrugada de 28 de Dezembro de 1989 na sua casa em Lisboa, na Rua Leite de Vasconcelos, vítima de uma úlcera no duodeno.
Gato Preto em Telhado de Alfama
 
«Gato preto de Alfama no telhado
Lá em baixo, ao longe.
No terraço nu de ladrilho vermelho
Cá em cima, ao lado
Uns tufos pendentes verde-brancos hoje
Folhas e flores no invernal e velho
da Cerca Moura troço desencantado. 
 
Sorriso curvo de Reims, o do Anjo
(Ou o da Gioconda, porém meio tortelho),
Olhar longo de amêndoa voltado.
Vê a trocista o vulto e lisonja:
“Biche-biche” e já surge um espelho
Verde radiante pró norte alçado

Na cabeça virada tão séria do monge.
Chispa o Raio verde do Sol sobranceiro
Aos antigos Paços do Limoeiro.»
Visto 26-XII-61. Escrito 1-I-62

[O Anjo sorridente da catedral de Reims evocado por Elza Paxeco sobre o casario de Alfama. Quanto à Gioconda, com o seu sorriso algo torto ou irónico, era a sua filha Maria Rosa...]

1- Hoje é o nº 360, onde vai ser o Museu do Azulejo.
2- Não consegui saber onde ela estudou em criança; os arquivos de São Luís ainda não me deram esse prazer.
3- Fundado em 1849, ainda existe, transformado em Escola: http://www.uptonhallschool.co.uk
4- Cópia do diploma em anexo.
5- Esposa de Miguel Torga.
6- Desembargador Alfredo de Assis Castro, outro dos fundadores da Academia, casado com Filomena Jansen Pereira, prima de minha Avó, Isabel Eugénia de Almeida Fernandes Paxeco.
7- Em anexo, cópia da acta da sessão de 3 de Julho de 1943.
8- Comerciante português(1828-1881) que viveu em São Luís do Maranhão. Em 1874 consta como vogal da 17ª Directoria da então Comissão da Praça, in Jerónimo de Viveiros – História do Comércio do Maranhão, 1612+1895, p 452.
9- Possuo a carta (na sequência de outras) de Joaquim Pinheiro Gomes de 25.10.1956, onde informa minha Mãe que Arnaldo de Jesus Ferreira vai falar com António da Silva Borges ao tempo Vice-Consul, sobre o transporte dos quadros.
10-Versos em anexo.»
                                                                       
Fiquemo-nos, para concluir, e para comungarmos no corpo místico da Tradição cultural e espiritual de Portugal, com o que Elza Paxeco, com o seu génio tão sensível e sábio, escreveu no seu principal livro, antológico, Estudo em Três Línguas,  acerca da imortalidade da alma, ou Graça de Júlio Dinis:
«Joaquim Guilherme Gomes
Coelho, se ainda vivesse, faria hoje cem anos. Rol bem mais bonito que o da Moleirinha de Junqueiro. Há perto de 14 lustros, porém amado pelos deuses [que arrebatam os que amam], morreu em plena juventude. Lá foi a enterrar, perto da velha igreja de Cedofeita, perdida entre campos solitários [Alberto Pimental, O Porto há trinta anos, p. 4), o professor da Escola Médica, com grande acompanhamento de lentes, estudantes e antigos condiscípulos. Partiram também as andorinhas, levadas por um outono precoce.

                                            Agrupamento de Escolas Ovar Sul - Júlio Dinis

Mas Joaquim Guilherme, como tantos magos, possuía outro eu, «qui lui ressemblait comme un frère», e esse ficou aqui fora, neste mundo de mentiras, apesar de não ser fantástico, fingido ou mentiroso. Continua cada vez mais vivo e verdadeiro. Tem cem anos e é sempre jovem: prodígio bem simples para ele - Júlio Dinis, poeta da mocidade e da graça

Saibamos viver com juventude e na graça, como Júlio Dinis, Fran Paxeco. Elza Paxeco e sua filha, e que o Amor e a Sabedoria do Espírito Divino nos interligue e inspire, harmonize e eleve!

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

As declarações do Presidente do Irão Ebrahim Raeisi, nas Nações Unidas, acerca da actualidade, e do falhanço da americanização do mundo.

 A importância do que se está a passar na luta entre a ordem mundial neo-liberalista e norte-americana contra a nascente multipolaridade fraterna e justa, liderada pela Rússia, a China, o Brasil, a Índia, a Africa do Sul  e os outros países novos do BRICS, tem no Irão outro país bem valioso pela sua civilização tradicional milenária e grandes místicos e poetas, tais como Sohrawardi, Ruzbehan, Rumi, Saadi, Haafiz e pela exemplar heróica resistência a guerras, terrorismos e sanções, na qual se destacou, após os milhares e milhares de mártires da guerra com Iraque, mais recentemente, o general Soleimani. 

As declarações do seu Presidente Ebrahim Raeisi,  nestes momentos decisivos da história do séc. XXI, são então valiosas de serem conhecidas, face ao bloqueio censurador pela elite ocidental dos media alternativos ou multipolares, pelo que da agência de informação iraniana Presstv.ir traduzimos as partes divulgadas por ela do seu discurso, sob o título Presidente Raeisi nas Nações Unidas: O projecto da Americanização global falhou.

«Na sua intervenção na 78ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU), a 19 de Setembro de 2023, o Presidente do Irão Ebrahim Raeisi declarou que o projeto de americanização global fracassou.
"O mundo está numa transição irreversível para uma  ordem nova. A equação da dominação ocidental já não serve o mundo, e a velha ordem liberal, que servia os interesses dos imperialistas e dos capitalistas insaciáveis, foi posta de lado", disse Raeisi na sessão de terça-feira, em Nova Iorque.
"O projeto de americanização do mundo fracassou", disse Raeisi, acrescentando: "A nação iraniana orgulha-se de ter desempenhado, graças à Revolução Islâmica, o papel mais importante no desmascaramento dos imperialistas do Oriente e do Ocidente".

Política regional e internacional do Irão.
Noutra parte do seu discurso, o Presidente referiu que o Irão tinha aberto um novo capítulo de relações mutuamente benéficas com os seus vizinhos.
"A política de vizinhança da República Islâmica é uma política benevolente para a região. Apertamos com firmeza qualquer mão que nos seja estendida com amizade", disse Raeisi.
A República Islâmica apoia a máxima convergência económica e política intra-regional e inter-regional e está interessada em interagir com o mundo inteiro na base da justiça, afirmou.

Sobre a profanação do Alcorão.
O presidente Raeisi condenou, entretanto, a profanação do sacro Alcorão na Suécia e na Dinamarca, no início deste ano.

"O Nobre Alcorão baniu a afronta às ideias e às crenças...", recordou, perguntando: "O que é que melhor caracterizará a humanidade e elevará os valores humanos  do que a palavra de Deus Todo-Poderoso?"
"Esta não é a primeira vez que queimam as palavras de Deus e supõem que abafam a voz do Céu para sempre", disse e acrescentou: "Mas os ensinamentos do Alcorão para as comunidades humanas nunca arderão, e as chamas do insulto e da distorção não serão um adversário à altura da Verdade".
Raeisi afirmou que a islamofobia, qualquer que seja a sua forma, quer se trate de queimar o sagrado Alcorã
o  quer seja o proibir nas escolas as regras ou código de vestuário islâmico, equivale a fomentar o ódio.
"Há um objetivo maior por trás destes casos de ódio, e é errado aceitá-los sob o direito à 'liberdade de expressão' ", advertiu o estadista iraniano.

O Irão está contra a divisão do mundo num novo "Leste e Oeste".
Agora que os países independentes do mundo estão a caminhar para uma maior cooperação e convergência, disse Ebrahim Raeisi, "estamos a assistir ao esforço por parte de algumas potências para acender as chamas do conflito através de várias regiões".

Mantendo uma mentalidade de Guerra Fria, estas potências estão a dividir a comunidade internacional nos seus antigos blocos, disse ainda o chefe do governo iraniano.
"Esta medida é reacionária e não serve a segurança e o bem-estar das nações. A República Islâmica acredita firmemente que não se deve permitir que um novo Leste e Oeste tome forma."

A nação iraniana vitoriosa face às conspirações estrangeiras.
Ebrahim Raeisi saudou o facto de, no ano passado, a nação iraniana ter conseguido ul
trapassar "a maior ofensiva mediática e a maior guerra psicológica da sua história".
Referia-se à incessante campanha mediática e política que se seguiu à infeliz morte aquando da detenção pela polícia de uma jovem iraniana, Mahsa Amini.
O Presidente afirmou que, nos seus esforços para semear o caos em todo o país através da utilização abusiva da tragédia, alguns países ocidentais e os seus serviços secretos cometeram um "má avaliação" ao subestimarem a força 
da nação iraniana.

A abordagem selectiva ou discricionária do Ocidente em relação ao terrorismo.
Ebrahim Raeisi denunciou alguns E
stados ocidentais por "utilizarem o terrorismo como instrumento de política externa".
Recordou que alguns países europeus, apesar de afirmarem lutar contra o terrorismo, se transformaram num refúgio seguro para um grupo terrorista que derramou o sangue de mais de 17 000 civis e funcionários iranianos, referindo-se à Organização Mujahedin-e-Khalq (MKO).
"A discrim
inação na luta contra o terrorismo serve de luz verde para os terroristas", advertiu Raeisi.

Israel não pode ser um parceiro para a paz.
O presidente iraniano considerou que o regime israelita é a última entidade do mundo "baseada no apartheid e no racismo, e que foi fundada com base na guerra, ocupação, terrorismo e violação dos direitos dos povos".
Uma tal entidade "não pode ser um parceiro para a paz", afirmou.
"Não terá chegado o momento de pôr fim a 75 anos de ocupação da terra da Palestina, de opressão do seu povo e de massacre das suas mulheres e crianças, e para se reconhecerem os direitos da nação palestiniana?"

Sobre a guerra na Ucrânia.
Ebrahim Raeisi reafirmou a oposição do Irão à guerra em curso na Ucrânia.
"Não consideramos que a guerra na Europa seja do interesse de qualquer partido europeu", afirmou.
"O Irão apoia qualquer iniciativa que vise pôr termo ao conflito e iniciar o processo político", afirmou, e manifestou a disponibilidade da República Islâmica para desempenhar um papel construtivo no sentido da cessação das hostilidades.»

Acrescente-se que no dia 20, como noticia a TASS, em conferência de Imprensa  o Presidente do Irão Ebrahim Raeisi esclareceu que "os países da NATO estão fornecer armas à Ucrânia. Os que beneficiam do conflito não querem o fim do conflito", apontando assim o dedo ao poderoso grupo de pressão da indústria anglo-americana e europeia de armamentos. Por outro lado, como noticia a Presstv.ir,  Ebrahim Raeisi recebeu vários rabinos anti-sionistas num diálogo amistoso, já que com o Cristianismo constituem as três Religiões do Livro dito revelado divinamente, algo que muito provavelmente se pode alargar a outras
                                                          
Entretanto no dia 22
foi anunciado por Mohammad Jamshidi, vice-chefe de gabinete do presidente iraniano Ebrahim Raeisi para os assuntos políticos, que o Secretário-Geral das Nações Unidas António Guterres terá acolhido favoravelmente uma proposta apresentada pelo presidente Ebrahim Raeisi, aquando da 78ª sessão da Assembleia Geral da ONU, para que as forças militares iranianas actuem como forças de manutenção da paz em todo o mundo.

Pandora ou Psiché aguarda que o escrínio ou graal de cada  coração liberte impulsões e dinamize acções para o Bem, a Verdade e a Justiça no Mundo! Aum...

sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Aleksandr Dugin: "O que se está a passar de errado com o Ocidente?" Satanismo? 2ª p. Tradução, com brevíssima introdução de Pedro Teixeira da Mota.

Segunda e última parte da entrevista de Peter Vaslov a Aleksandr Dugin realizada no final de Agosto de 2023. O 1º parágrafo, já  inserido na 1ª parte publicada, serve para contextualizar a continuação deste magnífico apelo à luta pela sobrevivência e vitória de uma humanidade espiritual, tradicional, livre e multipolar face ao embate com o Ocidente satanizado pelos seus governantes visíveis e na sombra, luta esta liderada sacrificialmente pela Rússia, que já na 2ª grande guerra, contra a Alemanha hitleriana, a Itália e o Japão, ofereceu mais de 20 milhões de almas mártires na sua resistência heróica.
                                
                       
      De Nicholas Roerich...
Destaquemos a distin
ção entre os aspectos decadentes e os satânicos, os primeiros mais comuns, menos graves e em geral  apreciados, tal como a substituição do amor  a Deus pelo amor aos objectos e a actividades vis ou negativas. E ainda o apelo a consciencializar-nos da batalha tremenda que se está a travar,  à custa do sangue eslavo entre o satanismo Ocidental e a Rússia tradicional, "portadora de Deus", como tantos starets e peregrinos, filósofos e artistas sentiram, realizaram e ensinaram. Dessas muitas grandes almas, ligadas à demanda do espírito, ou que "mantêm a imagem de Deus", poderemos citar e invocar S. Serafim de Sarov, Tolstoi, Dostoievsky, Soloviev, Berdiaev, Florensky, Roerich ou mesmo a jovem Daria Dugin. Oiçamos então de novo Aleksandr Dugin:

De Nicholas Roerich, a Bandeira da Paz pela Cultura

«Como escreveu Michel Foucault: a decomposição é a ultrapassagem da lei, a transgressão. Ora no Ocidente não há mais lei, nem virtude, nem fronteira e, por conseguinte, não há mais vício, sobretudo depois de legalizado. Se as pessoas considerarem o vício como uma convenção social, então não há vício de todo. Existe apenas um "alargamento da experiência", uma "libertação de preconceitos" - tais como a vergonha, a consciência, a moralidade, a virtude, a inocência, o auto-controle. Quando algo deixa de ser considerado um vício ou um crime torna-se desinteressante, pouco atractivo, e é preciso passar a outra coisa: mudar de sexo vinte vezes, confundir-se com os animais, ladrar, andar a quatro patas, exigir que as crianças que pensam que são gatos sejam alimentadas numa bandeja pelos professores na escola.
A decomposição não tem limites, e quando a decomposição é legalizada e
la deixa de ser atractiva sendo então necessárias novas formas. O Marquês de Sade, um dos arautos da "civilização satânica" ocidental, dizia que o mais importante no vício é a inovação.

- Esta paixão pela decadência e pela autodestruição existe em nós desde o início?
- Se considerarmos a situação [da vida] sem Satanás, existe então apenas o ser humano e a aspiração à divinização do homem, e  neste caso a recusa do homem de fazer um esforço e ascender em direção à salvação da alma, ao paraíso e à imortalidade poderia ser atribuída a causas naturais, tais como à inércia, à matéria, ao corpo. Elas pressionam o homem a não manter a imagem de Deus, a dispersá-la em objetos materiais, em atrações vis. Mas isto não é satanismo, é simples decadência humana. O satanismo começa quando o processo de decomposição é associado a uma vontade, a um plano, a um espírito, pois os espíritos caídos, segundo o cristianismo, não são simplesmente materiais (os espíritos não são materiais), são espirituais, inteligentes, têm vontade e uma mente. Um demónio é um sujeito. Portanto, o satanismo deve ser entendido estritamente como uma estratégia de decomposição, a vontade de decomposição, a elevação da decomposição a uma ideologia, a um programa, a um projeto. Esta não é apenas um simples instinto animal. Esta vontade, que vem das profundezas da ontologia, que vem da mente, do espírito [diabólico ou Satã], é imposta, como dizem os ascetas ortodoxos, através de prilogias [em francês está prilogie, e provavelmente será pré-logias] e acrescentos.

 - Dizemos: isto é satanismo, mas continuamos a existir no sistema criado pelo Ocidente. Qual é a probabilidade de um novo confronto global com o Ocidente, tal como nos dias da URSS?
- Na verdade, já estamos em estado de guerra de civilizações, na qual o nosso inimigo - a civilização do Ocidente - é chamada pelo seu verdadeiro nome. É uma civilização satânica,  combatendo Deus, sendo anti-Deus e sendo anti-humana. Nós designámo-la com um nome, mas surge a pergunta: se eles são uma “civilização satânica”, quem
somos nós?
Verifica-se que o
nosso único caminho é o de sermos uma civilização tradicional e religiosa, unificadora das várias confissões tradicionais, e para isto teremos de ser diferentes. Fundamentalmente, precisamos de repensar o nosso estado interior. O que eles são já designámos e o que somos ainda não compreendemos ou realizámos bem. Já estamos em guerra com Satan, mas ainda não sabemos em nome de quem. Não temos porém muita escolha a fazer, pois ela é-nos sugerida pelos nossos antepassados, pelos nossos grandes escritores, filósofos, pensadores, anciãos, escolha esta sugerida portanto pela nossa cultura: - somos a Santa Rússia, somos um povo que leva em si Deus.
                                              On This Day in 1880 Poet Alexander Blok ...
Podemos, é claro, cair - Aleksandr Blok (1880-1921, último poeta romântico] viu a Rússia cair. Blok chamou a Rússia de "a Alma do Mundo", mas acreditava piamente que nós, russos, como a alma do mundo, havíamos caído para elevar-nos. Ainda não conhecemos plenamente quem somos, o que somos chamados a fazer, pelo que lutamos e estamos a dar o nosso sangue e a nossa vida nesta luta. Apenas começámos a travar esta guerra, não só para nos empenharmos nela, mas sobretudo para a levar a bom termo. E esta guerra passou agora de uma batalha massacrante física para um confronto metafísico de civilizações. O que nos falta fazer é um esforço fundamental para finalmente esquecermos [ou ultrapassarmos] a cultura decadente dos últimos quarenta anos.
Lembro-me da
cultura decadente da última década da era soviética. Decadência total, degeneração total. E, sem surpresa, isso foi seguido pelas monstruosas alucinações dos decrépitos anos 90. Tendo percorrido todo o caminho, até às profundezas dos anos 90 - parece-me que a história russa nunca nos levou tão baixo - começámos a emergir dessa era de pesadelo de ditadura liberal graças a Vladimir Putin. Não de um abismo localizado, mas de um pico mortal, do ponto mais baixo da história russa, do ponto mais baixo e escuro. Face a este ponto mais baixo, sabemos o que é Satanás, não só por fora, mas também por dentro. É por volta dos malditos anos 90, quando o Ocidente veio até nós, quando éramos comprados por quinquilharia, humilhados, pisados, violados e forçados a aplaudir.
                                     
​Então o
 Aleksandr Dugin não pensa  de modo alguma que vamos fazer as pazes com o Ocidente, estabelecer compromissos?  

- Satanás, vendo que alguém o desafiou, não nos deixará voltar a soluções mornas. Ele vai exigir agora que renunciemos finalmente a Deus, algo que não fizemos mesmo nos piores tempos de ateísmo e impiedade. É um mistério, e não podemos explicá-lo racionalmente, mas continuamos a ser um povo portador de Deus mesmo nos tempos soviéticos - apesar do ateísmo, do materialismo, do progressismo, da "visão científica do mundo", de todas as formas de degenerescência do Ocidente..... 
Desta vez, se fizermos marcha atrás, a mente russa não terá mais buracos [ou recursos últimos] secretos. Há, portanto, apenas uma perspectiva: ganhar ou não ganhar nada. Como disse o presidente [V. Putin]: "Se não ganharmos, ninguém ganhará. Temos aliados - outras sociedades tradicionais, não são como nós, mas são tradicionais, também estão em oposição ao Ocidente, talvez possamos alcançar com eles o mundo multipolar na união de tradições e civilizações. Só então poderemos ter uma conversa mais equilibrada com o Ocidente, explicar-lhe a nossa posição - porque não queremos seguir o seu caminho para o abismo.
 Talvez o conflito passe para uma fase mais ígnea e, quem sabe, terminará na morte da civilização humana [ou de parte dela...] Estamos à beira de uma transformação tão fundamental e decisiva que não nos podemos permitir-nos o planear a longo prazo. Tudo se joga agora: o destino da humanidade, do ser humano, de Adão enquanto tal [mito da primordialidade humana]. [Joga-se ou luta-se por...] O destino da existência, e tal diz-nos respeito. Se vencermos, o mundo será completamente diferente, se não ganharmos, não haverá mundo [verdadeiro, justo, fraterno, espiritual, não satânico]. Sem os russos, é impossível.»
 Fonte: https://portal-kultura.ru
Tradução a partir da versão francesa de Robert Steuckers.