Livros, Arte, Amor, Religião, Espiritualidade, Ocultismo, Meditação, Anjos, Peregrinar, Oriente, Irão, Índia, Mogois, Japão, Rússia, Brasil, Renascimento, Simbolismo, Tarot, Não-violência, Saúde natural, Ecologia, Gerês, Nuvens, Árvores, Pedras. S. António, Bocage, Antero, Fernando Leal, Wen. de Morais, Pessoa, Aug. S. Rita, Sant'Anna Dionísio, Agostinho da Silva, Dalila P. da Costa, Pina Martins, Pitágoras, Ficino, Pico, Erasmo, Bruno, Tolstoi, Tagore, Roerich, Ranade, Bô Yin Râ, Henry Corbin.
sábado, 4 de junho de 2022
Bô Yin Râ, on the unification of soul's powers. Short essay on the Path of the Light.
quarta-feira, 1 de junho de 2022
Luís de Castro Norton de Matos: "O Espiritualismo Oriental de Rabindranath Tagore". Revista Contemporânea, de José Pacheco.1927.
Em quase todos os aspectos da sua obra, como dramaturgo, novelista, músico, poeta e filósofo, é um educador religioso, um dos mais estranhos apóstolos da civilização indiana; quase todos os seus escritos, cujo espírito é o de Vaishnava «que idealiza e espiritualiza todas as relação da vida», são de devoção exortatória e mística.»
Dai-me força para suportar facilmente as muitas alegrias e tristezas;a força precisa para que o meu Amor seja abundante em serviços proveitosos;
Dai-me, Senhor - força para erguer o meu espírito acima das futilidades quotidianas; a força para, com amor, submeter a minha força à tua vontade».
Este princípio os índios nunca o aceitaram porque defenderam sempre a ideia da presença do infinito em todas as coisas que têm sido a sua inspiração. «Tudo no mundo é cercado [coberto, velado] por Deus» Içavasyamidan sarvam yat kincha jagatyan jagat. [Isha Upanishad, v.1]
A súmula mais curta e incisiva, não sabemos bem porquê, é a do V capítulo, Realização no Amor, poucas linhas. Ei-las: «Um profeta indiano disse que o mundo nasce do amor, pelo amor é mantido, no sentido do amor se move.
O êxtase e a contemplação são necessários ao espírito, purificam a alma; Deus está connosco na calma e silêncio dum solene confronto místico; mas Deus é activo, desde que o mundo foi criado, saindo Ele do seu profundo e infinito alheamento.
Não basta, pois, contemplá-lo no isolamento - é preciso acompanhá-lo na sua permanente evolução vital.
Mais à frente transcreve - «"Nada se poderia mover, nada poderia viver, se a energia do ser infinito não enchesse o Céu" - são palavras duma escritura sagrada.
Nos nossos prazeres materiais o limite depressa se descobre; o contrário sucede em todos prazeres da ordem intelectual e moral em que a margem é mais larga, o limite mais distante.
Noutro sentido, a nossa existência marca a direcção do infinito, a alegria da libertação.
Depois destes apelos da descoberta íntima e do desenvolvimento do Amor à Divindade, à natureza, aos seres, Norton de Matos vai concluir o seu trabalho com uma citação de Buda e no fim o 1º verso de Gitanjali, com que iniciara este seu texto para a revista Contemporânea e que curiosamente fora o único que Fernando Pessoa sublinhara no exemplar que lera e se encontra hoje na sua Casa Museu:
* Vid.Gitanjali, poem I: "Thou hast made me endless, my God. That is thy pleasure" e que traduziremos nós: "Fizeste-me sem fim, meu Deus. Tal é a tua vontade de felicidade." Ou entusiasmo...
terça-feira, 31 de maio de 2022
Um poema matinal, espiritual. Erga-se acima das narrativas e televisões, liberte-se, oriente-se, ilumine-se.
No meu ser há duas aves,
cada uma canta sua melodia
e eu só tenho que discernir
por onde cada uma vai a seguir.
Quando eu começo a cantar ou orar
elas silenciam e põem-se a escutar
E eu só tenho que bem inspirar e fluir
No que do meu íntimo se vai elevar.
Mesmo ao trabalhar estou a orar,
O meu coração está sempre a cantar,
Desde que o regue com a devoção
De dedilhar os nomes de Deus em aspiração.
Diante de mim passam as imagens,
ora astrais faces e movimentos,
ora banhos de luzes coloridas,
ou mesmo o vasto céu azul
de mil estrelas pontilhado.
Oficio no meu templo e observatório
acima das guerras dharmicas
mas as limpezas são purificações
seja em nós, seja nas nações,
que se querem libertar das opressões.
Não me deixo manipular,
Por tanta informação vendida,
Ergo antes a alma ao Ser Divino
pronunciando o Aum e outros Nomes,
E deixo que as suas bênçãos
me vão esclarecendo e orientando.
Cada um de nós é uma alma peregrina
Por entre mil causalidades ignoradas.
Ó Pedro, dá graças por poderes meditar
E com algumas almas dialogar e unificar,
na demanda da Justiça e da Verdade
ou na comunhão do Amor e da Divindade.
Lisboa, manhã 31-V-2022.... Aum....
sábado, 28 de maio de 2022
Um diálogo com Agostinho da Silva, A pomba do Espírito Santo. E o poema do cedro do jardim do Príncipe Real. Primavera de 1985.
Transcrição de uma página do diário de 1985 pois, revisitando o caderno, encontrei um pequeno registo de um encontro com Agostinho da Silva (1906-1994), valioso amigo e irmão-mestre da tradição cultural e espiritual portuguesa, com quem dialoguei muitas vezes. Preserva-se assim um testemunho da sua alma de marinheiro e descobridor de rumos utópicos mas possíveis. Que nos inspire, e muita Luz e Amor para ele.
«Preparando a visita à velha Albion [para participar no European Humanity Gathering 1985, organizado pela Findhorn Foundation], venho aqui passar a casa do prof. Agostinho da Silva a hora tardia, o Sol vai-se pondo e tingindo o ar e a relva de cheiros dourados que sobem como recordações de infância às nascentes da nossa alma e fazem-nos sentir, no meio da azáfama citadina, pontos de encontro e de eternidade.
Ele está quebrantado. Sentamo-nos um pouco. Está na sua hora de descanso. Seu coração, que o serviu [quase] 80 anos, agora estremece. Dou-lhe alguns conselhos [talvez o de massajar o meridiano do coração ou estimulá-lo a partir da compressão rítmica do dedo mínimo]. Falamos brevemente. Perguntei-lhe sobre o Espírito Santo.
- "Com certeza, sem desesperança".
- Não é exagero o V Império, não será impossível?
- "Possível é, mas levará tempo. A pomba branca terá de atravessar muito fumo até chegar ao céu", diz, e eu, nos seus dentes já algo com falhas e num trejeito facial, vislumbro a fome e a injustiça mundial existentes.
"Então para a pomba chegar até cá abaixo terá que atravessar muitas barreiras e dificuldades". Sentimos um pouco então no coração este encontro inconsciente das duas forças ou níveis [a do Espírito plenificante e a humanidade, as energias que sobrem e as que descem.]
- "Vai ser difícil mas para o bom marinheiro não custa navegar; para os outros é que será mais difícil".
Mais uns conselhos alimentares [provavelmente disse-lhe para não comer fritos, evitar açúcares brancos, diminuir gorduras animais, comer mais cereais integrais e biológicos], oferta de grissinos integrais que levava comigo, [e ele faz uma rápida] análise do Brasil. Tancredo provocando um surto transcendente [eleito presidente a 14 de Março de 1985, o já democrata e popular Tancredo Neves, na véspera da posse, foi internado com apendicite e morreu a 21 de Abril, provocando grande comoção nacional]. E aqui estou a escrever na beleza [do jardim] do Príncipe Real.»
«Tu que passas e ergues para mim o teu braço
Antes que me faças mal olha-me bem.
Eu sou o calor do teu lar nas noites frias de Inverno;
Eu sou a sombra amiga que tu encontras
Quando caminhas sob o Sol de Agosto;
E os meus frutos são a frescura apetitosa
Que te sacia a sede nos caminhos.
Eu sou a trave amiga da tua casa, a tábua da tua mesa,
A cama em que tu descansas e o lenho do teu barco.
Eu sou o cabo da tua enxada, a porta da tua morada,
A madeira do teu berço e do teu próprio caixão.
Eu sou o pão da bondade, a flor da beleza.
Tu que passas olha-me bem e não me faças mal.»
Já em casa anoto no fim da página, após a visita e diálogo com Agostinho: "Boas meditações: Que não se percam o Amor sentido de quando em quando, a Sabedoria pensante e pensada e a acção-vontade inflamando os corações em acções justas, luminosas. Eis uma Trindade equilibrada."
sexta-feira, 27 de maio de 2022
Linhas de consciência e dinamismo, assinaladas num diário de Outubro de 2005 e confirmadas em Maio de 2022.
«2005. Abril, antes de saída para Paris e Bruxelas.
Algumas vezes há pessoas que atingem uma tal chama no seu coração que quem toca nelas ou se aproxima do coração descobre esse amor quase infinito e sente como seria bom partilhar dele.
É como uma chama num alto monte atraindo peregrinos, como o canto do cisne num lago, que apela à companheira.
Há como uma dor do coração já presente nesse estado de amor, quase final duma vida.
É possível até que quem amar ou se enamorar dessa pessoa possa contribuir para a sua morte, pois é como que ela estivesse já com coração tão subtil, tão fino, que se possa derreter e deixar escapar os espíritos ou alentos vitais para o céu.
O meu coração está assim ígneo, imenso, e ao mesmo tempo compassivo, extasiante e doador.
Na solidão da vida surgem-nos estas ou aquelas pessoas perante a nossa alma e para elas o nosso olhar espiritual, reflexo da nossa essência, projecta certas energias, que a voz, os gestos, a concavidade ou convexidade da aura espelham.
Prestes a deixar Portugal, quem sabe que rumos tomará meu ser neste universo tão incerto e rico?
Como peregrino partirei. Como estará meu coração, lá e quando regressar?
Quantos de nós conseguem na sua gnose diária descortinar a forma ou estado do seu coração?
Regressado
Pelo menos que estejamos mais atentos, mais chegados a ele, e ele significa o ser interior que habita na nossa alma e que tem no coração a via de acesso principal.
Caminhemos então na vida sabendo adorar a Deus em nós, e a termos paciência com todas as contrariedades que encontrarmos na vida, de modo a que as pessoas que se encontrem connosco sintam que a sua felicidade e bem estar melhoraram, por estarem connosco.
Para isto é preciso não estarmos a impor aos outros ideias, nem ir contra o que pensam. Sabermos o que elas precisam ou desejam. Estarmos ligados verticalmente, e irradiarmos até mais silenciosamente.
Todos os seres estão na Terra a evoluírem e todos desejam amor, saúde, riqueza, felicidade, só que sendo os bens exteriores escassos temos de cultivar ou fazer mais culto dos bens interiores, não tão dependentes do exterior.
Que bens são eles? Os antigos chamavam-lhes virtudes, outros sabedoria, outros amor, discernimento, piedade (a docta pietas, de Erasmo), a empatia solidária e libertadora...
Escolhamos os que nos parecem ser melhores e desenvolvemo-los com discernimento e eficácia transmutadora.
E irradiemos mais amor do nosso coração, ou através da nossa alma, para todos os seres e dimensões.
Toda a gente anda a ensinar, frequentemente pouco sabendo, uns mais por compaixão, outros mais por necessidade de ganharem a vida.
Muitas pessoas estão num ego trip acentuado e não gostam de ser criticadas ou diminuídas, ou mesmo apenas suportarem quem sabe mais.
Vibrarmos então numa energia-consciência de amor, de unidade, de fraternidade, procurando não esmiuçar diferenças e defeitos, antes dando espaço livre aos outros na grande seara, é importante.
Trabalharmos na nossa ligação à Divindade, estarmos conscientes dela mais momentos no dia a dia, sobretudo quando estamos em conversa com outros, é importante.
Deus, a fonte de amor, a amada como a incarnação do eterno feminino e da Deusa mãe, o trabalho fecundo de aprofundamento psico-espiritual e da sua transmissão a algumas pessoas, a constante religação justa e harmonizadora entre o céu e a terra, na aura e alma ora interiorizada ora interrelacionada na demanda ou comunhão da verdade e do amor, eis as linhas de consciência e dinamismo que assinalei em 11-10-2005 e confirmo em 27-5-2022.
quinta-feira, 26 de maio de 2022
"Véus de Alethea", uma obra prima da poesia espiritual, de Daniela Pace Devisate. Curitiba, Kotter Editorial, 2021.
Recebemos há pouco vindo desse imenso e sempre querido Brasil uma obra poética de raro sabor, com dedicatória, de esquisita capacidade de evocação da sabedoria e amor antigos e que escorrem pelas páginas como sensibilidade e indagação, ventos e plantas, invocações e nemésis, ritmos e cores que nos desafiam e deliciam, inspiram e impulsionam, na sua poesis desvendadora de verdades.
Véus de Alethea, Véus da Verdade, em grego, ou ainda do não esquecimento (lethea), da autoria da professora e artista Daniela Pace Devisate, é uma obra que se lê e relê, nessa aspiração que a muitos percorre de uma maior unidade com a sabedoria, o conhecimento, o amor, a plenitude, e que os seres e mitos, com as palavras, ideias e sentimentos, podem pela palavra poética causar ou despertar em nós.
Dado à luz na Editorial Kotter, num in-8º de 81 páginas, com uma bela capa e desenhos da autora, e uma valiosa apresentação contextualizante de Maiara Gouveia, até no bom conhecimento manifestado sobre o Sanata Dharma indiano e atento ao nome da autora ("no sânscrito, Sat Devi é a potência feminina da verdade. Tem como contraponto, Maha Maya, a potência feminina da ilusão") além do helenismo, os belos e poderosos poemas foram dispostos numa primeira parte que leva o título gnósico da obra: Poemas são véus que velam develam re-velam o corpo nu da Verdade, a qual contém, após epígrafes iniciais, das tradições indiana, grega, romana e lusófona, explicativas da teoria da sua obra, 31 poemas, seguindo-se a segunda e parte final, Mistérios de Eleusis, com 8 poemas onde com conhecimento de fontes antigas (e partilhei-lhe algumas) dessas celebrações ainda hoje misteriosas, Daniela intui e poetiza com profundidade e amor, beleza e sacralidade o que seria evocado e vivenciado no desenrolar de tais celebrações e iniciações.
Estamos pois diante de uma obra de sentimento e paixão, de amor e de iniciação, com alguns poemas bem clarividentes, unitivos e perfeitos...
Quais selecionar, brevemente, para inspirar talvez alguém a adquirir o belo livrinho, que leva algum rasto ou substância dos muitos livros manuais que a Daniela Pace Devisat foi compondo com o seu corpo e alma, antes de gerar o seu 1º livro individual impresso em 2020, na editora Urutau, Tantos Quartos Lunares, e por onde a sua sensibilidade e matriz feminina, lunar e da natureza profunda do Brasil milenar escorre e fecunda?
Realçarei que senti na primeira parte um conteúdo mais vivencial e que nos toca mais forte que no da iniciática segunda parte, pois Daniela revisita e inspira-se em vários seres, temas e aspectos da tradição grega com grande osmose interior de tal modo que nos faz sentir, a partir da sua ressonância criativa, o que no fundo é perene nos mitos e grandes obras e que é a busca e a vivência do amor e da sabedoria, das deusas e deusas e da Unidade.
Quais senti mais plenamente? A Prece, Rapto, Ars Erotica, Eros & Psiquê, Orfeu, Naxos, Musa, Náiade e o final Musa Pagé, bem autobiográfico. E transcreverei, brevemente:
PRECE:
Gaia,
Templo do fértil.
Mãe temível,
escuta nossas preces,
carícias quentes
no umbigo da Vida.
terça-feira, 24 de maio de 2022
A estrela, símbolo do espírito, na "Iconologia" de Cesare Ripa, obra prima da sabedoria do Renascimento.
A obra de Cesare Ripa, Iconologia, o vero Descrittione dell’imagini universali cavate dall’antichità et da altri luoghi, per reppresentare le virtù, vitii, affetti e passione humane, arti, discipline, humori, elementi..., 1593, foi durante séculos uma das fontes principais da sabedoria dos antigos, abrangendo a mitologia, a religião, a etnografia, a ética e moral, os costumes, as ciências. Mas, ao congraçar ou juntar, a partir da 2ª edição de 1605, imagens originalmente desenhadas para tornar visíveis, imagináveis os conceitos desejados, apoiados em citações de autores clássicos, exemplos e explicações contextualizantes, tornou-se não só um convite à contemplação e portanto a uma ligação com os mundos espirituais mas uma enciclopédia portátil de todo o saber e imagem (e por ordem alfabética de temas ou conceitos). Tal como o era o livro Adágios de Erasmo, embora sem imagens e baseando-se apenas nas vozes ou ditos de toda a Antiguidade, certamente bem contextualizados e até relacionados ironicamente com a actualidade, numa sabedoria crítica humanista hoje muito perdida na cultura e informação tão superficializada e manipulada da generalidade das pessoas...
O 1º ícone com a imagem de uma estrela, como a podemos ver e ler na edição de 1645, italiana, surge na representação da Alma racional e beatífica, e mostra-nos uma mulher com um vestido que Cesare Ripa diz claro e luzente, o vulto coberto por um véu finíssimo e transparente, com asas aos ombro e uma estrela sobre cabeça.
E escreve: «Sendo uma substância incorpórea e imortal, representa-se assim para ser compreendida e é desenhada graciosissimamente por ter sido feita pelo Criador, o qual é a fonte de toda a beleza e perfeição à sua semelhança, e a vestimenta é clara para demonstrar a pureza e a perfeição da sua essência» ou, se quisermos, do seu íntimo ser e existir.
Quanto à Estrela propriamente diz que com ela, «conforme Piero Valeriano, no livro 44 dos seus Hieroglifos, os egípcios significavam a imortalidade da alma». É pouco e é preciso uma boa hermenêutica para discernirmos que ele está dizer que a estrela representará o espírito imortal que coroa a alma. De facto, a estrela representa o espírito, o núcleo e centelha divina presente no mar da alma e no corpo, pois na realidade somos corpo físico, alma de emoções, sentimentos e pensamentos e, finalmente, espírito, centelha divina, aqui abonada pela tradição egípcia, como imortal. E perguntamos, ao iniciar esta investigação que outras características ou qualidades ele discernirá, aceitará ou proporá quanto ao espírito, ao longo do livro.
Hoje sabe-se que os egípcios consideravam a estrela, que neles surge nos hieróglifos como de cinco pontas, tanto uma imagem das estrelas que havia no céu físico e no do além, no mundo Duat, como também o símbolo do ba ou seja, a manifestação espiritual de cada ser que em si era visto como pluridimensional.
Quanto às asas, Piero Valeriano não aprofunda muito, pois diz que elas nos ombros denotam a agilidade e espiritualidade, como também as duas potências intelecto e vontade.
Ora podendo elas sem dúvida simbolizar, e bem, tal quanto à alma de um modo geral, elas são sobretudo representações fidedignas das energias que irradiam das almas mais luminosas, e que sendo raios podem então ser vistas clarividentemente como asas, de forças coloridas e irradiantes ou mesmo elevantes. Cada ser tem as suas asas, e se ele não as deixa cortar ou atrofiar demasiado pelos seus erros e hábitos, e pelas paranóias que a sociedade lhe impõe ou sugere, tais os noticiários de televisões, então consegue melhor manter-se em acção criativa e amorosa nos seus projectos e ideais, nas suas aspirações e forças ascendentes, ou relações horizontais e harmonizadoras.
O conjunto da imagem é harmonioso e, bem contemplado, pode induzir a consciencialização do que existe na alma subtilmente (e algo inconscientemente) e que está na imagem emblemática representado subtilmente e com intuitos operativos, dinâmicos, transformadores...
Uma 2ª representação da Estrela encontramos no ícone do Bom Augúrio, com a seguinte singela discrição: «Um jovem que tem uma estrela sobre a cabeça, nos braços um cisne e está vestido com a cor verde, que significa augúrio, pois as ervas quando verdejam, prometem boa cópia de frutos. Piero Valeriano [1477-1509], [Hieroglyphica], no seu livro 44, diz que aqueles que antigamente operavam os augúrios confirmavam que a estrela era sempre sinal de prosperidade e sucesso feliz.»
Nesta interpretação da visão da estrela sobre a cabeça de uma pessoa discerne-se um sinal auspicioso. Mas numa hermenêutica mais espiritual teremos de discernir se é uma visão clarividente que alguém teve e que afirma tal, ou se é apenas um dado de tradição ou mesmo até da boa estrela que se diz seguir os mais afortunados na vida, tal como por exemplo o persa Saadi, de Shiraz, aonde estive em peregrinação, a dado momento da sua obra Bostan conta.
Uma terceira (e há mais) representação da Estrela na Iconologia de Ripa encontramos na imagem do conceito Conjunção das Coisas Humanas e Divinas:
«Desenhar-se-a uma pessoa de joelhos com os olhos virados para o Céu e que humildemente sustem com ambas as mãos uma cadeia de ouro pendente do céu e de uma estrela. Não há qualquer dúvida que com o testemunho de Macróbio e de Luciano, a corrente mencionada significa uma conjunção das coisas humanas com as Divinas, e um certo vínculo comum com o qual a Divindade, quando lhe agrada e atrai a si e leva a mente nossa ao Céu [ou interioridade espiritual], donde nós com a nossa própria força não podemos sair, de modo que isto quer significar que se a nossa mente se governa com o querer divino, poderá atar-se com a cadeia pendente do céu e de uma estrela. E esta é aquela força de inspiração Divina, de cujo foco Platão quis que todo o ser humano seja participante a fim de dirigir a mente ao Criador e a erga ao Céu, mas convém que tal seja conforme a vontade divina em todas as coisas e que oremos a Sua Divina Majestade que nos faça dignos da sua santíssima graça.»
Possa a catena aurea, a corrente dourada, que liga o mundo celestial e divino e o terreno e humano, ou a estrela e a alma, ser vivificada pelo amor sincero e a força justa nossas que assim fertilizarão e harmonizarão melhor a Terra e a Humanidade...
Nota de rodapé: «Do cisne diz Virgílio no livro primeiro da Eneida: ni frustra augurium vani docuere parentes. aspice bis senos laetantis agmine cycnos, aetheria quos lapsa plaga Iovis ales aperto.... "Mas é não frustradamente nem em vão que o sacerdote augurador ensina os pais a observarem o voo de doze cisnes alegres, aves sagradas de Júpiter e que planarão e aterrarão no local auspicioso". Mas a nós cristãos não nos é lícito crer na vaidade dos augúrios.»
Possam as melhores intuições face à súbita contemplação de cisnes, pombas, aves, nuvens, estrelas ou céu nos inspirar e guiar, e na comunhão com os elos perenes da Sabedoria humano-divina, sermos mais plenamente o espírito, a estrela ou centelha divina em nós... Aum!











