sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Livros sobre Anjos, (4) , em inglês ou francês, comentados e classificados.

Livros sobre Anjos, em inglês ou francês, comentados e classificados: *** Bom, ** Médio, * Fraco. Quatro realizados, no dia 5.XI.21...

1 -  KAUFFMANN, Jean-Paul. LA LUTTE AVEC L'ANGE. Paris, La Table Ronde, 2006. In-8º 336 p. Uma boa investigação da igreja parisiense de Saint-Sulpice e da pintura de Eugène Delacroix  sobre a luta do Anjo e Jacob, que se encontra dentro da mesma igreja na capela de Todos os Santos, servem para o autor levantar questões sobre as representações dos Anjos e de Lúcifer e, logo, da origem do mal, com comparações com outros pintores dos mesmos temas. Investigando a vida, imagens e cadernos de Delacroix (1798-1863), transcreve o convite publicado pelo pintor em Julho de 1861 para a visita das suas pinturas, que termina assim: «Esta luta é vista, pelos livros santos, como um emblema das provações que Deus envia a qualquer um dos seus eleitos». Não teve contudo o sucesso desejado, embora os seus amigos Theophile Gautier, Théophile Thoré e Baudelaire o felicitassem. Ingres, o rival de Delacroix, comentará o quadro ao prior da igreja: «não tenha dúvidas que o mal existe». Eugène Delacroix morrerá em 13 de Agosto de 1863, algo entristecido, junto à sua floresta de Sénart, onde pontificava o carvalho de Antin (ainda hoje vivo), pintado por ele e outros e que terá servido de fonte para a pintura, e numa casa e atelier que consegue visitar, e onde o dono confessa a presença forte de Delacroix. 

A obra termina com uma visita a uma das tragédias culturais da actualidade, por o dinheiro público ser mal gerido e não se criarem mais locais de preservação e culto da arte e da beleza, antes se preferindo dá-lo a tanto explorador ou loteador do bem comum: as reservas dos museus, onde obras de arte por vezes fabulosas não são expostas e antes vão-se deteriorando frequentemente, no caso deste livro uma pintura  de Jacob em fuga para a Mesopotâmia, de François-Joseph Heim (1767-1865), contemporâneo e amigo de Delacroix.   Quase um romance de suspense, mas sem medos, de história de arte e que prende ou se lê bem, embora sem grandes dados valiosos sobre os Anjos.**

2 - SULLIVAN, Paul O´. ALL ABOUT ANGELS. Lisboa, The Catholic Printing Press, 1945. In-8º 112 p. Br. A obra leva a recomendação inicial do cardeal patriarca Manuel Cerejeira:«Peço a Deus que abençoe abundantemente esta obra de modo a que possa vivificar a fé e intensificar a devoção dos seus leitores». Também o bispo de Portalegre, Domingos, escreve: «A devoção aos Anjos é muito pouco praticada considerando os imensos benefícios que eles estão  tão prontos a obter para nós. O nosso querido Anjo é o melhor e mais poderoso amigo durante os longos anos das nossas vidas.» O autor narra casos de aparições autenticadas recentes, e seguindo a doutrina de S. Tomás de Aquino, tenta explicar quem são os Anjos, o que fazem, onde estão, como são e como nos querem ajudar, dando muitos exemplos da Bíblia e das Vidas dos Santos. Inicia com as visões do Anjo de Portugal e da Paz em Fátima, em 1917 e como os pastorinhos se sentiam em paz e grande força com as bênçãos. Alguns exemplos dos muitos ensinamentos:  A S. João Bosco, o anjo apareceu-lhe com um cão para guiá-lo. O padre Lamy (1853-1931) disse: «Os anjos são muito tocados quando lhes oramos. É muito útil orar aos Anjos. Eles olham-nos como irmãos com necessidades. Por vezes, além do Anjo da Guarda, o Arcanjo Gabriel acompanhava-o, enquanto servia de capelão na 1º grande Guerra. Na parte doutrinal  ora tem boas visões, ora se limita a ser devedor das patranhas do Antigo Testamento, tal como quando para provar o poder do Anjos, tenta convencer-nos que Deus "mandou" um anjo numa noite matar 70.000 egípcios. Ou ainda, outra patranha, quando houve a invasão pelos assírios, por ordem de Deus, um anjo teria matado 185.000 numa só noite. Uma maluquice completa...
Também seguindo outra autoridade com pés de barro, S. Tomás de
Aquino, lembra que cada corpo planetário tem um «anjo guardião que mantém o seu curso e evita qualquer aberração. Que prodigiosa energia e poder não exige tal controlo!». Também parece ser exagero considerar que oferecer a missa ao Anjos é a maior alegria que eles podem ter, tal como tudo o que sentem na missão de assistirem às missas. Mas sem dúvida é bom reconhecer que a oração conjunta com os Anjos é menos fria, mais ardente e mais eficaz.
Mais correcto é dizer que «apesar de estarem connosco sempre e devotando
toda a sua atenção e cuidado aos nosso bem estar, eles nunca perdem vista a presença de Deus. Estão sempre contemplando a sua Infinita beleza, deliciando-se no  brilho de sol da sua Presença.» Ou ainda que todo o ser humano tem o seu anjo e que cumprimentá-los agrada-lhes, e que retornam o amor centuplicado.
Há outros aspectos valiosos de doutrinas que são provavelmente
acertados, enquanto que há outros de especulações provavelmente infundadas. Apesar dos defeitos de tomar como literalmente verdadeiro o que se passa na Bíblia, tão cheia de imaginações ou invenções e posteriores manipulações ou distorções, este livro vale a pena ler-se. Contém ainda um desenho do Anjo Guardião de Portugal. **

HOWARD, Michael. THE BOOK OF FALLEN ANGELS. Somerset. Cappal Bann Publishing, 2004. In-4º 198 p. Uma boa obra e em grande parte baseada nos ensinamentos de Madeline Montalban (1910-1982) uma ocultista, maga luciferina e astróloga inglesa que passou por muitos mestres e grupos, escrita por quem foi seu discípulo e companheiro alguns anos, antes de se iniciar.  O autor faz a sua investigação e apreciação histórica e comparativa das origens das personagens, livros e fábulas criadas em torno de Deus, cultos pagãos e anjos caídos. De realçar que tanto ela como ele  são crentes e praticantes da magia cerimonial baseada nas correspondências de nomes dos sete anjos planetários, estações do ano, direcções, elementos, e funções. Lúcifer é denominado Lumiel e de modo algum é o Satan que o Catolicismo gerou, mas antes um espírito celestial benigno. Eis os títulos do capítulos: From Apes o Angels. The Tree of Gnosis. The fallen one. The myths of great Flood. Lady of the Evening Star. Avatars of Light. The Teaching Angels. 

Neles o autor explica com dados históricos e arqueológicos como o Genesis deve muito a outros povos e Jehova a outros deuses, e como Lúcifer teve como fontes Shamesh e Helel ben Sahar e, inclinando-se sobretudo para as ideias sincretistas de H. P. Blavatsky e  da sua mestra Madeleine Montalban, considera Lumiel ou Lúcifer como o primeiro ser criado e que, ao tentar apressar a evolução de Adão e Eva, foi expulso do Paraíso no plano ou mundo astral e tornou-se o senhor deste mundo físico. Michael Howard (1948-2015), apesar das suas práticas cerimoniais e outras, parece não ter contudo alcançado experiências mais profundas, e calculamos provavelmente por erros ou apoios de explicações e identificações superficiais, ou ainda influências não puras **

HUNTER, Charles and Frances. ANGELS ON ASSIGNMENT as told by Roland Buck. Kingwood, Hunter Books, 1979. In-4º 204 p. Br. A obra é algo entusiástica e parte de dois crentes na vinda eminente de Jesus e relata várias experiência de contacto com Anjos ou mesmo com Deus "tidas" por Roland Buck (1918-1979), pastor da Central Assembly of God Christian Life Center, em Idaho, durante os seus últimos 30 anos de vida, e que lhes transmitiu por gravações, conversas e aprovação deste livro. Há mesmo vídeos na web com a voz de Roland Buck a explicar a sua mensagem, a sua ida ao Trono de Deus, o qual lhe permitiu ver  anjos, milhares ou milhões à volta das pessoas e em especial da sua igreja. Não parece contudo muito
convincente, ou verdadeira, a voz.
O conteúdo é também muito discutível, desde a familiaridade com o
Arcanjo Gabriel e com Deus, que o leva para a sua sala Trono, aos ensinamentos sempre demasiado apoiados em leituras literais da Bíblia. Anotemos alguns supostamente dados pelo Arcanjo Gabriel: «como o Espírito Santo monitoriza tudo o que se passa em toda a terra, e recolhe instantaneamente os sinais de toda a parte», detectara uma tremenda preparação de forças satânicas para o atacar a ele, Buck, e assim enviara anjos para onde ele estava em Idaho. Buck não queria que eles se incomodassem, mas responderam-lhe que já tinham feito o trabalho e «pediram-me para olhar pela janela. Olhei e estavam cerca de 100 grandes anjos lutadores de pé na rua. Já tinham terminado o trabalho e estavam a falar uns com os outros relaxadamente»... Uma cena quase de filme norte-americano.  Outro: «há muitos tipos de anjos, tais os de louvor, adoração, ministração e luta. Mas independentemente da função, o seu mais alto propósito é exaltar o nome de Jesus», de novo exagerando um cristianismo literal... Quanto à data em que Jesus vai voltar, uma outra expectativa infundada e geradora de muita aldrabice, diz cautelosamente: «Deus reservou esse segredo particular para ele. Mas depois Gabriel disse-me: "Posso dizer-vos isto: nunca houve tanta excitação e actividade nos átrios do Céu desde que Jesus veio pela 1ª vez à Terra, como hoje.»... Uma excitação que dura ainda hoje, para muitos crentes numa vinda... 

Prevê também que as pessoas abrirão os seus olhos e verão verdadeiramente os anjos e não apenas imaginações, algo que denota também a confusão constante entre o ver físico e a visão espiritual, algo que permeia toda a narrativa, não direi inventada mas imaginada, no caso chegado ao ponto de descrevendo os sapatos e as roupas dos Anjos musculados e enormes que o visitavam. Há pouco dados sobre a sua vida disponíveis. Pouco antes de morrer escreveu o seu epitáfio, inegavelmente verdadeiro em certos aspectos, "inspirou a fé dos outros", resta saber se foi uma fé infundada e daninha até... Casado, com 3 filhas, uma delas, Sharon White, escreveu um segundo livro, com mais diálogos angélicos, The Man Who talked to Angels. Para o público norte-americano, muito habituado a pastores e grandes sermões, com pouca erudição ou comprovada veracidade, é uma obra de sucesso. Mas não recomendamos gastar o seu tempo em fés em anjos e concepções de Deus bastante ultrapassadas. *
Fiquemos com uma fotografia tirada por mim já em Janeiro de 2022, bem
sugestiva da subtileza e intimidade angélica, praticamente impossível de encontrar hoje na alma colectiva norte-americana, e nos seus miríficos pregadores e especialistas de angeologia...

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Reflexões sobre os sons dos ventos e brisas nas árvores, bosques e almas... Do livro em preparação "Ensaios Espirituais".

  Este texto, "concluído" hoje 1-11-2021, que seria para o livro em preparação Ensaios Espirituais, é dado à luz antes no blogue, pois talvez seja mais lido do que em livro, uma realidade que temos contudo de avaliar constantemente. Poderá todavia um dia, e até aprofundado, ter lugar nele ou num outro. Imagens recentes na serra do Gerês, depois uma anteriana, uma ave vizinha no Gerês, duas mais antigas do  Japão e duas do Irão, e por fim, de novo Gerês transmontano, e a última da Serra da Estrela.

Os mistérios do som e da palavra, do vento e das brisas, dos ruídos e zumbidos e do murmúrio crepitante do silêncio são realidade subtis afins entre si e que, com a regularidade que os conseguirmos sondar e vivenciar na Natureza, deveremos sentir e escutar, questionar e meditar. 

Referimo-nos em primeiro lugar à possibilidade de atribuirmos às árvores como que sons, ou seja, os seus efeitos sonoros ou musicais provocados pelo vento, possam ser por nós ouvidos e lidos inteligivelmente.

Ora na minha experiência quanto ao vento ou às brisas que movem as folhas, ou que subitamente afagam os nossos cabelos e refrescam a face, senti-os mais como sinais de passagens ou presenças subtis e abençoantes do que como propiciadores duma linguagem específica, em cada folha, tal como disse uma vez a poetisa Cecília Meireles, embora já tenha intuído mensagens delas, pese o facto de que o som que as folhas gerem seja muito subjectivamente acolhido por nós e varie certamente com a espécie, a época do ano e o tipo e intensidade do vento. Entre nós Antero de Quental, caminheiro frequente de Coimbra à mata do Buçaco, sonhador de uma Ordem dos Mateiros, foi um dos poetas que mais interrogou os sons da Natureza, particularmente o do mar, fruto da sua insularidade natal e da estadia de quase uma década em Vila de Conde.
                                       
Assim num pinheiral, num eucaliptal, num soto de carvalhos, os exemplares falam, ou soam ao vento, ao seu modo, uns mais forte outros mais suaves, e uma pessoa pode intuir mensagens particulares ou apenas considerar tais sons como a linguagem dessa mata, floresta, bosque ou árvore, a qual faz parte da grande Fala ou Diálogo da Natureza, ou mesmo do grande som cósmico, e do que através desse seu sub-campo ambiental pode perpassar ou apenas gerar-se. 
  Ora estes sons, que sentimos e consideramos como linguagem (e deveremos mencionar as aves, mensageiras e encantadoras), podem pelos mais cépticos ou menos receptivos serem entendidos apenas como uma simples participação fluída das árvores nos ciclos dos elementos naturais, ou seja, nas estações do ano e seus fenómenos, e os seus sons serem um mero efeito mecânico das correntes do ar num meio, o arvoredo, que ressoa com elas involuntariamente, inconscientemente e sem haver qualquer tipo de capacidade de expressão interna psíquica... 
                                        
Já se admitirmos que possa haver um diálogo dos subtis Espíritos da Natureza, ou até outros, operando através das árvores, então a riqueza e complexidade dos sons ouvidos e a possibilidade de haver mensagens que intuíveis serão bem maiores...
Ora se o supor-se a possível existência de uma mensagem no som das árvores abanadas pelo vento é algo supersticioso ou imaginativo para a ciência e para a maioria das pessoas, já num nível subtil, e certamente subjectivo, podemos equacionar diferentes fontes possíveis bem como meios de audição e interpretação, em geral ligados à tão suspeita quão desejada sensibilidade subtil e telepática que ao longo dos séculos se foi manifestando nos fenómenos de formulação de oráculos, muito comuns na Antiguidade, ou na adivinhação tão popular em todos os povos, ainda que frequentemente com demasiada imaginação e mistificação...
Como exemplo de fonte subtil podemos considerar que a árvore é uma entidade, consciência e poder, pelo que pode transmitir uma mensagem, ao ser abanada pelo vento, seja pelo som, seja ainda pela forma como surge aos nossos sentidos, nomeadamente ao deixar destacar para a nossa visão certos recortes ou sugestões de seres, que vemos de longe.
Em verdade, a árvore entidade é não só uma mera árvore física mas também podemos ver ou intuir nela um ser subtil, uma dríade ou hamadríade, ou até o duende que vive na árvore ou mesmo o deva ou anjo que anima uma zona florestal. Ao aceitarmos a existência destes seres invisíveis da Natureza, poderemos mais facilmente vê-lo e senti-los como as entidades subtis que invisivelmente modelam ou assistem às formas e transformações da Mãe Natureza e que a tradição popular, tradicional e oculta chamou de espíritos da Natureza, ainda que fantasiando-os muito e enriquecendo o mundo infantil com tantos contos de encantar...
Também podemos intuir que o vento é soprado por entidades não visíveis, para além dos espíritos da natureza, as quais podem ver as nossas necessidades existentes subtilmente na nossa alma, e podem responder e comunicarem-se-nos, e assim nesta explicação passa ser o vento animado um agente informador... 
Por exemplo, no Japão, o vento é denominado kaze e é considerado poder ser animado por espíritos, designados como os Kami, que tanto podem ser antepassados ou outros espíritos humanos, como também. e mais até em geral, espíritos da natureza, anjos e seres celestiais, manifestando tal mais em geral nos santuários e quando nos curvamos em saudação-adoração, tal como a fotografia em Ise Jinja sugere...
Na Pérsia, o vento e as brisas são vistos como possíveis portadores das correntes psíquicas, em especial dos seres amorosos e da Divindade, sendo bem descritos como seus agentes na poesia medieval persa, como estudei e palestrei em Saadi ou Hafiz, nomeadamente quando o amante pede ao vento que passa que lhe traga novas da sua amizade, ou lhe faça chegar o perfume dos seus cabelos, ou que lhe leve os seus sentimentos. 
 
O vento nestas tradições mais sensíveis e espirituais à Natureza animada é uma viração, eco ressonante e fluxo no grande Oceano que une todos os seres, em geral obedecendo à Providência Divina,  e que pode ser constituído e animado por correntes inter-comunicantes, postas em acção sobretudo pelo amor e a vontade, e assim fortificando os laços recíprocos e os fogos dos corações.
Há outra explicação causal das intuições que podemos obter do vento, e provavelmente a que acontece mais: encerramos e apresentamos uma rede de aspirações e interesses, desejos e receios, com os quais interagimos ou respondemos aos sons que nos chegam à alma e aos neurónios, dando origem a que tais impactos se configurem numa sensação, mensagem ou intuição.
Mas claro tanto podemos gerar uma mensagem correcta, ao conseguirmos espelhar a ordem, o todo ou a resposta certa, como também podemos ouvir ou ler erradamente, conforme projectamos demasiado as nossas expectativas ou medos sobre o influxo sonoro que é assim mal interpretado ou lido.
Ou seja, por vezes, conseguimos por uma serenidade e desprendimento deixar formar-se e vir ao de cima a mensagem ou resposta certa ou que precisamos. Ou seja, há uma sensação e leitura interpretativa dos sons do vento e das folhas como indicações que nos servem de bússola intuitiva de decisão, de acção e de verdade.
Talvez possamos ainda admitir que a nossa mente ou alma, ao estar calma e receptiva, abre-se ao Campo unificado de energia consciência informação, que também se pode denominar alma mundi, intelecto cósmico, ou mesmo Divino, já que o Cosmos sem o Ser Divino não teria a a coerência, beleza e propósito que lhe verificamos e que é a Divindade, ou a Inteligência divina nele manifestada ou subjacente. 
Mas também pode acontecer apenas um ser abrir-se ou estar sensível às correntes psico-energéticos que lhe são enviadas pelos outros seres, ou que eles emanam naturalmente, se entre si se amam, ou se pensam neles com alguma intensidade, pois a energia anímica irradia bastante, embora subtilmente, do nosso ser
Claro que esta hipótese da energia psíquica ou do pensamento e intenção poderem transmitir-se só está a ser investigada e reconhecida por poucos investigadores e institutos psico-científicos e surge como a acção à distância remota, de que há já comprovações de certas pessoas mais dotadas para tal.
Há contudo ainda outra hipótese a considerar-se: a do nosso próprio ser ou espírito utilizar o som exterior do vento nas folhas para induzir em nós uma audição directa diferida por ele próprio e assim quem fala ou dá mesmo a mensagem somos nós próprios, ou seja, a nossa essência espiritual que a intui no Cosmos ou no sub-campo que nos toca, ou a realiza por si mesma.
Neste sentido talvez corra algo daquele conto do príncipe encantado que busca perdidamente a sua dama e que quando a encontra e beija descobre que ela está também dentro de si, ou que ela é uma parte de si. Ou mesmo, para quem nela acredita, que a sua alma-gémea por ele procurada já estava dentro de si, ou em comunicação subtil consigo... 
                                        
Saibamos pois, quando estamos debaixo de choupo ou chorões, carvalhos, nogueiras ou castanheiros, abrir-nos às comunicações seja dos mundos superiores seja as que ligam as almas afins neste caminho de despertar do adormecimento em que estamos para uma plenitude maior de consciência, audição e visão espiritual. E, quem sabe, se além de alguma sibílica intuição do rumorejar das folhas, a "própria voz ou palavra Divina" se possa ouvir em nós... 

domingo, 31 de outubro de 2021

Luís de Almeida, nas "Figuras do Silêncio", de Armando Martins Janeira. Breve resumo do 23º capítulo e dos finais.

  O introdutor da Medicina Ocidental no Japão: Luís de Almeida, constitui o 23º capítulo das Figuras do Silêncio, e a 4ª individualidade destacada, após Jorge Álvares, o autor da 1ª relação sobre o Japão, o missionário santificado Francisco Xavier, o peregrino aventureiro e escritor Fernão Mendes Pinto. Em Almeida  vemos como nascido em 1525 e aprovado como médico cirurgião em 1546, parte para o Oriente a aumentar a sua fortuna pois já era de família de ricos cristão novos em 1548, e em sete anos fá-la crescer bem, mas foice já estava junto à seara e o convívio com os Padre Baltasar Gago e Cosme de la Torre  fá-lo entrar na Companhia de Jesus e entregar os seus bens para a missão e para obras de beneficência, tal como Hospital  que co-funda em Funai, Bungo, apoiado até numa farmácia que se abastecia das ervas medicinais e demais produtos boticários que fazia vir também da China, Índia e provavelmente Portugal, onde exerce os seus dons clínicos e compassivos, tal como o seu superior Cosme de Torres (1510-1570) anuncia numa cartaAqui recebemos um irmão bom sujeito, que tem donum curationis e o sabe muito bem fazer”. O sucesso do Hospital, administrado por uma confraria, de 12 irmãos, com o seu regimento, foi grande em em 1559 foi ampliado e a ele recorria muita gente de todas as partes do Japão. 

Não estava só nesta tarefa, pois diz-nos Armando Martins Janeira: «Sabe-se que Almeida ensinou a medicina e criou discípulos japoneses europeus (...) Ainda ao tempo de Almeida, um outro português exercia a medicina no Japão, começando na província do Hizen e indo depois para Osaka; adoptou o nome japonês de Keiyu. Fróis dá notícia de um excelente cirurgião português, e deve ser este, que veio para o Japão no último quartel do século XVI. Um outro português, ex-jesuíta, Cristóvão Ferreira, atrás mencionado, que depois de apostatar tomou o nome de Sawano Chuan, conhecia e praticava também a cirurgia e instruiu, a partir de 1633, alguns japoneses; escreveu um tratado, Cirurgia dos Bárbaros do Sul, «que pertence  às melhores obras sobre este assunto. Um dos seus alunos foi Nishi Gempo, fundador da escola «Mishi», médico de câmara do xógum e encarregado pelo governo de dar lições de fisiologia.» Acrescente-se que  Cristóvão Ferreira mereceria ter sido eleito, apesar da apostasia, também como uma das figuras...

Em Junho de 1561, o P. Cosme de Torres, decide, graças às vitórias do dáimio seu protector Otuma, que o terreno de evangelização pode ser alargado decide dispensar do hospital, onde já havia bons auxiliares e discípulos,  Luís de  Almeida e enviá-lo a  cristianizar fora de Funai, a capital do Bungo. E vai assim passar a converter, curar e fortalecer os pequenos núcleos de cristãos e as suas capelas, com cenas belas ou comoventes como descreve nas suas vivas cartas, percorrendo várias partes do Japão, resumidas por Armando Martins Janeira assim: «Os actuais historiadores , entre os quais os Padres Dorotheus Schilling e Diego Pacheco, que dedicam a Almeida interessantes estudos, seguem os seus passos e a sua obra de conversões e baptismo: vemo-lo pregar e catequizar activamente em Kagoshima, em Yokoseura, em Arima, regressando depois a Bungo e de novo partindo para Hirado, Kioto, as ilhas de Goto e de Amasuka, e Nagasaki. Do que vê nas suas viagens nos dá interessantes descrições, umas patéticas, como as da destruição de Yokoseura, invadida e queimada pelos inimigos dos cristão, ou o abandono em que viu os cristãos perseguidos de Shimabara; outras brilhantes e entusiastas, como as descrições dos esplêndidos templos e palácio que visita em Nara e Kioto». Anote-se mais recentemente, 2015, a obra de Inês Carvalho Matos, Património de Cristianismo no Japão na qual visitando tais terras, narra e ilustra bem o que se foi fazendo ou se celebra nos últimos anos relacionado com Luís de Almeida e os outros missionários.
                                                
Armando Martins Janeira concluirá o capít
ulo falando da perenidade do nome de Luís de Almeida:  «A introdução da medicina ocidental no Japão por Fróis e a sua piedosa obra são lembrados ainda hoje pelos japoneses. Como já vimos, em Oita ergueram-lhe um monumento (na fotografia inicial) e o maior e mais moderno Hospital Central de Oita tomou o seu nome. Em Hondo (...) Em Nagasaki (...) O seu nome é sempre citado nos estudos históricos sobre a introdução da medicina no Japão. A sua acção de espalhar pelo Japão o espírito do Ocidente é inolvidável».

Faltaria resumirmos os capítulos finais intitulados Um grande clássico por descobrir em Portugal: Luís Fróis, Um precursor da sociologia: João Rodrigues, acerca deste intérprete, filólogo e autor de obras sobre a língua nipónica, Um Mártir: Diogo de Carvalho e finalmente O Último dos grandes aventureiros Lusíadas, Wenceslau de Moraes, mas para não estar a resumir e eventualmente a distorcer  ou a enfraquecer intencionalidades de Armando Martins Janeira e porque se espera já há algum tempo que a sua Obra Completa seja finalmente dada à luz na Imprensa Nacional Casa da Moeda, vamos terminar, pelo menos por hora, e neste dia 31 de Outubro de final de ciclo, estes textos de resumo de um livro de leitura bem valiosa e que se encontra todavia ainda em alfarrabistas ou em venda pela internet. 

Anote-se que  Armando Martins Janeira conclui a sua obra com dois pequenos capítulos, Avaliação do Passado: Os Modernos estudos-Luso-japoneses, bastante ultrapassado pelas numerosas publicações das décadas posteriores, onde destacaremos a publicação completa em cinco tomos da História do Japão, de Luís Fróis, La Compagnie de Jesus et le Japon. 1547-1570, de Léon Bourdon, partir de 1993 a obra de referência, ano em que se realizou o Colóquio O Século Cristão do Japão, com as actas publicadas em 1994; as Cartas do Japão, em 2 vols. em 1997, num fac-símile da raríssima edição de Évora de 1598; e também o Bulletin of Portuguese/Japanese studies, desde 2000, dirigido por João Paulo Oliveira e Costa, que com Valdemar Coutinho publicou também individualmente. Ou ainda os contributos de Michael Cooper, Jacques Besineau; e os de Maria Helena Mendes Pinto sobre a arte Namban, e os de Américo Costa Ramalho e Sebastião Tavares Pinho em relação às obras em latim de Duarte Sande. E devemos mencionar por fim os autores japoneses  referidos então por Armando Martins Janeira: Ken Takeuchi, Tamon Miki, Saburo Ienaga, Eichiro Ishida e Shitaro Ayuzaka. No último capítulo, O Passado e o Futuro, faz votos para que Portugal não se limite na Europa, tal como na época dos Descobrimentos, e desenvolva as suas relações com Japão, agora mais na tecnologia e industrialização, e aprendendo a investir mais na investigação e no futuro, e que saiba também erguer alguma estátua a uma grande personagem japonesa, tal um busto de Bashô...

sábado, 30 de outubro de 2021

Fernão Mendes Pinto, o 3º das "Figuras de Silêncio", livro de Armando Martins Janeira, bem valioso. Breve resumo por Pedro Teixeira da Mota.

 Fernão Mendes Pinto (1513-1583) escreveu uma obra que atravessará os tempos como o melhor testemunho presencial dos portugueses no Oriente no tempo dos descobrimentos, já que, partindo de Lisboa em 1538 e regressando em 1558,  passou por mil aventuras descritas magistralmente na Peregrinação, publicadas já só postumamente em 1641, com revisão e prováveis censuras de Francisco de Andrade e do padre Francisco Lucena, este quem biografará Francisco Xavier sem nunca ter saído de Lisboa e haurindo muito da Peregrinação.

Armando Martins Janeira, no capítulo O Descobridor literário do Japão, Fernão Mendes Pinto, defenderá contudo também a veracidade da maior parte do que é narrado na Peregrinação. tendo examinado e aprovado a maior parte dos nomes referidos nas descrições que deixou das suas estadias no Japão: «As menções geográficas da ilha de Kiushu e da pequena ilha de Tageshina não pecam nem sequer no detalhe». Também a chegada de Francisco Xavier a Kagoshima, em dia de N. Senhora da Assunção, 15-VIII-de 1549, a viagem a Hirado e a Kioto, e depois o regresso a Yamaguchi, onde num ano, até 5 de Setembro de 1551, converteu 3.000  almas, são descritos de um modo quase igual ao do padre Luís Fróis  na sua História do Japão, que Fernão Mendes Pinto não conhecera. 

Refere a famosa conversão de Fernão (por este mesmo bem descrita), como ele sentiu necessidade de aderir a uma via mais religiosa e entrar na milícia da Companhia de Jesus, onde esteve dois anos e a qual deu muito dinheiro, mas que depois resolveu voltar ao seu estado leigo e livre, o que ao longo do tempo a maioria dos historiadores jesuítas não perdoou. Mas como poderia um aventureiro, um cavaleiro do amor daquele quilate de sensibilidade, curiosidade e coragem, que gostava de ver teatro, pescar, caçar e admirar os templos e santuários japoneses deixar-se modelar por muito tempo pelos estatutos apertados da Companhia,  talvez sentindo também desafinidades com alguns missionários de temperamentos  mais extremistas e destruidores da variedade religiosa do género humano, tão patente no Japão?

A parte mais valiosa do capítulo interelaciona-se com essa universalidade religiosa latente, visceral ou implícita de Fernão Mendes Pinto (em cima numa sua hipotética imagem na igreja da Misericórdia, de Almada, onde faleceu) e,  embora a obra dele possa não ser "exacta muitas vezes isso não implica que falte à verdade essencial das coisas",  Armando Martins Janeira discorda, e com  razão, do conhecido estudioso ou especialista de Fernão Mendes Pinto, George le Gentil que pusera em causa as narrações de disputas teológicas, algo que contudo veio a ser confirmado por outras fontes, e em especial a História de Japão de Luís Fróis, o insuspeitado missionário jesuíta e companheiro de S. Francisco Xavier. Oiçamos então Armando Martins Janeira

«George le Gentil concebe "dúvidas sobre o relato das discussões de Xavier com os bonzos". Ora a verdade é que a discussão de Xavier com o bonzo Furucandono é o mais verosímil e hábil relato de uma discussão que é possível ter existido entre um missionário do carácter de Xavier e um monge budista. Todos os argumentos fundamentais que os budistas opunham aos cristãos são ali invocados: o argumento da reincarnação, baseada no budismo; porque negava o cristianismo alma aos animais?; porque não previu Deus, ao criar os anjos, a rebelião e a queda de Lúcifer, e, se a previu e é infinita a sua misericórdia, porque não a evitou, poupando tanto mal aos homens? porque não enviou Deus, ao mundo Cristo, seu filho, antes de Adão ser tratado pela serpente? Não falta mesmo a observação de que a pronúncia da palavra «Deus» em japonês soa como «Dai so», «grande mentira». 

Ora de facto algumas destas questões eram complexas para Francisco Xavier responder, atado que  estava a uma série de tradições, narrativas ou personagens do Antigo Testamento, tal o Génesis, a Serpente, Lúcifer, que na realidade são explicações míticas, susceptíveis de várias hermenêuticas simbólicas. Por outro lado algumas questões dos monges assentam numa oposição à concepção de Deus do Catolicismo que, entroncada no Jehova tribal e violento, fatalmente teria muita limitações, a que se acrescentaram as  dos cristãos dos primeiros tempos que fizeram do mestre Jesus, Deus e reservaram só para ele, ou para os que que acreditavam nele ou na religião cristã,  a única via de salvação de toda a Humanidade, mesmo para as almas do longínquo e extremo Oriente. E todos os que teriam vivido antes da vinda dos missionários estariam no Inferno, algo que até não incomodava muito o santo apóstolo do Oriente.

E continua «Quem haja lido os documentos da época e conheça o budismo sabe que estas eram as principais objecções postas aos missionários e às quais o budismo dá resposta mais satisfatória [em alguns casos...] do que a dada então por S. Francisco Xavier - que, segundo Mendes Pinto, respondia apenas que tais perguntas eram inspiradas pelo Demónio. E a bem da inteligência de Mendes Pinto se deve sublinhas que ele não parece convencido das razões dadas pelo santo para responder a "umas razões tão agudas"».

A bela  homenagem do embaixador e universalista Armando Martins Janeira neste seu livro Figuras do Silêncio a Fernão Mendes Pinto e à sua Peregrinação, é  justificada pois «transparece em todo o livro uma grande simpatia pelos países onde anda, a curiosidade e o gosto de descrever costumes exóticos, empregar frases de estranhas línguas, aventurar-se a experiências raras. A linguagem florida e verbosa dos diálogos em que intervêm orientais ou de cartas e mensagens a estes atribuídas mostram a profunda influência asiática que Mendes Pinto sofreu». E acrescenta algumas apreciações dele sobre o Japão: «gente muito hospitaleira» e «naturalmente muito bem inclinada e conversadora». «São mais ambiciosos de honra do que todas as outras nações do mundo». «É a nação mais sujeita à razão que todas as outras». E que Fernão Mendes Pinto gostava de «ver os templos dos seus pagodes, que eram de muita majestade e riqueza».

Sem dúvida Fernão Mendes Pinto, que fez quatro viagens a Kiushu, e «numa delas, como embaixador do vice-rei da Índia, entregou a carta que deste levava ao dáimio do Bungo» entre os ocidentais, «é o primeiro escritor japonizante», e é com razão que hoje em dia ainda é celebrado anualmente com bastante amor na ilha de Tanegashima com um original matsuri, ou procissão-cortejo namban, isto é, dos bárbaros do sul, que parte dum templo xintoísta, já que levam «aos ombros o grande andor xintoísta - omikoshi-» como bem relata e ilustra neste seu tão valioso livro Figuras de Silêncio. A Tradição Cultural Portuguesa no Japão de hoje. Anote-se que em 1988, Avelino Rodrigues, Leong Ka Tai e Gonçalo César de Sá deram à luz pelo Instituto Cultural de Macau, um grande e belo livro Tanesgashima, a ilha da espingarda portuguesa, com a seguinte dedicatória: «Ao POVO DE TANEGASHIM, que se revê na história do primeiro encontro da Europa com o "País do Sol Nascente", e a MARTINS JANEIRA, que descobriu Portugal no Japão, os autores dedicam esta memória.»

 De facto, por duas vezes participou em tal matsuri e cortejo namban que se realiza na cidade de Nishimo Omote, e em que se homenageia particularmente Fernão Mendes Pinto, Almirante e com sua amada Wasaka,  mas é no 6º capítulo consagrado a Tanegashima, A pequena ilha japonesa onde os «bárbaros» portugueses aportaram a primeira vez  que partilha de modo belo as intuições sentidas  diante do oceano por onde  chegaram pela 1ª vez os portugueses em 1543, e ao mesmo tempo que no «Templo xintoísta, ao fundo, o Espelho sagrado reflectia o Sol, de que é símbolo, trazendo a presença da Divina Amaterasu, que um dia foi invocar, ao nascer do Sol [tal como eu...], no cimo do sagrado monte Fuji, em preito ao povo japonês, do qual é benévola protectora. Contemplando aquele símbolo dos homens do mar [o monumento aos Navegadores de Portugal, da autoria de António Duarte], senti, pela primeira vez, tão distintamente como se sente o palpitar do coração, que a alma se me iluminava e me erguia à grandeza de um momento raro [o que no Japão se designa por ichi-go ichi-e]. 

E, diante daquela multidão de japoneses, comecei vibrante, a dizer, em português, o meu discurso: "Aqui, em frente ao mar antigo, quiseste erguer um monumento à coragem. Aos homens de coragem que há mais de quatro séculos, cortando o mar desconhecido, aqui vieram só pela aventura humana de encontrar-vos. Não vinham apenas de estranha e longínqua terra, vinham de outra civilização - confiados na amizade dos novos homens que procuravam - trazer-vos a cultura da Europa. 

O homem nasceu para ousar: "viver não é necessário, é necessário navegar", era a sua divisa. Arrojados criadores de novo entendimento entre os homens foram os navegadores que esta pedra lusa simboliza. E audazes foram os japoneses, que, a alma ao Oriente fie, inspirados na civilização do Ocidente, criaram um grande país e estão a continuar o caminho da nova civilização universal que o Ocidente e o Oriente abraça.

Assim nós, homens do Presente, encontramos o sentido da vida dos homens do Passado, naquela comunhão de espíritos de que têm nascido as grandes obras que o tempo guarda.

Em nome de Portugal, entrego à ilha de Tanegashima este monumento - não só para que ele fique a testemunha a amizade do Passado, mas para que ele dê corpo a um grande sonho de beleza e fraternidade, e o leve, como uma semente, aos homens [e mulheres] do Futuro.»

E aqui e agora estamos nós hoje, gratamente, nesta "comunhão de espíritos de que têm nascido as grandes obras que o tempo guarda"...

quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Erasmo, mestre do passado, exemplo do presente e impulsionador do futuro. E com frases ou ditos bem inspiradores...

        Erasmo, mestre sempre actual e amigo e inspirador perene....

   Pequena homenagem e evocação neste seu dia de anos, pois nasceu perto de Roterdão em 28 de Outubro (dia de S. Erasmo), de 1466 a  1469, lembrando ainda o Prof. José Vitorino de Pina Martins, um erasmiano, amigo e sábio humanista, com quem muito convivi sob as asas espirituais de Pico della Mirandola e Marsilio Ficino, Thomas More e Erasmo... Muita luz e amor divinos neles e que as bênçãos divinas cheguem a todos nós...
                                    
  A expressão mestre é porém complexa, pois se no Oriente o “guru” tem um sentido claro de dispersador das trevas, ou ainda de ser pesado em termos de conhecimento e sabedoria, o magister latino (provindo do magis, mais), significando o que dirige, ensina, comanda, preside, acabou por receber na época significação menosprezadora por causa do vazio ou então a rigidez dogmática que por vezes encerrava, ou se ocultava, sob as pomposas vestes, títulos e posições. Assim os magisters nostris, e em Erasmo em especial os da universidade da  Sorbonne que tanto o atacaram, por ele denominados os teólogos sorbónicos e que, nas defesas por Erasmo dos ataques que lhe fizeram são ridicularizados. Mas também ele próprio se tornou um mestre para milhares e milhares de seres, pois se compulsarmos as três mil duzentas e tal cartas que se conhecem da correspondência de Erasmo (cerca de 2000 escritas por ele) veremos que muitos se dirigiam a ele nesses termos ou com imensa respeito ou mesmo devoção e desde reis a barqueiros...
E de facto Erasmo foi um mestre ou guru, no bom sentido de ter peso ou gravidade de sabedoria e simultaneamente de ser  clarificador, expulsando trevas de ignorância e de fanatismo, e impulsionador de qualidades luminosas nos que o liam ou ouviam, por várias razões das quais passo a enumerar algumas:
Mestre viajante, de trabalhos editoriais e de grandes sucessos, de polémicas e intervenções delicadas (já que foi constantemente atacado como causador de dúvidas, tal para S. Inácio de Loiola, ou mesmo herético), pioneiro do amor aos estudos das belas letras ou da cultura greco-latina, da poesia e eloquência à retórica e à gramática, mestre na pedagogia, desde a higiene à dietética, das crianças aos que se preparavam na arte de bem morrer, mestre no acesso das mulheres ao estudo, à educação e ao casamento livre e profundo, mestre enquanto dominava o latim e o grego e os partilhava,  mestre na firmeza da sua posição por si mesmo, não se deixando influenciar demasiado pelas pressões viessem de quem viessem. E escrevi o “demasiado” porque, por exemplo, acabou por ter de retirar algo da sua ousadia, tal a designação inicial de Novo Instrumentum, para a  primeira edição da sua tradução original do Novo Testamento, que ainda assim depois prosseguiu em novas impressões anotadas, e que o próprio Papa Leão X aprovou, protegendo-o de sorbónicos e zelotas. Onde teve de recuar também foi na sua crítica ao coma joanino, uma interpolação do Espírito Santo tardia no Evangelho de S. João I . 5:7. e que  introduzira  " Porque três são os que testemunham no céu, o Pai, o Filho e do Espírito Santo", e que no seu Novo Testamento retirara, mas que foi forçado na sua 4ª edição a repor. Era assim também um mestre de paciência humilde, ainda que se defendesse, face aos indoutos e falsários...
                     
Mestre da união da sabedoria dos antigos povos e civilizações com as fontes autênticas do Cristianismo, os Evangelhos e os escritos dos primeiros Padres da Igreja que ele traduzira, purificara, comentara e editara, valorizando bastante Orígenes, Basílio, Ambrósio e Jerónimo.
Mestre da crítica e da ironia, bem desenvolvida no Julio Exclusus (uma crítica ao violento Papa Júlio III e que publicou e manteve anónima), nos Colóquios e sobretudo na sua obra prima o Elogio da Loucura, mestre da cultura europeia letrada (que está ficar cada vez mais desfigurada, desenraizada e superficializada), mestre de príncipes, mestre dos cristãos (frase de um correspondente em Espanha), mestre da concórdia, mestre da paz (na altura designada por irene, do grego), ou irenismo - pacifismo, do qual é um exemplo a sua obra Consulta acerca da utilidade da guerra aos turcos, hoje em dia tão necessária face ao imperialismo destrutivo do petrodólar e seus coligados.
Neste sentido, irenaico, escreveu: «O importante, onde se deve aplicar toda a nossa energia, é a curar a nossa alma das paixões: Inveja, ódio, orgulho, avareza, concupiscência. Se não tenho o coração puro, não verei a Deus. Se não perdoar ao meu irmão, Deus não me perdoará... S. Agostinho encontrou um ou outro caso onde não se reprova a guerra: mas toda a filosofia de Cristo a condena. Os apóstolos reprovam-na sempre, e os doutores santos que a admitiram em certos casos, em quantos outros não a condenam? Porquê procurarmos à custa duma passagem evangélica o com que autorizar os nossos vícios?»
Mestre de uma reforma pacífica, pelo auto-conhecimento e aperfeiçoamento dos cristãos, nomeadamente com o seu best-seller O Manual do Cavaleiro Cristão, para o que escreveu ainda o seu Modo de Orar a Deus (que traduzi com Álvaro Mendes, e comentei, nas Publicações Maitreya, em 2008),  e, pese a sua erudição e racionalidade, mestre de mística, esta considerada como o sumo Bem a ser procurado e que nos aponta sobretudo no Elogio da Loucura, na loucura dos amantes ou na intensificação do amor nos místicos, ou na de Jesus pela humanidade.
A sua modernidade está bem visível na profunda auto-consciência crítica (até a ironizar consigo próprio no Elogio da Loucura ou no Ciceroniano), na percepção da relatividade das coisas e da própria verdade, e da fragilidade do conhecimento humano, nomeadamente nos aspectos religiosos (“anotação ridícula", "lapso miserável", "engano”, surgem nas notas que fez ao Novo Testamento, em relação às interpretações que S. Tomás de Aquino fizera), donde uma reserva ou mesmo negação do valor e eficácia de autoridades fracas, superstições, rituais, dogmas, fanatismos e seitas.
Mestre na valorização da transformação interior, da metanóia a partir da experiência espiritual e da vivência das doutrinas e ensinamentos. E na valorização da convicção pessoal obtida por esforço ou studium, nomeadamente dos textos mais sagrados para se transformar a mente e o coração e assim podermos comungar melhor no corpo místico de Igreja e da Humanidade, formada dos seres piedosos e dos anjos, dirá...
A actualidade das visões e posições de Erasmo em termos de política pode ser realçada talvez para castigarmos rindo  dos reis, governantes ou banqueiros modernos que nus sempre estão e vão e despojam a muitos: adágio A Mortuo I, IX. 12 : «Não há pacto nem limite, cada dia eles inventam novas formas de impostos, e o que quer que tenha sido introduzido para satisfazer uma necessidade momentânea retém-no muito agressivamente.”
 A afirmação de Erasmo como mestre espiritual da Europa, da Cristandade e da Humanidade pode ser sumarizada em sete razões principais:

Porque demonstrou  que a educação, o studium, o diálogo, o amor, a ligação espiritual, a concórdia e a paz são a base das civilizações e da humanidade. E que os humanistas estavam a ser e podiam ser os  fermentos de tal, nos locais de ensino, nas cortes e nas sodalidades e república literária que constituíam.

Porque mostrou que há um trabalho criativo e persistente fazer-se sobre os instintos e os desejos, a palavra e a escrita, a mente e a alma na base do estudo e do amor. E assim conseguiu equilibrar as suas necessidades afectivas e as de recolhimento e solidão, derramando-se em mil cartas...

Porque foi bastante crítico dos egos e dos hábitos,  dos preconceitos e da sede do poder, das falsas autoridades e opressões da liberdade, não recuando face às polémicas que lhe lançaram, antes desenvolvendo uma metodologia moderna de mostrar as fragilidades das opiniões, qualificações e motivações dos outros e, apoiando-se em provas e em citações de autoridades indiscutíveis, e de apresentar os seus argumentos e conclusões convincentemente.

Porque valorizou muito uma piedade docta e o amor ao próximo, no que chamava a filosofia de Cristo, sem dúvida o seu mestre principal, embora também tivesse valorizado Aldo Manutio, Jean Vitrier e outros. Esta aceitação do mestre  não implica repudiar o  génio próprio ou individualidade, o qual deve estar ao serviço criativo da Humanidade, da sabedoria e da Divindade.

Porque valorizou bastante o sermo, a palavra, o logos, a conversa, a sinceridade, e o seu uso nas orações, escrevendo mesmo algumas que deixou para a posterioridade, a par do seu entendimento do Modo de orar a Deus.


Porque foi um mestre da meditação e da oração, do controle dos pensamentos e do ego e admitiu que a unificação interior espiritual e  a união proporcionada ou adequada com Deus são potenciais de todo o ser humano e que os estados de graça, de  êxtase, rapto, bem-aventurança ou expansão de consciência podem acontecer a qualquer momento para quem avança e aspira correcta e esforçadamente no Caminho diário.

Concluamos com alguns dos seus ditos magistrais e que nos ajudam a controlar, harmonizar e espiritualizar a nossa vida e alma: 

«A luz da fé agudiza o olhar espiritual e permite-lhe de distinguir mais coisas que não podem os olhos do corpo.» De Concordia.

  «Eles têm o Espírito Santo nos lábios, mas um espírito muito diferente nos seus corações. Capita argumentorum contra morosos quosdam ad indoctos

«Têm mais as Musas e as Graças no peito que nos quadros, mais nos costumes que nas paredes». Carta a John Botzhein.

 «Põe  diante dos olhos o Anjo custódio teu, que é assíduo espectador de tudo o que fazes e pensas». Enchiridion

«O olho da fé é verdadeiramente simples e como de pomba e contempla reverentemente Deus, o que Ele quis que conhecêssemos e não perscruta curioso aquilo que le quis tapado, até que cheguemos aquele teatro celeste em que Ele próprio e claramente permite ser contemplado completamente pelos nossos olhos mais purgados ou purificados.» De fide et symbolo

    Ego aliam artem notoriam scientiarum non novi quam curam amorem et assiduitatem" Colóquios. Concio sive Menardus. «Eu não conheço outra arte  mágica das ciências que a aplicação, o amor e a assiduidade.»  

 «Aquele que ama com intensidade ou transporte não vive, para assim dizer, em si, vive no objecto do seu amor e, quanto mais de si mesmo se separa para se identificar com o objecto amado, mais perfeita é a sua ventura ou felicidade». Elogio da Loucura.

 Traduções de uma das suas mais belas frases ou mantras:

Ego mundi civis esse cupio, communis omnium vel peregrinus magis.

 «Eu desejo ser chamado um cidadão do mundo, um amigo de todas as nações do Universo.», trad. de Albert Maison.

 «Eu desejo ser cidadão do mundo, pertencendo a todos ou mesmo mais peregrino.», trad. de Pedro Teixeira da Mota. 


Sancte Erasmo, ora pro nobis… Sancte Erasmo, ora cum nobis

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Akbar, um pioneiro da espiritualidade e religião ecuménica. Alguns aspectos da sua vida e legado.

      O ecuménico imperador mogol Akbar, vindo a este mundo a 25 de Outubro de 1542, em Umarkot (hoje Paquistão), e regressando da Terra ao mundo espiritual donde proviera, a 27 de Outubro de 1605, contando 63 anos, ainda hoje está vivo, ou a ser estudado e meditado por muitos seres, permanecendo como um inspirador ou, quem sabe se, um guia e mestre. Mas não se pense que quando ouvimos algum islâmico, fanático ou não, a gritar  Allah Akbar se está invocá-lo, pois akbar significa apenas "grande", e na realidade a Divindade é grande, é imensa, não ficando contida nem delimitada em qualquer religião, por mais revelados que tenham sido os seus livros fundadores, ou fixados e canonizados posteriormente...

Jalal ud-din Muhammad Akbar, filho do 2º imperador mogol Humayun e de Hamida Banu Begum, esta uma persa xiita (ou shia), nascido no palácio-fortaleza do príncipe hindu Rana Prasada, que os acolheu após duas derrotas fortes em 1539 e 1541, recebeu influências do ambiente hindu e depois de tios persas em Kabul. Com morte do pai em 1555, apoiado por Bhairam Khan, notável militar xiita, passou a governar aos 13 anos, sendo proclamado Shahanshah, Rei dos Reis, em 14.II. 1556. Confirmou também então solenemente, já noivo desde os 9, o seu casamento com Ruqaiya Sultan Begum, de quem terá descendência, embora numa política de alianças com príncipes indianos assumiu mais casamentos. Aprendeu sobretudo a lutar, e destacou-se durante muitos anos pela sua estratégia e organização militar vitoriosa , mas já não a escrever nem ler. Todavia, como era dotado de grande ânsia de conhecimento e realização, gostava que lhe lessem livros e de dialogar e, portanto, apoiou escritores, historiadores, poetas e juntou muitos livros, criando uma biblioteca para a época muito grande, pois albergava mais de vinte mil livros, empregando nela muita gente, desde livreiros e encadernadores a escritores. Criou mesmo uma biblioteca para mulheres, e fomentou muito a educação feminina, que no Islão tendia a ser menosprezada.
Dotado de uma memória prodigiosa (sabia de cor muitos poemas de Hafiz, Saadi e Rumi) sagaz, afável, justo e místico, a dado momento de estabilização das fronteiras do império, proclamou como intenção e princípio político social Sulh-i-kul, a paz com todos, ou a paz universal, e nessa linha não aceitando a violência impositora de qualquer proselitismo religioso. Foi assim o iniciador, embora Timur já tivesse algo, duma política de aproximação das religiões dos diversos povos do seu império,  sobretudo a partir época em que as influências sufis e yogis se acentuaram nele, deixando de exigir o pagamento de uma taxa aos não islâmicos, em 1568, não apoiando as lutas entre sunis e shias e, sendo obrigado a tratar com os portugueses desde 1572 quando chega ao Gujarat,  interessando-se mesmo pelo Cristianismo e fazendo vir à sua corte, e protegendo-os, os padres de Goa, a capital da Índia Portuguesa, que anuíram ao seu pedido e que desde 1575 participaram nos debates na Ibadah khana, casa, khana, da Adoração, Submissão, Devoção a Deus, Ibadah.
A coroação celestial de Akbar. Folha do Shah Jahan Album, princípio do séc. XVII.    
  
Dotado de grande liberalidade e desprendimento, mandara esculpir sobre o portal da cidade imperial de Fatehpur Sikri por ele fundada, onde funcionava a Casa de Adoração (Ibadah-khana), o templo de longos debates, primeiro só entre islâmicos e depois com religiosos ou mestres das diversas tradições, a seguinte inscrição: «Jesus disse (a Paz esteja com Ele) o mundo é uma ponte. Portanto atravessa-a, mas não construas em cima dela».
Teve muitos contactos próximos com os padres jesuítas enviados de Goa (na 1ª missão, Rudolfo Aquaviva, António Monserrate e Francisco Henriques)  e entre as muitas histórias curiosas que já narramos nas Efemérides do Encontro do Oriente e do Ocidente, ou poderemos narrar, realce-se agora uma: quando partiu numa expedição a Cabul, em 1581,  levando consigo o Padre Monserrate, pediu-lhe que lhe mostrasse num mapa Portugal e a Índia, e discutiram assuntos como o celibato do clero e a identidade de Deus e do Espírito Santo, pela noite a fora. No regresso à então denominada Roma do Oriente, Goa, o P. Monserrate testemunhará por voz e escritos que Akbar clamava pertencer à seita dos místicos do Islão, os sufis, e que o mais lhe importava era contemplar Deus e repetir (zikr) os seus nomes.
                                                                   
Em 1582, no seguimento dos debates em que participara com representantes das várias religiões e tradições na Idabat Khana, e  do aprofundamento da sua intensa aspiração e procura da Verdade, que fora coroada com uma experiência espiritual muito forte já em 1578 (narrada assim pelo cronista Abu-l Fazl, de quem o Padre Monserrate dissera «que o acume do seu engenho superava o de todos os seus contemporâneos»: «uma alegria sublime tomou posse do seu organismo corporal. A atracção da cognição de Deus lançara o seu raio»), Akbar deixa mesmo de seguir os preceitos da sharia, a religião Islâmica no seu aspecto exterior de lei e prescrições e, tendo em conta os melhores princípios e ensinamentos do Zoroastrismo, Jainismo, Sufismo islâmico, Hinduísmo (onde já Kabir desenvolvia tal ecumenismo) e até Cristianismo, funda a Tawid ilahi, a Divina Unicidade, que veio mais  tarde a denominar-se Din-i Ilahi, a Visão ou Fé Divina, e que poderemos considerar um embrião pioneiro da tomada de consciência e formulação de princípios da Religião Universal, que subjaz ou coroa todas as particulares. 
Compreendendo que os vários níveis de consciência e evolução que estão vivos numa dada época não se transformam tão rapidamente, e que as pessoas seguem naturalmente o caminho da religião em que nasceram, e que portanto nunca ou dificilmente haverá uma que seja reconhecida como a melhor ou mais verdadeira pela maioria, a  Religião de Akbar, Di-i Ilahi, ou melhor, o seu grupo religioso, não possuirá livros sagrados ou revelados, nem sequer uma hierarquia sacerdotal, e terá como membros e seguidores apenas uma centena de seus próximos. E entre os seus ensinamentos, que valorizavam muito a pureza e a aspiração a Deus, a quem adoravam na Luz, na Chama e no Sol, pronunciando os Seus Nomes sagrados, um princípio era muito apreciado pela sua abrangência ecuménica: «A Divindade deve ser cultuada com todo o tipo de adoração».
 
O seu bisneto Dara Shikoh (na miniatura, a visitar um mestre yogi), o filho mais velho do imperador Shah Jahan (o construtor do Taj Mahal) e Mumtaz Mahal, continuará a sua visão e  testamento de forças anímicas, que lhe sulcariam a alma, dando à luz algumas obras pioneiras de traduções, de religiões comparadas e da unidade delas, uma das quais, as famosas Upanishads, da melhor sabedoria indiana, através do persa e da tradução para latim de Anquetil-Duperron, chegarão à Europa no final do séc. XVIII, sendo apreciadas por Hegel, Schopenhauer e outros, como os primeiros textos filosóficos e espirituais indianos acessíveis aos investigadores ocidentais. E mais não fez porque o seu irmão mais novo, o fanático Aurangzeb, o assassinou, em 1659, quando ainda só tinha 44 anos e tanto da Tawhid-i-Ilāhī e da Sulh-i-kul, a paz universal, os dois princípios de Akbar, se iriam realizar com ele. Ainda meditei junto ao seu túmulo e tenho no blogue e youtube algo da sua vida e obra comentada.
 Com Asoka, Kabir, Dara Shikoh, Ramalinga Swami, Keshab Chandra Sen, Devendranath Tagore, Ramakrishna, Paramahansa Yogananda, Gandhi, Bede Grifiths (que ainda conheci bem) e outros, Akbar foi das mais notáveis individualidades que procuraram a Divindade e a Verdade num diálogo e convivência ecuménica na Índia e que servem de exemplo para o Mundo inteiro...