sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Livros sobre Anjos, (4) , em inglês ou francês, comentados e classificados.

Livros sobre Anjos, em inglês ou francês, comentados e classificados: *** Bom, ** Médio, * Fraco. Quatro realizados, no dia 5.XI.21...

1 -  KAUFFMANN, Jean-Paul. LA LUTTE AVEC L'ANGE. Paris, La Table Ronde, 2006. In-8º 336 p. Uma boa investigação da igreja parisiense de Saint-Sulpice e da pintura de Eugène Delacroix  sobre a luta do Anjo e Jacob, que se encontra dentro da mesma igreja na capela de Todos os Santos, servem para o autor levantar questões sobre as representações dos Anjos e de Lúcifer e, logo, da origem do mal, com comparações com outros pintores dos mesmos temas. Investigando a vida, imagens e cadernos de Delacroix (1798-1863), transcreve o convite publicado pelo pintor em Julho de 1861 para a visita das suas pinturas, que termina assim: «Esta luta é vista, pelos livros santos, como um emblema das provações que Deus envia a qualquer um dos seus eleitos». Não teve contudo o sucesso desejado, embora os seus amigos Theophile Gautier, Théophile Thoré e Baudelaire o felicitassem. Ingres, o rival de Delacroix, comentará o quadro ao prior da igreja: «não tenha dúvidas que o mal existe». Eugène Delacroix morrerá em 13 de Agosto de 1863, algo entristecido, junto à sua floresta de Sénart, onde pontificava o carvalho de Antin (ainda hoje vivo), pintado por ele e outros e que terá servido de fonte para a pintura, e numa casa e atelier que consegue visitar, e onde o dono confessa a presença forte de Delacroix. 

A obra termina com uma visita a uma das tragédias culturais da actualidade, por o dinheiro público ser mal gerido e não se criarem mais locais de preservação e culto da arte e da beleza, antes se preferindo dá-lo a tanto explorador ou loteador do bem comum: as reservas dos museus, onde obras de arte por vezes fabulosas não são expostas e antes vão-se deteriorando frequentemente, no caso deste livro uma pintura  de Jacob em fuga para a Mesopotâmia, de François-Joseph Heim (1767-1865), contemporâneo e amigo de Delacroix.   Quase um romance de suspense, mas sem medos, de história de arte e que prende ou se lê bem, embora sem grandes dados valiosos sobre os Anjos.**

2 - SULLIVAN, Paul O´. ALL ABOUT ANGELS. Lisboa, The Catholic Printing Press, 1945. In-8º 112 p. Br. A obra leva a recomendação inicial do cardeal patriarca Manuel Cerejeira:«Peço a Deus que abençoe abundantemente esta obra de modo a que possa vivificar a fé e intensificar a devoção dos seus leitores». Também o bispo de Portalegre, Domingos, escreve: «A devoção aos Anjos é muito pouco praticada considerando os imensos benefícios que eles estão  tão prontos a obter para nós. O nosso querido Anjo é o melhor e mais poderoso amigo durante os longos anos das nossas vidas.» O autor narra casos de aparições autenticadas recentes, e seguindo a doutrina de S. Tomás de Aquino, tenta explicar quem são os Anjos, o que fazem, onde estão, como são e como nos querem ajudar, dando muitos exemplos da Bíblia e das Vidas dos Santos. Inicia com as visões do Anjo de Portugal e da Paz em Fátima, em 1917 e como os pastorinhos se sentiam em paz e grande força com as bênçãos. Alguns exemplos dos muitos ensinamentos:  A S. João Bosco, o anjo apareceu-lhe com um cão para guiá-lo. O padre Lamy (1853-1931) disse: «Os anjos são muito tocados quando lhes oramos. É muito útil orar aos Anjos. Eles olham-nos como irmãos com necessidades. Por vezes, além do Anjo da Guarda, o Arcanjo Gabriel acompanhava-o, enquanto servia de capelão na 1º grande Guerra. Na parte doutrinal  ora tem boas visões, ora se limita a ser devedor das patranhas do Antigo Testamento, tal como quando para provar o poder do Anjos, tenta convencer-nos que Deus "mandou" um anjo numa noite matar 70.000 egípcios. Ou ainda, outra patranha, quando houve a invasão pelos assírios, por ordem de Deus, um anjo teria matado 185.000 numa só noite. Uma maluquice completa...
Também seguindo outra autoridade com pés de barro, S. Tomás de
Aquino, lembra que cada corpo planetário tem um «anjo guardião que mantém o seu curso e evita qualquer aberração. Que prodigiosa energia e poder não exige tal controlo!». Também parece ser exagero considerar que oferecer a missa ao Anjos é a maior alegria que eles podem ter, tal como tudo o que sentem na missão de assistirem às missas. Mas sem dúvida é bom reconhecer que a oração conjunta com os Anjos é menos fria, mais ardente e mais eficaz.
Mais correcto é dizer que «apesar de estarem connosco sempre e devotando
toda a sua atenção e cuidado aos nosso bem estar, eles nunca perdem vista a presença de Deus. Estão sempre contemplando a sua Infinita beleza, deliciando-se no  brilho de sol da sua Presença.» Ou ainda que todo o ser humano tem o seu anjo e que cumprimentá-los agrada-lhes, e que retornam o amor centuplicado.
Há outros aspectos valiosos de doutrinas que são provavelmente
acertados, enquanto que há outros de especulações provavelmente infundadas. Apesar dos defeitos de tomar como literalmente verdadeiro o que se passa na Bíblia, tão cheia de imaginações ou invenções e posteriores manipulações ou distorções, este livro vale a pena ler-se. Contém ainda um desenho do Anjo Guardião de Portugal. **

HOWARD, Michael. THE BOOK OF FALLEN ANGELS. Somerset. Cappal Bann Publishing, 2004. In-4º 198 p. Uma boa obra e em grande parte baseada nos ensinamentos de Madeline Montalban (1910-1982) uma ocultista, maga luciferina e astróloga inglesa que passou por muitos mestres e grupos, escrita por quem foi seu discípulo e companheiro alguns anos, antes de se iniciar.  O autor faz a sua investigação e apreciação histórica e comparativa das origens das personagens, livros e fábulas criadas em torno de Deus, cultos pagãos e anjos caídos. De realçar que tanto ela como ele  são crentes e praticantes da magia cerimonial baseada nas correspondências de nomes dos sete anjos planetários, estações do ano, direcções, elementos, e funções. Lúcifer é denominado Lumiel e de modo algum é o Satan que o Catolicismo gerou, mas antes um espírito celestial benigno. Eis os títulos do capítulos: From Apes o Angels. The Tree of Gnosis. The fallen one. The myths of great Flood. Lady of the Evening Star. Avatars of Light. The Teaching Angels. 

Neles o autor explica com dados históricos e arqueológicos como o Genesis deve muito a outros povos e Jehova a outros deuses, e como Lúcifer teve como fontes Shamesh e Helel ben Sahar e, inclinando-se sobretudo para as ideias sincretistas de H. P. Blavatsky e  da sua mestra Madeleine Montalban, considera Lumiel ou Lúcifer como o primeiro ser criado e que, ao tentar apressar a evolução de Adão e Eva, foi expulso do Paraíso no plano ou mundo astral e tornou-se o senhor deste mundo físico. Michael Howard (1948-2015), apesar das suas práticas cerimoniais e outras, parece não ter contudo alcançado experiências mais profundas, e calculamos provavelmente por erros ou apoios de explicações e identificações superficiais, ou ainda influências não puras **

HUNTER, Charles and Frances. ANGELS ON ASSIGNMENT as told by Roland Buck. Kingwood, Hunter Books, 1979. In-4º 204 p. Br. A obra é algo entusiástica e parte de dois crentes na vinda eminente de Jesus e relata várias experiência de contacto com Anjos ou mesmo com Deus "tidas" por Roland Buck (1918-1979), pastor da Central Assembly of God Christian Life Center, em Idaho, durante os seus últimos 30 anos de vida, e que lhes transmitiu por gravações, conversas e aprovação deste livro. Há mesmo vídeos na web com a voz de Roland Buck a explicar a sua mensagem, a sua ida ao Trono de Deus, o qual lhe permitiu ver  anjos, milhares ou milhões à volta das pessoas e em especial da sua igreja. Não parece contudo muito
convincente, ou verdadeira, a voz.
O conteúdo é também muito discutível, desde a familiaridade com o
Arcanjo Gabriel e com Deus, que o leva para a sua sala Trono, aos ensinamentos sempre demasiado apoiados em leituras literais da Bíblia. Anotemos alguns supostamente dados pelo Arcanjo Gabriel: «como o Espírito Santo monitoriza tudo o que se passa em toda a terra, e recolhe instantaneamente os sinais de toda a parte», detectara uma tremenda preparação de forças satânicas para o atacar a ele, Buck, e assim enviara anjos para onde ele estava em Idaho. Buck não queria que eles se incomodassem, mas responderam-lhe que já tinham feito o trabalho e «pediram-me para olhar pela janela. Olhei e estavam cerca de 100 grandes anjos lutadores de pé na rua. Já tinham terminado o trabalho e estavam a falar uns com os outros relaxadamente»... Uma cena quase de filme norte-americano.  Outro: «há muitos tipos de anjos, tais os de louvor, adoração, ministração e luta. Mas independentemente da função, o seu mais alto propósito é exaltar o nome de Jesus», de novo exagerando um cristianismo literal... Quanto à data em que Jesus vai voltar, uma outra expectativa infundada e geradora de muita aldrabice, diz cautelosamente: «Deus reservou esse segredo particular para ele. Mas depois Gabriel disse-me: "Posso dizer-vos isto: nunca houve tanta excitação e actividade nos átrios do Céu desde que Jesus veio pela 1ª vez à Terra, como hoje.»... Uma excitação que dura ainda hoje, para muitos crentes numa vinda... 

Prevê também que as pessoas abrirão os seus olhos e verão verdadeiramente os anjos e não apenas imaginações, algo que denota também a confusão constante entre o ver físico e a visão espiritual, algo que permeia toda a narrativa, não direi inventada mas imaginada, no caso chegado ao ponto de descrevendo os sapatos e as roupas dos Anjos musculados e enormes que o visitavam. Há pouco dados sobre a sua vida disponíveis. Pouco antes de morrer escreveu o seu epitáfio, inegavelmente verdadeiro em certos aspectos, "inspirou a fé dos outros", resta saber se foi uma fé infundada e daninha até... Casado, com 3 filhas, uma delas, Sharon White, escreveu um segundo livro, com mais diálogos angélicos, The Man Who talked to Angels. Para o público norte-americano, muito habituado a pastores e grandes sermões, com pouca erudição ou comprovada veracidade, é uma obra de sucesso. Mas não recomendamos gastar o seu tempo em fés em anjos e concepções de Deus bastante ultrapassadas. *
Fiquemos com uma fotografia tirada por mim já em Janeiro de 2022, bem
sugestiva da subtileza e intimidade angélica, praticamente impossível de encontrar hoje na alma colectiva norte-americana, e nos seus miríficos pregadores e especialistas de angeologia...

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