domingo, 31 de outubro de 2021

Luís de Almeida, nas "Figuras do Silêncio", de Armando Martins Janeira. Breve resumo do 23º capítulo e dos finais.

  O introdutor da Medicina Ocidental no Japão: Luís de Almeida , constitui o 23º capítulo das Figuras do Silêncio, e a 4ª individualidade destacada, após Jorge Álvares, o autor da 1ª relação sobre o Japão, o missionário santificado Francisco Xavier, o peregrino aventureiro e escritor Fernão Mendes Pinto. Em Almeida  vemos como nascido em 1525 e aprovado como médico cirurgião em 1546, parte para o Oriente a aumentar a sua fortuna pois já era de família de ricos cristão novos em 1548, e em sete anos fá-la crescer bem, mas foice já estava junto à seara e o convívio com os Padre Baltasar Gago e Cosme de la Torre  fá-lo entrar na Companhia de Jesus e entregar os seus bens para a missão e para obras de beneficência, tal como Hospital  que co-funda em Funai, Bungo, apoiado até numa farmácia que se abastecia das ervas medicinais e demais produtos boticários que fazia vir também da China, Índia e provavelmente Portugal, onde exerce os seus dons clínicos e compassivos, tal como o seu superior Cosme de Torres (1510-1570) anuncia numa cartaAqui recebemos um irmão bom sujeito, que tem donum curationis e o sabe muito bem fazer”. O sucesso do Hospital, administrado por uma confraria, de 12 irmãos, com o seu regimento, foi grande em em 1559 foi ampliado e a ele recorria muita gente de todas as partes do Japão. 

Não estava só nesta tarefa, pois diz-nos Armando Martins Janeira: «Sabe-se que Almeida ensinou a medicina e criou discípulos japoneses europeus (...) Ainda ao tempo de Almeida, um outro português exercia a medicina no Japão, começando na província do Hizen e indo depois para Osaka; adoptou o nome japonês de Keiyu. Fróis dá notícia de um excelente cirurgião português, e deve ser este, que veio para o Japão no último quartel do século XVI. Um outro português, ex-jesuíta, Cristóvão Ferreira, atrás mencionado, que depois de apostatar tomou o nome de Sawano Chuan, conhecia e praticava também a cirurgia e instruiu, a partir de 1633, alguns japoneses; escreveu um tratado, Cirurgia dos Bárbaros do Sul, «que pertence  às melhores obras sobre este assunto. Um dos seus alunos foi Nishi Gempo, fundador da escola «Mishi», médico de câmara do xógum e encarregado pelo governo de dar lições de fisiologia.» Acrescente-se que  Cristóvão Ferreira mereceria ter sido eleito, apesar da apostasia, também como uma das figuras...

Em Junho de 1561, o P. Cosme de Torres, decide, graças às vitórias do dáimio seu protector Otuma, que o terreno de evangelização pode ser alargado decide dispensar do hospital, onde já havia bons auxiliares e discípulos,  Luís de  Almeida e enviá-lo a  cristianizar fora de Funai, a capital do Bungo. E vai assim passar a converter, curar e fortalecer os pequenos núcleos de cristãos e as suas capelas, com cenas belas ou comoventes como descreve nas suas vivas cartas, percorrendo várias partes do Japão, resumidas por Armando Martins Janeira assim: «Os actuais historiadores , entre os quais os Padres Dorotheus Schilling e Diego Pacheco, que dedicam a Almeida interessantes estudos, seguem os seus passos e a sua obra de conversões e baptismo: vemo-lo pregar e catequizar activamente em Kagoshima, em Yokoseura, em Arima, regressando depois a Bungo e de novo partindo para Hirado, Kioto, as ilhas de Goto e de Amasuka, e Nagasaki. Do que vê nas suas viagens nos dá interessantes descrições, umas patéticas, como as da destruição de Yokoseura, invadida e queimada pelos inimigos dos cristão, ou o abandono em que viu os cristãos perseguidos de Shimabara; outras brilhantes e entusiastas, como as descrições dos esplêndidos templos e palácio que visita em Nara e Kioto». Anote-se mais recentemente, 2015, a obra de Inês Carvalho Matos, Património de Cristianismo no Japão na qual visitando tais terras, narra e ilustra bem o que se foi fazendo ou se celebra nos últimos anos relacionado com Luís de Almeida e os outros missionários.


Armando concluirá o capítulo falando da perenidade do nome de Luís de Almeida:  «A introdução da medicina ocidental no Japão por Fróis e a sua piedosa obra são lembrados ainda hoje pelos japoneses. Como já vimos, em Oita ergueram-lhe um monumento (na fotografia inicial) e o maior e mais moderno Hospital Central de Oita tomou o seu nome. Em Hondo (...) Em Nagasaki (...) O seu nome é sempre citado nos estudos históricos sobre a introdução da medicina no Japão. A sua acção de espalhar pelo Japão o espírito do Ocidente é inolvidável».

Faltaria resumirmos os capítulos finais intitulados Um grande clássico por descobrir em Portugal: Luís Fróis, Um precursor da sociologia: João Rodrigues, acerca deste intérprete, filólogo e autor de obras sobre a língua nipónica, Um Mártir: Diogo de Carvalho e finalmente O Último dos grandes aventureiros Lusíadas, Wenceslau de Moraes, mas para não estar a resumir e eventualmente a distorcer  ou a enfraquecer intencionalidades de Armando Martins Janeira e porque se espera já há algum tempo que a sua Obra Completa seja finalmente dada à luz na Imprensa Nacional Casa da Moeda, vamos terminar, pelo menos por hora, e neste dia 31 de Outubro de final de ciclo, estes textos de resumo de um livro de leitura bem valiosa e que se encontra todavia ainda em alfarrabistas ou em venda pela internet. 

Anote-se que  Armando Martins Janeira conclui a sua obra com dois pequenos capítulos, Avaliação do Passado: Os Modernos estudos-Luso-japoneses, bastante ultrapassado pelas numerosas publicações das décadas posteriores, onde destacaremos a publicação completa em cinco tomos da História do Japão, de Luís Fróis, La Compagnie de Jesus et le Japon. 1547-1570, de Léon Bourdon, partir de 1993 a obra de referência, ano em que se realizou o Colóquio O Século Cristão do Japão, com as actas publicadas em 1994; as Cartas do Japão, em 2 vols. em 1997, num fac-símile da raríssima edição de Évora de 1598; e também o Bulletin of Portuguese/Japanese studies, desde 2000, dirigido por João Paulo Oliveira e Costa, que com Valdemar Coutinho publicou também individualmente. Ou ainda os contributos de Michael Cooper, Jacques Besineau; e os de Maria Helena Mendes Pinto sobre a arte Namban, e os de Américo Costa Ramalho e Sebastião Tavares Pinho em relação às obras em latim de Duarte Sande. E devemos mencionar por fim os autores japoneses  referidos então por Armando Martins Janeira: Ken Takeuchi, Tamon Miki, Saburo Ienaga, Eichiro Ishida e Shitaro Ayuzaka. No último capítulo, O Passado e o Futuro, faz votos para que Portugal não se limite na Europa, tal como na época dos Descobrimentos, e desenvolva as suas relações com Japão, agora mais na tecnologia e industrialização, e aprendendo a investir mais na investigação e no futuro, e que saiba também erguer alguma estátua a uma grande personagem japonesa, tal um busto de Bashô...

Sem comentários: