A ORAÇÃO
por Bô Yin Râ.
Tradução de Pedro Teixeira da Mota, de esta obra muito valiosa, a partir da versão alemã e das traduções inglesas e francesas. Agradeço à Cláudia Lopes ter-me transcrito uma versão manuscrita redigida há uns anos a partir do francês e que serviu de base. Esperemos que a prossiga com certa regularidade.
A 1ª edição foi dada à luz em 1926 em Leipzig pela editora Richard Humel Verlag. Hoje as obras de Bô Yin Râ estão editadas pela Kober Verlag Ag Bern.
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A VÓS,
QUE QUEREIS APRENDER A
ORAR
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Cap. I
O MISTÉRIO DA ORAÇÃO
Segundo o antigo relato
sagrado, os discípulos do carpinteiro sábio, do grande “Rabbi”
da Nazaré, teriam vindo procurá-lo uma vez com a pergunta:
“Senhor, ensina-nos a
orar!.”
À qual - diz-nos a
antiga narrativa – o mestre da Vida a Deus unido os teria
advertido, a não mais recitarem as longas litânias tradicionais, à
maneira dos que não sabem, mas antes usarem somente as palavras
simples e maravilhosamente belas que pronunciam ainda hoje os lábios
de todos aqueles que, sob uma forma religiosa ou outra, professam ou
crêem professar o ensinamento cheio de amor do grande homem
de Deus.
No entanto até aos
nossos dias são ainda muito poucas as pessoas que sabem realmente
orar, e mais raro ainda é encontrar-se uma pessoa que sabe o que
significa "orar" da alta e sagrada maneira que o grande Ser amante queria
ver adoptada. - -
Conhecem-se em
verdade ainda as palavras que ele, segundo a antiga narrativa, recomendou
aos seus discípulos usarem - só que agora “palreiam-se” também
estas palavras, tal como anteriormente outras orações, as quais ele
não valorizava especialmente. –
A profanação não é
atenuada, pelo facto de a pessoa falar num tom de grande unção, -
e mesmo uma sensibilidade reverente ao sentido que o pensamento pode
retirar das magníficas palavras não é de modo algum suficiente
para, ao repeti-las, se convertam numa verdadeira “Oração”.
Parece portanto que se
tornou de novo necessário ensinar o que realmente é “Orar” em
verdade, - de ensinar como é que das palavras da língua humana uma
“Oração” pode emergir, e que segredo profundo a oração
oculta!-
A arte sacerdotal sagrada
de criar “Orações” e de verdadeiramente "orar", está hoje
quase perdida e assim onde ainda hoje está em uso é todavia praticada muito mecanicamente, despida de vida, ou mesmo supersticiosamente
Porém, mesmo aqueles que
crêem ainda orar, só vêm na oração imploração da Divindade,
acção de graças ou louvores e não sabem que estes elementos podem-se
encontrar numa oração, mas não constituem de modo algum a
essência da Oração.
As pessoas não duvidam
sequer que mesmo uma associação sublime de palavras de louvores,
gratidão ou um pedido, tem de ser realmente “orada” antes de se
poder tornar “Oração”.
Que Deus apenas em nós
mesmos é alcançável por nós: - que apenas nas profundezas de nós próprios o coração do Ser Eterno e puro pode de si mesmo “nascer de
novo”, numa "auto-geração individual”, repetindo-se
infinitamente: - tal é a primeira e indispensável
consciencialização que todo o ser, que realmente quer aprender a
"orar", tem de lutar por realizar em si antes de mais.
De igual modo tem de
saber que o “Pai” eterno,- qualquer que seja o sentido dado pelo
crente a esta palavra - não deseja nem acção de graças, nem
louvores à maneira humana, e que será blasfematório crer-se
verdadeiramente que o coração do Ser espere ser implorado pelo ser
humano para se deixar flectir finalmente por tais orações”,- pois
“pedir”, no sentido da verdadeira oração, é verdadeiramente
algo essencialmente outro que o querer mendigante com o qual tantos
se dirigem ao "Deus” de sua imaginação.
Eu realço aqui a
expressão “Deus” da sua imaginação, pois a maior parte dos
seres humanos, infelizmente, não passa para além duma tal
concepção do seu poder imaginativo porque pensam, devido a insuficientes
ou errados ensinamentos, que o caminho para Deus tem de levar sempre
para cima, mas sempre para o exterior.
Assim nunca conseguirão
certamente sentir a Divindade viva, pois não procuram no único
lugar onde o vivo e eterno Deus lhes é alcançável.
Contudo, segundo o antigo
relato, foi também dito:
“Procurai, de modo a
que encontrareis!”
“Pedi, de modo a
receberdes!”
“Batei, de modo a que
se vos abrirá!”
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´Queremos demorar-nos aqui
e aguardar em grande calma até o enigma contido
nestas palavras se quiser desvendar ao nosso olho interior…
Entretanto, vou tentar
explicar em palavras o que se deixa mostrar!
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"Procurar" só pode
certamente levar a encontrar quando a procura é onde o que é
procurado se encontra realmente escondido.
“Pedir", tomado aqui
no sentido que exclui toda a "pedinchice", só poderá obter
destinatário se quem pede está com direito de receber.
"Bater", contudo, para
conseguir entrada na casa, só tem sucesso de avançar se
quem bate está plenaamente seguro da porta em que deve bater e
sabe de que modo deve bater para ser admitido na casa e ser
reconhecido imediatamente como alguém que tem a esperança de admissão.
Aqui porém "Procurar",
“Pedir” e “Bater” de modo algum são separáveis, pois só
na sua unidade constituem a - “Oração”!
Feliz de quem
deste modo sabe "orar"!
Será ouvido, quanto
ainda“bate”!
Receberá logo, quando
ainda “pede”!
“Encontrará” com
toda a certeza o que ele desse modo "procura", de modo a que é
encontrado.
Nas suas íntimas
profundezas tal orante vivenciará o que quis dizer o grande
portador da Palavras viva, que uma vez disse aos que cria estarem suficientemente avançados:
“Tudo o que for
pedido ao “Pai” no meu “Nome”, ele dar-vos-á!”
Luminosamente
manifestar-se-á a quem ora o sentido contido nas palavras de
louvor:
«Santificado” seja o Teu “Nome”!» - e finalmente reconhecerá, porque é que
o Mestre ensinou então a pedir em seu “Nome" pois:
«Tudo, o que o "Pai" tem,
é meu!»
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Assim quem ora
reconhecerá também na mais clara luz do do Espírito, que tudo o
que se pode pedir ao “Pai” em "Nome" da sua própria representação
manifestada, está já de toda a eternidade “oferecido” e dado,
se bem que o “Pedido” seja necessário, para levar à
manifestação - para causar efeitos perceptíveis temporais…
Só aprendem todavia a
“orar” deste modo, os que sabem unir a sua própria
vontade completamente com a vontade do “Pai”! –
Mas para quem sabe “orar”
unido à vontade do “Pai” eterno, então toda a sua Oração –
o que quer que seja pedido - será um pedir de “asas”:
- dessas asas que em verdade “levam mais alto que as asas da águia.
“