quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Contributo de Leonardo Coimbra no "In Memoriam de Sebastião de Magalhães Lima". Com vídeo do texto, comentado...

O genial filósofo Leonardo Coimbra (1883-1936) homenageou Sebastião de Magalhães Lima (1850-1928), como ele outro grande tributo ou orador da passagem do séc. XIX para o XX, quando Sebastião morreu, no In-Memoriam que lhe foi dedicado,  e realçou não o possuir o dom da palavra mas sim os  valores da sua personalidade, tal como a sinceridade, o esforço, a lealdade e ainda a luta pelos ideais do socialismo e pacifismo, que Leonardo Coimbra considerava cristãos.

                                    

Sebastião de Magalhães Lima fez um percurso típico da época: estudante de Direito em Coimbra (1870 a 1875), escritor, advogado, jornalista e fundador do Século, defensor dos ideais republicanos e socialistas, com um pendor forte de livre pensador e anti-religioso, pois era maçon, ao contrário do seu irmão Jaime, ou m

esmo de Antero de Quental e de Leonardo Coimbra, que embora passando por fases mais revolucionárias, se elevaram depois a demandas mais filosóficas e espirituais, Leonardo chegando mesmo a converter-se ao catolicismo por acção do popularmente santo padre Cruz, uns meses antes de morrer.
Já Antero de Quental apenas admitiu, cre
mos que a instância de Oliveira Martins, concluir os seus Sonetos com o famoso Na Mão de Deus, no que pode ser visto como uma aceitação do Deísmo ou de aspectos do Cristianismo, embora evidentemente Antero tenha sido sempre  um ser em demanda da Luz, um espiritual, de certos modos místico na sensibilidade e aspiração e embora algo condicionado pelas ideias-forças alternativas na época ao materialismo e ao catolicismo que se lhe ofereciam: as doutrinas do inconsciente, do budismo, do panpsiquismo e do espiritualismo, tanto imanentista como transcendentalista, nestas estas últimas, as melhores, por fim se inserindo por afinidade.

Sebastião de Magalhães Lima, desde a época de estudante de Coimbra, sobretudo a partir do seu 3º ano, notabilizou-se como revolucionário e foi certamente uma das consciências e vozes mais progressistas do nosso meio social, erguendo a voz sucessivamente contra o imperialismo britânico, a corrupção nos bancos,  a manipulação e opressão da Igreja e as incapacidades da Monarquia e foi dos maiores obreiros da implantação da República, do movimento internacionalista pacifista e do fortalecimento de Maçonaria, onde tendo sido iniciado em 1874, veio a ser o grão-mestre de 1907 a 1928. Certamente que tinha limitações na sua visão do mundo, nomeadamente as derivadas da sua repulsão forte de todas as religiões (e particularmente da Igreja em Portugal), que considerava pré-históricas, prevendo o fim delas, algo que não se verificou, pois há ainda nelas ensinamentos morais, éticos e espirituais que sempre serão necessários à Humanidade. 

 
Poderíamos fazer entrar neste diálogo Fernando Pessoa, dos maiores conhecedores da Maçonaria em Portugal, crítico dela enquanto mera carbonária, anti-jesuítica e ignorante dos veios gnósticos que lhe caberiam preservar e transmitir, nomeadamente nas doutrinas iniciáticas que Fernando Pessoa aprofundou bastante. E por isso na sua nota final uns meses antes de morrer Pessoa se confessa Cristão gnóstico, referindo mesmo a Maçonaria, que acabara de defender face à opressão e proibição que Salazar e o deputado José Cabral instauraram.
Oiçamos então Leonardo Coimbra elogiando Sebastião de
 Magalhães Lima, com alguns comentários meus inspirados no momento, do qual transcrevemos agora apenas os primeiros parágrafos:
«A vida do ho
mem é testemunho da realidade, como, pelo menos, qualquer outro acontecimento da realidade fenoménica. E esse testemunho é tanto mais valioso quanto mais essa vida se apresenta sincera, esforçada e leal.
Foi Magalhães Lima um servidor do Ideal e a sua
vida foi o combustível dessa chama, que acende os astros do destino humano.

Socialista e pacifista, eis a forma simples do seu cristianismo de realizações.
O seu testemunho sobre a vida é, pois, o da existência duma
vontade de amor, duma unificação de instintos e tendências no grande abraço da sociabilidade consciente, perfectível e progressiva. (...) »

                            

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Leonardo Coimbra, "A Luta pela Imortalidade", 2ª parte, por Pedro Teixeira da Mota, com vídeo.

Continuamos com a 2ª leitura comentada de extractos do 3º capítulo do livro A Imortalidade da Alma, no qual Leonardo Coimbra apresenta as suas ideias, memórias e experiências acerca da morte e da imortalidade.
                               
No 1º vídeo, de homenagem a Leonardo Coimbra no seu
137º aniversário e contextualizando-o, lemos uma descrição de impressões de criança, e a menção às orações de quem «pedia memória dos vivos para os mortos que se foram na tranquilidade dos seus campos ou no tumulto e vastidão das águas do Mar», oração que José V. de Pina Martins também me contou ouvir na infância, do seu pai, em Penalva de Alva. E continuámos, lendo-o a mencionar rapidamente as concepções de morte na antiguidade, nomeadamente Grécia e Egipto, «Já no velho Egipto a vida imortal tinha a sanção duma Justiça tocada de bondade», dizendo depois Leonardo: «Todas as religiões são noticiosas desse além e as suas notícias são interpretações da morte à luz da vida moral que os homens se vão fazendo, por vezes, à luz duma moral tão alta que aparece como uma revelação perdida nos tempos ou uma saudade da original perfeita edénica.
Ao lado dessas sínteses, dessas disciplinas da Morte,
nunca deixaram os homens de colher e contar factos avulsos, que formam em toda a parte uma larga zona de mistério banhando todas as banalidades - feiticeiras, encantamentos, mouras que ao luar choram seculares saudades, espectros alucinatórios», narrando em seguida um visão de uma camponês dos seus sítios, «numa ourela do rio Tâmega».
Realcemos a expressão «de sínteses, de disciplinas da Morte» em relação às concepções, morais e espirituais que o ser humano conseguiu erguer a partir das suas sensações, crenças e práticas psico-espirituais, por vezes atingindo uma compreensão ou moral tão elevada que é já uma reminiscência (saudade) ou visão-sentimento-clarividência do estado de vida espiritual antes de termos descido ou caído na manifestação e finalmente no corpo animal terreno.
Narra depois algumas histórias semi-fantásticas e em seguida
casos de psicometria e de telepatia, que ele aceita, nomeadamente as vivências dos escritores Silva Passos e Souza Costa, e terminámos esta 2ª leitura com uma das objecções postas por ele quanto ao espiritismo, que ele investigou com entusiasmo e rigor, tal como transmitiremos na próxima leitura e artigo, investigação complexa de ser sintetizada em 23 minutos de vídeo pois Leonardo Coimbra dedica ao assunto 80 páginas neste seu sexto livro, não datado, mas que  sabemos ser de 1918,  de 270 páginas, na edição original da Renascença Portuguesa.

                                                              
Oiçamos então o inspirado Leonardo Coimbra e sua demanda do espírito imortal, com comentários, julgo que enriquecidores e ampliadores...

                   

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Leonardo Coimbra e "A Luta pela Imortalidade", 1ª parte. No dia do seu aniversário...

 Um  pensador, escritor, professor, pedagogo, ministro e orador dos mais fulgurantes de Portugal (nascido a 29 de Dezembro de 1883) foi Leonardo Coimbra, e na sua vida curta mas tão fértil de 52 anos atreveu-se a sondar a morte, em escritos específicos mais de uma vez, talvez algo na esteira de Antero de Quental mas naturalmente num nível superior filosófica e esotericamente, pois teve acesso a mais informação e a sua alma não teve os problemas psicosomáticos de Antero.

                                                            
No seu acercamento ao enigma da morte e imortalidade, primeiro, publicou em 1913 A Morte, logo após a morte do filho, e mais tarde, em 1918, com mais experiência, A Luta pela Imortalidade, a qual no dia dos seus anos, em 2020, revisitei, lendo alguns excertos e comentando-os, como poderá ouvir no vídeo final de 23 minutos, a que se seguiu outro com a mesma duração e que em breve partilharei.
                                                                    
 Será o nosso presente de aniversário a Leonardo: lermos e comungarmos as suas memórias, ideias e aspirações, interagindo harmoniosamente dentro do corpo místico da Tradição Espiritual Portuguesa onde ele ocupa um lugar, uma estação, bem luminosa.
Transcreveremos, para esta apresentação e contextualização do vídeo, a própria apresentação do livro por Leonardo, dedicado "A MINHA ESPOSA":
«Minha querida amiga:
Lembras-te daquela madrugada trágica em que na casa de meu Pai, sob o uivo dos cães e duma aragem rápida, fina, incoercível, de Junho, nos fomos do quarto onde morrera o nosso filho?
Muito enleados, árvores destroçadas pelo ciclone, fomos para o quarto onde dez anos antes quase nos meus braços morrera meu pai.
A tua dor era toda do nosso filho, a minha dor era a dele e a tua; nunca senti tão claramente que o homem é o protector da mulher, que lhe cumpre trazê-la ao colo e no coração.
Como eras dolorosa - os cabelos caídos, a tua desolação. o frio do teu mortificado corpo!
Eu tinha escrito o meu primeiro livro. Era uma síntese filosófica, chegando a conclusões optimistas sobre o mundo como sociedade de seres espirituais imperecíveis.
Acabara esse livro num sábado, no domingo lera as conclusões ao poeta Teixeira de Pascoaes, na segunda-feira adoecia o nosso filho bruscamente e para morrer.
Era a grande experiência, o meu pensamento à prova crua e insofismável.
O livro aí anda - "O Criacionismo" - a mostrar o heroísmo e a honestidade do meu pensamento.
Tu, minha querida amiga, pedias-me que abrisse os teus olhos à minha severa e melancólica esperança.
Por ti trabalhei, para ti muito especialmente procurei provas experimentais e acessíveis do meu pensamento metafísico.
O meu livro - "A Morte" - é um compromisso entre o meu método e os teus desejos.
Foi escrito naquela terra, tanto da minha saudade, para onde fomos escorraçados pela má vontade dos reitores dos liceus do Porto - a Póvoa do Varzim.
Aqui absolvo os meus inconscientes inimigos (tanto que hoje um é amigo) e aqui deixo a nossa infinita gratidão aos bons amigos, ao delicado carinho que na Póvoa encontrámos.
Um Domingo saímos os dois, e, diante do arcos partidos do aqueduto de Vila do Conde, arcos escondidos debaixo do abraço vegetal da hera, disse-te eu que o meu coração era uma ruína verde.
Lembro o teu abraço, promessa de ressurreição - é o nosso filho que mesmo agora te está beijando!
A minha promessa aí está também - é este livro, que viste nascer sob o doce e claro olhar da tua Alegria.
Toma-o.
                                                           O Teu
                                                           L.C.»

Oiçamos então o flamejante Leonardo Coimbra, com alguns comentários religantes ou unitivos meus:

                

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

"O Rosto e a Obra", 8ª parte da entrevista a Pedro Teixeira da Mota, por António Paiva.

 Eis-nos na oitava parte (das talvez 12) da entrevista, primeiro oral e depois ampliada livremente para constituir o livro O Rosto e a Obra, Autores portugueses da Espiritualidade, 12 entrevistas, pelo António Paiva, dado à luz pela Espiral Editora.

António Paiva – Há um palavrear e há a Palavra, e proferir esta é um acto sagrado?
Pedro Teixeira da Mota – Sim, a palavra pode ser dita, lida ou cantada num acto sagrado de comunhão, abertura, receptividade humilde e intuição com o que ela representa ou invoca. Ou dum ponto de vista mais forte, pronunciada com o poder espiritual da pessoa e da palavra, como no Japão se desenvolveu nos noritos, orações, e no kotodama, a consciência cultivada do poder da palavra, do som.

Ora nas raízes tanto semitas (árabes e hebraicas) como indo-europeias tal consciência e culto sacralizante esteve sempre presente. A civilização Egípcia, que é uma das tradições primordiais das raízes europeias chegara a uma consciência e adoração da deusa Maat, a qual corporizava a Justiça, a Verdade, a Ordem justa, sendo ela quem presidia ao julgamento da alma após a morte. A pena com que era representada no cimo da cabeça, e contra a qual se pesava o coração do desencarnado, representava a leveza das acções e das palavras que devia estar contida ou impactada no coração e certamente também a abertura e elevação aos planos mais espirituais. Tal pena seria uma espécie de canal antena de ligação superior e assinalava tanto a leveza ou vela como o leme da barca consciencial que atravessa ou fende o oceano da ilusão (astral, o bardo) entre a terra e o céu espiritual e divino.
Com o tempo, o Cristianismo e o Islão apagaram bastante a tradição Egípcia, ainda que tenham desenvolvido também a sua visão de um julgamento, da viagem no além, da sacralidade dos nomes de Deus, muito forte tanto nos hesicastas cristãos (dos quais as Narrativas de um Peregrino Russo são um registo fabuloso) como no dhikr ou zikr dos devotos islâmicos e  sufis, bem como da palavra verdadeira e do silêncio. Todavia, não tem passado muito para o conhecimento geral, e assim limitamo-nos, o que alguns ressuscitadores da riqueza espiritual egípcia, como o Schwaller de Lubicz (fotografia embaixo), que fez um trabalho fabuloso, ou ainda, entre outros, Christian Jacq, Wallis Budge, Bernard Bromage, Lucia Gahlin e, notavelmente no aspecto religioso, entre nós, José das Candeias Sales, conseguiram brilhantemente.

António Paiva. - Vês então as asceses como parte essencial de uma Ordem Cósmica?
Pedro Teixeira da Mota - Todo o tipo de ascese e disciplina reflecte a procura de integração numa Ordem Cósmica ou numa Vontade Divina, através das suas práticas psico-somáticas purificadoras do interior das pessoas, harmonizando-as no seu dia a dia, vencendo-se assim o dissolvente caos da desordem e podendo-se alcançar-se a paz e vivenciarem-se momentos expandidos ou unitivos de consciência.
Os controlos da dor e do prazer, da energia sexual ou alimentar, vocal ou psíquica são meios para se realizarem equilíbrios e para as energias em geral poderem subir ou subtilizarem-se mais no campo electromagnético de cada um. E depois de controladas, sublimadas, elas ficam mais conhecidas, integradas e obedientes, surgindo uma consciência maior de como as estamos a manifestar e como os excessos podem causar uma diminuição de um potencial, seja geral seja a certos níveis, e quando é que tal excesso se justifica ou é certo, quando devemos dar tudo por tudo... 

Quando se é novo a energia é mais abundante e pode ser utilizada a todos os níveis, mas é bom compreendermos que a parte instintiva é muito estimulada também por uma série de comportamentos, imagens, filmes, vídeos, informações. Tudo isso faz com que mesmo o comportamento instintivo do ser normal esteja alterado ao que lhe seria natural e portanto se lhe torne mais difícil, por exemplo, a castidade, uma virtude ou capacidade considerada muito importante no caminho espiritual, pelo menos em dados momentos da vida, ao preservar a energia interior e encaminhá-la para os centros superiores.
Também, por exemplo, a alimentação mais carnívora produz mais instintividade física, e assimila a própria energia anímica dos animais, em especial a do seu sofrimento e desejos. Ou se quisermos, um tipo vibratório de energia electromagnética de que sabemos pouco. Já os cereais, vegetais e frutas têm muito menos a componente do desejo e mobilidade. E dir-se-á que nos primeiros, a carne, pode predispor mais para a violência e o instinto sexual, e nos segundos menos.
Fora da raiz semita que abrange quase todo o Médio Oriente, há na tradição indo-europeia, uma muito importante, além da iraniana e avéstica, que é a que se desenvolveu no subcontinente indiano, com os Vedas e Upanishads, e as suas darshanas ou sistemas de vida e filosofia e com as suas yogas, as práticas ascéticas, harmonizadoras e unitivas, onde se destacaram grandes feitos de domínio do corpo, da dor, da respiração e da mente, com notáveis seres, ora faquires ora já yogis e gurus.
Uma das suas visões da estrutura do Cosmos, a das três gunas ou qualidades da matéria, tem aplicações valiosas na própria alimentação e assim há alimentos considerados como sátvicos, isto é, portadores e causadores da guna ou qualidade de satva, tal os cereais, as frutas e a maioria dos vegetais. Ou seja, a modulação energética deles é equilibrante no organismo e luminosa na consciência e não são como um alimento rajásico, da guna rajas, os que geram mais actividade, paixão, tal o peixe e a carne, ou um alimento tamásico, da guna ou qualidade tamas, caracterizado pelo peso, a obscuridade e a falta de vitalidade, como é o caso dos alimentos requentados ou a entrarem em decomposição.
Dentro desta perspectiva, as práticas ascéticas, ou um mode viver sóbrio, visam em parte equilibrar as três gunas em nós ao longo do dia, seja saindo de estados tamásicos ou pesados, como o sono, a sonolência, o desânimo, através de estados mais dinâmicos ou activos, os rajásicos, para alcançarmos os estados sátvicos de maior luminosidade, os que podemos sentir ou trabalhar mais, por exemplo, seja ao nascer e pôr-do-sol, seja na altura das nossas meditações, orações e contemplações, ou ainda numa continuidade de consciência luminosa e serena.
Podemos dizer que a ascese ou o controle das nossas energias corporais e anímicas visa encontrarmos o nosso caminho do meio, o meio-termo quanto às relações vitais. Seja quanto à energia sexual e como nos relacionamos amorosamente, seja no uso da vigília e do sono, seja na escolha dos melhores alimentos ou os que devemos evitar, de acordo com múltiplas circunstâncias, tais como as estações do ano, os horários e o nosso estado pessoal com as suas idiossincrasias. 

                                    
                   Gandhi, por Lanza del Vasto, ou Shantidas, o autor da Peregrinação às Fontes.
Talvez ainda algo influenciados pela tradição não-violenta (ahimsa), yogui, jaina e gandhiana, e sobretudo por conhecimentos dietéticos e por tendência da época, há hoje muitas pessoas que querem deixar de comer carne e serem vegetarianas, macrobióticas ou vegans.
Devemos valorizar uma alimentação saudável, biológica e vegetariana, até para os eco-sistemas, mas não é muito acertado entrar em dogmatismos ou fanatismos pois são muitos os factores em causa e não conseguimos discernir facilmente os efeitos das escolhas no nosso organismo ou as carências que podemos originar. 

Sinto que o vegetarianismo é fundamentalmente uma opção de sensibilidade ou mesmo de afectividade, de não-violência, a ahimsa, dos yoguis e do Mahatma Gandhi, de originarmos o menos sofrimento possível, seja nos outros seja dentro de nós, e também de tentarmos diminuir a agro-química e os fármacos que deixam uma marca tão pesada e destruidora dos eco-sistemas do planeta. Já não como carne há mais de quarenta anos, mas volta e meia comi peixe, em ocasiões de ter de comer com outras pessoas em restaurantes. O queijo utilizo, de preferência biológico e de cabra, mas noto que pode obstruir a respiração. 

Na Índia, onde Vandana Shiva é o nome de referência (já mundialmente) no activismo por uma agricultura sã e livre da opressão da Bayer-Monsanto-Sygenta, e não só, por exemplo, tanto a vaca como o leite (considerado sátvico, com e sem razões...) são sagrados, valorizados, este sendo consumido e oferecido aos deuses, e a sua bosta tendo muitas utilizações. Tal como um tipo de basilico ou manjericão, tulsi, que todo o religioso deve ter e cultivar. Por estes meios se conservam os laços subtis de amor na interdependência de todos os seres vivos, tão necessários face à desumanização e à destruição dos eco-sistemas em curso pela ganância de algumas indústrias. milionários e políticos mais vendidos.

domingo, 27 de dezembro de 2020

Celebração espiritual dos Mestres, com gravação do Guru Gita. Noite do Natal de 2020.

Uma invocação dos mestres gravada em vídeo na noite de Natal de 2020, com algumas jaculatórias ou cantos mântricos e a recitação do famoso canto indiano aos mestres ou gurus, o Brahmanandam Parama Sukhadam, também conhecido como o Guru Gita.
                                     
Aprendi-o há já muitos anos com o instrutor francês Rishi Atri, discípulo das linhagens do Kriya Yoga (na pintura em cima) e de Bô Yin Râ, e recitei-o frequentemente, a sós ou em pequenos grupos, do qual apresentamos a transliteração para se poder acompanhar melhor a audição, e com algumas considerações sobre o caminho para o espírito, os mestres e a Divindade, bem difícil nestes tempos do Covid em que tantas manipulações e opressões estão a crescentemente exercer-se obscuramente sobre a humanidade.
                                                                            A gravação tem como fundo para contemplação uma imagem da montanha sagrada dos Himalaias, numa pintura do mestre Bô Yin Râ (em cima e com o meu último livro), com a invocação das suas correntes espirituais ou bênçãos sobre nós e o começo de uma meditação.
Eis a transliteração do sânscrito e com uma tradução minha, da oração-invocação ao guru e que é também às qualidades dos mestres e ao mestre em nós:
Om Brahmanandam parama sukhadam kevalam jnaanamurtim
Invocando a Divindade, saudações a quem é beatitude divina, o supremo prazer, a libertação, a corporização de sabedoria discernimento.
Dvandvaateetam gagana sadrusham tatvamasyadi lakshyam
Livre das dualidades, semelhante ao vasto Céu, consciente da sua unidade com Ele.
Ekam nityam vimalam achalam sarvadhee saakshibhuutam
Um, eterno, sem mácula, imperturbável, testemunha de tudo o que existe
Bhaavaateetam triguna rahitam sadgurum tam namaami.
Para além de estados emocionais, livre das qualidades da matéria, guru da verdade, eu te saúdo.
Ommm Sri Gurabe namah...

               

sábado, 26 de dezembro de 2020

Dos caminhos para se vencer a ignorância e a violência: para uma religião do Espírito e do Amor. Um contributo de Pedro Teixeira da Mota.

 Acerca dos caminhos religiosos, espirituais e cívicos para se vencer a ignorância, o ódio, a violência. Da Religião do Espírito e do Amor...

I - Uma das questões culturais e cultuais  sempre actual é a de saber se devemos manter-nos simplesmente nas Religiões em que nascemos, ou que viemos a escolher mais tarde, e apenas dialogarmos com as outras, reconhecendo ou não entre elas insuperáveis diferenças ou se, pelo contrário, quer nos mantenhamos numa Religião ou não, deveremos reconhecer que por detrás delas, e das suas diferentes crenças e ritos, visões, concepções e adorações, encontra-se (ainda que pouco a procuremos sondar, compreender encontrar...) tanto a mesma Realidade, Fonte, Origem  Divina, qualquer que seja o nome ou a ideia que Dela façamos, como também um conjunto de propostas religiosas com muitas semelhanças de teorias, práticas e objectivos, destes o principal sendo o da religação ao espírito e a Deus ou a Realidade suprema.
Ora esta última hipótese ou posição parece-me a mais
correcta, ou seja,  há uma Unidade das religiões e dos seus conteúdos e preceitos, pesem as muitas diferenças nas letras e costumes, donde a actualidade e perenidade da admissão ou abertura a uma posição religiosa em que a Fonte ou o Ser Primordial seja reconhecido como o fundamental, "relativizando-se" de certo modo todas as religiões pois foram e são aproximações históricas, bastante limitadas e condicionadas, a Ele, Ser, ou Ela, Fonte...
Talvez pudéssemos mesmo denominá-la a Religião da
Divindade Primordial, ou ainda a Religião do Espírito Primordial, a Religião Universal, a Religião do Espírito, a Religião do Amor, estas caracterizações e afirmações  feitas com humildade mas na esperança de avançarmos mais tanto no seu sentir e reconhecer como na diminuição das ignorâncias, exclusivismos e ódios responsáveis por  conflitos, assassinatos e sofrimentos na Humanidade, ainda que muito do que é feito aparentemente por motivos religiosos seja mai por ideologias, racismos e interesses económicos.                            
                      

II - Quanto à existência de diferenças insuperáveis nos princípios, crenças e práticas das Religiões haverá a considerar se elas são tão fundamentalistas e exclusivistas, ou se deveremos  reconhecer que circunstâncias e condicionalismos diferentes forçaram  as revelações e ensinamentos religiosos a adoptar formas e conteúdos peculiares subsistindo contudo em geral em todas elas, apesar das interpolações e modificações,  um núcleo comum e essencial e que é tanto o do Bem, da Verdade e do Ser Espiritual Eterno, como o das metodologias semelhantes ou próximas para nos religarmos a tal essência espiritual, tanto do ser humano como da Divindade, e assim nos libertamos da inconsciência e da alienação em relação às tão importantes e decisivas realidades e fins últimos do ser humano.
Deveremos então reconhecer que, presente e ligando todos os
fundadores, profetas e mestres, há um Espírito comum, o Atman da tradição indiana, e que em todo o Cosmos perpassa e providencia e inspira um Logos (Intelecto, Razão, Inteligência, Amor animante) comum, provavelmente a primeira emanação da Divindade Primordial...        Contribuindo para a diminuição do exclusivismo e fanatismo religioso, está o próprio evoluir intelectual e consciencial da Humanidade pois, graças ao expandir dos conhecimentos e  consciências, e à divulgação generalizada, seja em relação à génese, transformações e desvios das religiões, seja em relação aos mistérios da existência humana e do sentido da sua vida, naturalmente várias formulações, crenças e dogmas deixam de ter o sentido imperativo ou absoluto e passam a ser compreendidos na sua contextualidade e relatividade...

 Estão neste caso muitos aspectos abusivos do legendário, miraculoso, tenebroso e apocalíptico que encontramos nas Religiões Reveladas ou do Livro. E assim, hoje, menos oprimidos ou limitados por essas cinturas e balizas, cargas e nacionalismos, poderemos caminhar em diálogo permanente com qualquer tradição ou religião, numa demanda de abertura perseverante à religação mais consciente com a Verdade ou Fonte, ou Sabedoria Amor que se possa discernir e aprender nelas, já que tal é a essência da Religião Universal, da Divindade, do Espírito e que, mais do que pregada sincera ou hipocritamente,  será sempre apenas intuída e comungada interiormente pelos verdadeiros devotos ou iniciados, para depois ser manifestada criativa e fraternalmente na vida quotidiana...                                             

Seria também muito importante que as Nações Unidas ou a UNESCO e representantes das religiões e vias espirituais se reunissem e chegassem à formulação de um manual básico da Religião da Humanidade e do Espírito que, lido e estudado nas escolas, abrisse as crianças e jovens para o estudo e conhecimento da Unidade das Religiões, e logo para o aprofundar da dimensão espiritual e unitiva do ser humano, e idealmente não só por teorias mas também por práticas espirituais e de culto, e ainda vivências, visitas de estudo e contactos com a Mãe Natureza, a agricultura biológica, a agro-floresta. 

Estejamos pois mais auto-conscientes e bem abertos à Tradição Perene que perpassa por todos os verdadeiros fiéis do Amor e mestres das diversas vias e religiões, bem estudadas e praticadas por alguns sábios e acessíveis em livros e net, e saibamos escolher e praticar o melhor possível numa ampla base, de modo a que a Presença Espiritual e Divina em nós, centro flamejante e iluminante do Espírito, desperte e brilhe mais ou, se quisermos, esteja mais presente e activo em nós, como a tradição do Santo Graal anunciou e demandou.

 Assim se diminuirá  a ignorância e o ódio (que tanto grassam em conflitos de interesses, por vezes mascarados ou inflamados religiosamente) e aumentar-se-á e intensificar-se-á  a compaixão e a fraternidade, o conhecimento e o amor, que ainda tanto precisam de desabrochar, de arder luminosamente no nosso corpo espiritual e planeta, com tantos eco-sistemas e animais, espíritos da natureza e anjos maravilhosos, necessitando da nossa acção justa e protectora, receptiva e evolutiva...

III - Nos nossos dias, nos quais a violência mortífera continua a imperar em diversos regiões do planeta, frequentemente devido a potências ditas modernas ou democráticas, quando a manipulação das populações é também imensa, de que o vírus de 2020 é um paradigma sombrio para o futuro, e em que os posicionamentos religiosos não conseguem dissuadir ou impedir a opressão e a violência, como poderemos ser e agir correctamente, sabendo nós que a interconectividade de todos os seres é um facto a todos os níveis da multidimensionalidade da realidade, tal como a moderna física refere denominando-a como o Campo unificado de energia informação,  mas que  as barreiras ou muros da ignorância,  insensibilidade,  racismo e ódio bloqueiam nas consciências circularidade fraterna e amorosa?                                                                                            Que posicionamento religioso e espiritual, mas também cívico e planetário, devemos aprofundar, assumir, partilhar? Que consciência ética e prática, ecológica e harmonizadora devemos desenvolver?

 É fundamental a investigação constante e destemida da verdade em todos os campos que sintamos importantes, bem como viver com sentimentos fraternos e amorosos, que se fortalecem nas práticas religiosa ou meditativas (em que vamos despertando os sentidos espirituais e recebendo a luz transformadora),  para se intensificar a auto-consciência sobre o que vivemos, fazemos e pensamos e, consequentemente a harmonização das nossas vidas, ambientes, ritmos e relações, seja pessoais seja para com países e o mundo.
Só assim escaparemos à alienação, corrupção, caos e violência que nos possa chegar ou afectar, ou que vemos no mundo, em especial causada pelo imperialismo norte-americano e dos seus coligados e oligarquia financeira.
Corajosamente, p
ensando e falando a verdade, denunciando a mentira, a opressão, a violência, o ódio,  propondo e apoiando o diálogo para a resolução dos conflitos pela sabedoria justa e não pela lei corruptora imposta pelos mais fortes e ricos,  para que diminua esse egoísmo dos mais fortes, em geral impunes e apoiados entre si e por forças mercenárias. Na linha de Pitágoras, Buda, Jesus, Mahatma Gandi, Vinoba, Lanza del Vasto e de Martin Luther King e Nelson Mandela, Xanana Gusmão, resistindo mesmo em desobediência civil quando for necessário, só, em grupos afins ou mesmo nacionalmente.

Realçaremos que a transformação é primeiro informativa-cognitiva e logo emotiva e mental e por fim na consciência e ética, reforçando-se nas vivências e expandindo-se para outras pessoas e grupos, acabando por mudar mesmo a realidade exterior, a qual sabemos estar muito negativa ainda  em geral em relação ao Bem Comum da Humanidade e às suas melhores potencialidades. Há pois que abraçar e desenvolver com urgência o Amor Divino e criativo em acção...
Desenho de Anna Zap.

Saibamos acender a chama ardente do Amor Divino e da Humanidade nos nossos corações  e vivamos criativamente e sem medos (muito importante, evitando por isso os telejornais...) nesta demanda ou caminho de vida mais verdadeiro, saudável (com o sistema imunitário bem reforçado) justo, belo e bom, e pelo qual constatamos que em todas as Religiões o Divino se pode aproximar, e que em todos os templos, santuários e mesquitas podemos orar ou meditar e assim irmos recebendo e manifestando mais o Amor e a Sabedoria que O caracterizam...                                                   Para isto é fundamental acolhermos, assumirmos mais a Religião Universal do Espírito e do Amor, e da fraternidade humana, animal e celestial, que é a essência das religiões e que é também no fundo o objectivo filosófico da vida, conforme o dito milenário dos gregos: “Gnosti se auton", "conhece-te a ti próprio”.                                                                                          Devemos assim não só estudar e respeitar cada Religião como manter  vertical o eixo da coluna, da coragem, da sinceridade, da aspiração e da ligação com os espíritos afins, os mestres e Anjos, para que o Espírito Primordial esteja mais activo e poderoso em nós, e saibamos assim vencer os enfraquecimentos e lutas, harmonizar a Natureza e a sociedade, renascendo e crescendo pela Luz do Alto e do Espírito, constante, criativa e amorosamente, na Unidade Divina...

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Celebração espiritual do Natal, atípico, de 2020. Texto e vídeo por Pedro Teixeira da Mota.

A celebração solsticial do Natal de 2020 terá sido atípica para muita gente. Mesmo assim muitos aproveitaram bem para conviver e para sentir a magia do nascimento do menino Jesus nas crianças e  presépios (o da imagem de Vítor Pires), outros para comer e beber, trocar presentes, matar saudades, descontrair na natureza, dar graças e, finalmente, para orar, meditar, contemplar, cantar, amar, louvar. Esperemos que assimilem bem as melhores energias e realizações e as frutifiquem no novo ano...
 
O ano da graça de 2020 foi de facto para muitos de desgraça, por múltiplas causas e razões, algumas ainda pouco esclarecidas. As medidas tomadas, ora certas ora erradas, e a histeria dos meios de informação, manipulando e derramando incessantemente medo sobre as pessoas, são de se realçar, para que nos consciencializemos da nossa responsabilidade de assumirmos  lucidamente a nossa saúde integral, seja a mental, face a tal lavagem do cérebro, seja a do nosso sistema imunitário, face à pouca importância dada aos cuidaos e práticas para tal. Ver menos televisão ou mesmo não a ter parece-me fundamental para sobrevivermos nesta década perigosa em que entramos. De anotar ainda a crescente propaganda de vacinas pouco fidedignas, suspeitas mesmo em alguns casos, apresentadas como "salvíficas", mesmo que seja apenas por uns meses e com efeitos e reacções adversas que podem ser graves.                                  Sabermos resistir através das nossas práticas alimentares, energéticas, curativas e espirituais a este e outros vírus e estabelecer diálogos construtivos, em busca da Verdade e do Amor,  em pequenos grupos ou redes  são quase obrigações de todos os seres que não se querem deixar alienar, amordaçar e massificar, mas sim despertar e avançar luminosamente na subida da montanha primordial e íntima, imaginável pela pintura de Bô Yin Râ dos Himalaias espirituais, Himavat...
                                
A gravação em vídeo, realizada perto da meia noite de 24 para 25 é apenas um simples contributo, um testemunho de uma prática, de uma celebração, de um peregrino no Caminho.
Possa alguma luz, amor e força dos Mestres, dos Anjos e Espíritos Celestiais e da Divindade entrar dentro da nossa alma e iluminá-la, para que o espírito divino seja mais consciencializado e assumido em nós, na alma, no corpo e no ambiente, para o Bem da Humanidade e do Planeta.