Swami Ranganathananda nasceu em 15
de Dezembro de 1908, no sul da Índia em Kerala, e ainda na escola (na qual gostava mais das pessoas e dos jogos que dos estudos), recebeu um dia, aos 10 anos, um sonho forte no qual viu o deus, ou a forma divina de Shiva no cimo de uma montanha, o que intensificou muito a sua devoção. E ao ler aos 14 anos o Evangelho de Sri Ramakrishna(1836-1886) ficou tão impressionado pela pureza e espiritualidade da vida do mestre, o que aumentou ainda depois ao ler os discursos do seu discípulo Swami Vivekananda, que resolveu entrar na Ordem de Ramakrishna
aos 17 anos, sendo ordenado monge pelo swami Shivananda (1854-1934, na fotografia) que era um discípulo directo de Sri Ramakrishna Paramahansa.
Desenvolveu depois
tanto uma prática espiritual intensa como uma demanda psicológica, filosófica e
científica que o levou a publicar mais de cinquenta livros acerca da
espiritualidade indiana, em especial a Vedanta, e a universal, e as suas relações com a educação, a
ciência e a sociedade, sendo ainda muito apreciado como organizador ou
director de centros da Ordem (em Rangoom, Karachi, Delhi, Calcuta e Hyderabad), como dinamizador de actividades de integração social (escolas, hospitais e prisões) e como orador em várias partes do mundo, estando no Youtube bastantes gravações das suas conferências. Em 1988 tornou-se vice-presidente da
Ordem, tendo-me transmitido a diksha ou iniciação na linha de
Ramakrishna, em 1995, em Cossipore, Calcutá, quando estive um ano na Índia, seis meses deles no centro de Cultura de Ramakrisna em Calcutá. Em 1997 tornar-se-á Presidente, o 13º, da Ordem, posição que ocupou até partir da Terra em 2005. Neste
seu dia de aniversário, o 112º ano, resolvemos traduzir e gravar em vídeo uma parte de um
dos seus livros, Ciência e Religião, comentando-a singelamente, e
transcrever neste blogue alguns parágrafos da obra, invocando a Graça Divina, louvado e adorado seja...
Oiçamos então este notável Jnani Yogi, que tanto valorizou uma espiritualidade prática, de desenvolvimento de valores e qualidades que vençam o egoísmo genético e a separatividade e conflitos sociais: «A
filosofia desenvolvida pelos sábios nos Upanishads conhecida como
Vedanta, que eles descreveram como Brahma-vidya [conhecimento ou
ciência de Deus], ou Adhyatma-vidya, e que definiram como
sarva-vidya-pratistha, "a base de toda a ciência ", em virtude da sua
visão da pura consciência imutável e não dual que está por detrás de
todos os fenómenos mutáveis e diversos do mundo. E o filósofo Gaudapa, do
7 séc., que foi o guru do guru de Sankaracharya, proclamou a glória da
sua visão unificadora, a qual é sabedoria, num famoso verso da
sua Mandukya Karika (IV. 2) - «Eu saúdo esta filosofia que ensinou a
Aspara Yoga (ou yoga da não separatividade), que conduz à felicidade e
bem estar de todos os seres, e que está livre de toda a luta de disputas
e contradições» p. 152. Também
valioso é o resumo que Swami Ranganathananda dá das bases e do caminho yoguico: «A luta para ultrapassar os impulsos e as limitações orgânicas e
realizar a liberdade do espírito na Auto-Realização, necessita de ser
suportada e sustentada por uma vida moral estável; só quando esta base
está assegurada é que o ser humano pode levar para diante a luta directa
para o mundo interno e modelar disciplinas apropriadas e forjar novos
instrumentos a partir do seu sistema de energia psico-física, entre os
quais uma manas (mente) resistente e uma budhi (razão e vontade) pura são o mais importante.»
O
estado em que a mente consegue silenciar o clamor dos órgãos dos
sentidos e se torna pura, firme e calma, é chamado yoga. Esta é a
condição interna que os que procuram espiritualmente através dos tempos
tem-se esforçado por atingir e que muitos atingiram, e na qual muitos
realizaram Deus, o Eu mais íntimo de todos, tal como é afirmado por Sri Krishna na Bhagavad Gita (IV. 10):
"Livre
de apego, medo e raiva, absorto em Mim (o Eu um em todos), e tomando
refúgio em mim, muitíssimas pessoas , purificadas pela tapas da jnana [fogo da austeridade do conhecimento], ou disciplina do conhecimento espiritual, atingiram a unidade comigo". Esta mesma verdade é também afirmada por Gaudapa na sua Mandukya Upanishad Karika (II.35).
"vīta-rāga-bhaya-krodhaih munibhih veda-paragaih,
Nirvikalp hyaym drstah
prapancopasamo' dvayah."
"Este estado transcendental não dual, no qual a existência relativa é ultrapassada, foi atingida pelos sábios que estavam livres de apego, de medo e de raiva, e que ultrapassaram ou foram para além (do mandato) dos Vedas (isto é de todas as escrituras tendo em vista entrarem no campo da experimentação, e obtendo a experiência da espiritualidade)." Desde a época dos Upanishads, cerca de quatro mil anos atrás, e mesmo provavelmente antes, o nosso país desenvolveu uma ciência e técnica bem equipada e a acerca deste assunto, o do Yoga. Nas palavras de Yama no ensinamento dado ao jovem Naciketa (Katha Upanishad, VI, 10-11):
"Yada pancavatisthante jnanani manasa saha; buddhisca na vicestate tam ahuh paramam gatim. Tam yogam iti manyante."
"Quando os órgão dos cincos sentidos de conhecimento permanecem firmes, ao mesmo tempo que manas (mente), e mesmo quando budhi (razão-intelecto) não age - tal é o supremo estado, dizem (os sábios). Os sábios consideram que este estado é Yoga."
Ramakrishna, um ser que atingiu altos estados unitivos espirituais
Swami Ranganathananda acentuará em vários livros como a
cultura ocidental tem desenvolvido a sua dimensão profunda graças também
aos contactos com a sabedoria milenária do Oriente (desde a época em que os Persas chegaram ao Ocidente e Alexandre da Macedónia entrou na Índia), pois a Humanidade é
una, e na obra Ciência e Religião afirma: «O ambiente moderno e os
problemas ecológicos talvez estejam a tornar impopular a tecnologia, ou
melhor a tecnologia a mais, especialmente nos países avançados; mas
ciência pura, com a sua paixão pela verdade e pelo bem estar humano,
permanecerá sempre como uma das mais nobres demandas do ser humano; e o
nosso país que nutriu este amor e demanda da verdade nos campos das
ciências físicas, religião e filosofia no passado, deve continuá-la a
alimentar em todos os campos na idade moderna. Religião e Filosofia na
Índia, como nos são dados pela nossa tradição dos Upanishads, são
apenas a continuação da procura científica da verdade ao nível dos
dados sensoriais, nos níveis de experiência mais elevados de estética,
ética e espiritualidade». Esta complementariedade entre o conhecimento
mental e objectivo e o intuitivo e espiritual é indispensável ao nosso
desenvolvimento harmonioso de seres espirituais incarnados em sociedades
cada vez mais regidas pelos parâmetros realistas, pragmáticos, e mais recentemente tão opressivos, para não
sermos alienados e massificados por eles, e para abrirmos espaço anímico para novas energias, informações e valores, e que tanto a meditação unitiva com o espírito (ou Atman) como a acção dharmica, ou baseada no dever que está acima do egoísmo genético e animal, proporcionam ou geram bem criativamente...... Oiçamos agora então outro texto valioso de Swami Ranganathananda num vídeo brevemente comentado:
António Paiva acaba de dar à luz, na editora da Espiral, o livro O Rosto e a Obra, com doze entrevistas a pessoas ligadas à new age, astrologia, ocultismo, esoterismo, espiritualidade. Realizadas primeiro oralmente em 2014, com limitações, os entrevistados foram convidados em 2019 a ampliá-las como quisessem e eis um livro volumoso, com alguns contributos valiosos. E como o António Paiva se lamentou de a venda confinada não estar a decorrer amplamente, eis-me a partilhar o princípio, ou as primeiras páginas, da minha participação, sugerindo ORosto e a Obra como um bom presente de Natal.
António Paiva – Boa tarde Pedro Teixeira da Mota. Muito obrigado por teres aceitado o nosso convite para integrares esta rubrica, O Rosto e a Obra. Licenciaste-te em Direito, foste professor de Meditação e de Yoga, tens sido investigador, praticante e autor em áreas diversas da espiritualidade. Vivestes cerca de dois anos e meio na Índia. Fostes peregrino de diversos caminhos e tradições, entre os quais o de Santiago de Compostela. Com certeza também peregrino na busca da verdade, da autenticidade e do sentido da vida. Pedro, podemos começar por aí?
Pedro Teixeira da Mota – Sim, desde cedo me interessei pela verdade histórica e até arqueológica e, ao longo das décadas já peregrinadas, sinto que a partir dum estado natural puro na infância, com o avolumar da geometria dos anos, vai-se desenvolvendo a auto-consciência espiritual, a capacidade de discernimento do verdadeiro e do falso, do essencial e do menos importante, bem como uma intuição do sentido dos seres e acontecimentos, o que vai gerando em nós tanto claridade e serenidade como aspiração e determinação e, portanto, que estamos de algum modo a realizar algo dos sentidos desafiantes e elevados da vida, ou seja, no Caminho... Face à peregrinação infinita em que estamos, os anos de vida corporal no plano físico são também um prelúdio ao que encontraremos quando nos libertarmos do corpo físico e nos elevarmos nos planos subtis e espirituais. Ir-nos preparando ou fortificando nessa direcção faz parte da demanda da verdade, aquela que interroga e tenta responder aos mistérios maiores da vida: quem somos, quem é Deus, o que é o mundo espiritual, como devemos trabalhar e viver para conhecer melhor estas realidades subtis, que sentimos como essenciais e que, ao nos chamarem por dentro, por vezes mesmo lancinantemente, ardentemente, não podemos mais deixá-las. Quando sentimos tal fogo de aspiração, e eu senti-o desde a adolescência, não podemos contentar-nos com as conversas superficiais, com a alienação dos desportos, de muitos dos espectáculos, de muito do conteúdo dos meios de informação, nem com a vida semi-alienada que as pessoas levam, tão manipuladas, tão controladas que pouco tempo têm e mal podem sentir as dimensões espirituais de si mesmos e da vida. AP – Mas tens certeza dessas dimensões, sentes que tens memórias de outras vidas? PTM – A certeza espiritual é tanto uma evidência interior que se patenteia na nossa mente, razão e coração, resultante de conversas, leituras, estudos, reflexões e meditações como também uma força e um sentir interior. E também uma consciencialização resultante das luzes e toques que recebemos dos mundos subtis e espirituais, nos sonhos, nas meditações, nos sentidos físicos e subtis e nos encontros, onde por vezes o contacto com seres mais infundidos pelo espírito se destaca pelo impacto, a luz e a desvendação que causa. Não se trata de uma memória das outras vidas. Não assumo que certas imagens que nos apareçam interiormente sejam necessariamente uma experiência anterior, ou que sejam suficientes para nos sugerirem e nós admitirmos que fomos romanos ou celtas numa suposta vida anterior. Podemos ter na nossa constituição anímica energias que já estiveram noutras épocas e não fomos nós que vivemos nessa época, mas apenas partículas que pelas mais diversas razões estão na nossa constituição anímica, da qual aliás se sabe pouco, pois a distinção entre alma e espírito é pouco conhecida e trabalhada (e neste sentido vai o meu último livro, Da Alma ao Espírito), e assim as pessoas ficam muito reduzidas ao corpo animal e à sua parte genética, e à alma e mente de grande potencialidade, tão mutável no seus pensamentos e emoções como tão subtil nas suas partículas e emanações, que conseguirmos estabilizá-la e aprofundá-la, para ela reflectir níveis mais elevados e espirituais, é do mais essencial na demanda de conhecimento e no Caminho.»
Aum...
Junto às Tágides, os caramanchões, cachos de cores sobre nós, para nós, em nós: Amor!
Embora a tradição Rosa Cruz tenha nascido nos
princípios do século XVII, na Alemanha, com as publicações de Johann
Valentin Andreae e o círculo de espirituais de Tübingen, atrás de si tanto
houve grupos secretos e iniciáticos como os seus símbolos já tinham
atraído religiosos, pensadores e artistas, e fermentações reformistas do mundo e das consciências e ciências cruzavam o vasto campo unificado da energia consciência europeia...
A
partir desse início do séc. XVI a impulsão rosicruciana, com alguns
mistérios (existira ou não o mítico fundador no séc. XV Christian Rosenkreutz, havia ou não essa Fraternidade Oculta), não mais deixará de habitar a espiritualidade e sucessivos
seres serão atraídos a tal veio ocidental dedicando-se a certas práticas e estudos, formando grupos, e ora
especulando e ensinando com seriedade ora mistificando iniciações, filiações e saberes, ou ainda pretendendo estarem em relação directa com os
superiores incógnitos ou os misteriosos Irmãos Rosa Cruz que ocultos do mundo o influenciariam.
Entre nós Fernando Pessoa foi um leitor de obras de escritores participantes nas sagas ocultistas e rosicrucianas (tais Hargrave Jennings, George R. S. Meads, Franz Wittemans e Arthur Edward Waite), e embora reconhecendo que pouco se poderia dizer sobre as origens e a existência desses mestres ou irmão ocultos, escreveu vários
textos e belos poemas acerca de tal tradição e simbologia, que aliás já
em jovem muito o impressionara, como confessou em carta de 1915 ao seu dilecto amigo Mário de Sá Carneiro, tradição que ele veio a preferir, e em especial nas suas
ligações à gnose, aos templários, à alquimia e à maçonaria, em relação ao que os fundadores da
Sociedade Teosófica e seus directos discípulos ofereciam de ensinamentos, e que ele teve de traduzir por encomenda de João Antunes, para a Livraria Clássica A. M. Teixeira.
Em 1989 publiquei no livro Rosea Cruz
o que no espólio de Fernando Pessoa, sito na Biblioteca Nacional,
encontrara com ligação à tradição rosicruciana. Na parte final da obra
juntei em seis páginas, sob o título Inspirações da Rosea Cruz trinta citações, sete das quais de sete autores que podemos chamar
os primeiros rosicrucianos, anteriores e posteriores aos Manifestos Rosacruzes,
tais como Paracelso, Jacob Böehme, Johanes Frizius, Robert Fludd,
Thomas Vaughan e Heinrich Khunrat e vinte e três minhas, sem indicação
de autor, provenientes das meditações realizadas na época da gestação do
livro. Logo na altura uma investigadora pessoana criticou-me numa revista importante por não ter
assinalado nessas frases as cotas dos documentos de Fernando Pessoa, e já neste Outono de 2020 também um rosicruciano as leu e citou, pensando que eram de Fernando
Pessoa. Como são belas resolvi reler as primeiras, gravando e
comentando brevemente, o que pode ouvir no vídeo no final deste texto. Vou todavia
transcrevê-las, com pequenos aperfeiçoamentos em relação ao
original, ficando as restantes para a próxima incursão rosicruciana...
«A
rosa marca um centro de quatro direcções do espaço. Cada ser humano
pode despertar ou tornar-se este centro. E é-o quando se liga
verticalmente com o espírito, o anjo da guarda, os antepassados, santos e
mestres e finalmente com Deus, desabrochando a Rosa...
A
Rosa do Coração para estar bem viva deve ser protegida de influências
negativas, ou então irradiar muito fortemente pelos braços teus ou da
Cruz.
Cultivar o desabrochar botões no
tronco da nossa coluna vertebral, é a arte alquímica. De modo a
transformar-se a árvore do bem e do mal numa árvore-cruz onde brilha a
rosa do Espírito.
A Rosa Cruz, o duplo Dorje Tibetano ou a Cruz Templária, são em diferentes tradições símbolos do
ser humano no caminho iniciático, seja quando no centro do seu ser o
fogo do espírito se epifaniza como a bela rosa imortal, seja nas cruzes com terminações ígneas que fendem magicamente as trevas que nos possam rodear.
A
cruz é um símbolo da existência dum eixo no mundo e dum caminho que
leva para além dos conflitos, agonias e horizontes limitados, de consciência desperta rumo tanto
ao centro dos seres como aos mundos espirituais...
A
cruz marca o encontro num centro de todas as direcções do espaço, de
múltiplos raios do Cosmos, de muitos seres e energias do Universo. Quem
conseguir retirar-se da dispersão e concentrar-se nesse ponto silenciosa
verá, na caverna obscura da alma, começar a despontar, qual Rosa, a
Luz.
Para que nos lembremos que por detrás
de Jesus Cristo está um estado de ser onde o Coração e o Amor universal
podem ser vivenciados, se ergueu a bandeira reformadora Rosa Cruz. Mas
só nos corações humanos é que ele pode voltar...
As
rosas, as flores de lótus das almas, crescem frescas porque os vasos,
as auras e desejos, estão abertos ao alto, ao Divino...
Na
Cruz da Vida a Rosa do Amor... Isto é, nas dificuldades do nosso dia a
dia saibamos erguer a aspiração amorosa à fraternidade, à Unidade e à
Divindade...
Na cor rosa ou vermelha da
rosa está o sangue de Jesus Cristo e dos mártires do Bem e da Verdade,
tal como a energia ígnea do Espírito clarificador ou santificador,
inspirando-nos e purificando-nos de erros, fortalecendo-nos nos embates
da vida. E se damos de nós próprios, ela cresce e torna-se uma grande
floração, nosso corpo-aura de braços abertos como as cinco pétalas no
traje das núpcias alquímicas.
No meio do
traçar do sinal da cruz realiza a rosa da consciência ígnea. Isto é,
seja enquanto traças, seja no meio ou centro do teu ser, aí onde o
mestre Jesus disse que "onde dois ou três se reunissem no seu nome ele
estaria"; ou seja, na vibração de luz e amor, tal, Luz e Amor ou Rosa
desabrochada estaria, no meio de nós, como aqui entre nós...»
Segue-se o vídeo, 23 minutos, com algumas aberturas e forças luminosas...
Mais uma história muito actual do nosso grande viajante e sábio observador Sa'adi (1210-1292, Shiraz, Irão), sobre a responsabilização dos actos e seus resultados, pois correndo-nos mal alguma situação em que nos envolvemos com um terceiro, frequentemente não será fácil depois chamá-lo à responsabilidade do que aconteceu, ainda que tal nos pareça justo. Um caso actual flagrante disso é a isenção de responsabilidade que alguns fabricantes de vacinas, mais conscientes do atabalhoado produto que estão a oferecer, ou a impôr por vias indirectas e por vezes corruptas, aos cidadãos, têm conseguido obter de Governos e grande organizações. Maior transparência dos ingredientes e maior verificação dos efeitos é fundamental... Para que não sejamos como burros a ser tratado por como tal, pensemos muito bem antes de acreditares que tal negócio da China, método ou vacina vai ser a nossa salvação, pois podemos depois arrepender-nos e ninguém nos ressarcir ou restituir ao nosso estado original... Oiçamos então o nosso notável mestre persa Sa'adi, e a sua sabedoria perene oriental e universal...
«Um homem que não pensava muito e que estava com os olhos a doer foi ter com um ferreiro conhecido para que o tratasse. Este derramou nos seus olhos o que ele costumava aplicar nos quadrúpedes mas de tal modo que o homem ficou praticamente cego e logo decidiu apresentar uma queixa ao juiz, o qual, contudo, escusou-se a punir o ferreiro, dizendo: “Se este homem não fosse um burro, ele não teria ido ao ferreiro.” O moral desta história é que saibas que quem quer que confia numa pessoa inexperiente ou pouco séria sobre um assunto importante e depois se arrepende é considerado pelas pessoassábias como sofrendo de frivolidade mental.
Um homem sagaz e iluminado não dará A uma pessoa básica assuntos importantes para tratar.
Quem está empregado na tecelagem de colchões Não está preparado para tecer logo seda.»
Saibamos discernir tanto as nossas capacidades como as dos outros e não nos deixamos iludir pelas banhas da cobra ou negociatas da china, ou curas e iluminações rápidas que tantos apregoam, antes cogitemos e meditemos até estarmos mais próximos ou integrados com a verdade do subcampo unificado de energia informação consciência em causa, pois há muita manipulação e desinformação de factos e intenções. Vigia, dialoga, ora, medita!
De Sa'adi, do seu Jardim da Rosas, Gulistan, mais uma história, esta bem pequena: «Encontrei um homem no deserto que estava a falar assim para o seu rapaz:
”- Ó filho, no dia em que ressuscitares para o mundo espiritual perguntar-te-ão o que é que tu realizaste vitoriosamente e não de quem é que tu descendes, isto é, interrogar-te-ão acerca dos teus merecimentos e não dos teus ascendentes ou como foi o teu pai.”
A cobertura da Ka’bah que é beijada Não foi enobrecida pelo bicho da seda.
Ele esteve uns dias na companhia de um homem sábio, Pelo que se tornou uma pessoa respeitável como ele. »
Esta história, e seus dois dísticos, bem pequena mas desafiante, lembra-nos que devemos agir enquanto estamos sob a luz do sol e com o corpo físico vivo, se queremos conquistar a imortalidade da alma e a ligação a Deus, isto é também, a possibilidade de entramos conscientes nos mundos espirituais e com luz e amor, derivadas dos nossos trabalhos ou merecimentos na terra física. Lembra-nos ainda Sa'adi que os objectos, os ritos, os ícones valem pelo que as pessoas lhes transmitem e pelo que eles dos mundos espirituais, ou mesmo do Divino, passam para nós de energias e inspirações salutíferas e luminosas. E, por fim, que a companhia de gente luminosa é fundamental. satsanga, companhia da verdade, na Índia dos yogis, ou as tariqas, as associações espirituais fraternas sufis, são exemplos de grupos, em que uns dias ou umas horas com um sábio ou mestres podem ser suficientes para acordarem, intensificarem, transformarem uma pessoa. Nestes tempos de crise grande, saibamos associar-nos, pelos melhores meios possíveis, com os seres de luz e amor e para o bem da Humanidade e do planeta Gaia...
Um papagaio, tendo sido aprisionado numa gaiola com um corvo, sentiu-se vexado pela vista dele e exclamou assim: “Que aspecto tão feio tem este. Que figura odiosa. Que coisa amaldiçoada, com hábitos tão rudes! Ó corvo da separação, como desejaria que a distância entre o Oriente e o Ocidente estivesse entre nós.”
Para quem quer que te veja quando se levanta de manhã, A alvorada de um dia seguro torna-se um entardecer. Só uma pessoa de mau augúrio como tu é que te deve fazer companhia, Mas onde é que no mundo inteiro há alguém como tu?
O que é mais bizarro ainda é que o corvo estava igualmente desanimado pela proximidade do papagaio e, desgostoso, berrava La hual e lamentava as vicissitudes do tempo. Esfregando as garras da tristeza uma contra a outra, clamava: “Que má sorte é esta? Que destino tão baixo e que tempo tão de cameleão é este, quando eu estava de acordo com a minha dignidade a pavonear-me num jardim murado na companhia de outro corvo. É já um emprisionamento suficiente para um devoto estar no mesmo estábulo com desregrados. Que pecado cometi eu nesta vida, para ter já caído, como punição, nas limitações desta calamidade que é a companhia de tão convencido, incoerente e destravado tolo?”
Ninguém aproximará o seu pé do muro Sobre o qual pintarem o teu retrato, Pois se o teu local fosse o Paraíso, Os outros escolheriam o Inferno.
Eu acrescentarei ainda a seguinte parábola para que saibas que não importa quanto um homem sábio possa não gostar de um ignorante pois este último há-de igualmente de o detestar:
Um homem devotado a Deus (zahid) viu-se no meio de depravados, e eis que um deles, uma bela mulher de Bhalki, lhe disse: Se estás cansado de nós não o sintas amargamente Pois és tu próprio o mais amargo entre nós.”
Uma assembleia juntara-se como rosas e tulipas! Tu és como uma madeira seca a crescer no meio, Ou como um vento contrário e uma geada desagradável, Ou como neve inerte ou gelo preso firmemente. »
Breve comentário: Nestas histórias, parábolas e poemas Sa'adi estimula-nos a reconhecermos que ninguém é perfeito, que não podemos agradar a todos e que é melhor aceitarmos os outros tal como eles são, sobretudo se estamos na sua companhia, para não sermos quem azeda a refeição comum que é cada encontro ou convívio de pessoas. Daí que se recomende sabiamente juntar-nos de preferência com os que têm mais afinidades connosco, pois podemos estimular-nos nas criatividades, descobertas e realizações. É a famosa satsanga indiana, a companhia da verdade, ou ainda seres que se reúnem verdadeiramente pelo amor com que aspiram ao conhecimento e pelo amor e unidade que entre si sentem, comunicam e comungam. Para que estejamos mais em amor e sabedoria e possa crescer a nossa ligação e consciência espiritual e divina...
Entremos em mais algumas das histórias do Jardim das Rosas, de Sa'adi, aqui representado numa iluminura no seu jardim de rosas...
«Um pregador imaginava que a sua miserável voz era agradável e erguia berros de tal modo desnecessários que tu dirias que o corvo da separação se tinha tornado a tonalidade do seu canto. Até este verso – "a mais detestável das vozes é certamente a voz dos burros" – parece aplicar-se a ele, tal como também lhe diz respeito este dito:
Quando o pregador Abu –al- Fares zurra Mesmo ao pedir a Deus dará saltos.
Devido à posição religiosa que ele ocupava os habitantes da povoação submeteram-se à provação e não pensaram que fosse adequado criticarem-no. Todavia, com o decorrer do tempo, outro pregador daquela região, e que mantinha uma inimizade secreta contra ele, chegou numa visita e disse-lhe: “Tive um sonho contigo, possa ele terminar bem!” - "O que sonhaste? “ - "Sonhei que a tua voz se tornara muito agradável e que as pessoas se sentiam bem nos teus sermões”. O pregador reflectiu um pouco sobre tais palavras e disse-lhe: “Tu sonhaste um sonho abençoador porque me tornaste consciente do meu defeito. Fiquei a saber que tenho uma voz desagradável e que as pessoas sentem desagradável a minha recitação em voz alta. De acordo com isto, determinei de que a partir de hoje não me dirigirei mais a elas sem ser numa voz controlada.”
Não gosto da companhia dos amigos A quem as minhas qualidades más parecem boas. Eles fantasiam que as minhas faltas são virtudes e perfeição. E os meus espinhos consideram serem rosa e jasmim.
Responde-me: - Onde está o ousado e veloz inimigo Que me torne consciente dos meus defeitos? Aquele a quem as faltas ou defeitos não são ditas, Ignorantemente imagina que eles são virtudes….
História: «Um homem com uma voz desagradável estava a realizar a leitura do Corão, quando um homem piedoso passou ao lado e perguntou-lhe quanto é que ele auferia de salário mensal. Ele replicou: “Nada”. Ele interrogou-o ainda: “Então porque é que assumes esse trabalho?” Ele respondeu: “Estou a ler por causa de Deus”. Ele pediu-lhe então: “Pelo amor de Deus, não leias mais.”
Se leres assim o Corão, Privarás a religião da sua glória. »
Nestas histórias Sa'adi lembra-nos que no caminho real da vida devemos saber ouvir quem nos critica, não se reagindo logo fortemente. É mais sábio meditarmos ou dormirmos, antes de replicamos. Podemos aprender seja por advertências nos sonhos ou sinais seja através de críticas que não nos sendo agradáveis podem ter ou têm algo de verdadeiro. Como que Sa'adi nos diz: - Sabe usar o dom da tua palavra, ou da tua escrita, com muita conta, peso e medida, ou seja, com o máximo de harmonia e de amor. E atenção aos efeitos que vais ter nos outros, pois não basta a tua intencionalidade, pois de boas intenções está o inferno cheio. Inferno que podemos criar nos outros sem que eles o mereçam, sobretudo quando estás a falar de religiosidade ou de orações. Saibamos então ser sempre pupilos humildes da Palavra, Logos e Primordialidade Divina e dos seus verdadeiros mestres e sábios...