sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Elza Paxeco, a 1ª doutorada da Faculdade de Letras de Lisboa, notável investigadora e professora. Biografia pela sua filha, Maria Rosa Pacheco Machado.

                                                                            
Tendo recentemente dialogado (numa rede social) na página da Associação Cultural Sebastião da Gama com Maria Rosa Pacheco Machado, a propósito dos alunos e alunas da sua mãe a escritora Elza Paxeco (e filha do abnegado diplomata e escritor Fran Paxeco), infelizmente hoje pouco lembrada e estudada, ofereci-me para divulgá-la no blogue, tendo recebido então a biografia dela, partilhada em 14-X-2010, na Academia Maranhense de Letras, Brasil, no discurso (conforme a fotografia) de tomada de posse da mesma Cadeira Académica nº 5 que pertencera a sua mãe e que passamos a transcrever:
                            
Elza Fernandes Paxeco Machado
2ª ocupante da cadeira nº 5 Académicos Correspondentes, Academia Maranhense de Letras.
«Nasceu em São Luís do Maranhão, a 6 de Janeiro de 1912 na Rua da Palma, nº 38 1 – na casa de seu avô materno Luís Manuel Fernandes, sócio da Firma “Luis Manuel Fernandes & Irmãos, importadores e exportadores”.
Aí passou sua infância com seus pais, ele Manuel Fran Paxeco (1874-1952) português de Setúbal - jornalista e diplomata, ela maranhense de São Luís que lhe propiciaram um ambiente requintado, culto, de padrão bastante elevado. Para além do ensino normal 2, aprendeu a tocar piano, a dizer poesia, a desenhar, etc, com professores das especialidades.
Ainda não consegui saber onde ela terá estudado em criança, embora tenha andado a bater a várias portas; Colégio Santa Teresa, Secretaria da Educação, Inspecção Escolar, mas os arquivos não estão muito disponíveis.
Sua Mãe, minha Avó Isabel Eugénia Cardoso de Almeida Fernandes (1879-1956) natural de São Luís, também era filha de um português, mas de Lamares, Vila Real (o meu bisavô acima referido) e de uma maranhense de São Luís, minha bisavó Rosa Cândida Cardoso de Almeida Fernandes (1845-1912) que por sua vez também era filha de outro português (de Cascais) e de outra maranhense, mas de Santa Maria de Icatú. Ele, Máximo Cardoso de Almeida (1816-1876) foi dono de engenho de açúcar, capitão de longo curso, dono do barco “Rosabella” e ela, Ana Joaquina Jansen da Silva (1827-1872) era, segundo nos contaram, sobrinha de “Donanna” Jansen.
Tudo isto e muito mais nos foi transmitido oralmente, por minha Avó Isabel e por minha Mãe que veneravam São Luís e todos os antepassados que por cá ficaram sepultados.
Quando minha Mãe partiu com seus pais, definitivamente do Brasil para a Europa (em 1925), foi carregada de recordações poéticas, musicais, etnográficas; de histórias, cheiros e cores, sabores e sons... de que falará com saudade, desgosto, ciente que nunca mais voltaria a São Luís. Citava Gonçalves Dias mal chegava a Primavera...
Lembro-me que, ao decorarmos poesia para as visitas,além de Afonso Lopes Vieira e outros, também vinha Gonçalves Dias:

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Inteligente, imaginativa, sonhadora, boa aluna, estudou com sucesso num convento católico jesuíta no Reino Unido, o Upton Hall School a Nordeste 3, até entrar para a Universidade de Gales, onde se formou em Filologia Românica e Filologia Germânica com altas classificações – Honours Summa cum Laudes. Mais tarde, durante dois anos para a Universidade de Londres para fazer outro curso, de especialização, Master of Arts. Tudo para grande contentamento de seu Pai, que muito admirava e venerava; e de sua Mãe que lhe marcou muito a vida pelos objectivos demasiado ambiciosos que lhe traçou e que lhe marcaram toda a vida.
Quando foi para Portugal, frequentou durante dois anos a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, a fim de tirar as cadeiras de equivalência que lhe faltavam, as de Literatura e Filologia Portuguesas, História de Portugal e Descobrimentos.

Alunos da Faculdade de Letras de Lisboa, bolseiros do Instituto de Alta Cultura, no Centro de Estudos Filológicos, então na Rua Júlio de Andrade, em 1937, rodeando o professor e arabista David Lopes, com a Elza Fernandes Paxeco à sua esquerda e, atrás, José Pedro Machado, de óculos, seu futuro marido e notável linguista. Ao fundo, à direita na porta, Maria de Jesus Pacheco, que viria a ser a mãe do professor de Direito Sousa Franco (que foi meu professor)  

É nesta fase da sua nova vida académica que conhece outro aluno, que alguns anos mais tarde se tornaria seu marido; José Pedro Machado, que frequentava o mesmo curso de Filologia Românica.
Foi a primeira senhora doutorada pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (Outubro de 1938), tendo obtido aprovação por unanimidade 4. Era, nessa altura, o mais novo dos doutores, com
apenas vinte e seis anos.
Fez um estágio de dois anos no Liceu Pedro Nunes e foi chamada para a Faculdade de Letras da mesma Universidade, onde ensinou como leitora de Francês entre Fevereiro de 1940 e Outubro de 1948, quando foi exonerada a seu pedido; igualmente regera as cadeiras de Literatura Francesa e de Língua e Literatura Inglesa, tendo ainda feito parte de júris de admissão ao Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Depois de minha Mãe, duas senhoras entraram para a Faculdade, a Dra. Andrée Crabbée Rocha 5 e a Dra. Virgínia Rau.
Casou em 4 de Setembro de 1940 com meu Pai, José Pedro Machado, tendo dessa união nascido três filhos: Maria Helena (1941), João Manuel (1943), Maria Rosa (1946).
Por indicação de Alfredo de Assis 6, representou em Portugal a Associação das Academias Brasileiras de Letras 7. Foi eleita sócia correspondente da Academia Maranhense de Letras, exactamente para a cadeira Número 5.
No ano lectivo de 1960-1961 ensinou Francês na Escola Industrial Afonso Domingues, escola onde o meu Pai era professor efectivo e se bem me lembro, nesta altura tinha o cargo de Director.
Nunca deixou de ter contacto com São Luís, nomeadamente com a família do Dr. Aníbal de Pádua, com quem sempre se correspondeu, através de quem ia tendo notícias da sua terra natal. Desde criança que eu ouvia falar de Dª Cotinha, de Regina, de Regininha....
Com a família Guedes de Azerêdo que também estava em Portugal, compartilhava laços de São Luís e também laços de família, pois Alfredo (filho) foi o padrinho de baptismo de minha irmã.
Doou a esta cidade, mais propriamente à Associação Comercial do Maranhão, dois quadros pintados a óleo que lhe eram muito queridos, um representando o seu Avô, Luis Manuel Fernandes 8, da autoria de Franco de Sá, e o outro seu pai, Fran Paxeco, da autoria de Paula Barros. Eu era criança, mas recordo perfeitamente a entrega das grandes caixas ao Sr. José Tércio de Oliveira Borges que os trouxe para São Luís, isto em 1957 9.  
Se me permitem gostaria de compartilhar convosco alguns episódios da minha vida:
As crianças aprendem línguas com muita facilidade e eu sou a prova disso: estava a minha Mãe doente e acamada, e como eu era a mais pequena (eu teria 2, 3 anos) e muito irrequieta, chamava-me para o pé dela e ensinou-me a falar francês; foi graças a um mau momento da sua saúde que eu sempre tive uma grande facilidade em falar, compreender francês; a ela o devo, porque ensinou-me essa língua praticamente ao mesmo tempo que o português. Com as outras disciplinas sucedeu a mesma coisa, mas não desta maneira, pois aprendemos os três a ler e a escrever em casa, muito cedo. Recordo perfeitamente a minha luta para mudar a data para 50, nas cópias. Porque sou do tempo em que se faziam cópias.
Nos anos 60, quando minha Mãe ia para os Reservados da Biblioteca Nacional (que na altura ainda estava instalada no Convento de S. Francisco, ali ao Chiado) trabalhar no Colocci Brancuti – O Cancioneiro da Biblioteca Nacional, muitas vezes eu ia com ela.
Aqui permitam-me entrelinhar um testemunho: o trabalho de meus Pais não foi nada fácil, pois tiveram que copiar tudo à mão, não havia os recursos que hoje todos temos à nossa disposição.
Como eu ia dizendo, eu ia muitas vezes com minha Mãe para a Biblioteca Nacional; e como morávamos na Graça, costumávamos regressar a pé para casa. Não que eu gostasse muito, mas como ela andava bem, que remédio tinha eu! Ora numa determinada tarde, voltávamos nós para casa e parámos num miradouro que há sobre Alfama e que tem uma vista soberba, mesmo ao lado do miradouro de Santa Luzia, se alguém conhece a zona. Olhei para baixo, e nos telhados vi um gato (sempre gostei destes animais): chamei-o e ele olhou. Uns dias depois tinha uns versos 10 escritos por minha Mãe, a lembrar esse momento. A sua veia poética vinha à tona muitas vezes, sobretudo com as netas.
A ela devo o meu gosto pela investigação, pelo Medievalismo, pela Literatura Francesa. Todos estes gostos foram sendo burilados ao longo dos anos e muitas vezes com a preciosa ajuda de meu Pai.
Também herdei dela o ouvido musical, pois cheguei a aprender a tocar piano enquanto estive no colégio in
terno.
Neste momento encontro-me a envidar esforços para que o seu nome conste nas comemorações do Centenário da Universidade de Lisboa, isto já em 2011; considero ser mais do que justo que o nome da primeira senhora doutorada na Faculdade de Letras daquela Universidade aí possa constar; possuo fotos, o diploma do doutoramento, recortes de jornais da época.
Estou em contacto com a equipa organizadora, para facultar todo o material necessário.
Dizem-me que a Universidade está com problemas financeiros para a publicação do álbum, espero que os consigam superar.» [Lamentavelmente nada se publicou...]
Bibliografia:
  • Alguns aspectos da poesia de Bocage (1937). - Acerca da tragicomédia de Dom Duardos (1937). - Essai sur l'oeuvre de Samain (1938) Dissertação de Doutoramento em Filologia Românica, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. - Graça de Júlio Dinis (1939). - O mito do Brasil-Menino (1941). - Camões e Elisabeth Barrett (1942). - Negação dupla em português (1944). - Um dos últimos trabalhos de Hércules (1944). - Aucassin e Nicolette (romance dramático do séc XII, tradução anotada em versão em verso e prosa portugueses do texto medieval picardo), (1946). - Da glottica em Portugal (1948). - Estudos em Três Línguas (1948). - Cancioneiro da Biblioteca Nacional (Leitura, comentários, notas e glossário), em colaboração com seu marido, José Pedro Machado. Esta obra ocupa oito volumes e é acompanhada pela reprodução fotocopiada do manuscrito; edição crítica e integral, realizada por Edições Ocidente que a editou sem quaisquer apoios oficiais ou particulares em folhas mensais apensas à Revista de Portugal (1949-1964). - Galicismos Arcaicos (1949).

Deixou colaboração dispersa por numerosas publicações nacionais e estrangeiras de entre as quais se destacam as revistas da Faculdade de Letras de Lisboa, Brasília, de Coimbra, da Academia Brasileira de Letras, do Rio de Janeiro, Revista de Portugal, Ocidente, etc. Era sócia da Sociedade de Geografia de Lisboa e da Sociedade de Língua Portuguesa.
Faleceu na madrugada de 28 de Dezembro de 1989 na sua casa em Lisboa, na Rua Leite de Vasconcelos, vítima de uma úlcera no duodeno.
Gato Preto em Telhado de Alfama
 
«Gato preto de Alfama no telhado
Lá em baixo, ao longe.
No terraço nu de ladrilho vermelho
Cá em cima, ao lado
Uns tufos pendentes verde-brancos hoje
Folhas e flores no invernal e velho
da Cerca Moura troço desencantado. 
 
Sorriso curvo de Reims, o do Anjo
(Ou o da Gioconda, porém meio tortelho),
Olhar longo de amêndoa voltado.
Vê a trocista o vulto e lisonja:
“Biche-biche” e já surge um espelho
Verde radiante pró norte alçado

Na cabeça virada tão séria do monge.
Chispa o Raio verde do Sol sobranceiro
Aos antigos Paços do Limoeiro.»
Visto 26-XII-61. Escrito 1-I-62

[O Anjo sorridente da catedral de Reims evocado por Elza Paxeco sobre o casario de Alfama. Quanto à Gioconda, com o seu sorriso algo torto ou irónico, era a sua filha Maria Rosa...]

1- Hoje é o nº 360, onde vai ser o Museu do Azulejo.
2- Não consegui saber onde ela estudou em criança; os arquivos de São Luís ainda não me deram esse prazer.
3- Fundado em 1849, ainda existe, transformado em Escola: http://www.uptonhallschool.co.uk
4- Cópia do diploma em anexo.
5- Esposa de Miguel Torga.
6- Desembargador Alfredo de Assis Castro, outro dos fundadores da Academia, casado com Filomena Jansen Pereira, prima de minha Avó, Isabel Eugénia de Almeida Fernandes Paxeco.
7- Em anexo, cópia da acta da sessão de 3 de Julho de 1943.
8- Comerciante português(1828-1881) que viveu em São Luís do Maranhão. Em 1874 consta como vogal da 17ª Directoria da então Comissão da Praça, in Jerónimo de Viveiros – História do Comércio do Maranhão, 1612+1895, p 452.
9- Possuo a carta (na sequência de outras) de Joaquim Pinheiro Gomes de 25.10.1956, onde informa minha Mãe que Arnaldo de Jesus Ferreira vai falar com António da Silva Borges ao tempo Vice-Consul, sobre o transporte dos quadros.
10-Versos em anexo.»
                                                                       
Fiquemo-nos, para concluir, e para comungarmos no corpo místico da Tradição cultural e espiritual de Portugal, com o que Elza Paxeco, com o seu génio tão sensível e sábio, escreveu no seu principal livro, antológico, Estudo em Três Línguas,  acerca da imortalidade da alma, ou Graça de Júlio Dinis:
«Joaquim Guilherme Gomes
Coelho, se ainda vivesse, faria hoje cem anos. Rol bem mais bonito que o da Moleirinha de Junqueiro. Há perto de 14 lustros, porém amado pelos deuses [que arrebatam os que amam], morreu em plena juventude. Lá foi a enterrar, perto da velha igreja de Cedofeita, perdida entre campos solitários [Alberto Pimental, O Porto há trinta anos, p. 4), o professor da Escola Médica, com grande acompanhamento de lentes, estudantes e antigos condiscípulos. Partiram também as andorinhas, levadas por um outono precoce.

                                            Agrupamento de Escolas Ovar Sul - Júlio Dinis

Mas Joaquim Guilherme, como tantos magos, possuía outro eu, «qui lui ressemblait comme un frère», e esse ficou aqui fora, neste mundo de mentiras, apesar de não ser fantástico, fingido ou mentiroso. Continua cada vez mais vivo e verdadeiro. Tem cem anos e é sempre jovem: prodígio bem simples para ele - Júlio Dinis, poeta da mocidade e da graça

Saibamos viver com juventude e na graça, como Júlio Dinis, Fran Paxeco. Elza Paxeco e sua filha, e que o Amor e a Sabedoria do Espírito Divino nos interligue e inspire, harmonize e eleve!

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

As declarações do Presidente do Irão Ebrahim Raeisi, nas Nações Unidas, acerca da actualidade, e do falhanço da americanização do mundo.

 A importância do que se está a passar na luta entre a ordem mundial neo-liberalista e norte-americana contra a nascente multipolaridade fraterna e justa, liderada pela Rússia, a China, o Brasil, a Índia, a Africa do Sul  e os outros países novos do BRICS, tem no Irão outro país bem valioso pela sua civilização tradicional milenária e grandes místicos e poetas, tais como Sohrawardi, Ruzbehan, Rumi, Saadi, Haafiz e pela exemplar heróica resistência a guerras, terrorismos e sanções, na qual se destacou, após os milhares e milhares de mártires da guerra com Iraque, mais recentemente, o general Soleimani. 

As declarações do seu Presidente Ebrahim Raeisi,  nestes momentos decisivos da história do séc. XXI, são então valiosas de serem conhecidas, face ao bloqueio censurador pela elite ocidental dos media alternativos ou multipolares, pelo que da agência de informação iraniana Presstv.ir traduzimos as partes divulgadas por ela do seu discurso, sob o título Presidente Raeisi nas Nações Unidas: O projecto da Americanização global falhou.

«Na sua intervenção na 78ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU), a 19 de Setembro de 2023, o Presidente do Irão Ebrahim Raeisi declarou que o projeto de americanização global fracassou.
"O mundo está numa transição irreversível para uma  ordem nova. A equação da dominação ocidental já não serve o mundo, e a velha ordem liberal, que servia os interesses dos imperialistas e dos capitalistas insaciáveis, foi posta de lado", disse Raeisi na sessão de terça-feira, em Nova Iorque.
"O projeto de americanização do mundo fracassou", disse Raeisi, acrescentando: "A nação iraniana orgulha-se de ter desempenhado, graças à Revolução Islâmica, o papel mais importante no desmascaramento dos imperialistas do Oriente e do Ocidente".

Política regional e internacional do Irão.
Noutra parte do seu discurso, o Presidente referiu que o Irão tinha aberto um novo capítulo de relações mutuamente benéficas com os seus vizinhos.
"A política de vizinhança da República Islâmica é uma política benevolente para a região. Apertamos com firmeza qualquer mão que nos seja estendida com amizade", disse Raeisi.
A República Islâmica apoia a máxima convergência económica e política intra-regional e inter-regional e está interessada em interagir com o mundo inteiro na base da justiça, afirmou.

Sobre a profanação do Alcorão.
O presidente Raeisi condenou, entretanto, a profanação do sacro Alcorão na Suécia e na Dinamarca, no início deste ano.

"O Nobre Alcorão baniu a afronta às ideias e às crenças...", recordou, perguntando: "O que é que melhor caracterizará a humanidade e elevará os valores humanos  do que a palavra de Deus Todo-Poderoso?"
"Esta não é a primeira vez que queimam as palavras de Deus e supõem que abafam a voz do Céu para sempre", disse e acrescentou: "Mas os ensinamentos do Alcorão para as comunidades humanas nunca arderão, e as chamas do insulto e da distorção não serão um adversário à altura da Verdade".
Raeisi afirmou que a islamofobia, qualquer que seja a sua forma, quer se trate de queimar o sagrado Alcorã
o  quer seja o proibir nas escolas as regras ou código de vestuário islâmico, equivale a fomentar o ódio.
"Há um objetivo maior por trás destes casos de ódio, e é errado aceitá-los sob o direito à 'liberdade de expressão' ", advertiu o estadista iraniano.

O Irão está contra a divisão do mundo num novo "Leste e Oeste".
Agora que os países independentes do mundo estão a caminhar para uma maior cooperação e convergência, disse Ebrahim Raeisi, "estamos a assistir ao esforço por parte de algumas potências para acender as chamas do conflito através de várias regiões".

Mantendo uma mentalidade de Guerra Fria, estas potências estão a dividir a comunidade internacional nos seus antigos blocos, disse ainda o chefe do governo iraniano.
"Esta medida é reacionária e não serve a segurança e o bem-estar das nações. A República Islâmica acredita firmemente que não se deve permitir que um novo Leste e Oeste tome forma."

A nação iraniana vitoriosa face às conspirações estrangeiras.
Ebrahim Raeisi saudou o facto de, no ano passado, a nação iraniana ter conseguido ul
trapassar "a maior ofensiva mediática e a maior guerra psicológica da sua história".
Referia-se à incessante campanha mediática e política que se seguiu à infeliz morte aquando da detenção pela polícia de uma jovem iraniana, Mahsa Amini.
O Presidente afirmou que, nos seus esforços para semear o caos em todo o país através da utilização abusiva da tragédia, alguns países ocidentais e os seus serviços secretos cometeram um "má avaliação" ao subestimarem a força 
da nação iraniana.

A abordagem selectiva ou discricionária do Ocidente em relação ao terrorismo.
Ebrahim Raeisi denunciou alguns E
stados ocidentais por "utilizarem o terrorismo como instrumento de política externa".
Recordou que alguns países europeus, apesar de afirmarem lutar contra o terrorismo, se transformaram num refúgio seguro para um grupo terrorista que derramou o sangue de mais de 17 000 civis e funcionários iranianos, referindo-se à Organização Mujahedin-e-Khalq (MKO).
"A discrim
inação na luta contra o terrorismo serve de luz verde para os terroristas", advertiu Raeisi.

Israel não pode ser um parceiro para a paz.
O presidente iraniano considerou que o regime israelita é a última entidade do mundo "baseada no apartheid e no racismo, e que foi fundada com base na guerra, ocupação, terrorismo e violação dos direitos dos povos".
Uma tal entidade "não pode ser um parceiro para a paz", afirmou.
"Não terá chegado o momento de pôr fim a 75 anos de ocupação da terra da Palestina, de opressão do seu povo e de massacre das suas mulheres e crianças, e para se reconhecerem os direitos da nação palestiniana?"

Sobre a guerra na Ucrânia.
Ebrahim Raeisi reafirmou a oposição do Irão à guerra em curso na Ucrânia.
"Não consideramos que a guerra na Europa seja do interesse de qualquer partido europeu", afirmou.
"O Irão apoia qualquer iniciativa que vise pôr termo ao conflito e iniciar o processo político", afirmou, e manifestou a disponibilidade da República Islâmica para desempenhar um papel construtivo no sentido da cessação das hostilidades.»

Acrescente-se que no dia 20, como noticia a TASS, em conferência de Imprensa  o Presidente do Irão Ebrahim Raeisi esclareceu que "os países da NATO estão fornecer armas à Ucrânia. Os que beneficiam do conflito não querem o fim do conflito", apontando assim o dedo ao poderoso grupo de pressão da indústria anglo-americana e europeia de armamentos. Por outro lado, como noticia a Presstv.ir,  Ebrahim Raeisi recebeu vários rabinos anti-sionistas num diálogo amistoso, já que com o Cristianismo constituem as três Religiões do Livro dito revelado divinamente, algo que muito provavelmente se pode alargar a outras
                                                          
Entretanto no dia 22
foi anunciado por Mohammad Jamshidi, vice-chefe de gabinete do presidente iraniano Ebrahim Raeisi para os assuntos políticos, que o Secretário-Geral das Nações Unidas António Guterres terá acolhido favoravelmente uma proposta apresentada pelo presidente Ebrahim Raeisi, aquando da 78ª sessão da Assembleia Geral da ONU, para que as forças militares iranianas actuem como forças de manutenção da paz em todo o mundo.

Pandora ou Psiché aguarda que o escrínio ou graal de cada  coração liberte impulsões e dinamize acções para o Bem, a Verdade e a Justiça no Mundo! Aum...

sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Aleksandr Dugin: "O que se está a passar de errado com o Ocidente?" Satanismo? 2ª p. Tradução, com brevíssima introdução de Pedro Teixeira da Mota.

Segunda e última parte da entrevista de Peter Vaslov a Aleksandr Dugin realizada no final de Agosto de 2023. O 1º parágrafo, já  inserido na 1ª parte publicada, serve para contextualizar a continuação deste magnífico apelo à luta pela sobrevivência e vitória de uma humanidade espiritual, tradicional, livre e multipolar face ao embate com o Ocidente satanizado pelos seus governantes visíveis e na sombra, luta esta liderada sacrificialmente pela Rússia, que já na 2ª grande guerra, contra a Alemanha hitleriana, a Itália e o Japão, ofereceu mais de 20 milhões de almas mártires na sua resistência heróica.
                                
                       
      De Nicholas Roerich...
Destaquemos a distin
ção entre os aspectos decadentes e os satânicos, os primeiros mais comuns, menos graves e em geral  apreciados, tal como a substituição do amor  a Deus pelo amor aos objectos e a actividades vis ou negativas. E ainda o apelo a consciencializar-nos da batalha tremenda que se está a travar,  à custa do sangue eslavo entre o satanismo Ocidental e a Rússia tradicional, "portadora de Deus", como tantos starets e peregrinos, filósofos e artistas sentiram, realizaram e ensinaram. Dessas muitas grandes almas, ligadas à demanda do espírito, ou que "mantêm a imagem de Deus", poderemos citar e invocar S. Serafim de Sarov, Tolstoi, Dostoievsky, Soloviev, Berdiaev, Florensky, Roerich ou mesmo a jovem Daria Dugin. Oiçamos então de novo Aleksandr Dugin:

De Nicholas Roerich, a Bandeira da Paz pela Cultura

«Como escreveu Michel Foucault: a decomposição é a ultrapassagem da lei, a transgressão. Ora no Ocidente não há mais lei, nem virtude, nem fronteira e, por conseguinte, não há mais vício, sobretudo depois de legalizado. Se as pessoas considerarem o vício como uma convenção social, então não há vício de todo. Existe apenas um "alargamento da experiência", uma "libertação de preconceitos" - tais como a vergonha, a consciência, a moralidade, a virtude, a inocência, o auto-controle. Quando algo deixa de ser considerado um vício ou um crime torna-se desinteressante, pouco atractivo, e é preciso passar a outra coisa: mudar de sexo vinte vezes, confundir-se com os animais, ladrar, andar a quatro patas, exigir que as crianças que pensam que são gatos sejam alimentadas numa bandeja pelos professores na escola.
A decomposição não tem limites, e quando a decomposição é legalizada e
la deixa de ser atractiva sendo então necessárias novas formas. O Marquês de Sade, um dos arautos da "civilização satânica" ocidental, dizia que o mais importante no vício é a inovação.

- Esta paixão pela decadência e pela autodestruição existe em nós desde o início?
- Se considerarmos a situação [da vida] sem Satanás, existe então apenas o ser humano e a aspiração à divinização do homem, e  neste caso a recusa do homem de fazer um esforço e ascender em direção à salvação da alma, ao paraíso e à imortalidade poderia ser atribuída a causas naturais, tais como à inércia, à matéria, ao corpo. Elas pressionam o homem a não manter a imagem de Deus, a dispersá-la em objetos materiais, em atrações vis. Mas isto não é satanismo, é simples decadência humana. O satanismo começa quando o processo de decomposição é associado a uma vontade, a um plano, a um espírito, pois os espíritos caídos, segundo o cristianismo, não são simplesmente materiais (os espíritos não são materiais), são espirituais, inteligentes, têm vontade e uma mente. Um demónio é um sujeito. Portanto, o satanismo deve ser entendido estritamente como uma estratégia de decomposição, a vontade de decomposição, a elevação da decomposição a uma ideologia, a um programa, a um projeto. Esta não é apenas um simples instinto animal. Esta vontade, que vem das profundezas da ontologia, que vem da mente, do espírito [diabólico ou Satã], é imposta, como dizem os ascetas ortodoxos, através de prilogias [em francês está prilogie, e provavelmente será pré-logias] e acrescentos.

 - Dizemos: isto é satanismo, mas continuamos a existir no sistema criado pelo Ocidente. Qual é a probabilidade de um novo confronto global com o Ocidente, tal como nos dias da URSS?
- Na verdade, já estamos em estado de guerra de civilizações, na qual o nosso inimigo - a civilização do Ocidente - é chamada pelo seu verdadeiro nome. É uma civilização satânica,  combatendo Deus, sendo anti-Deus e sendo anti-humana. Nós designámo-la com um nome, mas surge a pergunta: se eles são uma “civilização satânica”, quem
somos nós?
Verifica-se que o
nosso único caminho é o de sermos uma civilização tradicional e religiosa, unificadora das várias confissões tradicionais, e para isto teremos de ser diferentes. Fundamentalmente, precisamos de repensar o nosso estado interior. O que eles são já designámos e o que somos ainda não compreendemos ou realizámos bem. Já estamos em guerra com Satan, mas ainda não sabemos em nome de quem. Não temos porém muita escolha a fazer, pois ela é-nos sugerida pelos nossos antepassados, pelos nossos grandes escritores, filósofos, pensadores, anciãos, escolha esta sugerida portanto pela nossa cultura: - somos a Santa Rússia, somos um povo que leva em si Deus.
                                              On This Day in 1880 Poet Alexander Blok ...
Podemos, é claro, cair - Aleksandr Blok (1880-1921, último poeta romântico] viu a Rússia cair. Blok chamou a Rússia de "a Alma do Mundo", mas acreditava piamente que nós, russos, como a alma do mundo, havíamos caído para elevar-nos. Ainda não conhecemos plenamente quem somos, o que somos chamados a fazer, pelo que lutamos e estamos a dar o nosso sangue e a nossa vida nesta luta. Apenas começámos a travar esta guerra, não só para nos empenharmos nela, mas sobretudo para a levar a bom termo. E esta guerra passou agora de uma batalha massacrante física para um confronto metafísico de civilizações. O que nos falta fazer é um esforço fundamental para finalmente esquecermos [ou ultrapassarmos] a cultura decadente dos últimos quarenta anos.
Lembro-me da
cultura decadente da última década da era soviética. Decadência total, degeneração total. E, sem surpresa, isso foi seguido pelas monstruosas alucinações dos decrépitos anos 90. Tendo percorrido todo o caminho, até às profundezas dos anos 90 - parece-me que a história russa nunca nos levou tão baixo - começámos a emergir dessa era de pesadelo de ditadura liberal graças a Vladimir Putin. Não de um abismo localizado, mas de um pico mortal, do ponto mais baixo da história russa, do ponto mais baixo e escuro. Face a este ponto mais baixo, sabemos o que é Satanás, não só por fora, mas também por dentro. É por volta dos malditos anos 90, quando o Ocidente veio até nós, quando éramos comprados por quinquilharia, humilhados, pisados, violados e forçados a aplaudir.
                                     
​Então o
 Aleksandr Dugin não pensa  de modo alguma que vamos fazer as pazes com o Ocidente, estabelecer compromissos?  

- Satanás, vendo que alguém o desafiou, não nos deixará voltar a soluções mornas. Ele vai exigir agora que renunciemos finalmente a Deus, algo que não fizemos mesmo nos piores tempos de ateísmo e impiedade. É um mistério, e não podemos explicá-lo racionalmente, mas continuamos a ser um povo portador de Deus mesmo nos tempos soviéticos - apesar do ateísmo, do materialismo, do progressismo, da "visão científica do mundo", de todas as formas de degenerescência do Ocidente..... 
Desta vez, se fizermos marcha atrás, a mente russa não terá mais buracos [ou recursos últimos] secretos. Há, portanto, apenas uma perspectiva: ganhar ou não ganhar nada. Como disse o presidente [V. Putin]: "Se não ganharmos, ninguém ganhará. Temos aliados - outras sociedades tradicionais, não são como nós, mas são tradicionais, também estão em oposição ao Ocidente, talvez possamos alcançar com eles o mundo multipolar na união de tradições e civilizações. Só então poderemos ter uma conversa mais equilibrada com o Ocidente, explicar-lhe a nossa posição - porque não queremos seguir o seu caminho para o abismo.
 Talvez o conflito passe para uma fase mais ígnea e, quem sabe, terminará na morte da civilização humana [ou de parte dela...] Estamos à beira de uma transformação tão fundamental e decisiva que não nos podemos permitir-nos o planear a longo prazo. Tudo se joga agora: o destino da humanidade, do ser humano, de Adão enquanto tal [mito da primordialidade humana]. [Joga-se ou luta-se por...] O destino da existência, e tal diz-nos respeito. Se vencermos, o mundo será completamente diferente, se não ganharmos, não haverá mundo [verdadeiro, justo, fraterno, espiritual, não satânico]. Sem os russos, é impossível.»
 Fonte: https://portal-kultura.ru
Tradução a partir da versão francesa de Robert Steuckers.
                                               

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Aleksandr Dugin: "O que se está a passar de errado com o Ocidente?" Satanismo? 1ª p. Tradução, com breve introdução de Pedro Teixeira da Mota.

De Bô Yin Râ...

Se o Satanismo reentrou no vocabulário corrente do séc. XXI isso não significa que desvendações dos enigmas respeitantes a Satan tenham ocorrido, mas apenas que o seu culto foi assumido por pessoas e grupos, em especial nos USA, ou que a sua presença ou influência foi diagnosticada ou discernida neles, embora muito permaneça secreto ou então seja do foro subjectivo e portanto incomprovável e inimputável objectivamente.
Com efeito quem foi ou é Satan, ou Lucífer, ou o Diabo, mensageiro ou espírito celestial revelado na Bíblia e que foi adquirindo diferentes significados ao longo dos tempos e nas três Religiões do Livro, com raízes nas que as precederam, continua a ser um mistério e poucos dos crentes na sua existência verdadeiramente o terão entendido, e mesmo entre os teólogos e filósofos muitas dúvidas e diferenças subsistem. Algo disso partilhei para este blogue num texto de há sete anos: https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2016/10/tarot-xv-o-diabo-imagens-arquetipas.html
Também herméticos, gnósticos, ocultistas e esoteristas tentaram discernir quem seria esse espírito celestial revoltado ou caído, quem seria esse opositor de Deus, para alguns sendo mesmo o princípio do mal eterno. Mas também se questionou quem o acompanha, onde se encontra, quem consegue ele controlar, como o reconhecer e vencer. Anote-se  que vários deles, instrutores e grupos, estavam mais ou menos enrolados em malhas diabólicas.
Já Satan como personificação do mal, da oposição a Deu, ou às qualidades divinas, como a Verdade, a Justiça e o Amor, esse é reconhecido e compreendido por muita gente e a famosa expressão de Jesus, vade retro Satanas, "afasta-te de mim, não nos tentes, Satanaz", é bem conhecida e volta e meia exclamada quando alguém nos impressiona por estar a servir de agente de tentação para o mal, seja a mentira, a crítica malévola, o roubo, a corrupção, a violência, a crueldade, a recusa do bem e do amor, a ambição ou hubris, tal a da tentação da serpente no mítico paraíso, e que de facto sendo tão frequentes em algumas pessoas, instituições ou Estados, levam-nos a denominá-los de satânicos, de diabólicos.
Uma designação de satanismo que se tem afirmado, resultando da observação e análise do que tem sido o seu comportamento e a mentalidade, e como tais defeitos se manifestam constantemente, é hoje bastante  aplicada ao violento e opressivo império Norte-Americano e seus coligados, e com razão. Ou mesmo à civilização Ocidental moderna, devido a diversos factores, entre os quais se destacam a sua americanização, a constituição de uma União Europeia que não representa de modo algum os interesses dos europeus comuns mas apenas os da elite política corrompida e que muito se tem esforçado pela desagregação moral, ética, religiosa, espiritual e tradicional da Europa.
Como não li o text
o de Dugin antes de escrever esta contextualização prefacial, creio que estes e outros aspectos serão bem abordados e clarificados pelo tão lúcido quão corajoso filósofo Alexandre Dugin, pai da malograda filósofa e mártir da Liberdade e do Conhecimento, Darya Dugin Platonova. Muita luz e amor na sua alma!
                             
«Este texto foi publicado no númer
o 8 da versão impressa da revista Kultura, em 31 de agosto de 2023, sob a temática: O que se está a passar de errado com o Ocidente? [E sob a epígrafe: Satanismo é antepor a matéria ao espírito...]

O nosso entrevistado é o filósofo, cientista político e sociólogo russo Aleksandr Gelievich Dugin, professor na Universidade Estatal Lomonossov de Moscovo. [Eis a primeira pergunta que Peter Vlasov lhe dirige:]
- Aleksandr Dugin, é cada vez mais frequente ouvirmos os líderes do nosso país definirem a civilização ocidental moderna com a palavra "satanismo". Como entende isto e o que pensa de tal?
- O presidente [Vladimir Putin] declarou que o Ocidente é uma "civilização satânica" no discurso que proferiu aquando da admissão de novos membros no seio da Federação Russa. Devemos tomar isto a sério e tentar compreender o que se esconde por detrás desta declaração, tanto mais que foi depois repetida por numerosas personalidade políticas e públicas importantes. Parece-me tratar-se de uma afirmação muito séria e profunda.
Após o início da Operação Militar Especial, começámos a aperceber-nos cada vez mais claramente de que algo estava errado no Ocidente. A civilização ocidental moderna ou se desviou do caminho que estava a seguir quando a aceitámos, acolhemos, imitámos ou, o que é ainda mais provável, algo está errado há muito tempo. Uma civilização que admiramos, na qual nos procurámos integrar, cujos valores e regras partilhamos e  que abraçamos com toda a nossa alma, pode-se revelar subitamente satânica?
Paralelamente, vemos a questão dos valores ser posta a diferentes níveis no nosso Estado. Começamos a repetir: estamos a defender os nossos valores. Há um ano, o Presidente adoptou um decreto sobre a defesa dos valores tradicionais, entre os quais a superioridade do espírito sobre a matéria. Isto é absolutamente espantoso! Os valores tradicionais da Rússia são reconhecidos como sendo, se quisermos, o idealismo, a religiosidade, o domínio do espírito. E, evidentemente, se começamos a ver-nos - não ainda com confiança, mas cada vez mais - como portadores de valores tradicionais, é precisamente face a esses valores tradicionais, que estamos  a descobrir em nós próprios, que começamos a compreender, a apreender e a defender.
Face a estes valores, é evidente que os valores ocidentais assemelham
-se a puro e simples satanismo, sendo todos o contrário dos nossos. Baseiam-se na ideia de que a matéria é primordial em relação ao espírito, que o homem é apenas um ser bio-social e que é um reflexo cognitivo do mundo exterior. O Ocidente vê o homem como um animal evoluído que chegou à sua fase final, para passar  a iniciativa a uma espécie pós-humana, às construções transhumanistas, a ciborgues, à inteligência artificial. E a preparação, o aquecimento, é a política de género, em que mudamos de sexo de acordo com os nossos desejos - ou mesmo conforme os caprichos - e brevemente da espécie, em que escolhemos pertencer ao sexo masculino, a uma categoria de máquinas ou a uma espécie animal, algo que tem sido objeto de discussões sérias ao mais alto nível das personalidades ocidentais.
Tendo descoberto que o Ocidente é monstruoso e que se está a separar da espécie humana diante dos nossos olhos, a Rússia distanciou-se dele. Um problema local, o conflito com a Ucrânia, levou-nos subitamente a conclusões fundamentais: o Ocidente está no caminho errado, arrasta a humanidade para o abismo e temos de o enfrentar. Este é o dado novo mais importante, algo de absolutamente incrível, porque até agora tínhamos-nos limitado modestamente à luta pela soberania.
E
é aqui que o conceito de "satanismo" adquire pela primeira vez um significado muito sério. Não se trata apenas de um movimento oculto marginal, pois o satanismo existe no Ocidente, há a Igreja de Satã de Anton LaVey, há até o satanismo direto da escritora ultra-capitalista Ayn Rand (Alice Rosenbaum) - que era aliás popular entre os oligarcas russos e os liberais nos anos 1990. Mas, no conjunto trata-se de fenómenos marginais, seitas ocultistas e produções teatrais. Pelo "satanismo da civilização ocidental", Vladimir Putin queria dizer outra coisa, algo muito mais profundo. O satanismo é o primado da matéria sobre o espírito, o relativismo pós-moderno, ou seja, a relatividade de todos os valores, incluindo os do ser humano e do espírito. E este é o caminho que o Ocidente tomou de empréstimo, não ontem, mas há cerca de 500 anos, com o início da Nova Era.
Quem é Satanás? Não há Satanás quando não há Deus, nem fé, nem religião. Este termo permanece vazio, se para nós os termos "Deus", "fé", "eternidade", "imortalidade", "ressurreição dos mortos", "juízo final", "salvação da alma"... são igualmente vazios [embora tenham bastantes leituras segundo os níveis de interpretação que usarmos]. Se seguirmos a imagem científica ocidental moderna do mundo, é evidentemente ridículo falar de satanismo, porque não há Deus, nem  diabo, nem fé, nem alma imortal, nem vida pós-mortal, mas apenas uma flutuação de unidades biológicas, de átomos, que se colam uns aos outros, se separam e depois desaparecem no abismo do espaço negro e morto. É mais ou menos esta a imagem do mundo que se impôs no Ocidente há 500 anos, e que é geralmente designada por "imagem científica do mundo". Foi acompanhada por uma descristianização progressiva e completa da cultura ocidental. Assim, Satanás, enquanto fenómeno, desapareceu da "representação científica do mundo" ao mesmo tempo que Deus. Quando afirmamos seriamente que a civilização ocidental é satânica, chamamos a atenção para o facto de que essa [representação] é uma conclusão precipitada, incorrecta, prematura e, de facto, profundamente errada. Distanciamo-nos erradamente da tradição, do espírito, de Deus, da religião, e foi aí que começou a era moderna da Europa Ocidental. Observámo-lo sem qualquer pensamento crítico desde o século XVIII, quando fomos arrastados pelo Iluminismo europeu. Mas até 1917, mantivemos de alguma forma o carácter religioso da nossa sociedade. Depois mergulhámos no abismo do materialismo e, após o colapso da URSS, descemos ainda mais fundo nesse abismo - para um materialismo capitalista liberal ainda mais desenfreado e flagrante.
E acabámos por nos encontrar na periferia da civilização satânica ocidental, enquanto sua província.
Por outras palavras, o conceito de Satanás, assume hoje, no contexto da guerra contra o Ocidente, um significado completamente diferente na nossa sociedade do que o conceito de Deus. Se existe Deus, se existe a fé e a Igreja, a Tradição e os valores tradicionais, isso significa que existe também a antítese de Deus, aquele que se rebelou contra Deus. É então que a história do Ocidente, a história do chamado progresso, a era da modernidade dos últimos 500 anos, é colocada sob uma luz completamente nova. Verifica-se que o Ocidente rejeitou Deus, e disse: - "não há Deus nem diabo", e o Diabo, após algum tempo, como que objectou: - "não há Deus, mas sou eu, porque fui eu que vos disse que não havia Deus".
                                     
- Aquilo a que chamais satanismo
 pode ser considerado como uma construção ideológica, ou trata-se simplesmente dum princípio de negação, de destruição?

- Não devemos começar com o satanismo mas por Satã, pela figura que chamamos por esse nome, pois se formos crentes, é um facto ontológico para nós. Para os não crentes, o satanismo não faz sentido.
Quem é Satanás, quem é Lúcifer? Ele é um anjo, um espírito celeste eterno. É a primeira criação suprema de Deus que se rebelou contra Deus. É a origem de todos os ataques a Deus, do materialismo, do ateísmo, de todas as noções segundo as quais as pessoas sem Deus podem construir um mundo melhor. Encontramos este princípio no humanismo [não cristão, ou materialista], no desenvolvimento da ciência moderna e na doutrina social do progresso. Satanás não é apenas destruição ou entropia, mas uma vontade consciente de destruir. É a rebelião, a destruição da unidade em nome do triunfo da 
multiplicidade.
Não é a
penas um enfraquecimento da ordem divina, é a vontade de a partir. Quando o corpo está enfraquecido, é uma coisa, mas quando há uma força, como o cancro ou outra doença natural, que puxa o corpo para a decomposição, é outra. Satanás é o espírito ou vontade de se decompor, e não apenas a decomposição em si, que  é já uma consequência dele. De certa forma, é uma crença, uma religião, uma anti-igreja. É a "igreja negra" encarnada na cultura ocidental moderna, na ciência, na educação e na política.
Vemos aqui não só a decadência, mas também a recusa de construir a ordem,
a hierarquia, de elevar os princípios da ciência, do espírito, do pensamento, da cultura à mais alta unidade, como na civilização tradicional, no início da hierarquia - porque a hierarquia terrestre imita a hierarquia angélica. A esta recusa de fazer o bem junta-se o desejo de fazer o contrário, de fazer o mal. Quando se olha para os ucranianos, Biden, Soros, Macron, vê-se um desejo de destruição activo e agressivo.
O satanismo p
ressupõe necessariamente uma estratégia consciente e uma impulsão voluntária as quais geram um movimento poderoso nas massas humanas. As massas podem destruir a cultura tradicional pela sua estupidez, a sua passividade, a sua inércia - é  propriedade da massa enquanto tal, mas alguém empurra esta massa numa direção destrutiva, alguém a dirige, a orienta. É aqui que entra o princípio do sujeito oposto a Deus (assim que  ao homem no seu sentido mais elevado). Encontramo-lo em todas as religiões: é a vontade consciente do sujeito de construir uma civilização anti-Deus, invertida. Não se trata apenas de destruir o que existe, mas de criar algo desagradável, algo perverso, como as mulheres barbudas LGBT do Ocidente.

- Há nisso uma imagem do futuro?
- René Guénon, filósofo e defensor de uma sociedade espiritual tradicion
al, chamou-lhe a Grande Paródia. É a isto que conduz a civilização satânica. Se, no primeiro estágio do materialismo, o objetivo era negar toda a espiritualidade, ou seja, afirmar que não há espírito, mas apenas a matéria, o homem, o mundo terreno, progressivamente, à medida que esta grande Paródia toma forma, surge um novo projeto: não apenas a rejeição da Igreja, mas a construção de uma anti-Igreja, não apenas o esquecimento do espírito, mas a criação de uma nova espiritualidade invertida. Começamos por destruir a Igreja, comparamos tudo à terra, só resta o homem, mas depois começamos a construir um templo subterrâneo para baixo, na direção oposta, fazemos um buraco na matéria. O escritor francês Raymond Abellio [1907-1986] escreveu um romance chamado O Fosso da Babilónia, que trata da construção da civilização no sentido subterrâneo. Esta hierarquia invertida, este poder invertido, esta espiritualidade invertida, eis o que é o satanismo ocidental.
Tem-se a impressão de que até os vícios são invertidos. Não percebo absolutamente como é que alguém pode ser seduzido por tais coisas, pelos desvios que hoje fascinam o Ocidente.....
Ao contrário das virtudes, os vícios mudam, pois as virtudes são imutáveis e os vícios estão sempre a progredir. Para uma pessoa progressis
ta, a devassidão do "antigo Regime" deixa, a certa altura, de excitar e afetar. Quando uma pessoa para num certo nível de vício, quando se imobiliza, já não parece um vício. O vício é uma decomposição progressiva, e a decomposição não tem limites, não se pode decompor até um certo ponto e ficar lá. Um homem precisa de algo que o agarre e o arraste cada vez mais para baixo, a decomposição tem de ir cada vez mais longe.
A próp
ria história da depravação ocidental é uma história de progresso. Em cada etapa, novos vícios são descobertos,  a própria perversão torna-se a norma. Por exemplo, actualmente, a homossexualidade no Ocidente é reconhecida como norma, já não é um vício, pelo que temos de ir mais longe, em direção à pedofilia, ao incesto, ao canibalismo, à mudança de sexo.... Tudo isto é impulsionado pela legislação. O legislador ocidental apressa-se a reconhecer a decomposição, a legalizar o que ainda ontem era proibido e imoral....
Como esc
reveu Michel Foucault: a decomposição é a ultrapassagem da lei, a transgressão. Ora, no Ocidente não há mais lei, nem virtude, nem fronteira e, por conseguinte, não há mais vício, depois de legalizado. Se considerarmos o vício como uma convenção social, então não há vício de todo. Existe apenas um "alargamento da experiência", uma "libertação de preconceitos" - tais como a vergonha, a consciência, a moralidade, a virtude, a inocência, o auto-controle. Quando uma coisa deixa de ser considerada um vício ou um crime, torna-se desinteressante, pouco atractiva, e é preciso passar a outra coisa: mudar de sexo vinte vezes, confundir-se com os animais, ladrar, andar a quatro patas, exigir que as crianças que pensam que são gatos sejam alimentadas numa bandeja pelos professores na escola.
A decomposição não tem limites, e assim que a decomposição é legalizada e
la deixa de ser atrativa são então necessárias novas formas. O Marquês de Sade, um dos arautos da "civilização satânica" ocidental, dizia que o mais importante no vício é a inovação.»

 Fim da 1ª parte. Continua... 

De Bilibin...

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Bô Yin Râ, "Spirit and Form". Summary of the book "Geist und Form", with small hermeneutic.

As an artist and spiritualist, as a master who demanded great perfection in his life and work, both in painting (as you can see in this article) and in writing, with some books worked and remodelled until they reached the best form of inner spiritual transmission, Bô Yin Râ (1876-1943, and you'll find plenty about him on this blog) had to clarify, from the perspective of the Spiritual path, aspects and issues related to the use of objects, clothes, forms, instruments, houses, as well as the main emotions, happiness and unhappiness, joy and pain.
It was in a small book published for the first time in 1925, Geist und Form, or Spirit and Form, divided into six chapters, that Bô Yin Râ addressed the relationship between this duality, which often tends to be unbalanced or disharmonised, even with "good" intentions and detachment.
 In Chapter I, entitled The Question, Bô Yin Râ tries to awaken people who are, or want to be, on the spiritual path to the importance of better harmonising their relationship with the world of forms or matter, reminding those who despise material forms or coverings, that without them, spirits would not be able to express themselves fully, so we must surround ourselves with forms that are transparent to this lofty goal, even stating: "just as a precious wine is not served in mediocre clay jugs, for that would be to insult its quality, in the same way the simple respect due to the spirit demands that you only be satisfied with the most perfect form, from the moment you want to become a temple of the Spirit. Your outward behaviour must incessantly testify to this respect," so even your outward appearance must manifest this and inspire it in others. There is therefore a goal or objective to be achieved in the inner form, in the soul, to be a temple of the Spirit, to respect it and manifest it with the appropriate forms and means. 
In Chapter II, Exterior and Interior, Bô Yin Râ shows that the exterior always has an interior and that this interior is even linked to an even deeper and more spiritual interior, but that all levels imply forms in order to be perceived by us, and that everything around us invites us to go deeper than mere appearances. And if we constantly attempt this quest, we will be presented with the revelation of the essences of things and beings.
He therefore warns that every "form of the inner world is always an expression of something arch-interior, which would never exist for you if you didn't discern it in yourself as a form", and so this discernment of the interior expressed by forms will be the best way for us to be able to find the deep inside in the forms of the spiritual world, even in the post-mortem world.
Forms will not be disregarded in this way, nor will those that are already in disuse, such as clothing, be pretentiously used. Care must also be taken in rejecting social forms, such as the institution of marriage, which, although it is possible to make a mistake in the choice, is still valid in order to avoid "starting to uproot everything that humanity had planted in order not to succumb to the storm of misguided instincts and uncontrolled passions."
In Chapter III, The House and its Decoration, Bô Yin Râ urges us to value more our influence on the house, whether we build it ourselves, give the plans to those who will build it, or mould it, adapt it, impregnate it, because what counts most is "the way you make this space your own".
Recognising the energies and the patina or aura of objects that have already come to us from other people, "the way you use the old, today in the external decoration of your life, will always give the objects a new value that can only emanate from you", thus valuing our participation, even affirming that everything around us should receive a share of our love, and no detail in the house should escape our attention, awareness and love. In his book Cult Magic and Myth, he explains how certain objects that are energetically charged by us become talismans, that fortify us, especially in times of greatest need.
For Bô Yin Râ, the home should be an oasis, a place where everything transmits or "impels us to joy and a warm, pure spiritual joy". And even those who have little money must ensure that there is harmony and dignity in the order and decoration of their home or workplace.
In other words, after any negative situation, when you get home you should be able to "quickly return to yourself and to your highest level", because the objects that surround you "will remind you of the best aspects of your sensitivity, they will speak to you from within your own universe, they will bring you calm and serenity". We can therefore add that in these minimalist times of post-modernity, cutting down on the objects of ancestors or friends, the belittling of such objects from the past or associated with sentimental memories, ends up weakening the protection of the aura of both our home and soul...
And he asks a remarkable question: "You who want to perceive inwardly the voice of the eternal Spirit, how can you bear to be surrounded by things that want to look like what they are not - that are like an insult to the law of form?"
And this law is that "any form is always a symbol, an integral part of a language that has something to say".
For those who want to be a temple of the Spirit, all elements or utensils incompatible with this quality or dignity must be removed: "Be vigilant so as to surround yourself only with objects for which you will one day be able to answer to the Spirit you seek to find in yourself."
And since the Spirit you want to unite with "is harmony, purity, light and truth", you should surround yourself with forms that you feel to be true and pure, excluding what in its form reveals itself to be "not true, or that becomes false because it does not harmonise with your sensibility".
In Chapter IV, The Form of Joy, Bô Yin Râ reminds us that we must know how to give form, limits and control to our instincts and passions, if we want to cross this high sea of waves and storms and reach a safe harbour.
Rather than getting lost in our joys, we must shape them nobly, according to our individuality and eternal specificity, and we must also know how to respect the joys of others, in whatever form they deserve, but without them, or what they think of ourselves, determining us on our path of realization of the plane of our life and its joys.
In Chapter V, Form of Suffering, Bô Yin Râ develops the same idea of giving form not to joy but to pain in such a way that it becomes bearable. The method is to accept it at that moment as being "clearly linked to the form of life that corresponds most closely to us - as being unable to be otherwise" and then go on to overcome it.
Thanks to the formative action of the Spirit, and a devaluation or even belittling of pain, both physical and moral, we end up not allowing ourselves to be defeated or overcome by it: "You must rise above it and learn to command it.
You are what remains. Pain is ephemeral and it lies when it tries to make you believe in its durability. 
You must truly value yourself more than suffering, for it is in yourself that the radiant and shining light of the Spirit wants to reveal itself to you."
In the sixth and final chapter, Art of Living, Bô Yin Râ argues that life, although made up of materials that are given to us, depends on us through the way we look at them, accept them and work with them, and according to the internal plan or project of our life that our soul grasps or perceives. Something that in India was called, we might add, swadharma, the personal mission or duty, in the general Dharma or planetary Order.
So if "every earthly day brings you new material with which you can build your spiritual life in an artistic way.
However, it is up to you to work the raw material in such a way that it adapts to the sublime project that your soul discovers in the depths of itself."
In this way, faced with what each day brings us, we must ask ourselves how we can quickly shape it so that it serves our subtle spiritual temple.
For this task of intuiting and following the plan of our spiritual life requires, Bo Yin Râ challenges us, "that as soon as you hear these words of mine, you should begin to search the innermost vault of your soul for the building plan.
It is in a safe place and you will discover it if you look for it with all the calm that comes from complete certainty.
It's not a hasty search that will get you there.
And once you've found it, get down to work and stay faithful to the task at hand."
It is during the work of building and realising our life's mission or project that we become more aware of the plan and we become more confident as we see (or feel) what we carry (or have) within us and then, according to this self-confidence, help will come, without us knowing exactly from whom.
These greater aids and impulses for this spiritual artistic work will come because: "There, in the depths of your being, they will know how to guide you towards a higher art - the art of modelling spiritual life according to the law inherent in the eternal Spirit". And all of us who meditate or pray know well how intuitions and inspirations enlighten us in those moments...
"Whatever your outer life brings you, try to take advantage of it spiritually, endeavouring to give it a spiritual form, and soon, thanks to such wise spiritual activity, you will remove from your path many of the obstacles that seemed insurmountable to you."
"Your outer life will be transformed according to the image of your spiritual life, to the extent that you know how to spiritually form everything that is external to you"
And he concludes the book by saying, far above and deeper than the advocates of mindfulness and formlessness: "In every form, the Spirit is at work."
May this short summary of yet another valuable work by Bô Yin Râ help people to free themselves from so much illusion and occult, kabbalistic, new age, esoteric and yogic mystifications that abounds in so many countries, with pseudo-masters, sects, groups and fashions which in reality are often very little in the quest for the Grail of Truth and the awareness and union of Spirit and Divinity, which we hope will be more fully realised by you, dear reader...