quarta-feira, 8 de março de 2023

Poema à Mulher, à Amada, inédito, e dactilografado para o Dia da Mulher de 2023.

                           
No dia da Mulher de 2023, uma imagem muito actual e adequada ao poema, escrito há já algum tempo. Que as mulheres despertem mais o Amor divino harmonizador e invencível nelas, frutíferamente...

Que poema te posso oferecer,
Sobre que folha e cor o escrever
Se tu és branca, rosada, azul e dourada
E mesmo o arco-íris te admira?

Apenas posso abrir o coração
trazer do mais íntimo à superfície
todos os anseios, sonhos e ideais
e, dos pés à cabeça, deixar o Amor
clamar por Deus, santo Amor. 


 Somos chamas ardentes
serenas e calmas mas sorridentes,
capazes de traçar e guiar
pelos labirintos da actualidade
as almas que nos demandarem.

Sobre a folha rosada, a caneta na mão
o sangue do coração, o beijo da boca
o sonho da Unidade,
derramam-se, esculpem-nos.

Saberemos nós atingir o pleno despertar
o espírito em nós incarnar
e por fim a Divindade se revelar?
Assim o creio, assim quero, assim o escrevo.

Possamos nós brilhar nas vestes nupciais
alquímicas da sagração da Primavera,
com as aves e as flores connosco a vibrar,
nesta comunhão panpsíquica
que nos leva até ao Arcanjo de Portugal
e derrama sobre as almas portuguesas
laivos rosados de Amor,
tonalidades azuis de Sabedoria
e a Luz branca da Divindade.

Assim seja
Amen Om

Pedro a...

Poema escrito há algum tempo, agora levemente alterado,  na aspiração do coração à mulher, à shakti divina, ao Amor Divino...

terça-feira, 7 de março de 2023

Cinco pensamentos pouco conhecidos de Fernando Pessoa, (1º pentagrama), com breve hermenêutica de Pedro Teixeira da Mota

Fernando Pessoa com o jornalista Costa Brochado no Martinho da Arcada
   Cinco  pensamentos pouco conhecidos de Fernando Pessoa, recolhidos quando trabalhei no seu espólio na Biblioteca Nacional, e do que resultou a publicação quatro livros de inéditos seus de espiritualidade, com uma breve hermenêutica actual...

1º «É o que é feito à "imagem e semelhança de Deus" que é erguido.»

A busca maçónica, cristã, ou iniciática em várias tradições, de um reerguimento da falsa morte, de um segundo nascimento, do renascer de novo, e que faria parte da intencionalidade libertadora de Jesus para com os seus discípulos, significa o despertar ou o intensificar da consciência espiritual, a obtenção de uma consciência e assunção do espírito no corpo e alma e a sua frutificação numa vida justa, generosa, livre.

2º «O valor de uma sociedade, de uma civilização é a altura a que se chegou na sua compreensão do universo. Tudo o mais nada vale. A grandeza de uma sociedade é a grandeza dos seus sentimentos».

Nos nossos dias o enfraquecimento cultural das pessoas, o relativismo quanto à ordem natural do universo e à ética e moral dela decorrentes, bem como em relação a um conhecimento científico não manipulado e assimilável, têm aumentado bastante nas pessoas, ao serem tão manipuladas pelos meios de informação, as narrativas oficiais científicas, económicas e políticas, as modas, os espectáculos e os comentadores avençados que lhes são impostos, pelo que a qualidade de gerar sentimentos elevados diminuiu . Muita histeria e emocionalismo barato e exploração de imagens e casos enfraquecem a gnose de si mesmos e do universo e a capacidade das pessoas vivenciarem sentimentos elevados de admiração e comunhão com a Beleza, a Verdade, a Justiça.

3º «Eras muitos, eras todos. E nunca eras ninguém». 

Aviso quanto aos perigos da multiplicidade, da dispersão identitária ou mesmo criativa, quando tal não é contrabalançado suficientemente pela auto-consciência espiritual e a Unidade, que a comensurabilidade na vida e a meditação e a oração devem proporcionar. A dispersão nas redes sociais e televisivas impede frequentemente as pessoas de estarem mais  sintonizadas com a sua essência e missão e interagirem harmoniosamente.

4º «Temos espadas de combate, porque somos cavaleiros, vestes de rito porque somos sacerdotes, capazes de velar porque somos ocultos. O que combatemos porém não é o homem, mas a ignorância do homem; o em que somos sacerdotes não é praticarmos um rito mas em nos sacrificarmos; o em que somos ocultos não é esconder-nos mas estarmos a sós.»

Conselho muito salutar para tantos cavaleiros templários, marianos, maçónicos e outros que, demasias vezes, ficam mais nas aparências e trilham pouco o caminho estreito espiritual de se vencerem a si mesmo, de se sacrificarem, de não se dispersarem socialmente e de lutarem contra a ignorância, a injustiça, a mentira, a opressão, o mal. Fernando Pessoa afirma ainda a união da polaridade religiosa ou sábia e a voluntariosa ou guerreira, a que religa ao divino e a que defende a verdade e a justiça.  Reis pontífices, cavaleiros do Dharma e do Amor, artesãos e cooperadores de uma sociedade mais harmoniosa e fraterna.

5º «A humanidade é um vasto animal que dorme, o que se passa nela não é mais do que sonhos impostos»

Esta constatação de há cem anos por Fernando Pessoa, apesar do grande progresso de instrução, nível de vida e tecnologia em muitos países, continua em grande parte válida, pois se as pessoas estão mais escolarizadas e livres para procurar conhecimentos e a verdade, também estão  mais submetidas a uma constante manipulação pelos meios de informação e os dirigentes mundiais sobretudo ocidentais, que vão impondo as narrativas oficiais, agendas, vacinas, cidades de 15 minutos, sanções, tentando impor uma nova ordem mundial ainda mais opressiva que os estados autoritários de outrora, ainda que sob a capa do liberalismo e de sociedades abertas mas sendo antes claramente autocráticas, elitistas e anti-multipolares e que iria lentamente destruir a sanidade psico-somática das pessoas, no chamado transhumanismo que é na realidade um infrahumanismo. Não nos deixarmos corromper nem seduzir ou alienar pelos sonhos da oligarquia mundial é sem dúvida a forma de despertarmos e ajudarmos os outros a saírem dos sonhos ilusórios impostos e voltarem-se para os seus sonhos e ideais, para a luz e a liberdade, a fraternidade e a felicidade...

segunda-feira, 6 de março de 2023

Pensamentos sobre a demanda, morte, o Anjo, o Graal, a visão espiritual...

       

               Pensamentos sobre a morte, o Anjo, a visão espiritual...

Cada vez que o ser humano se aproxima da morte física, ou se desilude e morre psiquicamente, a distância entre a sua profundidade da essência e a superfície da aparência diminui,  o espírito torna-se mais presente e  a personalidade vai sendo tanto transformada como ficando apta a ser renunciada à hora da morte libertadora.

Mais presente nesses momentos está o Anjo da Guarda, que é no fundo essa profundidade a tornar-se mais sentida na consciência, esta sendo um foco de atenção desvendadora e unificadora das dualidades e separatividades.

O Anjo da Guarda é ainda ou simultaneamente a visão mais penetrante,  lúcida ou esclarecedora de cada ser e que a consegue merecer pela sua vida justa e esforço persistente, algo que não sendo consciencializado por nós faz-nos por vezes desanimar de conseguirmos comungar com ele nas nossas orações e meditações, nomeadamente na adoração à Fonte Divina. 

A tradição literária ocidental da demanda do santo Graal mostra por vezes o Anjo a trazer a Espada da determinação e o Graal da comunhão espiritual e divina ao peregrino e cavaleiro, à alma na demanda e, por vezes ele morre, ou deixa a Terra, após tal teofania ou irrupção mais forte do Divino no humano, como se ele já não pudesse suportar a vida terrena ou, talvez melhor, como se já não necessitasse dela. Mas talvez se exagere nesse purismo, pois por vezes a missão será a de irradiar mais poderosamente a Luz e o Amor divinos na Terra...

O Anjo, como tem um corpo transparente e subtil apto a assumir a forma que quiser, manifesta-se a cada pessoa no espelho que ela animicamente lhe proporciona para ressoar nela e no ambiente em que está, o que pode ser mais ou menos religioso, mas em geral sublime ou elevante da alma às dimensões subtis espirituais...

Cada manifestação dos Anjos é única e cada pessoa a verá e sentirá à sua maneira, afinidade e merecimento, seja na meditação, oração, adoração e peregrinação, seja na morte libertadora da alma ou psyche do casulo do corpo. 

E é de admitir que as visões que as pessoas têm nos últimos tempos das suas vidas, com mais frequência, resultem do desprendimento crescente e da emergência do Anjo da sua profundidade, o que torna o olho espiritual mais desperto, lúcido e penetrante nos mundos subtis para onde a alma se encaminha, e então antepassados, guias e anjos desvendam-se mais na visão interior, sorrindo-lhe até, embora frequentemente os familiares duvidem de tal.

Sabermos merecer  em vida o despertar do olho espiritual, e a visão e o diálogo com o Anjo são metas que merecem que nos esforcemos um pouco mais...                                                               

Das subtilezas e mistérios da Poesia e do seu potencial actual ou missão, por Pedro Teixeira da Mota.

        

Da escrita poética e das suas raízes, frutos e actualidade...

Quando poetizamos abrimo-nos ao sentir interior, frequentemente amoroso mas também por vezes indignado, e num transbordar do coração, em geral dirigido para alguém ou algo, escrevemos. Mas como surgem as palavras? Brotam elas da memória ou de mais alto do céu das ideias e dos sentimentos, entrelaçando-se em associações imprevisíveis mas que dependerão  de trilhos anteriores, de aspirações ou mesmo de ressonâncias entre almas, acontecimentos  e assuntos que têm entre si
afinidades, empatias e nascendo daí os movimentos ondulados e rítmicos da poesia, todavia numa criatividade pluridimensional tão imensa e subtil que não podemos saber a conclusão de tal acto, ou mais difícil ainda os efeitos em quem escreve,  nas duas pessoas quando ela é mais particularmente amorosa, e no ambiente e universo, seja no momento seja depois na continuidade histórica da sua vida sempre que tal poesia é lida, apreciada, criticada...
Quem sabe ou adivinhará quais foram os poemas mais fortes no momento da sua concepção e escrita?
Mas como
discernir ou distinguir tal força ou poder? Onde? No coração, na mente, na alma, na aura, nos efeitos no campo unificado de consciência informação energia, a anima mundi antiga e seus seres?
E o que gera tal força, poder, energia? Por certos níveis tal força se poderá aquilatar, seja a emoção, o sentimento e o amor, num plano mais afectivo, e a claridade, a lucidez, a penetração, no assunto ou tema em causa, no plano mais mental, e que o autor ou o leitor conseguem.
E quanto à força vital que o poema contem, manifesta e gera, animando as pessoas? Dependerá sua força do estado de saúde da pessoa, ou da atmosfera nesse dia, ou mesmo do optimismo energético que animou tal acto sagrado de criar do nada e do caos potencial um poema, um texto valioso?
E a força espiritual que o autor desenvolveu, ou mesmo alcançou seja ao escrevê-lo ou ao meditá-lo, quem a conseguirá sentir erguer-se em si e de algum modo iluminá-lo, na dimensão íntima do autor ou já na que as linhas, palavras e ideias veiculam?
Mistérios grandes estes dos níveis subtis dos seres e do que acontece quando entram em comunicação, sob a vontade humana criadora, através do pensamento, sentimento e  palavra, influenciando tanto neurónios como centros energéticos e níveis da alma, gerando associações, reacções, impulsões, intuições, adesões e iluminações, provavelmente numa orientação ou demanda do que se deseja ou aspira, quem sabe dependendo da bússola da verdade que todos temos mas  que pouco se consciencializamos, nem esfregam como lâmpada interna do génio que abre as portas da percepção suprasensorial.
Quais os poemas mais iluminantes, mais intensos e dirigidos à verdade: a Bhagavad Gita, o Profeta de Kahil Gilbran, o Tao Te
King, o Mors-Amor de Antero de Quental, a Mensagem, de Fernando Pessoa?
Que palavras, como invocações e condensações de realidades, mais ocorreram, mais foram convocadas para tais poemas?

A Divindade, deus, deusa, amor, verdade, bem, justiça, natureza, harmonia, felicidade, alegria, vitória, confiança, sorriso?

Que palavras surgem mais nos nossos textos e poesias? Quais são as que estão mais vivas em nós, que mais acreditamos, amamos, vivemos?
Mas quem consegue manter-se livre aprofundante dos mistérios da essência e da existência, e persistente na sua oficina e ofício, para que a sua criatividade seja uma corrente imparável para o Oceano da Verdade, do Amor, da Divindade e que assim atraia os que têm sede de tais energias vivificantes?
Quem consegue manter o coração vivo e flamejante, em quantas almas arde livre e intenso, certamente com marés cheias e baixas mas capaz de subitamente atrair, por transmutações interiores, o orvalho alquímico criativo genial, o que apela crepitante e incessante à Divindade e ao Amor pleno, chama que queima muitas limitações e nos expande a consciência imanente e transcendentemente?
Esta vida da criatividade poética iluminante e agraciante pede-nos que nos esforcemos por ela, que saibamos persistir e vencer todas as fraquezas, e assim aproximar-nos do centro, da meta, do cimo da montanha, da profundidade do oceano, pois só se chega aos astros e altos se a chama do coração foi temperada e caldeada para conseguir atravessar as noites escuras e os sofrimentos e cansaços, rasgando caminho luminoso por entre as trevas.
Esta peregrinação no vale terrestre conta com alguns suplementos energéticos e luminosos, e por isso se diz que cada amizade é um farol mais poderoso que se acende, mas quantas pessoas conseguem que o seu relacionamento afectivo com os outros ou o outro se torne uma fonte de inspiração geradora de poesia, de adoração, de coragem, de trabalho, de dedicação?
Tal comunhão é bem poderosa quando a complementaridade polar é fecundada pelo amor e elevada à invocação e consagração divina. A luz, o amor, as vibrações subtis, as flores, as palavras, os mantras que se irradiam, podem ser bem poderosos nos seus efeitos, mas quão difícil é haver magos e meigas capazes de estarem sempre em amor criativo, dardejando do seu íntimo com toda a sinceridade e verdade para a unidade que os atrai, desejam, sentem e realizam criativa e fecundamente
Quando estamos sós, devemos lembrar-te dos seres que mais amamos ou mais nos amaram,  que mais no apoiaram ou mais estimularam e iluminaram. E se meditamos em tal, sentiremos o corpo místico da Humanidade imenso mas subtil, por vezes tonalizando ao nosso ouvido interior,
dando o toque intensificante na aura, soprando o vento da alegria e da dança. Assim fortificados, entre a terra e o céu pontífices, construtores de pontes e canais, a Divindade pode ser sentida mais possível, próxima, íntima e, inclinando-nos,  a adoramos na sua imanência e transcendência.
Nos nossos dias as distâncias parecem cada vez maior entre os seres pois é muita a informação e contra-informação que envolve e influencia os seres. Para conseguirmos não sermos poluidos nem obscurecidos pelas manipulações, limitações e conflitos horizontais, há que nos elevarmos verticalmente, e para tal necessitamos das asas angélicas, pois são elas  que melhor nos centram interiormente e verticalizam como eixos do mundo.
Então as teofanias podem acontecer, a inspiração brota e as palavras e sentimentos vibram nas batidas do coração, nas irradiações do coração espiritual, e com a respiração profunda, que atrai a energia psíquica e a transmuta nos nosso centros nervosos, podemos pronunciar e escrever as palavras flamejantes, iluminantes e libertadoras que o mundo precisa, os amigos apreciam, o amado ou amada sente e ama.
Possa a poesia nua, porque sincera e verdadeira, ser imparável e invencível perante todas as opressões e mentiras, falsas narrativas, manipulações e destruições.
Abramos o coração, o olho espiritual e toda a aura às bênçãos do alto e da Divindade e do nosso espírito e não deixemos cancelar-se a cultura, a ética, a espiritualidade, não abdiquemos da nossa natureza própria em ilusórios e trágicos transgendrismos e transhumanismos, na realidade infrahumanismos, mas antes lutemos por
uma humanidade de corpo, alma e espírito fraterna e criativa, sábia e amorosa, consciente e livre...

sábado, 4 de março de 2023

As legendas mágicas e histórias que o céu nos conta ou inspira. Breve texto manuscrito dos anos 90 e concluído em 4.3.2023.

                             

                                       AS LEGENDAS MÁGICAS

Nas noites de Verão quentes, quando o ar parece conservar durante toda a noite as cores avermelhadas do poente, erguem-se os cantos dos grilos e das cigarras ritmicamente, como uma marcha ou comboio invisível e universal a percorrer o Cosmos sem fim.

Pousávamos então as nossas preocupações e diferenças e deixávamos a mente vogar nas regiões mais elevadas do pensamento e da consciência, e como borboletas adejavam à nossa volta inúmeras inspirações que se queriam tornar existentes, compreendidas e realizadas por nós.

Por fim uma qualquer tornava-se mais premente e quase imperiosa: uma imagem,  frase ou ideia a querer materializar-se cá em baixo e a entrar no papel.

Como uma estrela cadente que irrompe e sulca célere o meio do céu e nos faz exclamar o nosso maior amor ou desejo, num grito de admiração e gratidão da alma que provavelmente se junta sinfonicamente à música das esferas que os grilos ecoam e preservam...

Histórias que o céu nos conta, ou nos faz contar, para nos relembrarmos da pluridimensionalidade subtil e espiritual em que temos o nosso ser mais profundo e elevado e que nas noites de céu aberto a contemplação da abóbada celestial com estrelas e cintilações intensifica... 

Boas sintonizações... 


Dalila Pereira da Costa e as "Raízes arcaicas da epopeia portuguesa e camoniana". Breve aproximação por Pedro Teixeira da Mota, no dia do seu 105º aniversário.

Muitos parabéns e muita luz e amor divinos na alma da Dalila!

 Dalila Pereira da Costa, nas Raízes arcaicas da epopeia portuguesa e camoniana, publicada num in-8º pequeno de 162 páginas na Biblioteca Breve, do Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, em 1990, quando o seu amigo António Quadros era o director, realizou uma hermenêutica valiosa e em vários aspectos pioneira quanto aos Lusíadas e a Portugal, investigando com argúcia as raízes pré-indo-europeias, as cretenses, as celtas e as islâmicas, nesta em especial do persa Avicena e, claro, também cristãs, subjacentes a tal obra prima que ela demonstra ser uma obra  gnóstica e iniciática. 

O reconhecer das afinidade entre os pré-helenos ou cretenses, e o lusíadas ou portugueses, nomeadamente com uma tradição matriarcal hipoteticamente provinda da mítica Atlântida e que sobrevive ao longo dos séculos nos cretenses, celtas e portugueses, e que foi enriquecida com os contributos persas ou iranianos, será desenvolvida com boa comparatividade e culminando na assunção do caminho iniciático como união do ser humano com a sua amada, parelha, alma-gémea, polaridade. Esta afirmação ou reconhecimento é escassa entre nós, pois a tradição cristã não a considera, sendo raríssimas as pessoas que a admitem, ou investigam, pesem algumas que o sentiram ou intuíram nas suas vidas amorosas.

A obra tem uma sinopse ou resumo inicial dividida em três partes, a I Lusíadas e Pré-Helenos, a II  Raízes arcaicas d' Os Lusíadas (ou entre o Mediterrâneo e o Atlântico), e a III, Raízes islâmicas n' Os Lusíadas, seguindo-se dezassete capítulos como pode ver na imagem:
                                  
Na Sinopse inicial, Dalila abre o seu jogo ou plano, part
ilha a sua crença quanto à missão ou dharma de Portugal, manifesta os seus veios  telúricos e matriarcais e aprofunda muito bem o que Fernando Pessoa sentira e algumas vezes mencionara quando considerara a alma profunda de Portugal herdeira da alma subterrânea grega, tal como eu revelei ao dar à luz no livro  A Grande Alma Portuguesa, 1988, a sua tão valiosa carta, assinada como O.S. [Ordo Sebastica, provavelmente] e dirigida ao conde Hermann von Keyserling após a visita e conferências que este pensador e mestre da Escola de Sabedoria, a Gesellschaft für Freie Philosophie (Sociedade para a Livre Filosofia) em Darmstadt, Alema

nha, fizera em Portugal em 1930, e a quem dediquei um artigo neste blogue.
                                        
Transcrevemos agora um excerto dessa I Parte Lusíadas e Pré-Helenos, para sentirmos melhor na sua linguagem a visão que ela detinha (por vez algo mitifica
da ou engrandecida, poderemos realista ou racionalmente considerar) das raízes de Portugal e da sua vocação marítima, profética, universalista e religiosamente unitiva do céu e da terra:
«Duas talassocracias e duas civilizações sucessivas expandidas a partir de dois mares sucessivos, Mediterrâneo e Atlântico, por cretenses e lusíadas. Marcadas pela aceitação e não destruição dos povos contactados. E por uma arte naturalista e simbólica sob o signo marítimo; por uma religião de carácter fortemente emotivo e passional de fundo soteriológico; por uma existência em amor à vida sob suas duas face, que levaria cretenses e lusíadas à procura das Ilhas Bem-aventuradas ou Ilhas dos Santos, como terra de eterna juventude e imortalidade.
Os lusíadas, como povo da Urwasser [Água Primordial], tirarão toda a sua essência e existência desse Abyssus [Abismo] primordial, predestinado desde a época megalítica para a expansão nos mares, ligação entre os povos, e para a profecia - até à Descoberta, iniciando uma nova era no mundo. Mas como ponto geográfico e civilizacional de contacto e ligação entre povos mediterrânicos e nórdicos, ou do culto de Afrodite e Apolo hiperbóreo [zona da terra acima do vento norte, o Boreas, e ainda a Tradição primordial], farão em si a união de uma religião ctónica [terrena ou telúrica] e urânica [celestial], da Terra Mãe e do Sol.
Herdeiros dir
ectos da perdida Atlântida, submersa e esquecida para os homens, mas perseverada pela reminiscência platónica, os portugueses ressuscitarão e dinamizarão de novo seu antigo mar, até então como Mar Tenebroso, em acto de herói. D. Henrique surgindo postado na ponta de sagres tal novo atlante:«Tem aos pés o mar novo, / e as mortas eras» (Mensagem). Como dinamizadores  das correntes do espírito marcando e percorrendo os mares para união dos homens, surgirão minóicos [cretenses, de Minos sua capital] e portugueses, no transcursos da história do Ocidente, usando sabiamente dessas sucessivas vibrações duma mesma força, cósmica e suprafísica». 

Comentário breve: Nesta obra da Dalila Pereira da Costa,  há já muito esgotada e a merecer leitura e reedição, realçaremos como linhas de força perenes da Tradição espiritual portuguesa a relação harmoniosa com a natureza e com os outros povos, a ligação com as profundezas do mar, do inconsciente ou mesmo da Água ou Energia Primordial (a Urwasser),  o que permitiria a  anamnese ou reminiscência das épocas antigas, tal a Atlântida, ou mesmo do Estado Primordial antes da descida ao corpo individualizado terreno, algo que a Dalila sentia dentro

de si e lhe gerava a Saudade primordial, como uma ou outra vez me confessou.
Destacaremos ainda, e em estreita ligação com Urwasser, a Água Primordial, a valorização do lado Feminino da Divindade e logo do culto da Grande Deusa, de Deusas e depois de Nossa Senhora, Maria, mãe de Jesus Cristo, que o avatariza ou faz descer do mundo Divino por nove meses no seu ventre mais os do tempo de criança. Santa Maria que Dalila apreciará e venerará sempre bastante, nomeadamente na Imaculada Concepção, a que D. João IV após a Restauração da Independência consagrou Portugal.
E na religiosidade que liga a Terra e o Céu, a Água e o Fogo e Sol, no exterior e no interior, no tipo dos Mistérios gregos de Elêusis, culto não violento e que ama a vida tanto no plano físico como nos planos subtis e espirituais, e que portanto consegue manter uma consciência para com eles, donde tantas formas de celebração e comunhão dos antepassados ou dos antigos.
Presença forte da clarividência e da profecia, que Dalila rasteou em alguns escritores, como Fernão Lopes, com a Sétima Idade que duraria até ao fim dos séculos, Bandarra, P. António Vieira e Fernando Pessoa e o sonho do V. Império, embora saibamos como a profecia é escorregadia, serpentina e enganadora, mesmo quando certas imagens se destacam fortes em sonhos ou visões, pois podem ter causalidades subjectivas ilusórias, como sucedeu a tanto profeta, ocultista, teosofista.
                                            
E, finalmente, outra característica nossa, uma capacidade de ultrapassar limites dentro de si e em relaç
ão aos que os ambientes ou sociedades nos tentam impor (e hoje são muitos e insidiosos, nomeadamente com as narrativas oficiais falsas que a maioria dos meios de informação transmitem), o que se consegue pelo feito heróico, a viagem,  a passagem das provações iniciáticas, a descoberta, a chegada à ilha da imortalidade, dos Bem Aventurados ou do Amor, este Amor sendo ora a presença divina no Cosmos, o Logos e Anima Mundi, ora o que é a vida na nossa essência íntima, ora o que é sentido na visão e união maior com a Divindade imanente, ora ainda o que se realiza entre o homem e a mulher, ou nas famílias, que refazem assim a Unidade,  realçando ainda a Dalila a partir dos cantos IX e X dos Lusíadas (e contamos fazer um segundo texto para abranger todo o livro da Dalila) que são as mulheres, como sacerdotisas ou, direi eu, shaktis energias avatarizantes, da Grande Deusa, da Mãe Divina, que desvendam ou impulsionam mais tais níveis ou estados elevados nos homens e na Humanidade.

Que Ela e elas, sibilas, santas, curadoras, shaktis e em especial a nossa querida amiga Dalila Pereira da Costa nos inspirem e fortifiquem no Amor e na Verdade, na Coragem e no Bem, na fraternidade mundial e na realização espiritual e religação Divina.  Aum, Amen, Hum...

quinta-feira, 2 de março de 2023

O Amor entre os seres como demanda e realização da Gnose e do Graal, de Unidade e da Divindade. Na conjunção de Vénus e Júpiter de Março de 2023.

                                   

O Amor nos seres, e em especial entre dois seres, quando tende ou demanda maior plenitude, tem de ser consciencializado como algo bem difícil, raro e frágil, pois são muitas as forças internas e externas, nomeadamente  estados de ânimo e seres, que perturbarão ou mesmo se oporão por diferentes causas e razões a tal conseguimento, a tal felicidade, a tal unificação.

Por isso convém compreende-lo bem, e intensificá-lo e aprofundá-lo o mais possível quanto ele brota, ou subsiste, nomeadamente quando se pensa, trabalha e vive para a felicidade e plenitude, seja universal, seja a dois ou em família, prevendo-se e evitando-se o que poderá diminuir, fazer olvidar ou mesmo apagar tal fogo...

Na realidade humana a felicidade do amor, sendo das mais luminosas e intensas, é facilmente abalada pelas preocupações profissionais e de saúde, e  já que estamos todos ligados pelos conflitos ambientais ou mundiais e pelas discussões nas redes sociais, podendo ser mesmo invejada e atacada (consciente ou inconscientemente) pelo que devemos discreta mas fortemente trabalhar na unidade amorosa, interna e externa, para nos aperfeiçoarmos enquanto almas na demanda de alcançarmos as metas mais elevadas, íntimas e logo secretas do desabrochamento na Humanidade do Amor, que sendo a força atrativa que mantém o universo em dinamismo vital deve ser mantida bem activa e criativa em cada ser e entre os seres que se conhecem ou que mais se amam,  que estão no Caminho ou  demanda do Graal divino.

Se a mais conhecida frutificação entre o homem e a mulher é a geração de seres, a que outros níveis que o da procriação física, o amor se quer afirmar,  gerar e irradiar? Certamente em compreensões, transformações, influências,  resultados e frutificações...

Como se podem orientar as forças do amor entre dois seres nas linhas mais adequadas às elevadas frutificações possíveis, como estarmos atentos a sinais, intuições e resultados por vezes tão subtis e paralelos e não nos distrairmos ou enfraquecermos por dispersões sociais e desconfianças, desânimos?

Fundamental é de quando em quando a auscultação interior, o silêncio, a meditação e em seguida a manutenção consciente de raios e laços entre os amigos, amantes, ou para com os objectivos e metas do Caminho, pois só por esta auto-consciencialização constante é que  realmente vamos sentindo o estado do amor presente em nós, as suas forças energéticas e logo as direções possíveis dele se transmitir intensificadamente para o ambiente,  o outro ser, para nós, para o mundo espiritual e divino e logo ser sentido mais fortemente, independentemente dos efeitos exteriores possíveis.

De certo modo em nós o amor é a força divina criativa de querer o bem, seja o sumo e divino, seja o de outrem, o nosso, de todos, e é a força harmonizadora por excelência, e portanto a vix curativa, a panaceia de muitos, muitos desequilíbrios, vícios e doenças psico-somáticas. Se cada doente fosse mais amado e amasse mais, haveria poucos...


Ora um dos trabalhos e resultados do amor entre dois seres que se abraçam estreitamente é propiciar a diminuição de fraquezas e fragilidades e o saírem de esferas limitadas do seu passado, de identificações a defeitos, doenças, carências e medos e dissolverem no Amor muitas dessas impressões e energias bloqueadoras ou negativas, expandirem as suas consciências nos níveis subtis. Mas as pessoas ligam pouco a tal, estão distraídas, o seu coração espiritual está semi-adormecido, o olho espiritual não é reconhecido nem contemplado ou activado pela meditação, a contemplação.

Ao se abraçarem verdadeiramente em amor tanto despertam como recebem influxos de energia luminosa e amorosa, que podem encher os seus centros de força nervosos, subtis e psíquicos, permitindo-os elevarem-se a estados de consciência mais fortes, serenos e lúcidos, ou seja, para níveis mais confiantes, gratos, felizes de ser, estar, acreditar, lutar e melhorar as consciências e as vidas...

E quando dois seres  comunicam pela palavra frente a frente há  trocas importantes de energia informção consciência. Mas se elas se tocam e  abraçam ou estreitam  então podem acontecer alquimias bem maiores, pois é mais fácil sentir e desejar  amor para o outro ser com o coração e os peitos de certo modo se fundindo nessa vontade de amor mútua, já que se gera uma intensificação de percepções, além da  energia de dádiva e irradiação,  entre os dois seres nessa comunhão de espírito e alma, sentimento, pensamento e corpo e que acontece não só nas pessoas mas também delas com o Cosmos, em florações e geometrias de beleza subtil maravilhosa de se contemplar pelo olho interior...

Mas será possível algo mais se passar, no sentido de se religarem ou identificarem  melhor com os seus espíritos? Ou de diminuir os egos,  os muros separadores, as desconfianças e dependências? Para se verem e sentirem mais na pluridimensionalidade e enquanto geradores de frutos perenes ou pela eternidade a dentro, já?

Certamente, quanto maior for o amor transmitido, a dádiva plena de um ao outro, a vontade intensa de entrega e de fusão recíproca, à aspiração à unidade primordial, mais se irradiam energias subtis que desabrocham  ligações ou comunicações entre corpo, alma e espírito, gerando um campo invisível de unidade, que vai amenizando e diminuindo estados de crispação e medo, fraqueza e sofrimento, e intensificando o fogo poderoso do amor  nos vários níveis do nosso ser, em especial na nossa mente ou psique que perde assim algo da sua constante carência e conflitualidade.

Podemos dizer que a estrutura mental e consciencial submetida aos influxos de amor ou a estados de unidade, seja da natureza seja de uniões ou até grupos, cede muitas das suas arestas e agitações e tende a tornar-se um campo sereno e unificado, base importante para que depois a meditação aconteça graças à capacidade de maior aprofundamento da paz,  devoção e adoração e sobretudo da unidade, a qual sendo sentida a dois ou mais fortemente, seja como desejo ou aspiração, seja como comunhão já presente, gera uma consequente samskara valiosa, ou seja, impressão duradoura e frutificadora.

Pode-se dizer que uma das mais elevadas frutificação da aspiração espiritual e do amor foi aquela que na Índia foi denominada Ishta devata, muito realçada por Ramakrishna e Guru Ranade, e que por exemplo o pintor e mestre alemão Bô Yin Râ, já no séc. XX, realçou também, denominando-a o nascimento do Deus vivo em nós.

Com efeito, quando não é a criança que vai nascer nesse casal ou par, dois frutos mais elevados se podem apresentar potencialmente: o primeiro é a criança amorosa, ou o Amor, que outrora na arte os puti, ou anjos pequeninos, podem significar na sua irradiação, e que nasce entre os dois, e que entre os dois desfere as suas flechas, seja pelo olhar seja apenas pela intencionalidade de alma e os raios do coração. 

O segundo fruto é a concepção e aspiração, e posteriormente, o nascimento do Deus vivo em nós,  ou seja, a visão, sentimento e adoração do aspecto ou face com que a Divindade se pode manifestar a nós, ou em nós, num processo alquímico lento, em geral exigindo a vida inteira, pelo que teremos de ter paciência e perseverar, dando muitas graças por o amor, o espírito, a visão, a adoração brotarem mais poderosamente.

Muito importante, portanto, e por vezes ignorado, serão no caminho dos buscadores e portadores do Graal, ou nos que desenvolvem uma relação amorosa ou de matrimónio, os efeitos que os estados de diminuição dos egos, ondulações mentais e separatividades vão causar no campo de forças ou na plataforma superior do Amor, aquela pela qual entramos no mundo espiritual e na qual podemos sentir mais a unidade, só que já não apenas com o outro ser mas também com a muito mais difícil, subtil, elevada e ilimitada unidade do mundo espiritual, e seus grandes seres e a Divindade.

Neste caminho criativo espiritual o casal alquímico descobre ora súbita ora gradualmente que o seu labor amoroso e unitivo vai fertilizando ou lucidificando a terra interior, tornando-a húmida e fértil, ou um ventre da deusa mãe onde a semente do amor e da aspiração, prema e mumuksha, na tradição indiana, germina e cresce mais facilmente, e a auto-consciência da presença íntima do espírito e do amor vai desabrochando.
Não é contudo, como já dissemos, imediata a revelação, o darsham divino. Temos de ir trabalhando e aspirando muito, persistentemente, até que mereçamos mesmo conceber no nosso interior as chamas amorosas onde a Fénix divina pode ressurgir nas proporções apropriadas.
A cavalaria do santo Graal é uma tradição de recepção e comunhão com o divino, em que cada meditação é um formar ou ingressar na procissão em que o Graal pode ser avistado, sentido, enchido, proporcionando-nos a comunhão com a Luz divina, o Amor ou até a própria presença indirecta ou humanizada de Deus, a qual pode surgir ou vir pelo mestre, o anjo ou a própria Divindade, imanente...
Possamos nós saber erguer o cálice do nosso coração cheio de amor em aspiração de comunhão com a Divindade e possa Ela no seu Amor infinito presentear-nos com as suas graças e influxos, seja no par ou em grupo, na nação ou na Euroásia o
u mesmo no mundo multipolar que finalmente nasce,  nas meditações e no dia a dia e suas ressonâncias e sincronias, intuições e graças...