segunda-feira, 6 de março de 2023

Das subtilezas e mistérios da Poesia e do seu potencial actual ou missão, por Pedro Teixeira da Mota.

        

Da escrita poética e das suas raízes, frutos e actualidade...

Quando poetizamos abrimo-nos ao sentir interior, frequentemente amoroso mas também por vezes indignado, e num transbordar do coração, em geral dirigido para alguém ou algo, escrevemos. Mas como surgem as palavras? Brotam elas da memória ou de mais alto do céu das ideias e dos sentimentos, entrelaçando-se em associações imprevisíveis mas que dependerão  de trilhos anteriores, de aspirações ou mesmo de ressonâncias entre almas, acontecimentos  e assuntos que têm entre si
afinidades, empatias e nascendo daí os movimentos ondulados e rítmicos da poesia, todavia numa criatividade pluridimensional tão imensa e subtil que não podemos saber a conclusão de tal acto, ou mais difícil ainda os efeitos em quem escreve,  nas duas pessoas quando ela é mais particularmente amorosa, e no ambiente e universo, seja no momento seja depois na continuidade histórica da sua vida sempre que tal poesia é lida, apreciada, criticada...
Quem sabe ou adivinhará quais foram os poemas mais fortes no momento da sua concepção e escrita?
Mas como
discernir ou distinguir tal força ou poder? Onde? No coração, na mente, na alma, na aura, nos efeitos no campo unificado de consciência informação energia, a anima mundi antiga e seus seres?
E o que gera tal força, poder, energia? Por certos níveis tal força se poderá aquilatar, seja a emoção, o sentimento e o amor, num plano mais afectivo, e a claridade, a lucidez, a penetração, no assunto ou tema em causa, no plano mais mental, e que o autor ou o leitor conseguem.
E quanto à força vital que o poema contem, manifesta e gera, animando as pessoas? Dependerá sua força do estado de saúde da pessoa, ou da atmosfera nesse dia, ou mesmo do optimismo energético que animou tal acto sagrado de criar do nada e do caos potencial um poema, um texto valioso?
E a força espiritual que o autor desenvolveu, ou mesmo alcançou seja ao escrevê-lo ou ao meditá-lo, quem a conseguirá sentir erguer-se em si e de algum modo iluminá-lo, na dimensão íntima do autor ou já na que as linhas, palavras e ideias veiculam?
Mistérios grandes estes dos níveis subtis dos seres e do que acontece quando entram em comunicação, sob a vontade humana criadora, através do pensamento, sentimento e  palavra, influenciando tanto neurónios como centros energéticos e níveis da alma, gerando associações, reacções, impulsões, intuições, adesões e iluminações, provavelmente numa orientação ou demanda do que se deseja ou aspira, quem sabe dependendo da bússola da verdade que todos temos mas  que pouco se consciencializamos, nem esfregam como lâmpada interna do génio que abre as portas da percepção suprasensorial.
Quais os poemas mais iluminantes, mais intensos e dirigidos à verdade: a Bhagavad Gita, o Profeta de Kahil Gilbran, o Tao Te
King, o Mors-Amor de Antero de Quental, a Mensagem, de Fernando Pessoa?
Que palavras, como invocações e condensações de realidades, mais ocorreram, mais foram convocadas para tais poemas?

A Divindade, deus, deusa, amor, verdade, bem, justiça, natureza, harmonia, felicidade, alegria, vitória, confiança, sorriso?

Que palavras surgem mais nos nossos textos e poesias? Quais são as que estão mais vivas em nós, que mais acreditamos, amamos, vivemos?
Mas quem consegue manter-se livre aprofundante dos mistérios da essência e da existência, e persistente na sua oficina e ofício, para que a sua criatividade seja uma corrente imparável para o Oceano da Verdade, do Amor, da Divindade e que assim atraia os que têm sede de tais energias vivificantes?
Quem consegue manter o coração vivo e flamejante, em quantas almas arde livre e intenso, certamente com marés cheias e baixas mas capaz de subitamente atrair, por transmutações interiores, o orvalho alquímico criativo genial, o que apela crepitante e incessante à Divindade e ao Amor pleno, chama que queima muitas limitações e nos expande a consciência imanente e transcendentemente?
Esta vida da criatividade poética iluminante e agraciante pede-nos que nos esforcemos por ela, que saibamos persistir e vencer todas as fraquezas, e assim aproximar-nos do centro, da meta, do cimo da montanha, da profundidade do oceano, pois só se chega aos astros e altos se a chama do coração foi temperada e caldeada para conseguir atravessar as noites escuras e os sofrimentos e cansaços, rasgando caminho luminoso por entre as trevas.
Esta peregrinação no vale terrestre conta com alguns suplementos energéticos e luminosos, e por isso se diz que cada amizade é um farol mais poderoso que se acende, mas quantas pessoas conseguem que o seu relacionamento afectivo com os outros ou o outro se torne uma fonte de inspiração geradora de poesia, de adoração, de coragem, de trabalho, de dedicação?
Tal comunhão é bem poderosa quando a complementaridade polar é fecundada pelo amor e elevada à invocação e consagração divina. A luz, o amor, as vibrações subtis, as flores, as palavras, os mantras que se irradiam, podem ser bem poderosos nos seus efeitos, mas quão difícil é haver magos e meigas capazes de estarem sempre em amor criativo, dardejando do seu íntimo com toda a sinceridade e verdade para a unidade que os atrai, desejam, sentem e realizam criativa e fecundamente
Quando estamos sós, devemos lembrar-te dos seres que mais amamos ou mais nos amaram,  que mais no apoiaram ou mais estimularam e iluminaram. E se meditamos em tal, sentiremos o corpo místico da Humanidade imenso mas subtil, por vezes tonalizando ao nosso ouvido interior,
dando o toque intensificante na aura, soprando o vento da alegria e da dança. Assim fortificados, entre a terra e o céu pontífices, construtores de pontes e canais, a Divindade pode ser sentida mais possível, próxima, íntima e, inclinando-nos,  a adoramos na sua imanência e transcendência.
Nos nossos dias as distâncias parecem cada vez maior entre os seres pois é muita a informação e contra-informação que envolve e influencia os seres. Para conseguirmos não sermos poluidos nem obscurecidos pelas manipulações, limitações e conflitos horizontais, há que nos elevarmos verticalmente, e para tal necessitamos das asas angélicas, pois são elas  que melhor nos centram interiormente e verticalizam como eixos do mundo.
Então as teofanias podem acontecer, a inspiração brota e as palavras e sentimentos vibram nas batidas do coração, nas irradiações do coração espiritual, e com a respiração profunda, que atrai a energia psíquica e a transmuta nos nosso centros nervosos, podemos pronunciar e escrever as palavras flamejantes, iluminantes e libertadoras que o mundo precisa, os amigos apreciam, o amado ou amada sente e ama.
Possa a poesia nua, porque sincera e verdadeira, ser imparável e invencível perante todas as opressões e mentiras, falsas narrativas, manipulações e destruições.
Abramos o coração, o olho espiritual e toda a aura às bênçãos do alto e da Divindade e do nosso espírito e não deixemos cancelar-se a cultura, a ética, a espiritualidade, não abdiquemos da nossa natureza própria em ilusórios e trágicos transgendrismos e transhumanismos, na realidade infrahumanismos, mas antes lutemos por
uma humanidade de corpo, alma e espírito fraterna e criativa, sábia e amorosa, consciente e livre...

2 comentários:

maria de f´tima dasilva coito de almeida disse...

Obrigada, Pedro Teixeira da Mota, por nos presentear com tanta beleza.

Pedro Teixeira da Mota. disse...

Graças muitas, Maria de Fátima. Que as nossas almas se inspirem e frutifiquem no bem e na verdade, a Beleza..