Muitos parabéns e muita luz e amor divinos na Dalila |
Dalila Pereira da Costa, nas Raízes arcaicas da epopeia portuguesa e camoniana, publicada num in-8º pequeno de 162 páginas na Biblioteca Breve, do Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, em 1990, quando o seu amigo António Quadros era o director, realizou uma hermenêutica valiosa e em vários aspectos pioneira quanto aos Lusíadas e a Portugal, investigando com argúcia as raízes pré-indo-europeias, as cretenses, as celtas e as islâmicas, nesta em especial do persa Avicena e, claro, também cristãs, subjacentes a tal obra prima que ela demonstra ser uma obra gnóstica e iniciática.
O reconhecer das afinidade entre os pré-helenos ou cretenses, e o lusíadas ou portugueses, nomeadamente com uma tradição matriarcal hipoteticamente provinda da mítica Atlântida e que sobrevive ao longo dos séculos nos cretenses, celtas e portugueses, e que foi enriquecida com os contributos persas ou iranianos, será desenvolvida com boa comparatividade e culminando na assunção do caminho iniciático como união do ser humano com a sua amada, parelha, alma-gémea, polaridade. Esta afirmação ou reconhecimento é escassa entre nós, pois a tradição cristã não a considera, sendo raríssimas as pessoas que a admitem, ou investigam, pesem algumas que o sentiram ou intuíram nas suas vidas amorosas.
A obra tem uma sinopse ou resumo inicial dividida em três partes, a I Lusíadas e Pré-Helenos, a II Raízes arcaicas d' Os Lusíadas (ou entre o Mediterrâneo e o Atlântico), e a III, Raízes islâmicas n' Os Lusíadas, seguindo-se dezassete capítulos como pode ver na imagem:
Na Sinopse inicial, Dalila abre o seu jogo, partilha a sua crença quanto à missão ou dharma de Portugal, manifesta os seus veios telúricos e matriarcais e aprofunda muito bem o que Fernando Pessoa sentira e algumas vezes mencionara quando considerara a alma profunda de Portugal herdeira da alma subterrânea grega, tal como eu revelei ao dar à luz no livro A Grande Alma Portuguesa, 1988, a sua tão valiosa carta, assinada como O.S. [Ordo Sebastica, provavelmente] e dirigida ao conde de Keyserling após a visita e conferências que este pensador e mestre da Escola de Sabedoria fizera em Portugal em 1930, e a quem dediquei um artigo neste blogue .
Transcrevemos agora um excerto dessa I Parte Lusíadas e Pré-Helenos, para sentirmos melhor na sua linguagem a visão que ela detinha (por vez algo mitificada ou engrandecida, poderemos realista ou racionalmente considerar) das raízes de Portugal e da sua vocação marítima, profética, universalista e religiosamente unitiva do céu e da terra:
«Duas talassocracias e duas civilizações sucessivas expandidas a partir de dois mares sucessivos, Mediterrâneo e Atlântico, por cretenses e lusíadas. Marcadas pela aceitação e não destruição dos povos contactados. E por uma arte naturalista e simbólica sob o signo marítimo; por uma religião de carácter fortemente emotivo e passional de fundo soteriológico; por uma existência em amor à vida sob suas duas face, que levaria cretenses e lusíadas à procura das Ilhas Bem-aventuradas ou Ilhas dos Santos, como terra de eterna juventude e imortalidade.
Os lusíadas, como povo da Urwasser [Água Primordial], tirarão toda a sua essência e existência desse Abyssus [Abismo] primordial, predestinado desde a época megalítica para a expansão nos mares, ligação entre os povos, e para a profecia - até à Descoberta, iniciando uma nova era no mundo. Mas como ponto geográfico e civilizacional de contacto e ligação entre povos mediterrânicos e nórdicos, ou do culto de Afrodite e Apolo hiperbóreo [zona da terra acima do vento norte, o Boreas, e ainda a Tradição primordial], farão em si a união de uma religião ctónica [terrena ou telúrica] e urânica [celestial], da Terra Mãe e do Sol.
Herdeiros directos da perdida Atlântida, submersa e esquecida para os homens, mas perseverada pela reminiscência platónica, os portugueses ressuscitarão e dinamizarão de novo seu antigo mar, até então como Mar Tenebroso, em acto de herói. D. Henrique surgindo postado na ponta de sagres tal novo atlante:« Tem aos pés o mar novo, / e as mortas eras» (Mensagem). Como dinamizadores das correntes do espírito marcando e percorrendo os mares para união dos homens, surgirão minóicos [cretenses, de Minos sua capital] e portugueses, no transcursos da história do Ocidente, usando sabiamente dessas sucessivas vibrações duma mesma força, cósmica e suprafísica».
Comentário breve: Nesta obra da Dalila já há muito esgotada e que merece leitura e logo reedição, realçaremos como linhas de força perenes da Tradição espiritual portuguesa a relação harmoniosa com a natureza e com os outros povos, a ligação com as profundezas do mar, do inconsciente ou mesmo da Água ou Energia Primordial (a Urwasser), o que permitiria a anamnese ou reminiscência das épocas antigas, tal a Atlântida, ou mesmo do Estado Primordial antes da descida ao corpo individualizado terreno, algo que a Dalila sentia dentro de si e lhe gerava a Saudade primordial, como uma ou outra vez me confessou.
Destacaremos ainda, e em estreita ligação com Urwasser, a Água Primordial, a valorização do lado Feminino da Divindade e logo do culto da Grande Deusa, de Deusas e depois de Nossa Senhora, Maria, mãe de Jesus Cristo, que o avatariza ou faz descer do mundo Divino por nove meses no seu ventre mais os do tempo de criança. Santa Maria que Dalila apreciará e venerará sempre bastante, nomeadamente na Imaculada Concepção, a que D. João IV após a Restauração da Independência consagrou Portugal.
E na religiosidade que liga a Terra e o Céu, a Água e o Fogo e Sol, no exterior e no interior, no tipo dos Mistérios gregos de Elêusis, culto não violento e que ama a vida tanto no plano físico como nos planos subtis e espirituais, e que portanto consegue manter uma consciência para com eles, donde tantas formas de celebração e comunhão dos antepassados ou dos antigos.
Presença forte da clarividência e da profecia, que Dalila rasteou em alguns escritores, como Fernão Lopes, com a Sétima Idade que duraria até ao fim dos séculos, Bandarra, P. António Vieira e Fernando Pessoa e o sonho do V. Império, embora saibamos como a profecia é escorregadia, serpentina e enganadora, mesmo quando certas imagens se destacam fortes em sonhos ou visões, pois podem ter causalidades subjectivas ilusórias, como sucedeu a tanto profeta, ocultista, teosofista.
E,
finalmente, outra característica nossa, uma capacidade de ultrapassar limites dentro de si e em
relação aos que os ambientes ou sociedades nos tentam impor (e hoje são
muitos e insidiosos, nomeadamente com as narrativas oficiais falsas que a maioria dos meios de informação transmitem), o que se consegue pelo feito heróico, a viagem, a passagem das provações iniciáticas, a descoberta, a chegada à ilha da imortalidade, dos Bem Aventurados ou do Amor, este Amor sendo ora a presença divina no Cosmos, o Logos e Anima Mundi, ora o que é a vida na nossa essência íntima, ora o que é sentido na visão e união maior com a Divindade imanente, ora ainda o que se realiza entre o homem e a mulher, ou nas famílias, que refazem assim a Unidade, realçando ainda a Dalila a partir dos cantos IX e X dos Lusíadas (e contamos fazer um segundo texto para abranger todo o livro da Dalila) que são as mulheres, como sacerdotisas ou, direi eu, shaktis energias avatarizantes, da Grande Deusa, da Mãe Divina, que desvendam ou impulsionam mais tais níveis ou estados elevados nos homens e na Humanidade.
Que Ela e elas, sibilas, santas, curadoras, shaktis e em especial a nossa querida amiga Dalila Pereira da Costa nos inspirem e fortifiquem no Amor e na Verdade, na Coragem e no Bem, na fraternidade mundial e na realização espiritual e religação Divina. Aum, Amen, Hum...
3 comentários:
Formidável texto, Obrigado
Graças muitas, Rogério, pela Dalila e por mim. Tentarei partilhar mais da sua sabedoria. Boas inspirações e realizações!
Algumas correcções e melhorias.E a ver se qualquer dia avanço com a II parte.
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