sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Agostinho da Silva e os veios, elos e mestres de Portugal. Escrito a 4 de Abril de 1994, após o enterro.

No dia 4 de Abril de 1994 realizaram-se no Mosteiro dos Jerónimos e no Alto de S. João as cerimónias, muito concorridas, da despedida de Agostinho da Silva, oitenta e oito anos perfeitos. Tendo estado nelas, chegado a casa, escrevi um texto no meio de um caderno que, há poucos dias o abrindo, me permitiu recuperar tal testemunho e partilhá-lo, com leves acrescentos, tanto mais que já se encontram no blogue alguns textos dos encontros com ele, pouco antes da sua partida...

                              Mestres de Portugal

Voltaram à terra hoje os elementos de que se compunha o corpo físico de Agostinho da Silva, bem acompanhados por flores e pessoas em número elevado. Quanto à sua alma e espírito, esses, dum plano subtil psíquico elevado, sorriam aos seus discípulos, amigos e admiradores-admiradoras.

Talvez fosse o último dos discípulos de Leonardo Coimbra, Teixeira Rego e Fernando Pessoa que os conheceu pessoalmente, embora a este último só o tivesse avistado fugazmente e nunca lhe falando, pois na Seara Nova de António Sérgio ignoravam-no. Restam agora os que foram discípulos dos discípulos desses participantes na revista Águia e no movimento da Renascença Portuguesa. Todavia é natural que se estejam a preparar alguns novos "mestres", quer de antigos discípulos seus, quer dos novos que, através das sínteses universais que Agostinho trabalhou, evocou e partilhou, chegarão a  estados ou níveis conscienciais de maior auto-realização, sabedoria, amor e universalidade.

O que é ser mestre? Em Agostinho da Silva era estar aberto dinamicamente ao Alto e, horizontalmente, porta aberta a todos, disponibilidade grande, alma extensa como os quatro cantos do universo e onde tanto se falasse a língua portuguesa como a criatividade e a inteligência fossem cultivadas.

Agostinho da Silva conseguiu abrir e partilhar o seu verbo, a sua palavra, a um ritmo natural, espontâneo, português, nascido na época galaico-portuguesa mas com raízes em Roma e Grécia e para isso laborava o seu pendor de filólogo (licenciara-se em Filologia Clássica com 20 valores e traduzira Virgílio). Depois, com o rei Dinis e S. Isabel, e os frades franciscanos e adeptos joaquimitas, a pomba do Espírito santo levantava voo com ele, e fazia as caravelas [antigas e actuais, exteriores e interiores] chegarem aos fins do mundo e nesse encontro e diálogo com gente de Moçambique e Índia, Malaca e Timor conversar, comerciar e amar.

De Luís de Camões e do P. António Vieira, a Ilha dos Amores e o Império da Língua Portuguesa actualizaram-se em Agostinho da Silva graças ao amor e à rapidez e desembaraço de quem tanto viajara (e no Brasil estagiara) e tantas reflexões e conferências, famílias e amizades, grupos e ligações, cartas e intercâmbios fizera.

E, finalmente, na soma das influências e ligações da sua alma, a geração do princípio do século XX, de Sampaio Bruno a Leonardo Coimbra, de Teixeira de Pascoais a Fernando Pessoa, encontrava nele um original continuador, sobretudo pelo dinamismo da sua vida de português das Sete Partidas, a vasta cultura universalista, o pendor de partilhar  conhecimentos e o lutar pela justiça e solidariedade social, na linha da tradição fraterna, grupal, comunitária  e iluminadora do culto do Espírito santo.

Quem conheceu e amou o professor Agostinho não pode deixar de testemunhar o calor e entusiasmo que ele trouxe à vida e aos diálogos e que transmitia ora em faíscas inspiradas ora em atenção e interesse sincero pelos outros, sempre pronto a sugerir, a interligar, a entusiasmar.

Agostinho da Silva foi um bom continuador tanto dos monges e cavaleiros da Idade Média como dos navegadores, marinheiros e missionários dos Descobrimentos. Foi neles, e sobretudo nas linhas de energia e objectivos que os guiaram, no fundo a Tradição Espiritual de Portugal, que Agostinho da Silva  exaurou a luz que brilhou, atraindo tantas pessoas.

A partir delas, Agostinho projectou-se para um futuro, utópico para quase todos [por vezes demasiado], mas coerente com as potencialidades libertadoras do ser humano, pois essencial e clara nele era a visão do ser humano, que não era o objecto da sociedade de consumo, o número do partido, mas o criador anímico e espiritual.

[Gratos ao seu exemplo e convívio, palavras e energias, ligações e impulsos, saibamos continuar a trabalhar, nestes tempos de opressivas narrativas oficiais e censuras, as linhas de energias naturais e sãs e os objectivos elevados e libertadores da Tradição Espiritual Portuguesa e Universal!]

                             

segunda-feira, 5 de setembro de 2022

"A Oração", de Bô Yin Râ. Tradução portuguesa dada à luz por Pedro Teixeira da Mota, em Agosto de 2022

 Saiu à luz muito recentemente a tradução de um livro em alemão sobre a oração, o que é de se louvar, pois esta arte ou técnica emotiva e poética, linguística e psíquica de se associarem palavras com intenções humanas, religiosas e espirituais, embora milenária continua misteriosa, oscilando as pessoas entre adoptarem as práticas tradicionais, que sentem e resultam mais ou menos, inventarem as suas, utilizarem as de outras religiões ou, mais niilisticamente, descrerem, desvalorizarem e ignorarem.
                                          
E contudo todos nós já sentimos ao longo da vida momentos em que as orações brotaram mais, seja preces de aflição isto é
 de momentos mais esforçados, seja ao darem-se graças  alegremente, ao orarmos pelos que já partiram da Terra física visível, e ainda as orações e mantras que brotam do nosso interior durante interiorizações e meditações. Como orar melhor, eis então a questão: como podemos com a oração harmonizar-nos, alinhar-nos, conhecer-nos, e logo ligar-nos ao espírito que está em nós, à Divindade e aos seus ajudantes, mensageiros, mestres, anjos. E consequentemente como saber pedir e obter melhores resultados com ela.

O autor do livro é alemão, viveu entre 1876 e 1943 e  deixou uma obra de cerca de 30 livros e 500 pinturas, tendo recebido o nome de Bô Yin Râ quando foi iniciado pelo seu mestre, oriental, durante uma estadia na Grécia, junto ao Mediterrâneo, ecoando em tal nome os sons que  estão mais afins vibratoriamente do seu espírito, algo que certamente escapará a quase toda a gente, embora se saiba que várias tradições apresentam o fenómeno da iniciação e o recebimento de um novo nome, iniciático, místico, espiritual nesse momento de transição, despertar e religar.
Iniciando A Oração com a transcrição da cena evangélica (Lucas 11, 1), em que os discípulos pedem ao mestre Jesus que lhes ensine a orar, Bô Yin Râ vai desenvolver em cinco capítulos um ensinamento valioso que tentaremos resumir no seu essencial.
                                          
No 1º capítulo, intitulado,
 o Mistério da Oração, aponta para a necessidade de as pessoas aprofundarem a sua compreensão de Deus, nomeadamente a de que só no nosso interior mais fundo é que poderemos encontrar a Divindade viva, e que orar, não sendo  tanto dar graças ou pedir alguma coisa, implica sabermos realizar as três condições da oração por Jesus transmitidas: Procurar, Pedir e Bater.

No 2º capítulo, Procurai e Encontrareis, aprofunda o sentido do que e como se procura, e como isso não é uma inquieta demanda mas antes implica um estado de paz, de entrega plena do ser, «e é uma imersão serena no mais íntimo da alma, sem qualquer agitação, sem nenhuma ambição e sem impaciência inquieta», pois quem tem de ser encontrado é o próprio ser de quem procura.

Para tal tarefa recomenda Bô Yin Râ a postura que mais nos convier mas que permita esquecermos o corpo físico e sentir-nos a nós próprios no seu interior e como um fluido dentro dele, não ligando a pensamentos ou imagens que surjam, apenas tentando cada pessoa sentir-se no seu interior mais fundo e ir deixando que a obscuridade vá dando lugar a uma claridade e quietude feliz, a que corresponde a consciencialização de que a sua vontade está em ligação, sintonia ou unidade com a vontade Divina, ou que o orar é uma comunhão com a vontade do Ser primordial.


No 3º capítulo, Pedi e ser-vos-á Dado, Bô Yin Râ desenvolve o sentido do pedir, que não é mais do que libertar interiormente as forças que permitem ao que espiritualmente nos pertence se manifestar.
Mas p ara um pedido se tornar verdadeiramente uma oração, ele deve ser imaginado e visualizado até que algo como uma imagem estilo negativo fotográfico se forme e que será depois activada ou colapsada tanto pela nossa fé como pela cooperação da Alma do Mundo, ou da Ordem do Universo, com os seus agentes, «as sublimes potências»,  que auxiliam tais pedidos a concretizar-se, no caso de que quem pede ou o que se pede possa ser justamente satisfeito.
Distinguirá ainda Bô Yin Râ entre os pedidos normais para aspectos da existência terrena e os pedidos espirituais ou mais verdadeiros, nos quais explicita como o mais paradigmático «o pedido que abre de novo à corrente do Amor eterno a possibilidade de circular através da consciência terrena», dando-nos nesta frase uma clarificação bem valiosa da misteriosa origem do Amor, algo que na realidade Bô Yin Râ conhecia intimamente, como a sua vida e obra testemunham.

No quarto capítulo, Batei e Abrir-se-vos-á, encontramos uma condensação dos três princípios da oração, tão clara que merece ser transcrita na sua plenitude, para melhor conhecermos e praticarmos a oração: «Se procurar é um mergulhar em si mesmo, para encontrar no mais íntimo, na profundeza mais funda, - se pedir é querer na firme confiança que se receberá, - assim é bater, - ou seja, bater à porta para obter acesso, é um comportamento activo no exterior, que confere apoio a um pedido».
Explicitará ainda que
este bater à porta da oração não é apenas por coisas terrestres, mas que tem a sua contraparte mais elevada no entrar no mundo espiritual e o ter acesso ao Templo da Eternidade, embora ria-se um pouco dos que falam tu cá tu lá com Deus, dos que dispensam intermediários entre eles e Deus e imaginam que é Deus quem lhes abre as portas ou os recebe nos mundo espirituais. É só porém ao ser humilde, que sabe reverenciar Deus e realizar quão frágil é a sua consciência e cérebro para entrar em comunicação directa com o Divino, que algum amigo, mestre ou anjo de Deus  abrirá a porta de acesso ao Templo divino e encherá ou iluminará o seu Graal.

Renovação espiritual se chama o V capítulo e nele Bô Yin Râ vai apelar a uma prática mais assídua da oração, considerando-a capaz de gerar uma renovação espiritual na Humanidade, tão necessária nos seus dias como nos nossos em que cada vez mais as pessoas estão submetidas a forças negativas, consumistas, desnaturalizadoras, manipuladoras, violentas, em especial pelos órgãos de comunicação tão vendidos a narrativas oficiais falsas, amedrontadoras e danosas, que afectam, distorcem ou paralizam as almas e mentes.
Com efeito estamos todos
ligados uns aos outros, pelo que o facto de um ser conseguir começar a respirar e vivenciar o espírito e as suas potencialidades de comunicação e comunhão espiritual terá efeitos em outros, nomeadamente os que por ressonância de afinidades ou proximidade estão mais sensíveis a tais eflúvios.
Explica a
inda como as confissões, e os apelos à misericórdia ou à graça do Alto que se fazem têm o seu papel de catarse e que podem receber respostas dos mundos espirituais, nomeadamente de santos, mestres e anjos e as energias divinas que eles partilham. 

Também de um modo bem valioso faz ver como se distingue a alma do espírito em cada ser humano e como é necessária uma certa higiene da alma para que esta não seja paralisada e para que o seus sensores possam captar as energias ou bênçãos do espírito, dos mundos espirituais e da Divindade. 

A oração serve então essa função e quem  a compreende bem torna-se capaz de estar sempre pronto a orar, variando depois o tipo de orações, palavras, intenções e vivência interiores, lembrando que o orar pelos que já partiram é bom e útil para eles ou para outros que precisem mais do que eles, algo que Bô Yin Râ no seu Livro do Além já explicara bem e que merecerá um dia ser traduzido para português.
A obra termina com um capítulo inumerado,
Como deveis orar, com cerca de dúzia e meia de orações compostas como exemplos por Bô Yin Râ e que nos poderão inspirar em momentos como o levantar, deitar, comer, sofrer, alegrar-nos, etc.


Esta obra fora dada à luz em Leipzig em 1926, pela casa editora Richard Hummel, com o título Das Gebet e foi agora traduzida e publicada em português em bom papel, com as colaborações de Cláudia Lopes, Maria Antónia Bacelar Antunes e da tipografia Lobão, de Almada. Os poucos exemplares numerados e assinados, para circulação entre pessoas amigas e interessadas,  poderão ser pedidos a viva.erasmo@gmail.com, ou pelo Facebook. Boas orações!

sábado, 3 de setembro de 2022

As Almas-gémeas, em Brito Camacho, um aljustrelense republicano, coronel médico, ministro e notável jornalista e escritor.

 Manuel Brito Camacho foi um notável alentejano, activista da transição da Monarquia para a República, e que, nascido em Aljustrel em 12 de Fevereiro de 1862, um de doze irmãos e irmãs, veio a formar-se na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, exercendo as suas funções como médico e médico militar em algumas cidades de Portugal (Torrão, Tancos, Torres Novas, Viseu), enquanto se dedicava simultaneamente à causa republicana, conferenciando, fundando jornais, tal em 1906  A Luta (com os artigos e editoriais poderosos) e partidos (o Unionista), concorrendo a eleições e chegando a ser deputado. E de tal modo afirmou a sua sensibilidade e consciência cívica, inteligência e determinação que, participando decisivamente na revolução do 5 Outubro, foi ministro do Fomento no elenco do 1º governo da República, tendo tomado medidas importantes para o ensino técnico, industrial e comercial bem como para o agrícola e veterinário. Foi maçon, iniciado em Torres Novas, em 1893 e em 1907 integrou a Loja Elias Garcia, em Lisboa. Destacou-se ainda nos trabalhos para a separação da Igreja Católica do Estado Português, sendo ateu mas tolerante, e por não ser a favor da participação europeia portuguesa na Iª Grande Guerra, muito estimulada por Afonso Costa, o chefe do partido Democrático e mais radical, e do qual já há bastante tempo Brito Camacho divergia. Nos anos de 1921 a 1923 foi o Alto Comissário da República em Moçambique onde tomou boas medidas e propugnou a preparação da futura autonomia dos moçambicanos.
                                            
Em 1926, com o golpe militar que daria origem ao Estado Novo e ao Salazarismo, retirou-se da acti
vidade política e estabilizou como coronel (desde 1919), certamente sendo da Oposição, mas mais dedicado à sua vasta obra literária, na qual deu à luz (desde 1889, a sua tese) cerca de quarenta livros, de contos ensaios e estudos históricos, por onde perpassam a sua prosa excelente e dotada de muitos regionalismos, o seu grande conhecimento e amor do Alentejo e de Portugal, nomeadamente das suas gentes, falas, tradições e almas, e os muitos encontros dialogantes com outros intelectuais da época. E assim em alguns dos seus livros, e num deles em especial, e do qual iremos extrair um ensinamento platónico, Quadros Alentejanos, 1925, encontramos descrições muito perfeitas dos alentejanos e da vida rural e seus trabalhos, costumes, vestuários, festas, comidas, devoções, crenças, mentalidades, tipos, por vezes com criações de personagens tão vivas quão fabulosas. O Amor será um tema ou força-ideia que viveu em toda a sua vida e cogitou e ensaiou com frequência e qualidade, nomeadamente no excelente Os Amores de Latino Coelho, ou nestes Quadros Alentejanos.

Será em 19 de Setembro de 1935, dois meses antes de Fernando Pessoa, que partirá da Terra, mas sem ter deixado de comunicar, e neste livro Quadros Alentejanos,  na página 125, que: «Ainda espero ser feliz... depois de morto, na Terra ou no Céu, pouco me importa [referira antes a hipótese da "transmigração das almas]; mas para ser feliz na Terra é necessário que incarne por modo a fazer a vida para que a Natureza me dotou, e para ser feliz no Céu, é necessário que lá encontre os meus queridos mortos, os que partindo antes de mim para a viagem eterna, me levaram bocados do coração», ou, melhor, que imortalizaram-perenizaram os eflúvios de amor que ainda sinto por eles. Será valioso comparar-se com os sonetos de Antero de Quental dedicados à comunhão psíquica com os espíritos familiares e amigos desincarnados, já abordados neste blogue.
                                                  
Nos Quadros Alentejanos Brito Camacho descreve com realismo e grande sensibilidade, entre outros quadros e histórias, a vida ora pacata ora aventurosa dum mai
oral, o Verruga, que após uma luta mais ferida com um traiçoeiro maltez, começa a sentir aos 50 anos que talvez fosse bom encontrar alguém com quem se desse bem e pudessem viver juntos ou mesmo casarem-se.
E aparece mesmo a alma caridosa ca
ndidata a tal missão, uma mulher nos 40 anos e com uma vida bem difícil e amorosamente variada, mas rija, sincera, trabalhadora e generosa, asseada e prendada na lide da casa e protectora dos animais. 

Nesse primeiro encontro no adro da aldeia onde vivia a Francisca, este era o seu nome, e onde ele passara a morar perto  num monte como maioral do gado, como bom pastor que sabia tudo «à perfeição desde a tosquia à ordenha», ela, que nunca o vira, pergunta-lhe donde era, e à resposta vaga «da Serra», inquiriu após ter «enrolado à cintura para não a sujar, a saia de cima  muito comprida como se usava ao tempo e sentou-se no chão, perto do Verruga, cruzando as pernas como na joeiração do trigo, espalmadas, no jeito preguiçoso de quem dispõe do seu tempo, e não se lhe dá consumi-lo a tagarelar: - É viúvo?...
- Nunca fui casado. Dizem que Deus Nosso Senhor fez as almas inteiras, e que depois as partiu ao meio, espalhando as ametades pela Terra, misturadas, e cada uma que procure a sua companheira, até a encontrar. As que se encontram, são felizes; as que não se encontram no mundo ao Deus dará, como uma cabeça que se perdeu, e não come nem descansa à procura das outras, sem dar com elas.
[Francisca:] - Isso são histórias da carochinha. Quem faz uma panela faz logo um testo para ela. Só não casa quem não quer.
-Assim será, não digo que não; mas sempre ouvi dizer que
casamento e mortalha no céu se talha, e tenho cá na minha que há criaturas para quem Deus Nosso Senhor não talhou nem uma coisa nem outra. Eu sou dessas. E vocemecê é casada?
- Eu, não, senhor. Nunca encontrei forma do meu pé, e preferi ficar
solteira a casar com um diabo que vivesse do meu trabalho,      e ainda por cima me enchesse a barriga de estoiros», entenda-se, barulhos de fome. pág. 212.

Desejaríamos destacar esta sábia introdução na pacata vida alentejana e de educação cristã, do discurso de Aristófanes, no Banquete de Platão, no qual se descreve uma origem não separada do homem e da mulher, que reflecte uma milenária crença, presente em tradições de diversos povos, na existência das almas gémeas, e que no séc. XX, entre outros Sâr Peladan (1858-1918) e Bô Yin Râ (1876-1943) desenvolveram bem
                                    
Se ele acreditava mesmo ou não, desconhecemos embora se tenha casado com a D. Maria da Luz
, por amor mas por pouco tempo, já que no De Bom Humor, bastante recheado de aspectos biográficos, como aliás a generalidade das suas obras, diz-nos: «Não tenho filho nem filha. A santa, que foi minha esposa, morreu aos dez meses de casada, deixando-me um anjinho que lhe sobreviveu de pouca semanas. Não tornei a casar.» . Se conseguiram vivenciar a reunião das duas partes separadas, ou pelo menos uma fusão profunda de corpos e almas e em sintonia com a Divindade, fica em aberto, e até mais em desafio para nós tentarmos alcançar tal nível no nosso desejo do supremo bem que é o Amor, fogo divino em nós que devemos verdadeiramente vivenciar na Terra para não sairmos dela frios e pouco despertos ou completos, mas antes purificados na fornalha do amor e reunidos, unificados...
Mas que Manuel Brito Camac
ho deve ter sofrido muito não há dúvida, ainda que na continuação desse extracto do capítulo As crianças, depois de afirmar o seu desinteresse pessoal sobre o ensino e educação as crianças, por não ter descendentes, reafirma com valioso e exemplar amor, já tão raro nos nossos dias de perda da fraternidade nacional:«Mas o nosso país é a nossa grande família; os nossos concidadãos, sem que o diga a voz do sangue, são nossos parentes próximos: o que para eles é um bem ou um mal, considerados como elementos da colectividade, não pode ser-nos indiferente».
Noutras obras de Manuel Brito Camacho observamos afloramentos valiosos da sua sensibilidade ao amor, e até aos mundos subtis das almas, e talvez venhamos dedicar a este excelente escritor outro artigo. E muita luz e amor para ele, onde quer e como esteja. Aum!
                                       

terça-feira, 30 de agosto de 2022

Milutin Mićović, from Montenegro, on the present conflit and situation in Europe. Russia, as the heart and dharma keeper of Slavic people and Orthodox faith..

 An excelente interview of Milutin Mićović, a very lucid being, on the present situation in Europe, done by Rossa Primavera News Agency, and where he gives a clear vision of the role of Russia in the Slavic culture and in Europe.

«Philosopher and writer from Montenegro Milutin Mićović is a frequent guest in Russia, a participant in international literary forums. He is convinced that Russian culture, despite any historical cataclysms, has preserved the connection with the people's memory and the ability to revive.

Today Milutin Mićović reflects on what, in his view, is the historical meaning of the current events in Ukraine. He also shared his observations about how the tragic rift that emerged in the once united Slavic nation is assessed in the Balkan states. 


Rossa Primavera News Agency: Milutin, please tell us, what is your personal attitude to the ongoing events in Ukraine?

"It has turned out that the conflict in Ukraine is multilayered. Many people, both in the East and in the West, are already saying that there is a battle between the collective West and Russia in Ukraine. This is certainly a tragedy for the Slavic people, and it is developing according to a script written in Washington.
In fact, it is obvious that Ukraine from the very beginning, when it became an "independent" state (after the disintegration of the USSR), could not be truly independent. Ukraine began to be used as a platform for a variety of Western ideologies, among them undisguised fascism, which increasingly expanded hatred of Russia, the Russian people, culture, the Russian language, and the like. Ukraine, as a state and culture, worked against itself, against its historical memory, severing its cultural and spiritual roots. The leading strategy of the Ukrainian state has been to destroy the brotherhood of the Ukrainian people by dividing them into Ukrainians and Russian-speaking people and pitting them against each other.
We here in the Balkans, and specifically in Montenegro, are witnessing the same strategy of the Western centers of power that first tore apart Yugoslavia and that continue to sow enmity in certain republics, literally according to the same matrices that we now see in Ukraine.
When all the negative energy accumulated in Ukraine was directed by NATO against the "only" enemy - Russia, which, in their words, "is undemocratic, fascist, dictatorial, anti-Western, imperial, Asian" - in a word, which is the strongest enemy of the Western world, culture and civilization - then we have this multilayered conflict.
My personal feeling and my attitude to the conflict in Ukraine comes from the fact that I view it in the light of all this complexity and multi-layeredness. Russia in this conflict protects its historical memory and integrates regions that have always been Russian in spirit into its state space. My position is to support the Russian special operation for the denazification and demilitarization of Ukraine, because it is in fact the cleansing of the Ukrainian people from the spiritual disease that the fascist ideologists, direct heirs to the ideology of the Banderites, have infected them with." ...

 Rossa Primavera News Agency: In your opinion, how will Russia's actions in Ukraine affect global processes?

Milutin Mićović: In my opinion, on the global scale, especially in the Western world, the processes are developing in two opposite directions. On the one hand - in parallel with stagnation in economic terms, hatred for Russia and many negative feelings are developing. Basically, this is the idea that Russia is to blame for everything and that it must be punished for "invading" a "sovereign country". On the other hand, other opinions exist in the West that have a spiritual basis and take into account historical memory.

The West has always attacked Russia with the main goal of conquering it and seizing its enormous natural resources. This Western aggression in our time is concentrated in the NATO military alliance, which in recent decades has been destroying entire nations, sowing more and more conflicts, all under the guise of democratization and human rights. NATO has already shown its inhuman face very clearly and brutally. The world is no longer unipolar, and the aggression and destruction of states can no longer be seen as a humanitarian mission.

Russia is rapidly regaining its military might, historical memory, the Russian character. That is why there aremore and more critical views in the West about Western military and sanctions strategy. US global manipulation has been destroyed - the curtain behind which the US dictatorship was expanding under the guise of democracy has fallen. It has become obvious to the thinking people that the USA is at war against Russia spilling the blood of Ukrainians. This is what manipulative Western humanism and democracy is all about.

Rossa Primavera News Agency: I would like to talk more about the Balkan states. What do you think? How did the sanctions imposed by the West against Russia affect the countries of the Balkan Peninsula?

Milutin Mićović: There is an economic recession in the Balkans, devaluation of the euro, information blockade, banning of Russian TV channels. This is the situation in Montenegro and other republics of the former Yugoslavia, except Serbia. The sanctions are the same - what the rest of Europe is doing is followed by the Balkan republics, except Serbia.

All media are controlled by the state authorities, they present the only opinion, which is directly imposed by the European Union (EU).

 The state of the people's opinion - I can say of Montenegro - is different. The people retain the memory of Russia as a great power, the head of the Slavic peoples, the defender of the Slavs and the Orthodox faith. The majority of our people rejoice in the successes of the Russian special military operation, the results on the battlefield. I repeat, the people know that this is a Slavic tragedy, but the reasons for the special operation are absolutely understood. We also have the historical memory that at the end of the 18th century our people moved to Russia, exactly to Donbass. There are many places there that are still called almost in Serbian today, such as Novoserbsk and others. We even have a joke here already: the Serbs again rebelled against the fascists.

Rossa Primavera News Agency: Is there a problem with Ukrainian refugees in Montenegro? How do the people of Montenegro perceive them?

Milutin Mićović: There are several thousand Ukrainian refugees, I think about 10 thousand. The state treats them very humanely. But I personally have not met these Ukrainians. 

 Rossa Primavera News Agency: Do you and the people of Montenegro in general know that the Ukrainian neo-Nazi Banderites have been carrying out genocide and bombing of peaceful population of Donbas for 8 years since 2014? 


Milutin Mićović: When Russia reunited with Crimea, I was in Moscow. I remember what a spiritual uplift there was in the Russian people and among the Balkan states. Simply because the historical truth prevailed that Crimea had belonged to Russia since the time of Catherine the Great. But on the other hand, it was the first sign to the West that Russia would now defend and preserve its national interests.

Many people in Montenegro knew about the conflict in eastern Ukraine. We knew that people were dying there, that there were daily battles between the Ukrainian army and the defenders of Donbass. We also knew about Russia's constant assistance to the people of Donbass. True, we did not know what atrocities were committed against civilians there for eight years. No one talked about genocide, we are only now becoming aware of it.

The reason and facts of the neo-Nazi ideology, which was deeply embedded in the Ukrainian state, were not known to people in Montenegro. Now the ideology of the Banderites has become better known, it is very similar to the ideology of the Croatian fascist Ante Pavelić (head of the Nazi movement in Croatia, founder of the Independent State of Croatia in 1941 under the patronage of Hitler), who was also the initiator of the Jasenovac concentration camp, where about 700,000 Serbs and 30,000 Jews were killed in 1941-1945. It turned out that World War II was continuing in some new form. We saw it at the end of the last century, in Ukraine we see it now.

Rossa Primavera News Agency: Closing our conversation, we would like to ask another question. What are the views on the special operation in the Balkan states?

Milutin Mićović: Thinking freely and independently is very rare in the world today. The media "think" for most citizens - modern man has literally become a mediacrat. But ultimately, human freedom cannot be suppressed. The coronavirus was a formula for killing freedom, personal opinion, a mechanism for expanding collective fear, and an installation of some invisible ruler of the world. But also the coronavirus, by killing, was itself killed, but this does not mean that there will not be new epidemics. There will be. All these events tell us - man can endure anything - many diseases and delusions. Personal freedom is linked to an understanding of God, who gives man the capacity for creative freedom and ignites in him the thirst of the spirit in search of truth. Therefore, it is more important what one free man thinks than a thousand slaves.

 In Montenegro, as in other countries, there are many opinions. But the question constantly pounding in the soul is what is truth, what is the meaning of human life, the meaning of life of an entire people? How can a nation in the contemporary world remain a nation, preserve a deep historical and cultural memory, how can a person and a nation serve the truth?

It seems to me that Russia now, in our time, and in this complicated conflict in Ukraine keeps the basic values of not only the Russian people, it just stands on the side of the Man, it fights for the Man!

Rossa Primavera News Agency: Thank you very much, Milutin, for your interesting comments and moral support of the Russian people in today's anxious time.

Milutin Mićović.

Montenegro,  August 2022

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domingo, 28 de agosto de 2022

Da aspiração, do amor à Divindade, da meditação e da graça, e nos tempos desafiantes actuais.

Pintura do mestre russo Nicholai Roerich

Transcrição, bem ampliada, de uma pequena página de um bloco de notas-diário, já com bastantes anos.

Quando, pela nossa aspiração e amor à Divindade, a sua Presença faz-se sentir em nós, então Ela pode quase falar-nos ou dirigir-se-nos, pelo menos dizendo ou fazendo sentirmos: - Eis-me aqui, como amor, paz, alegria...

O Amor é realmente o canal de ligação da Divindade com todos os seres humanos e quando circula entre eles a Divindade está presente, certamente em função da nossa maior ou menor entrega, merecimento e sensibilidade a tal comunhão e osmose. 

Assim, mesmo os que já partiram, os mortos ao mundo físico, para as pessoas com o amor mais desperto e a circular em si, não estão mais longe e podem receber de nós as vibrações ou emanações em que estamos, e em espacial o Amor, e podem-nos igualmente transmitir (em sonhos, subtis toques e meditações) alguma sensibilidade e discernimento  acerca das pessoas, situações e ambientes que nos rodeiam e que frequentemente nos escapam ou iludem. É a famosa comunhão no Corpo místico da Humanidade, entre nós tão mencionada por místicos e místicas, ou poetas como Antero de Quental e Fernando Pessoa...

Já os seres que se tornam seguidores de preceitos rígidos, religiosos ou morais, nas suas atitudes e comportamentos, fossilizam-se em relação a estas e outras realizações mais íntimas e elevadas, as quais  exigem aspiração e meditação, receptividade e fluidez. Por vezes é a criança inocente, a jovem despreocupada, que furam as limitações sociais, mergulham nas profundezas anímicas e fazem circular as energias comungáveis. É o valor de qualidades como a sensibilidade interior, a espontaneidade, a pureza, a sinceridade e a entrega criativa e plena ao presente,  que devemos manter vivas em nós, cultivando-as, mesmo que em contracorrente com o que a sociedade  neoliberal e autoritária tenta fomentar ou impor, nomeadamente pela meditação, a oração, a contemplação, a criatividade...

Das meditações mais profundas são aquelas em que o nosso ser se torna um cálice, um graal, cheio de aspiração para ser enchido pelos raios e bênçãos da Divindade, e consegue sentir clarificação, ver luz, sentir o amor e emanar tal, subtilmente, psico-electrico-magneticamente...

Abertos à Divindade, aspirando a Ela, é então que a respiração se torna uma autêntica comunhão-meditação, pela qual o nosso ser pessoal se vai tornando progressivamente mais consciente e sensível ao espírito vivo e palpitante dentro de si.

Estamos sempre realmente com acesso ou ligados ao subtil plano supramental búdico [do sânscrito Buddhi, de luz e sabedoria], do Amor, mas não estamos suficientemente abertos a ele, nem conscientes, pois só vemos o plano físico e quanto ao resto dos múltiplos planos e estados de consciência superiores consideramos no Ocidente serem apenas construções ou conceptualizações cerebrais, neuronais.

Se tentarmos tornar-nos um pouco mais conscientes destes planos em que temos o nosso pluridimensional ser, expandiríamos bastante a nossa consciência e até os corpos subtil e espiritual com que estamos dotados e já não estaríamos tão sujeitos à manipulação da ciência materialista e dos media de que somos apenas corpos físicos e cérebros, pela qual as pessoas acabam por se zombificar bastante, nomeadamente via narrativas oficiais e censuras das redes sociais, perdendo a sua liberdade interior e exterior e a sensibilidade à Natureza e ao Espiritual.

Quanto a Deus, Pai e Mãe, Ele é como o Espelho do Infinito espaço, do Akasa, onde todos os nossos actos, pensamentos e sorrisos se refletem, passam e se transmutam, mas é primacialmente e verdadeiramente o doador de tudo, a Fonte, pelo que Lhe devemos pedir mais religação e amor, nas nossas práticas, orações e acções

As religiões ficam algo ineficazes porque frequentemente limitam a liberdade de elevação, a espontaneidade e a criatividade dos seus fiéis, sujeitando-as a ritos e práticas algo já costumeiras e onde o espírito libertador não sopra, embora certamente estejam nelas os ensinamentos formadores e libertadores, em especial dos seus mestres e místicos, santas e santos que conseguiram verdadeiramente ver e vivenciar no íntimo o espírito, o amor, o mestre, a Divindade.

Todos nós devíamos assim, mesmo os que já não se sentem obrigados por preceitos ou ritos, a ter ainda assim alguns amigos mais íntimos:  os autores ou mestres que mais gostamos, e até de uma ou mais religiões, e volta e meia dialogar com eles, com suas metodologias e palavras, e por aí chegar melhor às inspirações  do campo unificado de energia consciência e  às bênçãos Divindade e dos seus mais próximos que possamos em nós merecer manifestarem-se.

Boas orações, realizações e graças! 

Poema espiritual: enigmas da travessia da Vida e da ligação Divina.

                  Um poema escrito no Sábado, 21.11.1992, e das milhares de folhas de diários...

«Há quantas vidas caminhamos nós sobre a Terra,

por entre montanhas de alegria e os vales da dor?

Quis então delimitar um espaço onde pudesse edificar

e lançar a escada que leva ao Céu e a Deus,

mas só via areia movediça ou gente apressada,

e mesmo os templos tinham horas de fechar.


Cobri-me também do manto da rapidez,

contraí os lábios e a boca nos ajuntamentos

e atravessei as cidades ocas e fervilhantes

até encontrar o oásis no coração trémulo.


Sentia água lá no fundo de tudo,

um filão simples mas puro.

Chegar até ele no fundo, era o enigma.

Consultei então os sábios da minha livraria.


Um disse-me: a tua parte feminina tem de sofrer e morrer

enquanto o masculino em ti como árvore crescerá.

Mas um outro replicou: a serpente enganou-te

e a tua vontade e afecto jazem por terra.


Fechei os olhos, levantei as mãos ao céu

e pedi à Divindade que me guiasse,

mas só sentia o meu peito aberto

como uma catedral imensa e vazia

por onde passava o Espírito infinito.


Tudo o que fizera e sentira no dia

estendia-se em tiras no turbilhão do céu,

e da eternidade onde meu ser habitava

que era eu senão a Consciência?


Eis a pérola achada no seio dos mares revoltos,

mas como a manter luminosa entre as dualidades?

- Paciência infinita, adoração íntima intensa

E o Fogo Divino brilhando sempre em ti, salvar-te-ão.

 

Pintura do mestre alemão Bô Yin Râ

sábado, 27 de agosto de 2022

Livros e autores, leituras e meditações, anotações, escritas e irradiações. O Grande Livro dos Livros. Resistir e aprofundar.

Quando meditamos os livros e os seus autores e autoras, podemos interrogar-nos se foi mais a reflexão, a meditação, a imaginação ou a propiciação a originar as primeiras actividades literárias.
Se lemos os textos mais antigos, quase todos relacionados com os deuses e as forças da Natureza, os seres do Cosmos, os mistérios da caminhada na luz depois da morte (o Bardo Thodol do Egipto, e que teve um congénere tibetano muito posteriormente), e realizados por alma religiosas, místicas e poética, parece muito provável uma dimensão de admiração e propiciação pelo misterioso superior e sagrado. Os primordiais hinos dos Vedas  e do Avesta provam-no.
 
Rishis, os poetas videntes dos Vedas...
Poemas, hinos e orações nascidos de inspirações súbitas ou de impulsos criativos e outros já resultando de meditações místicas ou visões supramentais, tal nos rishis indianos, mas podemos dizer que qualquer obra de maior qualidade resultou de uma sensibilidade e de labor da palavra, e de uma vontade de comunicação expressa com determinada conhecimento, intenção e objectivo, logo segundo certa causalidade ética, artística, criativa, religadora ou religiosa mesmo.
Nos nossos dias contudo a perda desta visão e causalidade mais profunda, a par da desvalorização e imprecisão das noções de justo  e injusto, de verdadeiro e de falso, de bem e de mal, de belo e de feio, de harmonioso e desarmonioso leva a que muita obra publicada só venha aumentar a confusão, a ignorância e as trevas das pessoas, fazendo-as perder a transparência e orientação certa da bússola da verdade que cada ser tem em si inata e potencialmente e que depois vai perdendo, hoje em dia a grande velocidade tal a lavagem ao cérebro que televisões, noticiários, comentadores e narrativas oficiais fazem, por vezes até com censuras e opressões fortes nas redes sociais, para além, claro, de tanto livro cheios de erros, falsidades ou inutilidades que as pessoas compram e leem, sob recomendação insistente das máquinas de propaganda das grandes editoras ligadas frequentemente a grupos de pressão e que controlam as montras das livrarias e a visibilidade pública, escandalosamente até na internet como vemos com a gigantesca dominadora Amazon.
De Teresa Oliveira, a Biblioteca.
  Dada então a profusão de obras em oferta, e anualmente cada Feira do Livro (onde graças a Deus ainda há os valiosos alfarrabistas), apesar das diversas crises no poder de compra que o neo-liberalismo ganancioso e corrupto tem oferecido ao mundo, é ainda assim um bom campo comprovação (em especial para um jornalista um pouco mais profundo e que indague as obras que cada editora publicou pela 1ª vez ou reeditou, com os seus temas e sucessos), é necessário discernirmos muito bem quais serão os melhores livros que ajudam a clarificar o que queremos saber, o que é melhor e pior para nós, ou ainda os que mais necessitamos para a nossa auto-educação e que suscitam as melhores impulsões anímicas dinâmicas e realizadoras. A quase inexistência  de crítica literária, ou até, mais concretamente, das religiões, espiritualidades, esoterismos e new age leva as pessoas a gastarem demasiado dinheiro e tempo em livros fracos ou falsos, ou então em mero romance cor de rosa,  ou de entretenimento.
Tenho tentado neste blogue fazer algumas avaliações críticas e realizei-o com listas de livros de Shinto, Tarot, Anjos e tenho também divulgado alguns autores e assuntos, para proporcionar o acesso a obras, ideias e ensinamentos que possam ser verdadeiramente benéficos e transformadores pelos seus conteúdos e impactos em nós.
Na realidade, as associações de ideias, os sentimentos vivenciados e as determinações anímicas que acompanham a leitura, são de certo modo revivificações do conteúdo do livro num nível colectivo das mentalidades e sobretudo do conteúdo anímico e estado consciencial do leitor que pode assim realmente transformar-se, fazer catarses, intuir os melhores valores, caminhos e escolhas e, exercida tal biblioterapia, lançar-se no Caminho mais sábia e luminosamente.
 Os pensamentos que brotam da leitura são verdadeiras sementes lançadas na alma e no cosmos, quem sabe se inserindo-se por vezes no Livro arquétipo do que lemos, ou no Grande Livro dos Livros que se está sempre escrevendo seja mentalmente seja mesmo em forma de letras e palavras na matéria subtil e com formas dos mundos espirituais...
Pintura de evento espiritual, de Bô Yin Râ, no seu livro Mundos.
A leitura torna-se mesmo uma meditação quando conseguimos ler com todo o nosso ser, seja num papel, livro ou ecrã, e quando o ver e ler não se detém na letra impressa mas entram no conteúdo imanente, no ambiente contextualizante e nas consequências implícitas ou latentes, com uma boa osmose ou resultado.
O Livro é na realidade um espelho da vida porque as suas páginas reflectem o que se espelhou nas mente dos seus criadoras e porque são como espelhos donde brotam imagens e ideias com que nós reagimos a eles e que nos permitem compreender melhor as inter-relações dos processos da vida, a partir do que alguém escreveu, e vivenciou ou não, e em relação e comparação com a nossa sensibilidade, consciência e mundivivência.
Neste sentido pode ser um espelho de nós próprios, na proporção em que o nosso ser se revela mais, tanto pela compreensão externa do mundo como interna de si e sobretudo sobre as associações e intuições que brotam desse contacto, por vezes bem originais e aprofundantes e anotamos. Daí o valor das marginálias, as anotações que vão sendo depositadas nas margens dos livros, muito significativas por vezes quando feitas ao longo do séculos nos livros antigos, enriquecidos com as notas de posse ou assinaturas das personas que os possuíram durante algum tempo na grande roda da Vida e da Fortuna. 
 Mas há muita leitura que na verdade não podemos dizer que seja leitura mas apenas passar os olhos pelo que tal não tem efeitos nem nas margens do nosso ser ou do livro e menos ainda nas do mundo da verdade, da justiça e da consciência colectiva humana, que poderia ser enriquecida em tal acto...
Também há obras publicadas que não se tratam propriamente de livros verdadeiros mas que são mais simulacros de que se revestem diversas intencionalidades interesseiras ou negativas e que as veiculam frequentemente bem apresentadas e ilustradas, enganadoramente. Claro que tudo é relativo, e há que ter cuidado com as listas de livros bons ou maus, dada a existência dos famigerados antigos índices de livros proibidos ou mesmo as queimas de livros, como no tempo da Reforma executaram e agora na Ucrânia anti-russa se fizeram.
O livro verdadeiro foi e será sempre um magister vitae, um mestre e professor que a vida, no seu fluir inteligente, nos põe cómoda e concentradamente à nossa disposição ou vontade, e que merece certa reverência ou amor. Mestre da Vida também porque, para além do conteúdo, existe o seu autor, vivo ou já desincarnado, por detrás, de cima ou dentro do livro. Daqui que sabermos um pouco das biografias verdadeiras dos autores seja conveniente para discernirmos melhor quem a pessoa foi ou ao que estava ligado.
Quando lemos um autor estamos automaticamente a ouvi-lo e em certos casos, se o nosso pensamento crítico ou responsivo é forte, a dialogar com ele e com os seus sentimentos, ideias e intenções  pelo que interaccções subtis nas almas operam-se, ainda que muitas vezes pouco nos apercebamos disso.
Contudo, os efeitos das leituras nas pessoas pode-se dizer que são quase infinitos e assim há livros soporíferos, narcóticos, ou mesmo venenosos e mortíferos, embora a maioria apenas informe e desinforme sob uma teia de palavras, sentimentos, ideias, acontecimentos. Poucos são os que realmente iluminam e dinamizam a alma, abrindo novas modulações de conhecimento, propiciando transformações conscienciais geradoras de realização interiores luminosas, e por vezes até gerando novos livros valiosos e benéficos, sobretudo quando há almas bem sensíveis e receptivas que os acolhem no coração e com seus ensinamentos e vibrações florescem...
 
Quando nos deparamos com livros que demandamos há muito, ou que gostamos imenso, cientes do princípio de que "os livros procuram os que os amam", como testemunhava José V. de Pina Martins, estamos no átrio do Templo da Sabedoria e por vezes acontece o famoso "ler os livros de joelhos", como Sá de Miranda dizia das suas leituras de Platão e que Pina Martins me repetia, neste caso não sendo o habitual o breviário ou o missal a ser empunhado mas um livro cuja sabedoria nos toca tanto e nos faz sentir tanta gratidão ou reverência que por essa postura manifestamos quão mais próximos dele e da sua fonte queremos estar, excluindo o exterior e como que cobrindo-nos pelos véus do amor devocional, qual casulo onde a lagarta se transforma em borboleta alada e colorida, e voa para as direcções elevadas que o livro impulsiona. Tal acontece quando nós nos curvamos e ajoelhamos de certo modo diante da Hagia Sophia, a Santa Sabedoria ali invocada e manifestada.
A catena aurea, os elos dourados, a leitura que gera em filigramas ligações ao alto e invocações dos autores antigos acaba por dar uma dimensão maior e mais profunda ao acto de ler e de se pensar e contextualizar o que nele se vai erguendo e estimulando tanto a alma individual que o lê, como também, pela interligação de todas as almas, vivas ou não terrenamente, a alma do mundo, o inconsciente colectivo nacional e o corpo místico da Humanidade.
Mas que relações podemos discernir ou intuir com mais objectividade entre a alma do mundo ou a consciência universal, e os livros?
Não havendo aparelhos que consigam registar e ler as emanações cerebrais e anímicas, nomeadamente quando escrevemos ou lemos, temos de nos limitar a tentar desenvolver uma certa clarividência, certa imaginalidade e, mais fácil, intensificar as aspirações e ligações mais elevadas à verdade, ao amor,  à sabedoria no que pensamos ou anotamos, e assim melhorarmos tais vibrações e emanações, por vezes reforçada por alguma meditação. 
Por vezes tais invocações da anima mundi, a alma do mundo, ou  inserções na Tradição espiritual perene ou nacional, são bem expressas pelos autores e autoras, apenas sendo necessária a leitura concentrada em alma e espírito, pela qual nos abrimos à alma e espírito do autor e de tal Tradição, para o que seja lido e comentado mentalmente ou mesmo anotado se insira nessa egrégora e subcampo unificado de energia consciência. Mas certamente tal singramento subtil trata-se de uma osmose profunda e raramente conseguida, essa comunhão com um ser e corpo espiritual, o autor, e com o seu livro que é um pequeno mundo, inserido na pluridimensionalidade do grande mundo ou macrocosmos histórico da Humanidade
Ao realizarmos esta leitura com alma e osmose estamos então a sair do livro material de páginas impressas e entramos mais no mundo das imagens, sentimentos, ideias que estão por dentro e por cima delas em fluidez de movimentos e de redes  Assim nesta dimensão de leitura de um livro opera-se uma ligação, entrada ou exploração no Cosmos, no Livro dos Livros Divino, com contributos e re-escritura nele. Na Antiguidade e sobretudo na Idade Média e Renascimento, foram milhares e milhares os livros (sobretudo de Teologia, Direito e Filosofia) que eram apenas comentários daqueles considerados os magisters, os mestres e se a maioria era repetitiva e não criativa, em certos casos houve contributos valiosos, tal como os  neo-platónicos Proclus e Porfírio, Alain de Lille e John of Salisbury da Escola de Chartres, e depois Lorenzo Vala, Marsilio Ficino, Pico della Mirandola, Angelo Poliziano, Erasmo, Lefèvre d'Étaples, o cardeal Bessarion e vários outros realizaram. 
Marsilio Ficino, Pico della Mirandola e Angelo Poliziano, na Florença dos Medici.

Ora estes comentários ou melhor explorações que realizamos mentalmente e que anotamos ou não, feitos até no decorrer de um vida e com notórias mudanças na adesão e valorização ao que na juventude nos parecera mais extraordinário, se por vezes podiam ser sem responsabilidades ou mesmo num certo diletantismo ou dispersão hoje, com a diminuição do tempo consagrável à leitura, elas devem ser muito bem escolhidas para que haja verdadeiramente aprofundamento, adentramento ou enriquecimento do tema ou da zona no cosmos subtil e platónico do mundo das ideias e, claro, de nós próprios.
Ou seja, do que se lê e sentimos como real ou verdadeiro, deve resultar uma partilha, um ensino ou quase magistratura do que passou a estar em nós vivo, e que nos religar-nos  co-criativamente com o Cosmos das frequências vibratórias, ideias e  autores que as escreveram, meditaram ou trabalharam. As obras, por exemplo, em capítulos temáticos e consagrados a sucessivos autores de uma tradição, oferecem até uma fácil participação nossa de reflexão e anotação na continuidade visível glossada de tal Tradição, aprofundando-a e actualizando-a até.
Um exemplo, na nossa literatura portuguesa, de um movimento, o de intersecionismo pessoano, ecoou tanto as tentativas de se ultrapassarem os limites da personalidade e do eu, como os aprofundamentos dos acessos às realidades subtis paralelas ou afins que se iniciavam na Europa, por vezes com metodologias ocultistas, espíritas ou surrealistas, e estabelecia ligações entre planos diferentes do tempo ou do espaço, pontuados por vezes por nomes de escritores e de locais e albergando, por exemplo, movimentos tangentes, tal como o comboio que avança sempre paralelo ao rio que se encaminha para Ocidente, criando dessa tensão constante da proximidade, que se desejaria união, uma capacidade de fusão interior em que as duas tangentes são já um mesmo canal ou corrente.
Outros escritores dotados de tal sensibilidade intersecionista, escreviam em paralelo, tal Augusto Santa Rita, na revista Exílio que fundou e dirigiu e contou com forte colaboração sensacionista esotérica de Fernando Pessoa, ou mesmo o mais panteísta Teixeira de Pascoaes, e abriam mais trilhos nessa sensibilidade astral e unificadora das várias dimensionalidades, permitindo-nos hoje ao lermos as suas obras conseguirmos ainda mais cavalgar nessas convergências e ressonâncias holísticas e admirarmos tais capacidades pioneiramente manifestadas, tal como Fernando Pessoa reconheceu no Auto da Vida Eterna de Augusto de Santa Rita, considerando-o a primeira apresentação da teoria do corpo e plano astral na literatura portuguesa.
Havia perigos contudo naturalmente nesses intersecionismos futuristas e sensacionista de Álvaro de Campos, e que Almada Negreiros também explorou com grande inventividade, pois havia a ânsia fáustica de pôr em causa a ordem e moral estabelecida e até a auto-destruição da personalidade para ser tantos e tudo. A cisão dos heterónimos, a multiplicidade dos temas lançados em manuscritos para a arca, permitiram a Fernando Pessoa um equilíbrio de válvulas de escape, assumindo-se ele como o eixo vertical, gnóstico, sociólogo e desassossegado, mas, no contexto de uma vida mental e até de associações livres a começar a ser reprimida pelo salazarismo, e com ele frustrado nos seus amores e projectos de editor, bibliotecário e autor bem publicado, acabaram por prematuramente o enviarem para os outros planos, algo também facilitado pelas libações à Bacante iniciática ou não que ele poetizava com fidelidade, e sobretudo a partir de uma frase que. inscrita no Grande Livros dos Livros há muitos séculos, nomeadamente na Antologia Grega Palatina e depois entre nós por Antero de Quental e Joaquim de Araújo glosada, foi por ele  esotérica e magicamente bem dedilhada no seu poema Iniciação, de 1934, e que nós já trabalhamos num artigo neste blogue, todos se inserindo e fortificando nesse dito verdadeiramente pluridimensional do Grande Livro dos Livros: Morrer é ser iniciado, isto é ainda, morre e renasce.
Ora na leitura mais iniciática quem lê gera uma imagem do que lê e de si próprio em interacção com as ideias que perscruta, os sentimentos que vivencia, as imagens interiores que intui e o seu posicionamento no espaço tempo em que se está a gerar essa sucessão de vibrações e conexões na alma e cérebro, e que permitem conhecer-nos melhor e sermos iniciados nos múltiplos estados de consciência e seus planos no Universo e portanto de compreendermos e interagirmos melhor com o mundo, isto é, de modo mais verdadeiro, ético e espiritual.
Hoje pelo grande globalismo mundial manipulado, o enfraquecimento e a destruição da personalidade e até do corpo da individualidade são mais facilmente conseguidos já que proliferação de informação é vertiginosa e frequentemente de fraca qualidade, em especial na internet, embora as páginas nas redes sociais dedicadas a críticas de livros lidos, a certos autores, ou as citações, falsas ou não, que lhes são atribuídas, são ainda assim formas de se envolverem as pessoas com autores, ideologias, conhecimentos, gerando-se novas formas de continuidades de uma Tradição em grupos virtuais mas onde por vezes pode haver diálogos e escritas que enriquecem o autor ou o tema original, tal como nos comentários e anotações antigas.
A questão de podermos acreditar nos livros e no que escreve nas redes sociais de citações sob os nomes por exemplo de Rumi, Pessoa, Shakespeare, é hoje muito cadente pois progressivamente a leitura das pessoas é mais na internet, no facebook e no google, estes hoje em dia tão vendidos, censuradores e manipuladores, e qualquer aldrabão escreve uma verdade de la Palisse e assina-a com um grande nome de autor ou livro.  
Ora para sabermos discernir bem o que por lá se escreve ou apregoa, é preciso ler e reler, pensar e meditar, glosar e reescrever o que ao longo dos séculos  foi pensado ou escrito de melhor sobre tais assuntos, o que é hoje muito difícil.  Com efeito a maior parte das pessoas no séc. XXI, pela vertigem de luta pela sobrevivência numa sociedade demasiado competitiva e consumista, massificante e alienante, lê e a pensa muito influenciada por opiniões superficiais, noções falsas, ideias injustas, comentadores vendidos, num claro predomínio da quantidade de informação desinformante sobre a qualidade da informação certa e a assimilação verdadeiramente conhecedora.
Há pois que saber usar com conta, peso e medida a rapidez de acesso a conteúdos e o grande alcance divulgativo da Net, discernindo as mentiras e escrevendo-se textos ou comentários bons, que diminuam a alienação e a manipulação das massas.  Importante será também  aprofundarem-se alguns temas, autores e livros, em livros, em artigos independentes, ou então postos nos blogues, onde têm uma certa perenidade, e depois partilhá-los para as redes sociais, intensificando assim certas linhas de força da Tradição Perene e das forças da Luz e da Verdade na Terra... 
Assim, por exemplo, lendo-se e meditando-se as reacções e comentários para melhorarmos o que foi escrito ou mesmo em livro já publicado, não deixando nunca de se estudar, dialogar, meditar e escrever,  poderemos ir contribuindo, com as nossas limitações, para a alegria e a glória da Consciência Universal e Divina, que nos gerou e onde temos o nosso ser e do qual a Paz, a Sabedoria e o Amor deverão resultar, até na linha do lema e canto templário Non Nobis Domine, Non Nobis sed Nomine tuo da Gloriam... Não a nós, Senhor, não a nós mas ao teu Nome, mantra, vibração e bênção seja atribuída a Glória, ou melhor, reconhecida a Luz...´
 
Conseguirmos pela leitura fazer crescer e ficar mais estruturada e harmoniosa a verdade que abordámos e mesmo a nossa identidade, e logo a história e imagens perpetuadas, é importante numa época em que tantos assalariados de instituições ou Estados mais ricos e opressivos tentam manipular as versões históricas do que sucedeu ou está a decorrer, de que as narrativa oficiais, seja sobre os tratamentos e vacinas ou a guerra na Ucrânia são hoje exemplos flagrantes. 
Devemos assim saber posicionar a nossa bússola da verdade ou activar o radar de linhas e energias que podem ser mais intensificadoras, transformadoras ou iluminadoras em nós e nos ouros, saindo-se assim de cada leitura, meditação ou escrita, melhor e com mais um contributo para o Grande Livro dos Livros.
Certamente, discernir muito bem o que é verdadeiramente a nossa missão, o nosso dharma ou dever e o quais são os interesses, desejos e necessidades e intenções dos outros é fundamental. Temos portanto de reflectir, meditar e sentir bastante bem o que é mais valioso de aprofundar nas grandes questões e mistérios, e onde como podemos com a nossa aspiração, coragem e liberdade, sabedoria e intensividade, melhor contribuir para o Grande Livro dos Livros e para que haja mais seres, autores, ideias e livros valiosos interligados e com os quais queremos caminhar no além da eternidade, dialogando e aprofundando o Conhecimento e o Amor, rumo à Fonte Divina e na sua Luz.