«Há quantas vidas caminhamos nós sobre a Terra,
por entre montanhas de alegria e os vales da dor?
Quis então delimitar um espaço onde pudesse edificar
e lançar a escada que leva ao Céu e a Deus,
mas só via areia movediça ou gente apressada,
e mesmo os templos tinham horas de fechar.
Cobri-me também do manto da rapidez,
contraí os lábios e a boca nos ajuntamentos
e atravessei as cidades ocas e fervilhantes
até encontrar o oásis no coração trémulo.
Sentia água lá no fundo de tudo,
um filão simples mas puro.
Chegar até ele no fundo, era o enigma.
Consultei então os sábios da minha livraria.
Um disse-me: a tua parte feminina tem de sofrer e morrer
enquanto o masculino em ti como árvore crescerá.
Mas um outro replicou: a serpente enganou-te
e a tua vontade e afecto jazem por terra.
Fechei os olhos, levantei as mãos ao céu
e pedi à Divindade que me guiasse,
mas só sentia o meu peito aberto
como uma catedral imensa e vazia
por onde passava o Espírito infinito.
Tudo o que fizera e sentira no dia
estendia-se em tiras no turbilhão do céu,
e da eternidade onde meu ser habitava
que era eu senão a Consciência?
Eis a pérola achada no seio dos mares revoltos,
mas como a manter luminosa entre as dualidades?
- Paciência infinita, adoração íntima intensa
E o Fogo Divino brilhando sempre em ti, salvar-te-ão.
Pintura do mestre alemão Bô Yin Râ |
2 comentários:
Que poema maravilhoso, Pedro!
Graças muitas, e desculpas pelo atraso. Boas inspirações!
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