segunda-feira, 5 de setembro de 2022

A Oração, de Bô Yin Râ. Tradução portuguesa dada à luz por Pedro Teixeira da Mota em Agosto de 2022

 Saiu à luz muito recentemente a tradução de um livro em alemão sobre a oração, o que é de se louvar, pois esta arte ou técnica emotiva e poética, linguística e psíquica de se associarem palavras com intenções humanas, religiosas e espirituais, embora milenária continua misteriosa, oscilando as pessoas entre adoptarem as práticas tradicionais, que sentem e resultam mais ou menos, inventarem as suas, utilizarem as de outras religiões ou, mais niilisticamente, descrerem, desvalorizarem e ignorarem.

E contudo todos nós já sentimos ao longo da vida momentos em que as orações brotaram mais, seja preces de aflição ou de momentos mais esforçados, seja ao dar-se graças  alegremente, ao orarmos pelos que já partiram da Terra física visível, e ainda as orações e mantras que brotam do nosso interior durante interiorizações e meditações. Como orar melhor, eis então a questão: como podemos com a oração harmonizar-nos, alinhar-nos, conhecer-nos, e logo ligar-nos ao espírito que está em nós, à Divindade e aos seus ajudantes, mensageiros, mestres, anjos. E consequentemente como saber pedir e obter melhores resultados com ela.

O autor do livro é alemão, viveu entre 1876 e 1943 e  deixou uma obra de cerca de 30 livros e 500 pinturas, tendo recebido o nome de Bô Yin Râ quando foi iniciado pelo seu mestre, oriental, durante uma estadia na Grécia, junto ao Mediterrâneo, ecoando em tal nome os sons que  estão mais afins vibratoriamente do seu espírito, algo que certamente escapará a quase toda a gente, embora se saiba que várias tradições apresentam o fenómeno da iniciação e o recebimento de um novo nome, iniciático, místico, espiritual nesse momento de transição, despertar e religar.

Iniciando A Oração com a transcrição da cena evangélica (Lucas 11, 1), em que os discípulos pedem ao mestre Jesus que lhes ensine a orar, Bô Yin Râ vai desenvolver  em cinco capítulos um ensinamento valioso que tentaremos resumir no seu essencial.

                                 

No 1º capítulo, intitulado, o Mistério da Oração, aponta para
a necessidade de as pessoas aprofundarem a sua compreensão de Deus, nomeadamente a de que só no nosso interior mais fundo é que poderemos encontrar a Divindade viva, e que orar, não sendo  tanto dar graças ou pedir alguma coisa, implica sabermos realizar as três condições da oração por Jesus transmitidas: Procurar, Pedir e Bater.

No 2º capítulo, Procurai e Encontrareis, aprofunda o sentido do que e como se procura, e como isso não é uma inquieta demanda mas antes implica um estado de paz, de entrega plena do ser, «e é uma imersão serena no mais íntimo da alma, sem qualquer agitação, sem nenhuma ambição e sem impaciência inquieta», pois quem tem de ser encontrado é o próprio ser de quem procura.

Para tal tarefa recomenda Bô Yin Râ a postura que mais nos convier mas que permita esquecermos o corpo físico e sentir-nos a nós próprios no seu interior e como um fluido dentro dele, não ligando a pensamentos ou imagens que surjam, apenas tentando cada pessoa sentir-se no seu interior mais fundo e ir deixando que a obscuridade vá dando lugar a uma claridade e quietude feliz, a que corresponde a consciencialização de que a sua vontade está em ligação, sintonia ou unidade com a vontade Divina, ou que o orar é uma comunhão com a vontade do Ser primordial.


No 3º capítulo, Pedi e ser-vos-á Dado, Bô Yin Râ desenvolve o sentido do pedir, que não é mais do que libertar interiormente as forças que permitem ao que espiritualmente nos pertence se manifestar.
Mas p ara um pedido se tornar verdadeiramente uma oração, ele deve ser imaginado e visualizado até que algo como uma imagem estilo negativo fotográfico se forme e que será depois activada ou colapsada tanto pela nossa fé como pela cooperação da Alma do Mundo, ou da Ordem do Universo, com os seus agentes, «as sublimes potências»,  que auxiliam tais pedidos a concretizar-se, no caso de que quem pede ou o que se pede possa ser justamente satisfeito.
Distinguirá ainda Bô Yin Râ entre os pedidos normais para aspectos da existência terrena e os pedidos espirituais ou mais verdadeiros, nos quais explicita como o mais paradigmático «o pedido que abre de novo à corrente do Amor eterno a possibilidade de circular através da consciência terrena», dando-nos nesta frase uma clarificação bem valiosa da misteriosa origem do Amor, algo que na realidade Bô Yin Râ conhecia intimamente, como a sua vida e obra testemunham.

No quarto capítulo, Batei e Abrir-se-vos-á, encontramos uma condensação dos três princípios da oração, tão clara que merece ser transcrita na sua plenitude, para melhor conhecermos e praticarmos a oração: «Se procurar é um mergulhar em si mesmo, para encontrar no mais íntimo, na profundeza mais funda, - se pedir é querer na firme confiança que se receberá, - assim é bater, - ou seja, bater à porta para obter acesso, é um comportamento activo no exterior, que confere apoio a um pedido».
Explicitará ainda que
este bater à porta da oração não é apenas por coisas terrestres, mas que tem a sua contraparte mais elevada no entrar no mundo espiritual e o ter acesso ao Templo da Eternidade, embora ria-se um pouco dos que falam tu cá tu lá com Deus, dos que dispensam intermediários entre eles e Deus e imaginam que é Deus quem lhes abre as portas ou os recebe nos mundo espirituais. É só porém ao ser humilde, que sabe reverenciar Deus e realizar quão frágil é a sua consciência e cérebro para entrar em comunicação directa com o Divino, que algum amigo, mestre ou anjo de Deus  abrirá a porta de acesso ao Templo divino e encherá ou iluminará o seu Graal.

Renovação espiritual se chama o V capítulo e nele Bô Yin Râ vai apelar a uma prática mais assídua da oração, considerando-a capaz de gerar uma renovação espiritual na Humanidade, tão necessária nos seus dias como nos nossos em que cada vez mais as pessoas estão submetidas a forças negativas, consumistas, desnaturalizadoras, manipuladoras, violentas, em especial pelos órgãos de comunicação tão vendidos a narrativas oficiais falsas, amedrontadoras e danosas, que afectam, distorcem ou paralizam as almas e mentes.
Com efeito estamos todos
ligados uns aos outros, pelo que o facto de um ser conseguir começar a respirar e vivenciar o espírito e as suas potencialidades de comunicação e comunhão espiritual terá efeitos em outros, nomeadamente os que por ressonância de afinidades ou proximidade estão mais sensíveis a tais eflúvios.
Explica a
inda como as confissões, e os apelos à misericórdia ou à graça do Alto que se fazem têm o seu papel de catarse e que podem receber respostas dos mundos espirituais, nomeadamente de santos, mestres e anjos e as energias divinas que eles partilham. 

Também de um modo bem valioso faz ver como se distingue a alma do espírito em cada ser humano e como é necessária uma certa higiene da alma para que esta não seja paralisada e para que o seus sensores possam captar as energias ou bênçãos do espírito, dos mundos espirituais e da Divindade. 

A oração serve então essa função e quem  a compreende bem torna-se capaz de estar sempre pronto a orar, variando depois o tipo de orações, palavras, intenções e vivência interiores, lembrando que o orar pelos que já partiram é bom e útil para eles ou para outros que precisem mais do que eles, algo que Bô Yin Râ no seu Livro do Além já explicara bem e que merecerá um dia ser traduzido para português.
A obra termina com um capítulo inumerado,
Como deveis orar, com cerca de dúzia e meia de orações compostas como exemplos por Bô Yin Râ e que nos poderão inspirar em momentos como o levantar, deitar, comer, sofrer, alegrar-nos, etc.


Esta obra fora dada à luz em Leipzig em 1926, pela casa editora Richard Hummel, com o título Das Gebet e foi agora traduzida e publicada em português em bom papel, com as colaborações de Cláudia Lopes, Maria Antónia Bacelar Antunes e da tipografia Lobão, de Almada. Os poucos exemplares numerados e assinados, para circulação entre pessoas amigas e interessadas,  poderão ser pedidos a viva.erasmo@gmail.com, ou pelo Facebook. Boas orações!

2 comentários:

Maria de Fátima Silva disse...

Pedro, muitas graças! Há já algum tempo que venho a conhecer Bô Yin Râ através dos valiosos textos que o Pedro escreve para o blog e nos diversos vídeos. Tais conhecimentos assim como todos os comentários feitos pelo Pedro, têm-me ensinado muito e são a diferença no meu dia a dia e na forma de estar neste meu caminho. Lux carissimi amicum!

Pedro Teixeira da Mota. disse...

Agradeço a apreciação vivida dos ensinamentos de Bô Yin Râ, Fátima, e faço votos que vá sendo inspirada para as melhores realizações possíveis. Pax, Amor, Lux!