sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Acerca da censura no Facebook e nas redes sociais, o que está por detrás dela e como devemos resistir.


                                            

PELA VERDADE E A LIBERDADE NA HUMANIDADE...

 Os dirigentes e operativos do Facebook, como também de outras redes sociais e meios de comunicação, pensam, talvez numa arrogância idiota, que os seus usuários e  clientes são crianças e devem ser tuteladas e restringidas nas capacidades que constituem a dignidade do ser humano, nomeadamente a do sentido crítico, procura dialogante da verdade e liberdade de comunicação, e preferem apostar na censura, na semeadura de bufos e censores, na expulsão,  bloqueio ou conta restringida dos que procuram ou lutam pelo conhecimento e a verdade, acima de todos os interesses e pseudo-conveniências, e resistem a tais medidas limitadoras, geradoras de falsidades, desânimos, dúvidas ou desconfianças, repulsões e conflitos entre as pessoas. 

O objectivo maior ou global parece ser uma sociedade mundial controlada, manipulada ou mesmo zombificada, com vigência obrigatória de narrativas oficiais, consumos forçados, falsos líderes e pensamentos únicos, sempre distorcedores e castradores, em geral irresponsáveis ou inimputáveis e impostos à força, indícios claros de tendências materialistas, opressivas, megalómanas e ditatoriais de elites monetárias e dos dirigentes de organizações e governos, algo  inadmissível na Humanidade Livre do séc. XXI, daquele que André Malraux e outros disseram que nele haveria uma civilização mais espiritual ou então o mal, a opressão, o medo estariam a triunfar. 

Lutemos pois corajosa e persistentemente contra tal cizânia que está a crescer demasiado nas redes sociais, as quais não só corrompem e danam os que se deixam empregar como censores, ou pseudo-verificadores de factos, como restringem nas pessoas que as utilizam e as enriquecem, a criatividade, o conhecimento, a justiça e a verdade, afectando seriamente a Humanidade e a sua vera identidade dialogante, fraterna, amorosa, espiritual e até de origem Divina....

Que cada ser seja o Caminho, a Verdade e a Vida, e não nos esquecendo ou perdendo da visão e coração que "conhecereis a Verdade e ela vos libertará", e lutemos para que Twitters e sobretudo Facebook deixem de ser opressivas e repressivas Inquisições, e que as nossas orações e meditações nos aproximem dos estados luminosos conscienciais...

Post-scriptum, com a data de 11-12-2022, apenso à partilha deste texto na famigerada plataforma repressiva do Facebook, o contrário, por exemplo, da Vk.com:

Após um mês de bloqueamento discricionário e injustificado, e uma semana de não partilha dos meus escritos do blogue,  apenas  partilhando links de activismo consciencial e supra-narrativas oficiais, recomeço a partilhar de novo textos do blogue, este texto  contudo já com alguns meses de redacção e tendo sido apenas levemente acrescentado. Anote-se contudo que o bloqueio opressivo do Facebook por um mês deitou abaixo muita da ilusão quanto ao interesse e valor ou eticidade desta plataforma, pelo que, para além de ter suspendido algumas páginas que criara, peço que não me dirijam mais convites de amizade, bem como que me desculpem tanto os que me pediram já que deixei de aceitar sem justificações bem expressas, como aqueles que tenho começado a apagar, para diminuir o número exagerado de amigos e amigas.... Quando terminar a censura absurda e opressiva do Facebook, inadmissível na terceira década do séc. XXI, então outra convivialidade poderá desabrochar... Lutemos por ela, mesmo que seja por ora com os poucos que se conseguem erguer e sobreviver fora da manipulação, alienação e ainda por cima censura bloqueante cada vez mais frequente, nesta caquética direcção da União Europeia submetida a todo o tipo de ditames, alinhamentos e corrupções, e que já não representa de modo algum qualquer tipo de liderança futura da Europa fraterna, verdadeira e humanista...

quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Poesia espiritual escrita no Jardim da Estrela, em Lisboa, entre as raizes de uma gigantesca árvore da borracha.

 

Quando o Amor te bater à alma

Dá-te com sabedoria e intensidade,

Não menosprezes a graça dada

Mergulha fundo e sê a alma amada.


Sob o peso da vida

Não esmoreças e avança.

A meditação e a inspiração

Virão sempre guiar-te.

 

Vê com sensibilidade e profundidade,

Tanta a natureza como a alma

E descobrirás as maravilhas

Que pelo teu amor se perenizam. 


Almas, auras, voos, ventos,

Assim te vi vinda de longe

lendo entre as raízes da árvore

mas acolhendo já a tua voz. 

Contempla bem a aurora

em casa, na natureza e no amor

e comungarás da Força Divina

que diariamente te renovará.


Como a ave que desce

Assim  te desvendaste a mim

E os nossos peitos abraçados

Confessaram o Amor eterno.

 

Sucedem-se  as estações

E como elas as amizades

Mas subitamente o Amor

Irrompe fulgurante, despertante

e toda a alma fica vibrante.


Já despertos vivem na vida corporal

Os que no Amor se transfiguram

e em gestos, posições, olhares e vozes

Constantemente desvendam o Divino.

 

Cada dia traz os seus trabalhos

e com calma os cumpriremos.

Felizes dos que os amam

e criativamente se transcendem

 e na Unidade querida se fundem.

 

Esta aspiração à Divindade

que nos ergue, anima e faz criar

pede-nos para discernir e persistir,

para se aperfeiçoar o temporal

e realizar-se a união  imortal.


 Ouve e vê bem, ò alma amiga:

No interior do teu peito e coração

arde a chama do Amor divino,:

descobre-a, medita-a e partilha-a

   e terás luz e calor na vida eterna...


quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Manuel Greaves. Acerca de Antero de Quental e de Tolstoi, nas "Notas de Arte (Pelo Mundo Fora)". 1900, Horta.

Manuel Greaves foi um açoriano, jornalista e escritor, admirador de Tolstoi e de Antero de Quental,  que se destacou na sua ilha natal da Horta, deixando numerosas colaborações em jornais (de alguns dos quais fora redactor), e revistas, bem como alguns livros. Nascera a 8-I-1878 e desincarnou a 1-II-1956, destacando-se desde jovem na literatura como poeta nas linhas parnasiana e também simbolista e, por vezes, sob o pseudónimo Narciso Rosado. Embora pessoa bondosa era também bastante divertido e irónico, nomeadamente na crítica política. Em 1948 e 1950 publicou dois contributos etnográficos valiosos, Histórias que me contaram, e Aventuras de Baleeiros. Postumamente, em 1958, a família deu à luz Histórias que ouvi, que reúne inéditos e depoimentos sobre o ilustre publicista açoriano.
         Imagem da Enciclopédia Açoriana, on line, da Direcção Regional dos Assuntos Culturais dos Açores
Foi na saudosa Tipografia do Atlântico, da Empreza Editora “o Atlântico”, à Horta, e distribuída pela lisboeta Papelaria Palhares, à rua do Ouro, 141-143, que em 1900, deu à luz o seu primeiro livrinho Notas de Arte (Pelo Mundo Literário), com um breve mas belo prefácio de M. G., iniciais do próprio autor, o qual, ilustrando bem a sua sensibilidade, de jovem apenas com 22 anos, e o escopo da obra, merece que o transcrevamos,  a partir do 3º parágrafo:
“A Arte – a fada encantada de os Antigos e dos Medievais, com caprichos de coquete, e impercepções e segredos de tricaninha que quer conquistar – sem ter quem, ou moço que quer namorar – sem ter pequena. Quantos a procuram, sem a encontrarem? E quanto a encontram, sem o saberem?
Nenhum homem pode deixar de fazer Arte. Ou o lavrador, nos campos arando; ou o fadista, aos cantos das ruas, cantando a viola; ou o operário, na tenda, suando em bica no eterno ganha-pão. Todos fazem Arte; todos a cultivam.
Faz Arte o marinheiro, nas vergas, amanhando o pano; o pescador, no mar, concertando o anzol; o escritor, no seu cubículo, fazendo a Literatura.
Este livro encerrará Arte, - não aquela fácil do Jornalista, ou do Anotador, mas a do Artista. São Notas de Arte, cavaqueira útil e instrutiva, perfis de alguns confrades, vistos pelo lado artístico do seu trabalho.
É um trabalho destinado aos Homens de Letras da minha quadra dos Intelectuais, e aos Moços do meu tempo, que aspiram ao Ofício.
Que uma brisa suave o proteja, e o ampare no grande Oceano das Letras.»
Com um belo fim de invocação de protecção para a navegação no samudra ou oceano da existência (e até nós chegou), discernimos uma bela e juvenil sensibilidade à unidade do trabalho, da arte e da literatura, e  à sã e generosa fraternidade dos trabalhadores manuais, dos artistas e dos intelectuais, e assim, nos vinte e um capítulos capítulos, em 114 páginas, deparamos com valiosas apreciações de escritores e amigos e das suas obras, vidas ou ditos, com um dos capítulos dedicado a um mestre da santa Rússia, Tolstoi, do qual valerá a pena transcrevermos uma parte na qual transparece bem o idealismo puro de ambos, até meditativo, e porque é uma antevisão homenageante, em dez anos, da sua morte: «Creio que li quase toda a obra de Leon Tolstoi. Ainda há oito dias terminei a leitura de um romance seu, pequeno, e muito para meditações - Dinheiro Maldito. O desgosto de um homem, inculcado de infiel pelo povo. Os sensatos artigos de Tolstoi sobre a Questão Social, e sobre as Reivindicações do Proletariado, apareceram em todos os jornais, uma boa parte na Imprensa avançada de Paris. No jornal do grande propagandista revolucionário Jean Grave [1854-1939, líder anarquista]   Les Temps Nouveaux, leio semanalmente trabalhos do conde russo, muitos interessantes e agradáveis. 
 Hoje, penando-me a morte do ilustre vulto, desejaria ainda, aldemenos lançar-lhe sobre a campa uma flor de neve - da pureza da sua Alma.»
 
  Outro capítulo valioso é o consagrado a Antero de Quental, o VII, o qual Manuel Greaves já referira aliás noutro passo da obra. Resolvemos então transcrever o capítulo completo, aproveitando o tempo duma conversa telefónica, dado que explica com a sua grande sensibilidade ("ó águas cristalinas do Mondego"), sinceridade e humildade a admiração e atração que sentia pelo mestre açoriano, e menciona outros anterianos menos conhecidos. Eis o seu texto, e muita luz e amor para Manuel Greaves e os demais anterianos:
«Numa nota a uma crítica de Alberto Pinheiro sobre Antero de Quental, inserta na [revista portuense] A Arte do Verediano Gonçalves, escrevi eu, há tempos, isto:
"É o melhor trabalho que eu tenho visto de Alberto Pinheiro. Creio que, do que se escreveu sobre Antero, é isto o mais justiçoso e o mais seguível. Felicito o crítico, e hoje, se estivesse de pachorra, anotava o trabalho com o empenho da Crítica".
Se houve Pensador que me despertasse consagração imensa, é ele esse gigante, o qual, ali, em Ponta Delgada, desfez o crânio com um tiro de revólver num desespero inaudito. [Sob a âncora da Esperança, e com que grito ou clamor impossível de se ouvir?]
Antero de Quental, o poeta psicológico por excelência, uma reprodução de André Chenier [1762-1794, um pré-romântico], o máximo tradutor dos sentimentos da Alma, concluía, em Coimbra, como Schopenhauer no seu cubículo de Francfort:
                          " Que sempre o mal pior é ter nascido".
Como Pensador, não está definido Antero no trabalho de Alberto Pinheiro. Como poeta, ele é considerado o segundo sonetista português (o primeiro é Bocage).
                                                                                     ***
Nos Açores, temos um profundo admirador da Obra de Antero. É o sr. Manuel Joaquim Dias.
Tenho ideia de uma magnífica poesia de este sujeito sob a impressão do suicídio do Grande Intelectual.
Quando moço, foi Antero muito festejado e muito admirado. Em Coimbra, as cristalinas águas do Mondego deram-lhe, em esvaídas cores, todo esse encanto dos seus versos.
“Recebi o baptismo dos poetas...”
                                                      *
Antero sempre teve inclinação por a Questão Magna - a possível felicidade da Família Humana. Neste assunto, Antero trabalhou e produziu pela pena e pela palavra. Tenho saudades dos seus bons escritos sobre o Ideal Moderno; ainda os leria com delícia – com a delícia do obscuro que lê o Mestre e o Pensador excelente.»

Do Amor. Reflexões sobre os seus níveis e as suas potencialidades e como estamos e iremos estando face a ele.

Consciencializar-nos mais do estado de Amor em que estamos não é  frequente nas pessoas, pois em geral só nos damos conta de tal nos momentos de maior felicidade-infelicidade, ou então de  convivialidade, de enamoramento ou de sintonia e entrega recíproca grande ou plena. Daí até, e por muitos mais motivos, o famoso dito " O amor é cego", que já desenvolvemos em alguns textos neste blogue.

O Amor é cego, na tradição da olaria de Vila Viçosa. Fotografia antiga de pessoa amiga...

Ao começarmos a realizar mais regularmente esta auto-consciencialização amorosa, como uma forma de auto-conhecimento acerca do que nos impede de sentirmos o amor, de estarmos em amor, de discernirmos as causas que o acendem ou intensificam em nós, damo-nos então conta conta das nossas pequenas tendências, falhas, erros e defeitos que frequentemente nos ensombrecem e enfraquecem ou, por outra perspectiva, nos desviam do nosso eixo e ser interior, do verdadeiro amor, e dos estados ou movimentos  naturais que o apoiam, tais como o respirar e absorver as energias vitais cósmicas e amorosas, o estar direito e ligar bem a terra e o céu, o viver harmoniosamente, o estar grato e o emanar empatia e amor nos ambientes.

A pluridimensionalidade do Amor, que se manifesta humanamente como sentimentos, emoções, hormonas, desejos, forças atractivas,  capacidade de entrega e de unidade e ainda, ou sobretudo, abertura  e comunhão com a energia espiritual da fonte primordial do Amor, a Divindade, será sempre uma realidade, por tão profunda, subtil e infinita,  difícil de ser auscultada e sentida na sua origem, sendo por isso necessária uma constante tentativa de nos alinharmos com o Amor, o que se poderá até chamar de "orar sem cessar", com certas jaculatórias ou mantras praticados e por cujo fluxo diário regular tentamos vencer as contrariedades e opressões e religar-nos ou mesmo adentrar-nos pela porta do coração, meio natural de conexão sensível ao Amor.
Como podemos então melhorar a nossa realização do Amor?
Certamente que estando mais auto-conscientes, orando-mantrizando-meditando mais e amando melhor as pessoas, o amado-amada,
animais, seres, livros, coisas, causas, ideias e ideais, o universo, a Divindade. E tal realiza-se por actos, pelo sentir-pensar interior e pela aspiração a tal.
As orações, mantras
e cantos,  exercícios, esforços, sacrifícios, dádivas, peregrinações, osmoses amorosas são pois os modos mais conhecidos e eficazes de tentarmos sintonizar, absorver, ressuscitar, intensificar e irradiar o Amor,  e assim escaparmos à distração e inércia, desânimos e esmorecimento, ou ao pouco entusiasmo (en-theos = em Deus, em amor) que possamos sentir-nos, em geral por estarmos a vivenciar injustiças ou opressões sociais e mediáticas e também uma identificação ilusória ou condicionadora e, logo, não alinhada com ele, ou aberta a ele, Amor...
Mas na realidade que factores são esse que causam mais então essa inércia ou enfraquecimento, que
diminui a chama do Amor em nós?
São sobretudo a dispersão mental, o medo, o receio, o desânimo, o
sofrimento, a doença, os quais,  fazendo-nos identificar com aspectos parcelares ou limitados da nossa pluridimensionalidade, nos tapam aos raios do fogo do Amor ou nos desviam dele. Mas como todos temos de atravessar alguns destes aspectos mais difíceis da vida humana e social (e muito intensificados hoje pela profusão da aterrorização anímica exercida pelos meios de informação a soldo de políticos e financeiros) deveremos saber vencê-los exactamente com o fogo do Amor inteligente, que discerne o que deve e não deve ser absorvido e amado, e que é simultaneamente ainda o fogo da aspiração a estarmos mais religados com a nossa essência espiritual, o espírito ou atman, com o universo luminoso, com a Divindade e com os seres que mais amamos ou reverenciamos...
Embora haja seres que se consagram às religiões e vivam celibatariamente, e melhor ou pior pois há certamente alguma artificialidade e dificuldade nisso,
a maioria das pessoas  casa-se ou vive com alguém, pelo que podemos deduzir que essa é a forma social mais fundadora e preservadora do amor e mais protectora do relacionamento e da família, e das múltiplas possibilidades benéficas que ele gera ou intensifica, sendo até diminuidora (embora por vezes também não dada a imaturidade da relação ou os desequilíbrios psíquicos fortes de alguns), de conflitualidade nas sociedades.
Havendo no passado (por razões de proporcionalida
des populacionais, provavelmente, e estudos antropológicos confirmá-lo-ão), e ainda hoje, tradições e povos com casamentos polígamos e poliândricos, podemos interrogar-nos se  o casamento e o amarmos plenamente alguém diminui quando amamos, a vários níveis, várias pessoas. E como a tendência de pouca responsabilidade do amar fiel e totalmente é  hoje crescente, por diversas razões, será que tal irá enfraquecendo ou destruindo o matrimónio e a família tradicional, pondo em causa uma instituição tão antiga quão insubstituível?
Em princípio, como o amor é a irradiação natural do coração, e ainda
mais se a pessoa estiver num caminho espiritual, não deveria haver conflito entre amarmos mais totalmente uma pessoa e amarmos gostarmos e desejarmos o bem de outros. A diferença está no casamento, ou na relação assumida como tal,  haver a valorização de um ser com o qual tentamos realizar a unidade de corpo, alma e espírito, enquanto nos outros a unidade é cultivada apenas animicamente, no desejar e querer o bem dela, sem se desejar ou haver a fusão corporal, psíquica e espiritual em simultâneo.
A durabilidade do Amor total ou mais pleno com alguém, em que há a entrega plena de um ao outro,  implica uma vontade comum de
querer preservá-lo, cultivá-lo, aprofundá-lo. Ora nas relações matrimoniais ou de amor com mais de um ser, além da divisão do tempo e dedicação amorosa segundo preferências, há uma diminuição ou enfraquecimento das forças ascensionais conjuntas que deveriam elevar o casal até estados de comunhão com a Divindade, em si também contendo a polaridade unidade, em nós, daí que se recomende bastante a fidelidade à tentativa do aprofundamento da unidade polar com alguém.
Frequentemente também, por alguns conflitos, choques, discussões, um bom
relacionamento polar pode esfiar-se, romper-se e logo perder-se uma oportunidade que estava já em andamento de se obterem os altos benefícios da relação amorosa profunda, e que se quer duradoura ou mesmo para sempre, tal como algumas religiões e tradições de diferentes modos tentaram ensinar e enquadrar por conhecimentos, rituais e cerimónias, obrigações e promessas, que constituíram as formalizações estruturantes do referido casamento.
No fundo trata-se dos seres conseguirem na sua assunção, partilha e
irradiação do Amor  ligarem-se bem entre si e despertarem mais enquanto seres e corpos físicos e psico-espirituais e logo trazerem até si as bênçãos divinas, que deverão sentir, ou mesmo ver no olho espiritual, e depois frutificar e irradiar. E neste aspecto a relação amorosa, a fusão corporal e anímica realizada com plena consciência de estarmos a exercer o poder ou a função criativa da Divindade, sob o Seu ver, ou invocação ou bênção, é fundamental para o crescimento espiritual dos dois seres, de tal modo que alguns mestres intuíram e descreveram ou ensinaram a ascensão espiritual à Fonte divina do Amor, nessa polaridade, tal Dante, Marsilio Ficino, Bô Yin Râ...
Na Índia viveu-se, especulou-se e meditou-se muito o Amor, tanto mais que o Yoga do Amor, o Bhakti marga, o caminho da Devoçã
o divina, foi muito trabalhado, mas sempre acompanhado de modos de sacralização dos corpos e da união física, tais como os que se encontram nas escrituras ou agamas tântricas, para além de se ter compilado mesmo um Kama sutra, literalmente os sutras ou ensinamentos do Desejo-Amor, no qual tantos conselhos, posturas e sinais se registaram quanto aos corpos e à união amorosa da polaridade-dualidade seja no simples prazer seja já para se alcançar a unidade, tão tipificada ou arquetipizada em Shiva e a Devi-Shakti-Parvati-Uma-Gauri.
A essencialidade do Amor entre os seres humanos é bem desenvolvida na filosofia Shivaísta, ao contrário da Advaita Vedanta, já que aquela defende que Maya, o poder de manifestação divina, não é uma ilusão m
as sim um aspecto  essencial da Divindade consciente. O mundo não é  uma ilusão pois dentro dele está subjacente a Divindade enquanto Shakti, a energia activa, a qual é  Amor activo e na procura da felicidade (ananda) e unidade. Donde a equação despertante da unicidade de Maya e Shakti e que se  pode tornar, para quem a realiza, a Maha Shakti, a grande energia ou mesmo Deusa infinita...
O grande problema da maioria das pessoas, sobretudo ocidentais algo traumatizadas pelo judaico-cristianismo, é pois não conseguir sentir mais ou
realizar a shakti, a força amorosa e unitiva  em si e no universo, dado  a sua mente estar mergulhada em preocupações e divisões, em rotinas e hábitos, preconceitos e dogmas, e não conseguir erguer-se fisicamente nem psiquicamente acima de tal, ou para fora de tais encadeamentos horizontais limitadores. Para isso teria que se exercitar no despertar e no mais amar, ou seja, no agir com intencionalidade consciente,  vencer a sua inércia, desânimo, medo ou instintividade, limitações obstructoras na Índia designadas ou incluídas-caracterizadas na guna (qualidade da matéria) Tamas, e desenvolver o fogo do Amor pela meditação, a admiração,  aspiração ao Bem, a acção benéfica ou bondosa e a comunhão amorosa, contemplativa ou adorativa.
O Fogo do Amor é então um subtil potencial divino que pode ou não ser actualizado a cada momento da nossa vida e a vários níveis, o que nos convida ou obriga a sermos generosos e criativos, para que tal Lume
dos lumes não fique apenas na instintividade ou egotizado e possa antes atingir a sua entrega máxima no ser complementar ao Divino, ou então sublimar-se na entrega seja ao Mestre ou Guru, seja à Divindade, esta manifestada segundo a forma, concepção ou nome que merecemos ou com que é mais por nós acreditada, adorada, amada, esperada. Ishta Devata é a designação indiana de tal realização pessoal interior da Divindade, algo que  mestres como Ramakrishna, Ranade e  Bô Yin Râ também valorizaram, este último consagrando-lhe o título do seu escrito mais importante, O Livro do Deus Vivo, em nós, que espero em breve reeditar e do qual transmitimos uma das suas tão valiosas pinturas.

                             

Sejamos então capazes  de estar mais unidos à fonte íntima do Amor e vivenciar valiosas realizações nos seus diversos níveis ou campos, para que o Amor, a Compaião e a Harmonia estejam mais vivos e activos em nós e no mundo e nos vão transformando subtil e consciencialmente em seres  espirituais mais despertos e luminosos, corajosos e  plenos.

terça-feira, 16 de agosto de 2022

Ishta Devata, the personal Divine face seen by the devotees, seekers and yogis. A first approach. The scriptures, Guru Ranade and Narayanaswami Aier.

The masculine Trimurti: Brahma, Vishnu and Shiva in a subtle image...
Ishta deva, or Ishta devata, it is one of the sacred teachings and realizations from India, having in its heart and meaning the afirmation of the possibility of a inwardly manifestation of the Divine Being for each one who aspires to Him. Or that we can receive from the Divine Being, the Divinity, an appropriated or even humanized manifestation of Herself-Himself in us through the agency of the Ishta Devata. The two words mean Ishta, wished, prefered, and Deva or Devata,  Divine Being, Deity, God or Goddess.
In my own experience I like to call Him-Her a Divine Face, an avatarization, or descent of the Divine, as the different Gods and Goddesses of the different times, religions and traditions are different faces or personas of the same Primordial Divine, so the God-Goddess or the Divine manifests himself to everyone according to their love, creed, vision, wish, merits.
 Maha Kali, in a lovely, or prema bhaktic, form..
We must atribute this realization to the rishis, mystics, yogis and initiates, who in their endeavours, meditations and visions, could see and understand the mistery of the Divine manifestation as the Ista Devata and so we will find the foundations in the Bhagavad Gita in two verses where Krishna says that acording to the faith of each devotee He manifests to them:
Chapter IV-11: - «O Arjuna, son of Pritha,  in whatever way people seek (or surrender) unto Me, so I aproach, or I am with, them. All follow My path, in whatever way.»
And VII-21: - «Whatever celestial form a devotee wishes to worship with great faith, I bestow a steady (or satisfied) faith on that.»

Beyond  the Bhagavad Gita giving suport for the  Ishta devata revelation, and a bit the Upanishads, mostly indirectly by the relation or identity of inner self or spirit (atman) with the Divine Brahman, also many gurus and mystics  have extolled the relation to an inner or personnal manifestation of God, the Ishta Devata, or to the Divine Being who manifests himself through some Face or Devata, done through the chosen name of God (and sometimes image) and attained or realized through devotional love,  japa, worship (mentally or externally in front of a consecrated and nurtured image, as in the puja), meditation and dedication of actions, which are considered the main methods, specially in our days where the deeper silence and inwardness are more difficult to be attained and lived. In some other religions and traditions, or in some western masters, we  find also the same inner realization, notably in Bô Yin Râ, with his teaching of the birth of the living God deep within us, in the spiritual heart.
Lovers of meditation have found also that invoking the Ishta devata, even if they have not found their own true one, and so don't know it and use just general devotional prayers or mantras, can make them feel and see the inner Light shinning, just in thinking or meditating in the Ishta Deva.
Also pilgrims and spiritual seekers know by their own experiences that sometimes the Divine Being manifests to them in some form and other times in another form, according to their station of soul's love and aspiration, so bounded with time, space, land, history, religions, families, moods and affinities. 

                                   

Guru Ranade (1886-1957) was a deep and luminous guru and professor of philosophy, who united the devotion to the Divine and the rational study of philosophy and even mysticism, having written very good books, some of them, with his life, already approached in this blogg. His emphasis on the path of devotion  to the Divine Being was constant and profound and attracted many disciples to strive to attain that communion, and he initiated them giving a mantra with the name of God that would be their Ishta devata. He may say that he was a Dvaita Vedanta, a Vaishnava, a devote of Vishnu Narayana, indeed in India one of the most beloved faces of God, who had also Rama and Krisna as his faces or avatars, or his Being manifested in some way in human form in Earth. 

Vishnu Narayana on Shesha the serpent, in the primordial waters or energies...

But let us join one more contribution to doctrine of the Ishta devata, taking it from a book I bought in 1995 in Calcuta and brought to Portugal, where is now in my hands, The Yoga higher and lower, by Narayanaswami Aiyar, published in 1916, in Adyar, Theosophical Society, where he give us some hints to choose the Ishta Devata (although the traditional way is to receive it, directly or indirectly, from a guru) according to our constitution being more of water or fire, related also to the predominant nadi, either Ida (feminine) either Pingala (masculine). So Shiva would be more for fiery people and Vishnu for the watery ones, and he admits, believing in reincarnations, that some vasanas or attractions resulting from those past lifes impel us to some Isha Devata or Deity alrealy worshiped. But the interesting and pratical part of his writing is when he says that according to the Bhagavata Purana (and in reality also in the Bhagavad Gita as we have seen in the beginning) we can worship the Ishta Devata in two ways, one in the form of the Universal Being,  the other in the inner spirit or in the inner face of God, the Ishta Deva:

Krishna manifests to Arjuna in a swarupa, of his form universal, virat. Bhagavad Gita, XI-9.

 «In Bhagavat Purana two ways are given for such worship. One is the Virat Swarupa, where the form is described as extending everywhere, his two eyes are described as the Sun an the Moon and the other organs of the bodys are correlated to other parts of the solar system. The other is the worship of the Atman (the spirit) in the heart. This will be referred to under the higher Yoga.» P. 88.
We hope one of these days transcribe or translate and comment some parts of the Bhagavata Purana, indeed the scripture who developed more the realization and the
conceptualization of Ishta Deva, as it is a Vaishnava scripture, and so devotional, based on a relation of love to the Divine Being with form, that is distinct from us.
If we go to the pages consecrated to the heart, in the chapter
Higher Yoga, we can read there some descriptions given in Chandogyaha Upanishad about the heart as the center in the causal body, in  Section III,  13, and their gates and correspondance with the five tatwas or elements, the 8 petals of heart chakra, and then he tell us some of his personal experiences, because he reached a certain purification, on seeing forms within, hearing messages and receiving thoughts on the heart, remembering that are the desires who obstruct the relation of the spirit or Atman with our consciousness, and so we need a purification of the heart in order to "receive the Atman influence through meditation in the heart".
In fact the principle of the Ishta devata is not expounded there, but the possibility to see or to connect to the spirit or Atman through the entrance into the spiritual heart. I would rather  extoll the chapter III, Section 13, verses 7, as they have some nice and strong hints to the inner conscious sensibilization, so needful: «Now the Light which shines above this heaven, above all, above everything, in the highest worlds beyond which there are no higher, verily, that is the same as this Light which is here within the person.» 8: «There is the seeing of it, as when, in this body, one perceives the warmth by touch. There is the hearing of it, as when, on closing the ears, one hears as it were a sound, as it were a noise, as of a fire blazing. One should meditate on this that has been seen and heard. One who knows this becomes one beautiful to see and heard of in renown, yea, one who known this.» (Version of S. Radhakrishnan, The Principal Upanishads, 1994.)
About receiving thoughts in the heart (p. 164), Narayanaswamy Aier writes: «Messages can be received from the heart from two sources. The first is from the guru who is said to rise beyond thoughts or the mental plane, and who sends the message. The guru can understand the thoughts of all humanity [a bit mystification] - his disciples in particular through the link made. The second is that the message may come from the Ishta Deva or from the Atman in the heart. According to the
Tejobindu Upanishad quoted before the Ishta Deva's function is above all thoughts, reaching up to the highest Vak, or power of vibration. Hence when the atman within wants to send thoughts, it will have to descend to the lower or mental plane to communicate the thoughts. In such a case it will be easier for men to have these messages sent through a guru who is already at his post in this lower state to do it.»
Arguable, because this last explanation makes people less capable of self-realization and expression, and more dependent of the gurus or teachers, even for receiveing from their own spirit some inspirations. It is possible that some influences of the mystifications of Theosophical Society about the Masters can be read here, as the author, born in South of India, in 1856, was very much devoted and active as a Theosophist, translating sanskrit books, lecturing all over India, and revitalizing the sleepy 
local branches of the Theosophical Society  He died in 1918, two year after the publication of book, that is quite a sober condensate of Indian spirituality. 

Let us just say that the Tejobindu Upanishad, tejas bindu meaning an (atomic) point of fire-light, indeed a good way to describe the atman or spirit, doesn't speak on the Ishta Devata, as it is mostly and strongly  an advaitic or a non dualist Upanishad, extolling the opposite: that the Brahman or the Absolute is on us as the Atman, indeed felt in the heart, and so it is more the Tat Twam Asi, You are that, or I am Brahman, Aham Brahmasmi,  the good mantras or afirmations to be realized or meditated. There is not a devotion to an inner or personal manifestation of the Divine Being, the Ishta Devata.
                     
Let us turn now another time to guru Ranade, and his lineage of gurus and teachings, for conclusion of this first approach to the great mistery of the inner devotion and communion with a personal face of God, the Ishta Devata, and to the purity of the heart and soul required. I will quote from a good book published in 1982, Bombay, by Bharatiya Vidya Bhavan, R. D. Ranade and his Spiritual Lineage, by Vinayak Hari Date, or V. H. Date.

                                 

«One time, when he was questioned who is a man of purity, he replied: - I would like to answer that he is pure who sees the presence of God in some form or other before his very eyes. One who does his meditation daily, without being tired and one who repents for having wasted his life without any devotional attitude to 
God, can also be said to be pure of heart.»

And about this daily meditation let us rememebr how he valued smarana, the repetion of the Name of God and bhava, or feeling love-devotion for God, being in fact the base of the sadhana, or spiritual pratice. So, let us be more persistent in our prayers, mantras and meditations, surely giving some time inside them for the observation of the thoughts and preocupations, to clear them then with the light of understanding (viveka and budhi) and detachment (vairagya), and then returning to the invocation, or communion, with the Atman or the Divine Face.
May the Divine Being bless us, may each one find his Atman and her-his Ishta Devata

Aum Atman, Aum Ishta Devata!

terça-feira, 26 de julho de 2022

O Grande Livro dos Livros. Alguns dos seus aspectos.

O Grande Livro dos Livros é uma designação, um nome, um título, que corresponde a uma realidade de acesso bem subtil e espiritual e que nós apenas podemos pressentir pela imaginação, a visão interior, pelos sonhos e pela intuição. Inclui tanto o melhor de todos os livros como a nós seres humanos, mormente aqueles que se afirmam  por pensamentos, actos e palavras, sentimentos e intenções e, sobretudo, pela escrita, sendo escritores e logo cooperadores dele.
Há muitas dimensões neste título, embora a principal aponte para a totalidade do conhecimento humano valioso, escrito ou gravado, e sobretudo para o que merece ser incluído ou seleccionado nessa grande antologia do que melhor se pensou e se escreveu e que é o maior tesouro da Biblioteca Cósmica, a alegria maior dos livreiros, bibliotecários e leitoras e leitores.
Se ela se concretizasse na forma de livro, imaginal ou mesmo subtilmente real, ela seria a obra prima sempre aberta com milhões de títulos a serem dicionados, com milhões de linhas a serem escritas em todo o Universo, conflundo antologicamente nesse Grande Livro dos Livros, que seria um outro Alfa e o Ómega, o princípio e o fim da actividade anímica por escrito do ser humano, já não reduzido a autores e livros, mas sim quintessenciado no Livro como Logos, como Anima Mundi, como Inteligência e Amor Divino, celestial e humano, neste cosmos infinito por onde peregrinamos.
Assim, sempre que estamos a escrever podemos estar a acrescentar mais uma linha, ideia ou elo significativo no Grande Livro dos Livros e, por exemplo, quando depomos um ponto final parágrafo estamos provavelmente a reactivar ou simbolizar à nossa escala ou dimensão a pontuação divina intencional que ora nos diz: - "Pára, pensa, medita e torna a escrever," ora nos chama a erguer-nos das medianias e sensaborias com que a nossa existência quotidiana ou mesmo a modernidade nos estagna e faz degenerar: - "Põe um ponto final nesse hábito, nessa dependência, nessa relação, nessa incapacidade. Afirma-te como espírito luminoso e na comunhão do corpo místico da Humanidade e luzirás e serás abençoado".
Cada ser, a cada momento, tem uma página em branco em si e diante de si e até nos seres que estão mais consigo, por afinidades misteriosas, e deve escrevê-la e desenhá-la o melhor possível, ou seja, com justiça e harmonia, amor e sabedoria. Com a pontuação correcta, as vírgulas que acrescentam, os pontos que terminam, os grafismos que exclamam ou interrogam e fazem ecos de valores e ideias universais.
Vive então no presente harmoniosamente, isto é criativa e intensificadamente, tentando que cada acontecimento ou relacionamento seja o mais luminoso e evolutivo para todos os seres em causa e então estarás escrevendo e pontuando correctamente as tuas páginas do Grande Livro dos Livros e espargindo luzes inspiradoras e centelhas amorosas em ti e à tua volta, mormente nos que te lerem e que ao vibrarem com que vai na fala da escrita, ou mesmo ao assimilarem até à prática a leitura, e que assim despertarão mais a sua entidade luminosa unida ao espírito, à Humanidade, ao Bem, à Verdade e à Divindade...
Na realidade podemos afirmar pioneiramente que a abertura consciencial do ser humano à sua participação no Grande Livro dos Livros e nas ideias e significações, impulsos e aspirações planetários, bem como sintonização do seu coração às melhores emanações que brotam, perpassam ou são accionadas pelos livros, fazem com que a sua inteligência e amor tragam mais ao de cima, à consciência e manifestação, a intencionalidade divina original de Luz e Amor.

Neste encontro entre o microcosmos humano e o macrocosmo infinito, e quando escreve ou lê, o ser humano intensifica as suas melhores capacidades afectivas e intelectuais e irradia para todo o Universo, da sua alma deligente e esforçada, iluminada e amorosa, múltiplas centelhas douradas ou ondas azuladas ou rosadas que abençoam os seres.
E ao posicionar-se por detrás da porta de saída dos pensamentos e energias psíquicas, do que escreveu e o que vai nisso, consciencializnado-se que é o mesmo "eu sou (luz e amor)" que observa o que pensa e  sonha, o que sente e o deseja, o que intui e escreve, esta pessoa faz diminuir as vagas do pensamento e a agitação global e entra mais na paz profunda que vai gerar a receptividade à escrita inspirada, ao aumento da aspiração silenciosa a Deus, à irradiação ou emanação do Amor e da Sabedoria, ao enriquecimento do Grande Livro dos Livros.

Artigo a desenvolver ainda, ou a correlacionar com outros. Começado a 24-VII-2015, no Porto e concluído a 24, 26-VII-2022, em Lisboa.

sábado, 23 de julho de 2022

Acerca do Amor, da sua origem, fundamento e desenvolvimento. Começado num diário de 2015 e concluido sete anos depois.

A origem e essência do Amor é, mesmo nos nossos dias, misteriosa. Dizem alguns, porque sabem, imaginam ou ousam, que o Amor é a motivação original Divina, geradora da Manifestação Cósmica, e que circula como a sua energia substante e unitiva, sendo por isso  a mais primordial, bela e valiosa qualidade da Humanidade, já que na vivência de tal energia de irradiação criativa e atracção complementar se desenvolve uma vontade de partilha, de comunhão e de unidade  que faz sair os seres do seu egoísmo e os torna mais sensíveis ou  unidos à ordem e harmonia, ao outro, aos outros, ao Cosmos.
O egoísmo, que é a base do funcionamento da vida individualizada e da luta pela sobrevivência, pode ser suplantado pela vontade amorosa, pois esta vence-o, ultrapassa-o, transcende-o, por vezes plenamente outras nem tanto, alargando contudo sempre a consciência, pois esta já não é só limitadamente individual mas vai-se tornando mais profunda e vasta, sensível e harmonizadora e no fundo unificada ou unificadora, nesse relacionar com outros e o Cosmos e que é bem mais fácil de ser sentido ao contemplar-se a harmonia do Universo e da Natureza, nomeadamente nos céus, montanhas, rios e campos.
Podemos ver então o Amor como um estado consciencial, no qual o nosso desejar ou querer a unidade é aprofundado, como um sentir e admirar interior, um sentir e consciencializar do fogo do amor, um sentir da unidade com a amada ou o amado, sendo sempre uma intensificação da irradiação do fogo do Amor que ressoa ou emana do peito, do coração e da cabeça, ou seja do espírito na sua pluridimensionalidade, a qual abrange todos os corpos e seus centros e órgãos.
Perguntam alguns contudo se o amor sentido entre dois seres nasce do nosso interior, seja de hormonas e neurotransmissores, seja do subtil espírito ou, melhor, da atração e encontro afim e complementar entre dois corpos e almas, focos de vida e intencionalidades, ou ainda se da graça da Ordem implícita no universo, e talvez devamos reconhecer que, se por vezes é difícil discernirmos a fonte ou motivação principal, ele gera-se em nós, ou parte de nós, e é ora uma irradiação motivacional geral ora uma rendição do fogo do nosso ser em amor para um outro ser, sendo assim um reconhecimento no motivo ou no outro de um destinatário merecido do melhor e mais divino do nosso ser, ou ainda  um reconhecimento do amor e valor que cada ser tem e que atrai o nosso ser e amor. O que nos pode tornar mais sensíveis e simpáticos, e capazes de querer melhor conhecer (connaitre, nascer com ), ou seja, sermos um, estarmos ou vivermos mais juntos, próximos, unidos, seja tal com uma coisa, um assunto, um valor, uma realização, um ser, os seres.
O amor é então uma escola de aprofundamento de conhecimento do outro e de nós próprios, e da capacidade de nos ultrapassarmos, de nos desegotizarmos, pois retira-nos do  isolamento e põe-nos em contacto, convivência, comunhão com alguém que é uma chama de amor afim da nossa, ou por quem a nossa chama de amor se intensifica, numa reciprocidade que permite a união mágica da Terra e o Céu, ou seja das fundações telúricas, corporais e ígneas com estados de consciência expandidos ou elevados, por vezes mesmo celestiais ou até divinos, se entre os dois seres tal abertura é verdadeira e perseverantemente trabalhada ou demandada.
Ao ser fogo e luz, ao ser intensificado na correnteza recíproca, o Amor transfigura os seres, revela-lhes constantemente novos faces ou facetas da nossa pluridimensionalidade corporal, anímica e espiritual, a qual frequentemente nas relações humanas normais se limita ou mesmo se perde, pela superficialidade, dispersão e falta de tempo em que as pessoas vivem para se sentirem, conhecerem, amarem, espelharem e aprofundarem mais, nesses níveis subtis em que tudo está interligado e se corresponde.
O amor retira-nos da linearidade do tempo e abre-nos a porta para o sem tempo, a eternidade, já que cada momento vivido intensamente em amor pode ser uma descoberta das correspondências subtis dos corpos e da Terra, ou pode ser como uma entrada no plano  da eternidade, sentido num abraço mais prolongado e para onde se irradia a energia benéfica desse abraço e que assim tinge a aura da história planeta, reforçando simultaneamente a realização da imagem arquetípica da presença amorosa desses dois eus caminhando no Um e na Eternidade.
Embora se possa dizer que o estudo racional e a visão e contacto directo  sejam as principais fontes do conhecimento, todavia o amor é fundamental para o aprofundamento cognitivo, para conseguirmos sair da superfície e aparência da vida e entrarmos no interior, no anímico, na  intimidade, na empatia, compaixão,  serenidade, intensidade e subtil resplendor, pelo qual o outro ser, ou então objecto, é mais recebido, compreendido, abraçado por dentro, intimamente e unificadoramente. 
O fogo do amor tem no coração o seu templo e, pelos  cinco sentidos,  sentimentos,  pensamentos, aspirações e intenções, as suas portas de acesso às múltiplas realidades e as correspondências e é por isso que os seres que se amam estreitam intensamente os seus peitos num desejo ou ânsia de que as chamas dos dois corações e auras saiam das suas limitações pessoais e se fundam e alarguem numa nova consciência, tanto individual como na que resulta dessa confluência de dois oceanos ondulados não só pelo sentir do coração mas também pelo pensar, dialogar e ver interior ou psico-espiritual que deve acompanhar qualquer relação, sobretudo mais íntima.  
É pois um novo ser ou estado consciencial, qual ovo alquímico ou mandorla engrinaldada da Tradição Perene, que vai sendo gerado, trabalhado e fecundado pelos abraços, pelas palavras e diálogos, mesmo quando estes são conflituosos devido às sínteses harmonizadoras posteriores que se geram, e ainda pelos actos de apoio e unificação. De tal entrosamento ou enlaçamento alquímico resultam ou nascem os frutos de vida eterna, seja artísticos e criativos, seja filhos, seja causas, seja ainda a auto-compreensão e realização espiritual, havendo sempre a magia irradiante em orações, posturas, gestos, caminhadas, danças, curas, poemas, mantras, respirações, massagens, passes.
Por tudo isto houve quem dissesse ou proclamasse "Amor, o Libertador", "Amor, o Conquistador". Talvez se possa acrescentar "Amor, o Divinizador", pois sendo a Divindade Amor, ou  a Fonte de Amor, quando o manifestamos na Terra estamos trazendo à manifestação o mundo psico-espiritual e divino e, logo, melhorando a sua aura e alma, pois estamos de algum modo infundindo-a mais da aspiração unitiva divina e, logo, divinizando-a, ou abrindo-a mais a tal Presença sacralizadora e harmonizadora.
O Amor é então profundamente purificador, redentor, iluminador, pelo que a nossa oração-aspiração é que saibamos abrir-nos cada vez mais a ele, morrermos nos nossos egos e separatividade e renascermos na unidade da inteligência e comunhão da Verdade.
Assim iremos alcançando aquela incandescência de sermos sóis e luas, ora emitindo ora acolhendo, e reflectindo a luz do Amor Primordial na intimidade e no firmamento humano e terrestre, ora apenas o incarnando no bom senso, na paz, no discernimento, na compaixão, no dinamismo de quem investiga,  divulga, cria e é activista,  artista, etc...
Sejamos mais o Amor, vencendo  o que o limita em nós e no Universo...
Sejamos, à nossa medida e na nossa missão de propósitos na vida, um Sol do Amor...