Uma oração pelo Crer verdadeiro, por Bô Yin Râ, para nos inspirar, no Caminho árduo do Espírito e de Deus, a desabrocharmos a Fé divina, a crermos mesmo, e a voltarmos à Luz donde viemos e a que intimamente tanto aspiramos...
Para Crer Correctamente
«Pai de todos, Que em vós creem! Que sois vós, Porque Credes em vós! – Vós que Crendo Emanais a Vida Tal como vós Crendo, A vós próprio vos gerais, Vós próprio Que Luz E Vida sois!
Despertai o crer Também em mim, De modo a que eu Verdadeiramente aprenda a crer, – A acreditar, Como vós!
Suprema Luz, Convence-me De vós! Gerai Vida, – Gerai-me Em mim! Deixai-me Pelo crer Aceder a vós! Para que não, Me torne vítima, Envolto pela escuridão, Da minha falta de fé!»
Um Rechten Glauben
«Vater aller, Die Dich glauben! Der Du bist, Da Du Dich glaubst! – Der Du
Glaubend Leben zeugest Wie Du Glaubend, Selbst Dich zeugend, Selbst Dir Licht Und Leben bist!
Erwecke Glauben Auch in mir, So, daß ich Wahrhaft glauben lerne, – Glauben, Gleich Dir!
Überlichte, Uber-zeuge mich Aus Dir! Zeuge Leben, – Zeuge mich In mir!
Lass’ mich Glaubend Dich erlangen! Daß ich nicht, Von Nacht umfangen, Beute werde Meiner Glaubensnot!»
Mais uma oração de Bô Yin Râ, do seu livro A Oração [que traduzi e publiquei em 2024], que é simultaneamente um ensinamento e um apelo, para conseguirmos escapar às ilusórias aparências ou ao fantasmagórico vazio ou nada, e entrar no reino da Luz verdadeira e amorosa, e para que os mestres e seres celestiais nos possam inspirar ou apontar os caminhos, subtilmente.
Como qualquer tradução do alemão em português esta poderia ter outras palavras e até sentidos, mas esforçamo-nos em sucessivas vezes. Oremos para que, quando a meditarmos ou orarmos, o melhor ou mais apropriado se ilumine na nossa alma em aspiração e no caminho da Luz e do Amor divinos...
PELA SABEDORIA
«Não me deixeis No Nada Afundar! Nem Nas aparências Afogar!
Para que a mim O pensamento Não me aprisione,- Para eu Verdadeiramente A Sabedoria Alcançar, - Tenho eu De pedir Ajuda, Sábios Conhecedores, A vós! Vós Só que Conheceis os meus caminhos Para sair Do erro E da confusão. Desvendai Sábios compassivos A Luz Plena de Amor!
Deixai-me Conhecer O verdadeiro Ser A autêntica Realidade!
Da ilusão E aparência Conduzi-me, O vós irradiantes da luz, À eterna verdadeira Sabedoria!»
UM WEISHEIT
«Laßt mich nicht Im Nichts Versinken! Nicht Im Schein Ertrinken!
Soll mich nicht Gedanke Binden, - Soll ich Wahrhaft Weisheit Finden, - Muß ich Hilfe Mir erbitten, Weise Wissende, Bei Euch! Die Ihr Allein Mir Wege wißt Aus Irrung Und Verwirrung.
Uma pintura de Bô Yin Râ bem apropriada para a contemplação e interiorização!
Mais uma tradução difícil de uma oração partilhada por Bô Yin Râ, na qual a convergência das bênçãos inspiradoras dos mestres com o nosso esforço e amor, deve atrair e encaminhar as coisas e forças anímicas propícias e adequadas à realização espiritual e divina.
Para Resultar Bem. (Um Gutes Gelingen).
«Criadores, Construtores, Conhecedores da Obra, Mestres! Indicai-me, O modo certo, De eu,
Agindo, A obra Concluir!
Vós, Que medida E número Conheceis, - O mais íntimo Por nome chamais, - Dai compreensão, Força E também paciência! Dotai-me De elevada graça!
Que nada me Falhe! Que todas as coisas À obra Propícias, Sob a minha mão Se queiram aperfeiçoar E a Obra Elevar!---»
Nestes tempos de cada vez maior dependência de uns quantos grupos e empresas multinacionais que tomaram demasiado conta do mercado mundial, e quase tudo controlam graças aos meios de informação manipuladores arregimentados, nada como regressarmos ao fomento das indústrias manuais e nacionais, preparando com os frutos naturais da nossa terra, de preferência biológicos, os mantimentos e preparados para a batalha por uma agricultura e alimentação equilibrada, saúde e alegria, sabedoria e amor, fraternidade e liberdade, discernimento e paz.
Ervas e mezinhas, incensos, sabonetes e poções, compotas sem açúcar nem edulcorantes, manteigas de amêndoa, noz, sésamo, castanha, avelã, alfarroba, azeitona, e muito mais, se poderá fazer e não tanto do estrangeiro depender. Aprendamos e realizemos... "Alecrim aos molhos, alegria nos teus olhos", alfazema, tomilho, rosmaninho, orégãos, poejo e pétalas de rosa, eis ingredientes, sós ou misturados, para os tições ou bastões purificadores dos ambientes e das auras, ou ainda, e como dizem na Índia, da shakti em nós, e cantando ou orando, embora tenhamos também as nossas jaculatórias, lengalengas e rame-rame, ousemos prepará-los e queimá-los, por exemplo, a dizer e purificar com o Om shuddha shakti om, viva a energia divina pura em nós e no universo....
E seguem-se mais algumas imagens dos ditos concentrados de ervas, ramos, folhas, flores, raízes, intenções e preces-mantras, para melhorarmos as emanações subtis nossas, de Portugal e do mundo, tão explorado e oprimido por tantos poderes sombrios e tantos conflitos violentos. Seja pois Pax, Shanti, Paz, Paz uma das intenções mantrizadas e defumadas.... Boas recolhas na Natureza e seus elementais ou espiritozinhos, e boas defumações purificadoras, das auras e ares, com os anjos e nos lares, ou mesmo os Arcanjos e seus pares, como fiéis cavaleiros e cavaleiras do Amor quesomos e não devemos esquecer mas antes diária e criativamente manifestar!
Agradeço a Raquel Raquelle, que me ofereceu já há uns anos um 1º entrelaçado a linha, tal como estes.... Lutemos pela indústria doméstica purificadora e inspiradora... Pax, Lux, Amor! Persevere na purificação de sua alma, da sua casa ou ambiente e do astral da terra. Aum, Amen, Hu!
Nesta pequenina oração, mas tão bela e funda, extraída do seu livro A Oração [que editarei em 2024], Bô Yin Râ encaminha-nos para a valorização da luta pela nossa melhoria ética e espiritual e para sentirmos gratidão pelos que nos ajudam a vencer perigos e forças inimigas: os mestres e espíritos celestiais que connosco erguem no íntimo o Templo Divino na Terra.
Depois de ser salvo de um perigo.
«Pais na Luz, – Santos Ajudantes, – Auxiliares próximos De todos Os que lutam pela libertação! Ardentemente – Com os corações a tremer– Graças Vos sejam dadas.
Da noite ameaçadora, – Para a Luz desperto , - Salvo da necessidade, Arrancado do perigo, Liberto das cadeias Do poder inimigo, – Seja agora a minha vida Entregue a vós ! À vossa guarda Seja confiado, O que vós Em mim Do meu esforço Construístes agora!
Deixai a gratidão Tornar-se um Templo Em todo o meu devir Na Terra!»
Entre as partituras contidas numa pequena miscelânea do começo do séc. XX, encadernada em tela violeta, destaca-se uma intitulada Rêve d'un Ange, nocturne pour piano, de Francesco d'Orso, acompanhada de uma apropriada ilustração ascensional na capa. Pensei que seria possível estar gravada no Youtube e assim a encontrei, tendo sido escrita em 1894. Começando a ouvi-la, leve e alegre, tendo um bloco de notas ao lado, resolvi escrever um pequeno poema, o que realizei exactamente nos dois minutos e pouco da música.
Como frequentemente estamos distraídos dos Anjos, qualquer momento em que os possamos sintonizar, e com eles o mundo espiritual e divino, é bom, harmoniza-nos, subtiliza os nossos seentidos e assim segue a partilha da música e da oração, invocadores dos Anjos e Arcanjos, estes subtis seres que, com os santos e santas e mestres, nos inspiram à estrela do espírito, ao bem, à compaixão, ao amor, à Divindade...
Anjos, vós a nós sobrevoando
E nós tão distraídos andando.
Que bom chamar e lembrar-vos:
- Anjos, vinde a nós, aqui e agora!
Anjos de voos rápidos,
Estabilizai-nos no coração,
Na esperança e na confiança,
Abertos à vossa inspiração.
Anjo pressentido, Anjo musical,
Entra mais na nossa alma,
E que estes momentos musicais
Se repitam e frutifiquem para todos.
Demos graças à Divindade, Anjos!
Que o nosso coração vos acolha mais!
Que vos consigamos sentir e ouvir
No nosso ser interior zumbir e sorrir!
Anote-se que a miscelânea, encadernada com umas iniciais artísticas a um canto, talvez A. C., contêm outras composições para piano editadas no princípio do séc. XX em Portugal por Neuparth & Carneiro (ou importadas por Lambertini, amigo do meu bisavô materno Higino da Costa Paulino, artista e pianista, e pela casa Sueca, de Adolphe Engestrom,) tais: Saudades, por Aníbal Moutinho, a Historiette, Naiveté musicale, dedicada à Mademoiselle Alice Pereira, por Henry Ravina, as Clochettes Argentines, por Paul Wachs, Les Papilons, por Henry Van Gael, o Fado sem Esperança, de Nuno Santos e o Fado dos Tristes Amores, com versos de Ribeiro de Carvalho e música de Amadeu Raul Dias Taborda.
E talvez um bom melómano saiba discernir algo da personalidade da pessoa (ou do seu professor) que gerou esta miscelânea, certamente para aprender piano, e que já com um século ainda nos encanta... Boas audições e orações, sintonizações e comunhões com os Anjos, os Grandes Seres, a Divindade, o Amor...
Valiosa palestra proferida na Rússia em 1981 pelo meu mestre Swami Ranganathananda.
Foi em 1863, a 12 de Janeiro, que nasceu, em Calcutta, Narendranath Dutta, dum pai céptico mas leitor do grande poeta e místico persa Hafiz e dos Evangelhos, enquanto poesia, e de uma mãe de quem valorizava o domínio sobre si própria, a piedade e o carácter elevado, numa família kayastha,
tradicionalmente ligada à escrita e à administração pública. Levou a sua aprendizagem até ao bacharelato em Artes na Universidade de Calcutá,
destacando-se nos estudos filosóficos e na memória retentiva poderosa. Será no final de 1881, já depois de ter participado, e até como cantor (e por isso no fim deste artigo encontra uma pequena canção dele, moderna, em vídeo), no movimento bengali religioso monoteísta do Brahmo Samaj, de
Ram Mohan Roy, Dwarkanath Tagore e Keshab Sen, que foi aconselhado a
visitar, com outros estudantes, Sri Ramakrishna, como um exemplo dum mestre vivo. Mas ao
princípio ficou renitente em aceitá-lo como mestre, pois este quando o
ouviu cantar entrou em extâse e, depois, levando-o para a varanda da
casa, confessou-lhe ser ele o discípulo que há tanto tempo esperava, e
cultuou nele, com a saudação típica indiana, a divindade Narayana. Já na
sala com os outros devotos, Narendra perguntou-lhe se ele já vira Deus,
respondendo-lhe Ramakrishna que sim, e que quem verdadeiramente
aspirasse a Deus, e chorasse até, O poderia ver. Anote-se que a capacidade visionária de Sri Ramakrishna era invulgarmente poderosa e tem sido assunto de muitos estudos e livros, nomeadamente na obra de Swami Yogeshananda, The Visions of Sri Rmakrishna, onde são relatadas cronologicamente.
Romain Rolland, na sua famosa La Vie de Ramakrishna,
p. 229, que leio num exemplar que tem notas de posse e de leitura do meu irmão
Carlos ( e muita luz e amor na sua alma, pois já partiu para o outro mundo), descreve assim a intuição do mestre:
«No cenáculo dos seus
discípulos indianos, em que todos se distinguiram mais tarde pela fé e
pelas obras, houve um, excepcional, em relação ao qual a sua atitude foi,
também, excepção: pois, ao primeiro olhar, elegeu-o, enquanto que o
jovem homem ignorava-se ainda para o que ele fosse: um chefe espiritual de humanidade: - Narendranath Dutt - Vivekananda. O Paramahamsa [Ramakrishna], com o seu génio de intuição das almas, que via num só
batimento do coração delas desenrolar-se toda a maré do seu futuro,
pensava que ante mesmo de reencontrar o grande discípulo na vida, já se tinha cruzado com ele, na matriz dos Destinos.[Uma subtil idealização-visualização do que pode estar por detrás ou na base causal do desenrolar da vida no plano da incarnação fisico] Inscrevo aqui a sua bela visão. Eu [Romain Rolland] poderia, tão bem como os psicólogos, tentar
explicar pelos meios correntes. Mas que importa? Sim, nós sabemos que
uma vigorosa visão que se impõe, cria e faz nascer o que ela viu. Num
sentido mais profundo, os profetas do que será foram os verdadeiros
criadores do que não era ainda, mas hesitava em ser. [Outra tentativa de aproximação à matriz causal do que sucede na incarnação terren: o olhar quente do mestre jardineiro faz germinar potencialidades, sementes]. A torrente que foi o
destino genial de Vivekananda ter-se-ia perdido nas entranhas da terra
se o olhar de Ramakrishna não tivesse, num golpe de machado, fendido a
rocha que o bloqueava, e pela brecha fazer brotar a torrente da alma.»
Na segunda visita de Narendra (Swami Vivekananda), o mestre, Sri Ramakrishna tocou-lhe e Narendra começou a ver tudo à roda e a
desaparecer, pelo que começou a gritar que tinha os pais em casa para
tratar, obrigando Sri Ramakrishna, rindo-se, a fazê-lo voltar à sua
consciência de vigília normal. Regressando a casa, ainda mais desconfiado
ia em relação a Ramakrishna. Seria um hipnotizador ou um doido? Todavia
na terceira vez que se encontraram ainda foi pior, pois o mestre, tocando-lhe, fê-lo perder a
consciência e aproveitou esse estado para lhe fazer algumas perguntas ao
seu eu espiritual. Narendra, apesar de impressionado fortemente,
continuou com dúvidas e não tinha receio de questionar as visões de
Sri Ramakrisna como sendo alucinações, mas um dia que ridicularizava o
ensinamento não-dual, ou seja, aquele que afirma que Deus ou o Absoluto está em tudo, ou se vê em tudo, ou mesmo é o único que existe em tudo,
Ramakrisna Paramahamsa veio e tocou-o, fazendo-o entrar num estado não
dual, no qual Vivekananda via a Presença Divina em tudo, estado muito expandido de consciência este em que permaneceu alguns dias.
Assim se foi convertendo ao reconhecimento de Sri Ramakrishna como seu mestre, sobretudo após a morte do pai em 1884, realizando que
Ramakrishna era o seu intermediário divino, o guru, e teve ainda
dois anos de aprendizagem e formação, nomeadamente a aceitar e sentir a Divindade feminina, Shakti, Kali, como Deusa pessoal, tornando-se o discípulo
mais querido e principal, embora com vários outros bem próximos, protagonistas de muitos
diálogos e histórias das biografias do mestre, nomeadamente na famosa
obra O Evangelho de Ramakrishna, Sri Ramakrishna Kathamrita, em bengali, escrita por Mahendranath Gupta, uma obra excepcional na sua simplicidade de diário dos eventos e diálogos, e que cedo circulou no Ocidente, seja nos resumos-biografias realizados por Max Müller e Romain Roland, seja pelo próprio Evangelho, traduzido para muitas línguas.
Com
a desincarnação de Sri Ramakrishna em 16 de Agosto de 1886, que mesmo assim antes de morrer iniciara doze discípulos como swamis, monges, os discípulos foram
obrigados a deixar a casa onde se reuniam em Cossipore, já que devotos e
admiradores esfumaram-se e com eles o dinheiro que sustentava o grupo, e
assim uns dispersaram-se, outros assumiram responsabilidades familiares
ou profissionais, e só alguns resolveram manter-se juntos, firmes na
devoção inquebrável ao mestre (tanto mais que tinham absorvido um
pouquinho das suas cinzas...), mudando-se para uma casa de renda barata
que reconstruiram em Baranagar, tornando-se o primeiro mosteiro ou Math.
Será
após a convocação e auscultação dos discípulos e devotos, a 1
Maio de 1887, em Calcutá, hoje Kolkota, que é fundada formalmente a Ordem Ramakrishna, ou Ramakrisna Math, sendo ele
o Presidente, Yogananda o Vice-Presidente, cabendo a Bramananda a
presidência de Belur Math, o centro em Calcutá. O lema ou mote da Ordem
e da Missão escolhido foi e é Atmano Mokshartham, Jagad Hitaya Cha, que pode ser traduzido como: Libertação pela realização do espírito e prosperidade para toda a Humanidade" . Hoje em 2022 há 214 centros no mundo, dos quais 163 na Índia.
Entre
1888 e 1891 andou frequentemente a peregrinar e a meditar pela Índia, sentindo a necessidade de trabalhar tanto o espírito como a pobreza social gritante, até receber a
intuição de que deveria viajar por barco (via Japão, China, Canadá) e
participar (e viria a ser como representante do monasticismo da Vedanta) no Primeiro
Parlamento das Religiões, intuído e projectado por Charles C. Bonney, um discípulo
ou seguidor do notável cientista visionário Swedenborg, e realizado em Boston, USA, em Setembro 1893,
durante 17
dias de sessões, discursando com brevidade e simplicidade mas grande sucesso na
tarde do 1ª dia, 11 de Setembro (que se tornou Dia Mundial da
Fraternidade), perante 7.000 pessoas, transmitindo de unidade
das religiões, pois por todas elas se pode chegar a Deus ou manifestar
as Suas qualidades e de tolerância e universalismo. Interveio
ainda doze vezes, e com tal sabedoria e convicção que o New York Herald noticiou assim: "Vivekananda
é sem dúvida a mais grandiosa figura do Parlamento das Religiões.
Depois de o ouvirmos sentimos quão tolo é enviar missionários para esta nação tão culta (learned)». A mensagem no dia do encerramento, a 27 de Setembro, tornou a ser breve e simples, sete parágrafos apenas, realçando que cada fiel de uma religião devia crescer nela e apenas assimilar o espírito das outras preservando contudo a sua individualidade e o crescimento de acordo com a lei do seu crescimento [o seu swadharma].
Tornou-se
então o
primeiro grande divulgador do Sanatana Dharma, o Dever ou Ordem Eterna, a espiritualidade indiana, no Ocidente
(antes apenas realizada por livros, embora no Parlamento estivessem
vários outros indianos, e tivesse passado um ou outro pela Europa), e em especial
nos USA, onde viveu três anos de grande dinamismo e sucesso, realizando dezenas de conferências e ensinos, fundando a Vedantic Society
em Nova Iorque e publicando vários livros sobre Yoga. Também viajou até Londres duas vezes, em 1895 e em Maio
de 1896, fazendo então amizade com Max Müller e, já na Alemanha, com
outro orientalista importante, Paul Deussen. De tais encontros escreveu pequenos mas belos e entusiásticos artigos para a revista Brahmavadin, elogiando ambos pelo abnegado e frutífero amor ao sânscrito e à Índia. Dirá mesmo que foi um dos episódios mais agradáveis da sua vida a viagem que fez com Paul Deussen, após se ter juntado a ele em Kiel, através da Alemanha e da Holanda até Inglaterra. Foi mantendo constante correspondência com os outros monges indianos,
apoiando-os de diversos modos e em 16 Dezembro de 1896, parte de Londres
e, via França, Itália, Suez e Ceilão, chega à Índia no
final de Janeiro 1897, sendo recebido com grande entusiasmo e veneração por uma população no fundo crescentemente aspirando também já a uma liderança
libertadora da colonização inglesa. Irá pronunciar consecutivos
discursos, de Ceilão a Calcutta e a Almora, para milhares e milhares de
almas, o primeiro em Madras tendo ficado memorável pela envolvência
feérica, estimulando a auto-estima dos indianos. Como escreveu Jawahardal
Nehru, em Discovery of India, p. 400, «Enraizado no passado e
cheio de orgulho na herança indiana, Vivekananda era todavia moderno na
sua aproximação aos problemas da vida, e era uma espécie de ponte entre o
passado da Índia e o seu presente».
Funda
então em 1 Maio de 1897 a Missão Ramakrisna, destinada ao karma yoga
ou trabalho social, mas que trabalha em estreita ligação com a já referida Ordem
Ramakrisna e com os seus swamis ou monges e presidentes, a sede de ambas
sendo em Belur Math, a uns quilómetros de Calcutá, junto ao rio Ganges e que eu bem conheci. Funda ainda jornais e
mosteiros e desloca-se a numerosos locais e instituições. Em Junho de
1899 apesar da saúde fragilizada, decide voltar ao Ocidente para apoiar a
obra na USA, onde funda mais centros, e para participar no novo
Parlamento das Religiões, ou melhor, Congresso de História de Religiões que se realiza em Paris em 1900.
Deste Congresso parisiense Swami Vivekananda dará ecos numa carta impessoal para a revista Udbodhana nas quais assinala a resistência ao diálogo em pé de igualdade da Igreja Católica, dominante em França mas que num Congresso recente em Chicago não conseguira afirmar-se como a melhor religião, e que decidira que neste de Paris não havia lugar para «discussões sobre as doutrinas e as vistas espirituais de cada religião». E assim diz que «da Ásia havia apenas três pandits Japoneses presentes no Congresso. E da Índia o Swami Vivekananda.» E menciona então, como observador imparcial, como Swami Vivekananda se erguera para refutar as teorias sem base do alemão Gustave Opert, quando ao culto do Shiva Lingam, expondo o que os dois disseram. Quanto à sua palestra, Vivekananda falou sobre a evolução histórica das ideias religiosas da Índia e como todas derivariam dos Vedas, mesmo as que os negavam. Afirmará também a contemporaneidade, se não mesmo a anterioridade, da Bhagavad Gita em relação ao grande poema em que foi incluída, o Mahabharata, destacando ainda nela a inexistência de qualquer referência ao Budismo.
Regressando
em 9 Dezembro a Calcutta, estabilizará então na casa mãe de Belur Math e,
embora viajando ainda até ao mosteiro de Almora e aos grandes
locais de poder Bodhigaya e Varanasi, já não sentirá forças para
participar no Congresso das Religiões de 1901, a realizar-se no Japão. E em 4 de Julho
de 1902, seja por causa da saúde em que os diabetes, a asma e até
insónias fizeram o seu desgaste, ou porque chegara a hora de partir,
depois de ter dado aulas, dialogado e meditado, retirou-se para o quarto
e terá morrido enquanto meditava, seja por um aneurisma cerebral, seja
porque o seu ser e corpo espiritual abandonou o corpo físico pelo chakra ou centro de forças
do topo da cabeça.
Nascido
numa família culta, desde novo com uma capacidade muito grande de
leitura, memória, oratória, sensibilidade espiritual e preocupações
sociais, os toques sucessivos de Sri Ramakrishna e o discipulado ascético
abriram Swami Vivekananda
cada vez mais ao Divino e ao serviço da Humanidade. Foi assim um pioneiro do encontro do Oriente e do Ocidente e da divulgação do Sanatana Dhrama ou sabedoria indiana, em especial do Vedanta e do seu mestre
Ramakrishna mundialmente, pois, embora tendo estado sobretudo na USA, as
suas principais obras, em especial o Raja Yoga, saído à luz em
1896, foram traduzidas em toda a parte, nomeadamente em Portugal, nas
segundas e terceiras décadas do séc. XX na Editora A. M. Teixeira, onde
Fernando Pessoa publicou as traduções de livros teosóficos de influência indiana. Mas foi o Brasil e a sua Editora O Pensamento (e também a Editora Ananda, com O Ensinamento Espiritual de Ramakrishna) quem se encarregaram de
divulgar mais o Evangelho de Ramakrishna (do qual podemos
apreciar a bela capa da 3ª edição, de 1936), o qual Swami Vivekananda ecoou e continuou, certamente com diferenças, apesar de ele
ter dito que o melhor que ele falara era o que mestre nele dizia...
Entre
nós outros seres conheceram sri Ramakrishna e Vivekananda e assim em 1931
era impresso em Leiria um opúsculo A Universalidade da Sociedade Vedanta, do swami Prakashananda, traduzido pelo professor Joaquim Morais da Silva, um leiriense de quem se sabe pouco e que foi membro da Societé Psychique Internationale, e publicou ainda um estudo sobre os casos de levitação.
Também Luzo Bemaldo, co-autor em 1919 de um livro de Esperanto e director de uma revista de Esperanto em 1926, traduziu e publicou em 1935 um belo livrinho de Jean Herbert, de quem parece ser um admirador (e conviria saber quem ele foi), e com razão pois Jean Herbert foi dos melhores orientalistas, intitulado Alguns Grandes Pensadores da Índia Moderna, contendo dois capítulos dedicados a Vivekananda e a sri Aurobindo e donde extraí a bela imagem colorida de uma fotografia de Sri Ramakrishna Paramahamsa...
"Impressionante fotogravura a cores de Ramakrishna", no dizer sábio da divulgação na revista Ísis, da "primorosa publicação", como partilhou o caro amigo e espiritual Alberto Ferreira.
Devemos mencionar ainda Rajarama Pundolica Sinai Quelecar, um goês que, tendo publicado uma tradução da Bhagavad Gita,
recentemente reimpressa entre nós nas Publicações Maitreya, a
instâncias de Maria Ferreira da Silva e a partir dum exemplar meu, escreveu e deu à luz
também em Goa, na Imprensa Nacional, em 1963, um esboço biográfico de
Swami Vivekananda, valioso, donde selecionamos o prefácio: «A Índia celebra hoje o
centenário do Nascimento de Swami Vivekananda, um dos seus mais
eminentes filhos, que foi mestre espiritual de muitos Indianos,
Americanos e Ingleses. Inteligência viva e penetrante, memória
prodigiosa, vontade de ferro, clareza na exposição e discussão das
questões difíceis, esse homem que, depois dos Upanishads, foi o único
que deu vigor ao pensamento Indiano, proclamava bem alto o seguinte: "Ó
jovens, antes de tudo, sede viris. Não esqueçais nunca a glória da
natureza humana. Nós somos Deus. Os Cristos, os Budhas não são senão
vagas no Oceano Imenso que Eu sou." Palavras maravilhosas encerrando o
sentido lato do homem. Julgo-me feliz, por ter tido ocasião de prestar a minha homenagem a esse grande homem que venerei e continuo a venerar, publicando em poucas linhas, a sua biografia para a geração nova ocidentalizada». Entre nós, Agostinho da Silva, dedicou-lhe uma pequena biografia, provavelmente a partir da leitura da obra de Romain Rolland, onde diz, numa percepção com influência franciscana e panteísta:«o grande fervor religioso que frequentemente o fazia entrar em êxtase e romper em louvores da Natureza e de Deus não o distraía da criação de escolas, de Universidades vivas em que se estudassem com um espírito novo os grandes problemas da humanidade, de centros de socorro, de instituições médicas; oferecia-se com os seus missionários para as tarefas mais humildes, sem querer saber a quem beneficiavam, certo sempre que, em última análise, só poderiam dar a todos maior força espiritual». Anote-se que a edição das Obras Completas de Swami Vivekananda, está publicada em oito volumes, compreendendo os seus discursos, conferências, cursos, poemas, ensaios, traduções, com cerca de 500 páginas cada, e na introdução se explica que a sua obra baseou-se nas Shastras (textos sagrados), na terra mãe e no Guru ou mestre. E os meios de realização principais do espírito eram para Vivekananda a fé (shrada), a força (virya) e jnana ou conhecimento acerca do espírito. Mas são milhares os livros com os ensinamentos e as vidas tão abnegadas de Sri Ramakrishna Paramahansa e de Swami Vivekananda. Esperamos consagrar mais alguns textos dedicados à imensa e tão valiosa obra dos dois.
E para finalizar, dando graças, contemplemos e inspiremo-nos com esta bela fotografia antiga de Swami Vivekananda meditando... Que ele, Sri Ramakrishna e os demais mestres e swamis desta linha espiritual nos impulsionem ou abençoem.... Aum Jivatman Om...