A gravação em vídeo, realizada perto da meia noite de 24 para 25 é apenas um simples contributo, um testemunho de uma prática, de uma celebração, de um peregrino no Caminho.
Livros, Arte, Amor, Religião, Espiritualidade, Ocultismo, Meditação, Anjos, Peregrinar, Oriente, Irão, Índia, Mogois, Japão, Rússia, Brasil, Renascimento, Simbolismo, Tarot, Não-violência, Saúde natural, Ecologia, Gerês, Nuvens, Árvores, Pedras. S. António, Bocage, Antero, Fernando Leal, Wen. de Morais, Pessoa, Aug. S. Rita, Sant'Anna Dionísio, Agostinho da Silva, Dalila P. da Costa, Pina Martins, Pitágoras, Ficino, Pico, Erasmo, Bruno, Tolstoi, Tagore, Roerich, Ranade, Bô Yin Râ, Henry Corbin.
«António Paiva - E as outras vias de excesso, tal como referi de início, a de Gurdjieff?
Pedro Teixeira da Mota - As vias de excesso, ou diria até de extremos, mais típicas, além das drogas, foram as da alimentação, do sono, da dança, da música, da sexualidade, do álcool, da guerra e a da violência sobre os discípulos, em geral com a justificação de se lhes quebrar o ego. Ora todas estas metodologias têm as suas limitações, defeitos ou perigos, seja delas próprias, seja pelos terrenos pessoais dos mestres e discípulos, além de que não são elas em si mesmo o que gera a realização, pelo que nada garantem, sobretudo no domínio do espiritual.São apenas meios psico-somáticos para aumentos da percepção dos sentidos físicos e psíquicos, confrontações internas, transmutações de energia, expansões de consciência, e nesse sentido alguns dos exercícios que Gurdjieff ensinava ajudavam as pessoas a sair de automatismos, bem como os modos violentos com que por vezes interagia provocavam realmente reacções fortes.
Contudo, em geral, as pessoas muitas vezes em grupos esotéricos acabam por se satisfazer e iludir com as vidas miraculosas dos mestres e seus poderes, em complexas graduações de iniciações, em correspondências astrológicas, kabalistas e de tarot, ou em ritos e vaidades, e deixam-se manipular por doutrinas e instrutores semi-aldrabões.
Perdendo a noção e a capacidade de estarem bem conscientes do contexto causal e holístico em que estão integradas e num sentido evolutivo ou libertador, acreditam em mistificações que não se podem comprovar, fantasiam as realizações que os instrutores ou mestres alardeiam, começam a criar dependências do sentirem-se bem num grupo ou no amor do mestre, começando assim a limitar-se, distanciando-se de uma verdadeira religação espiritual e divina. “Coisificações”, fixação em esquemas, perda da fluidez e vida espontânea, chamava de certo modo a tal o nosso genial Leonardo Coimbra, que entre nós exerceu um mestrado, onde estiveram por exemplo Sant'Anna Dionísio e Agostinho da Silva, dois seres com quem dialoguei a sós, alma na alma, bastantes vezes e que deixaram ensinamentos valiosos, em especial Agostinho da Silva, com um percurso bastante universalista e particularmente lusófono e do culto do Espírito santo, de algum modo um mestre de alternativas ou mesmo de uma certa Nova Era portuguesa, dos anos 70 a 90, mas ainda lido ou falado hoje.
António Paiva– Portanto também não gerará iluminação forçosamente a abstinência?
Pedro Teieira da Mota – Claro, tudo é relativo, depende de tantas circunstâncias e contextualizações, tanto mais que, para mim, não há a iluminação mas sim certas realizações luminosas. Qual é o efeito principal da ascese? É a capacidade das pessoas saberem que podem dominar a sua natureza instintiva, os seus desejos e prazeres, a sua parte animal e corporal, através do seu Eu que decide teoricamente em função de valores superiores ou alinhado com o Espírito. Isto é importante, porque de facto um dos aspectos principais da nossa vida é conseguirmos desenvolver um Eu acima das identificações corporais e dos hábitos sociais, e assim permitir que a consciência espiritual se desenvolva mais em nós.
Esta consciência e corpo espiritual vai sendo feito ou talhado através de todos os sims e nãos, dos actos e renúncias, de desenvolvimentos e esforços ao longo da vida, num processo que nunca pára. As asceses representam portanto um controlo das nossas forças anímicas não as deixando animalizarem-se, superficializarem-se ou serem muito manipuladas socialmente, como nos nossos dias de múltiplos incitamentos a diversos tipos de consumismos tanto acontece, ao que se tem acrescentado ultimamente as restrições covídicas, por vezes quase que sádicas e com tantas consequências negativas...
Porque nós somos eus-espíritos, envoltos num potencial grande de milhares e milhares de forças anímicas, temos imensas de possibilidades de acção, sentimento e pensamento. Ora como a vida moderna exponencia a relacionalidade por meios tecnológicos de um modo gigantesco e encontramos milhares de ofertas para diálogo, aprendizagem, consumo e distração, tudo isso pondo a nossa ascese, no seu sentido de desprendimento do ilusório e concentração no essencial, bastante enfraquecida e até fora de moda.
Esta oferta imensa de bens e relacionamentos tanto nos dispersa e faz-nos perder a concentração isoladora e mais aprofundante, como permite infinitas possibilidades de comunicação, aprendizagens e partilhas, neste aspecto sendo um factor grande da divulgação de ensinamentos de todos os ramos de saber, por vezes numa democratização de conteúdos que estavam bastante mais rarefeitos antigamente. Neste aspecto, a revolução digital originou uma nova Era de rede plena de muitos dos saberes e tradições, e com possibilidades de amplas intercomunicações, embora certamente o contacto presencial seja em geral melhor ou mais forte.
As asceses tradicionais permitem-nos não nos dispersar tanto pelos prazeres sensoriais ou ainda egóicos e até intelectuais, nomeadamente dos canais televisivos, dos jornais fracos, de leituras inúteis ou cor de rosa, contrabalançando-os com um certo recolhimento. Os tipos principais de prazeres que desafiam mais a pessoas quanto ao seu controle são assim a leitura, a alimentação, a bebida, as drogas, o prazer sexual, os banhos, os luxos, as posses, as roupas, os carros, os canais de televisão, as férias, o tempo que se passa nas redes sociais, etc., e é pelos nossos usos e reacções que nos vamos esculpindo, sublimando, evoluindo, ou o contrário...
Podemos ainda referir na ascese a Palavra, o uso das palavras-sons-orações, tanto mais que ela faz parte de tradições religioso-espirituais tanto do Ocidente como do Oriente, e vemo-la nos discípulos de Pitágoras, nos monges cartuxos de S. Bruno e seus conventos contemplativos, no dhikr dos sufis, ou mesmo nos mauna yogis, na Índia, que cumprem votos de estarem meses ou anos sem falarem.
O kavi yogi Shudhananada Bahrati, com quem vivi em Madras dois, três meses, trabalhara ou escrevera muitos anos em silêncio, com Sri Aurobindo e a Mãe, em Pondichery, e com Ramana Maharishi. Dessa ascese brotara muita visão e poesia escrita. E assim é a lei, poda-se de um lado, fortifica-se e recolhe-se noutro. Ou como dizia o escravo romano Epicteto: Sustine et abstine, sabe abster-te e sabe susteres ou sustentares algo, aguentar.
AP. Como vês então o silêncio?
PTM. O silêncio desenvolvido conscientemente tem muitos efeitos benéficos, seja para ouvirmos melhor os outros em diálogos, seja para discernirmos melhor a energia das pessoas e das palavras, seja para se conservar mais energia interna, que depois se poderá manifestar melhor quando falamos, oramos, escrevemos, seja para podermos ainda ouvir ou ver o espírito.
A natureza transmite-nos e ensina-nos muito o silêncio, mesmo com todos os seus sons, tal como o céu nocturmo e estrelado, sulcado volta e meia por algum meteorito ou estrela cadente que nos faz brotar uma exclamação, uma palavra carregada de sentimento e de significado e que é como uma fecundação da imensidão do céu.
Tal como a tradição egípcia, que muito desenvolveu a noção da palavra justa e verdadeira e de um julgamento quanto à nossa honestidade na transição para o além, imagino que quando uma pessoa chega ao fim da sua vida e passa pela balança da sua consciência, de guias ou mesmo da divindade interna, vê em si mesma, o efeito das palavras que proferiu ou, quem sabe, ouve-as de modos difíceis de se imaginarem, talvez sendo determinado por elas na sua textura hologramática de palavra-vibração-partícula-onda, num agregado subtil e multidimensional. Pode ser que tenha proferido milhões de palavras e que algumas dotadas de uma energia espiritual, duma intencionalidade profunda e luminosa, e porque partiam de um silêncio interior bem cultivado que as afeiçoara e as fortificara, tenham gerado não só bons efeitos como também até uma alma mais pronta a funcionar no mundo subtil espiritual com luz, amor e elevação.
Nos dias solsticiais (às 3:07 do dia 22) e natalícios é natural os Anjos e Arcanjos estarem mais próximos de nós, ou acessíveis, e assim dedicarmos-lhes algum tempo de sintonização, contemplação ou meditação, ou então apenas orar a eles ou orar com eles, é frutuoso individual e planetariamente, podendo-se realizar em qualquer local, embora na Natureza pura ou num templo sagrado seja melhor, intensificando tanto a nossa como a comunitária frequência vibratória espiritual e eco-amorosa. Dadas as bênçãos luminosas que dos seres celestiais nos podem advir, eis-me a partilhar algumas imagens, brevemente legendadas, a primeira de uma gravura de Bartolozzi, seguindo-se três de fotografias na Igreja de S. Paulo em Lisboa, e a última já obtida em Castelo Branco.
Dos Mistérios Angélicos, e do Amor que é inerente à sua visão.
Esta gravura do famoso Bartolozzi (1725-1815, em Lisboa), tão importante no desenvolvimento da gravura em Portugal, pode levar-nos a pensar que a devoção ou Amor aos Anjos e particularmente ao nosso Anjo da Guarda gera como que anjinhos ou cupidos, que são como que pequenas avatarizações, ou flechas, de Amor, numa amálgama de substância psico-espiritual nossa e deles. Desconhece-se bastante disto pelo que oremos e meditemos mais para que mereçamos e saibamos discerni-los, senti-los, vê-los e irradiá-los, ainda que possamos admitir que esse pequeno ser corresponde à nossa pequena concentração, aspiração e ligação aos Anjos... Logo, vemo-lo ainda muito pequenino...
Já esta escultura oitocentista da igreja de S. Paulo, exuda tanta doçura e amor suave e subtil dos Anjos e originado na Divindade, que contemplá-la angeliza-nos, espiritualiza-nos, impulsionando em nós a devoção e aspiração ao numinoso.
Om Amen. Os anjos estão sempre a intermediarizar a Terra e o Céu, o plano físico e os subtis e espirituais, a Humanidade e a Divindade e podem ser para nós pontífices, inspiradores, iluminadores, sobretudo quando meditamos, amamos e adoramos com eles ....
Dançarmos e voarmos com os Anjos, em amor e adoração, mesmo que só interiormente, imaginalmente, ou com as memórias havidas com eles, eis um bom dinamismo face às limitações que o karma, a sociedade ou o Estado nos imponham....
O Arcanjo São Miguel, surgindo pela primeira vez na história religiosa, de origem imaginativa ou visionária, num relato do séc. II A. C., o Livro de Daniel, com profecias absolutamente impossíveis, tornou-se com o tempo o espírito celestial mais importante no panteão cristão, quase um outro Cristo, um outro ser ungido ou mais pleno do poder divino e como tal auxiliar nas grandes batalhas cósmicas contra o mal e os maus, ou nas pequenas batalhas em que por vezes nos vemos envolvidos. Invocar e evocar S. Miguel e a sua espada, ou o poder divino da vontade que nela é simbolizada, pode ser então para alguns seres, por auto-sugestão fortificadora da vontade ou por bênçãos do alto, um instrumento vitorioso nas lutas e limpezas astrais em vigília ou nos mundos tão interactivos e que nos sonhos se manifestam algo enigmaticamente.
Por vezes S. Miguel é mesmo representado sobre o mafarrico, o endemoninhado, o diabo, o mal, personificação ou chefe de variadas forças e entidades negativas, vencendo-o, controlando-o, qual S. Jorge dominando o dragão das forças instintivas e telúricas desregradas. Esculpidas no exterior das igrejas (nesta imagem em Castelo Branco) têm a função de tanto evocar as entidades celestiais e o Arcanjo, como afugentarem as forças e entidades do mal e protegerem a Igreja e quem nela se encontra. Não há ainda estudos sobre a eficácia de tal evocação, a não ser a partir de alguns relatos hagiográficos.
Contemplarmos estas representações e sentirmos quais as energias anímicas nossas que estão menos controladas e harmonizadas é um bom exercício de auto-conhecimento. E ao mesmo tempo invocarmos o Anjo da Guarda e até o Arcanjo S. Miguel para nos fortalecerem mas, claro, com sensibilidade e humildade, pois mais do que decretar isto e aquilo, ou saber os intrujados nomes dos anjos, como alguns pseudo-esoteristas da nova Era (seguindo contudo alguns mais antigos) lançaram e espalharam, tal Elizabeth Claire Prophet, Raziel, Monica Buonfiglio e outros, cada um de nós deve é invocar, meditar, interiorizar e descobrir por si a inefabilidade do anjo da guarda íntimo, e não se enredar no intrujado nome do anjo que lhe pertenceria pela data de nascimento, e assim por mérito próprio e verídico poder merecer sintonizar ou acolher, vendo-o até interiormente...

Alegre-se, não se disperse tanto nestes dias solsticiais, natalícios e do novo ano e persista em algum tipo de sintonização, pois eles constituem-se organicamente, e assim no solstício de inverno celebram algumas tradições a entrada como regente o arcanjo Gabriel, como auspiciosas ocasiões para os invocarmos mais e melhor, seja na natureza, na família, em sodalidade ou na soledade!
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| Arcanjo S. Gabriel, num ícone russo, tentando trazer mais luz ao mundo e aos nossos corações. |
Eis-nos na quinta parte (das talvez 17) da entrevista, primeiro oral e depois ampliada livremente para constituir o livro O Rosto e a Obra, 12 entrevistas pelo António Paiva, editado pela Espiral. Agora ao partilhar no blogue também modifiquei ou ampliei, um pouco...