terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Na partida de Eduardo Lourenço, breve homenagem e um vídeo de 2017 com ele.

Partiu do corpo e da terra física visível, esta madrugada, às 3:00, de 1 de Dezembro de 2020, tal como há sete anos a sua mulher, o notável ensaísta e filósofo Eduardo Lourenço, homem discreto, de coração, muito culto e de apurada capacidade psicológica, crítica e dialéctica. Já com 97 anos, da geração coimbrã de outro grande investigador (sobretudo do Humanismo e da Utopia) e amigo José V. de Pina Martins, tendo sido resistente estrangeirado (França) ao Estado Novo e gerado uma vasta e bem importante obra publicada de crítica e de ensaísmo, em particular sobre a Europa, Portugal, Camões, Antero, Pessoa e  outros escritores.

A Gravida desde 1998 tem editado (ou reeditado) muitos dos seus ensaios e artigos, a Fundação Calouste Gulbenkian, que o acolheu nos últimos anos, prepara a sua Obra Completa, pelo que não podemos queixar-nos de não o podermos ler ou não o termos aproveitado mais, pois a sua generosidade e dedicação proverbial, uma sensibilidade socialista, levava-o a aceitar todos os convites para falar, conferenciar, mesmo quando cansado ou já doente. 

Libertou-se finalmente, de certo modo, do corpo físico que já pouco o podia servir e encontra-se agora nos planos subtis a vivenciar surpreendido o dito grego tão querido dos seus mestres Antero de Quental e Fernando Pessoa, além de Joaquim de Araújo (com o seu valioso poema Na Morte de Antero), "Morrer é ser iniciado".

Seu leitor desde a adolescência, cruzámo-nos como amantes da Tradição cultural e espiritual portuguesa em alguns eventos e cirscunstâncias, e dialogamos e conversamos um tempo razoável, uma das vezes em sua casa, do que ficou uma parte registada em vídeo que partilho, tanto mais que o tema por onde circulámos era a morte de Antero e assim, na morte e ressurreição, poderemos comungar com eles.

Na dedicatória do meu exemplar do Labirinto da Saudade, bem lido e anotado particularmente em 1987 e 88, quando publiquei A Grande Alma Portuguesa (com textos de Fernando Pessoa), simpática ou generosamente Eduardo Lourenço, durante a nossa animada conversa e lanche, com a sua irmã Maria Alice e a Ana Almeida Martins, sua grande amiga e notável anteriana, escreveu: «Para o seu caro Amigo Pedro Teixeira da Mota, buscador das verdades últimas que muito invejo, com um abraço do coração do seu admirador, Eduardo Lourenço. Lisboa, 30 de Nov. de 2017.»

Brevemente escreverei sobre este valioso e lúcido livre pensador e notável psicólogo dos mitos e da cultura portuguesa, bastante anteriano e pessoano, transcrevendo até algumas das suas ideias e apreciações acerca destes nossos dois vates maiores de Portugal.

Possam os raios de Amor dos nossos corações chegarem até à sua alma, possa ele estar a receber os apoios necessários na transição, possa ele despertar e avançar luminosamente, e possamos continuar a trabalhar pela cultura, a verdade, a justiça, a liberdade e a felicidade dos seres...

                   

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

No 85º aniversário da morte e ressurreição de Fernando Pessoa. 2020 ... Um contributo...

Comemorando-se os 85 anos da partida de Fernando Pessoa da Terra, devemos de algum modo associar-nos à sua lembrança e partilhar os melhores votos para o seu ser espiritual, seja qual for o plano e estado de consciência em que esteja, comunicando-lhe, com o coração, mantras e orações, já que as almas libertas do corpo físico mas não plenamente despertas e unificadas espiritualmente sempre agradecem as energias luminosas que possamos movimentar em favor delas.
Escrevi um pequeno texto em papel antigo de oração, de manhã deste 30-XI-2020, e que é aqui partilhado fotograficamente. De qualquer modo transcrevi-o ainda, apenas com algumas pequenas ampliações.
Muita luz, paz e amor nele e em nós.
Que muitas das interrogações da sua demanda estejam agora já clarificadas....
«Onde se encontra e como está a alma e ser espiritual de Fernando Pessoa, eis uma interrogação utópica, sem local certo na nossa mente e consciência, ou mesmo no cosmos quântico, mas necessária de se fazer ou cumprir, em especial nos seus dias de aniversário, o da incarnação na terra e o da desencarnação e ressurreição.
"Não sei o que o amanhã trará", ou no original inglês, "I know not what tomorrow will bring", foi o seu último gesto de escritor, lançado numa frágil branca folha de papel, não sabemos se já a custo e triste por dores ou por subitamente ver a terminar a sua gesta de grande escritor, ainda com tanta rosa por desabrochar.
Temeroso do dia de amanhã não devia estar, e certamente que aguardava esperançado alguns protectores e guias para o ajudarem na transição e ascensão, nem que fossem a tia Anica, o velho general Rosa, o seu querido amigo Mário de Sá-Carneiro ou mesmo o seu Anjo da Guarda, pois não ecoara ele o dito ocultista que "a conversação com o santo Anjo da Guarda é a mais alta obra de magia"?
Passados estes 85 anos, com tanto livro, colóquio e palestra, sobre ele e sua obra, só podemos louvar a sua busca constante e genial de comunicação do que ele sentia, sabia ou intuía, sob ou dentro do lema ou divisa que adoptara para a sua ressurgência de uma ordem templária portuguesa: «Talent de bien faire», «Tenção ou talento de bem fazer».
Contudo, nessa sua busca ocultista, maçónica, rosicruciana, gnóstica e espiritual não conseguiu atingir alguns dos seus objectivos e por isso morreu crucificado na sua obra, alagada de um certo vinho e sangue de desilusão e tristeza.
Por isso se interrogou sobre dois deles num curto poema quase desconhecido, e que neste dia 30 de Novembro de 2020, e no de 2021, na sua Lisboa, transcrevemos:

"Porque maligno e natural olvido,
Nem completei o Templo inconcluído,
Nem a palavra que é perdida achei?

Mas eu, tornado qual eu me sonhei
Segredo astral do mundo..." 
 
Possa Fernando Pessoa neste momento já ter completado mais o seu templo e santuário interior (tal como nós...), e ter contemplado os exteriores, ou mesmo interiores, a que pode ter acesso.
Possa Fernando Pessoa comungar com a vibração da Vibração, Palavra ou Energia criadora amorosa Divina, por ele várias vezes referido como o Verbo,  e nela a sua alma se alegrar e fortificar criativamente...
Aum, Amen, Hum, Iao, fluam luminosamente na sua alma e ser...

domingo, 29 de novembro de 2020

Sa'adi, e a sabedoria perene do Irão. "Gulistão", 3ª história. Um dervishe de língua pronta. Tradução de Pedro Teixeira da Mota.

Continuemos a transcrever algumas das histórias do Jardim de Rosas de Sa'adi, esta com um diálogo bastante inesperado e corajoso, pois admite a opção de pedirmos a Deus que alguém seja retirado deste mundo, algo que podemos pensar que uma religiosidade e moralidade mais irenaica, ou pacifista, não admitirá. E contudo, para diminuir certos males, quando certos dirigentes são mesmo maus, quando estão a causar muito sofrimento a muita gente, porque não pedir aos Anjos, à Ordem Karmica do Universo, ao Dharma, ao Deus, que tal ser seja impedido de fazer mais mal?
Oiçamos então mais uma pequena e valiosa história, que nunca sabemos bem se é verdadeira plenamente ou não, mas que reflecte e partilha a actualidade da grande sabedoria da Pérsia ou Irão, e no caso de Sa'adi:
«Um dervishe, cujas orações eram respondidas, fez a sua aparição perante Hejjaj ibn Yusuf [661-714, famoso general e governador da dinastia Umaiade], e este, chamando-o, disse-lhe: “ Pronuncia uma boa oração por mim”, ao que o dervishe respondeu: “- Ó Deus, toma-lhe a sua vida”.
Al-Hejjaj ibn Yusuf exclamou muito admirado: “Por amor de Deus, que tipo de oração é essa?”
O dervishe retorquiu:”É uma boa oração para ti e para todos os islâmicos”

Ó tirano, que oprimes os teus súbditos,
Por quanto tempo perseverarás nisso?
Para que te serve a autoridade que exerces?
É melhor para ti morreres que oprimires os seres.»

                                     
Oremos para que Deus leve muito criminosos demasiado mortíferos...

sábado, 28 de novembro de 2020

Sa'adi, e a sabedoria perene do Irão. "Gulistão", 2ª história. O sultão e o dervishe. Tradução de Pedro Teixeira da Mota.

                                       
                                                   
Eis-nos com a segunda história com poemas, traduzida por mim e algumas amigas
iranianas, extraída também do Gulistão, o Jardim de Rosas, de Sa'adi, um dos grandes mestres iranianos, com aquele sabor de sabedoria perene, sempre actual e alegre, mas também muito crítica e irónica do que está mal:
«Um dervishe solitário estava sentado num recanto do deserto quando um padshah [pad=mestre, shah rei, sultão] passou ao seu lado, mas ele habituado à sua independência [literalmente, mas como a descontracção é o reino do contentamento], nem se apercebeu da sua passagem. O sultão, de acordo com a sua alta dignidade, ficou zangado e disse: “Esta tribo vestida de trapos assemelha-se a animais”.
O vizir bradou-lhe então: “O sultão da imensidade da Terra passou por perto de ti. Porque é que não lhe prestaste homenagem e mostraste boas maneiras?”
O dervishe replicou-lhe: “Diz ao sultão que procure homenagens das pessoas que esperam benefícios dele e também que os governantes existem para proteger os seus cidadãos e os cidadãos não existem para obedecer aos governantes.”
 

O sultão é o guardião do dervishe,
Ainda que a riqueza esteja na glória do seu reino.
O carneiro não é para o pastor,
Mas o pastor para o serviço dele.

Hoje vês uma pessoa próspera
E outra cujo coração está ferido pela luta.
Espera alguns dias até a terra consumir
O cérebro na cabeça do visionário.

A distinção entre o rei e o escravo cessou
Quando o decreto do destino alcançar a ambos
Se uma pessoa fosse abrir os túmulos dos mortos
Ela não distinguiria a pessoa rica da pobre.

O rei, que ficou satisfeito com os sentimentos do dervishe, disse-lhe: “faz-me um pedido”, mas ele respondeu que o único que queria fazer era que o deixassem só. O sultão pediu-lhe então um conselho e o dervishe respondeu-lhe:

“Compreende agora enquanto a riqueza está na tua mão
Que a fortuna e o reino abandonarão um dia a tua mão.”

                                                          
Comentários nossos:
Saibamos morrer em vida, para sermos iniciados na sua profundidade e perenidade.
Saibamos abandonar os nosso ego e posses, pelo amor da liberdade e da pureza, e pelo amor aos outros, ao espírito e à Divindade.
Oremos para que os governantes tenham a humildade de compreender que estão na terra e no poder para servirem a causa pública e não para se servirem,
envaidecerem e perderem...
Oremos para que as novas gerações sejam menos habituadas a roubar para o
partido e pelo partido, para os amigos e para a família, além de si mesmos, e comecem a ter em conta que prestarão contas à consciência íntima deles e ao mundo espiritual, pelo menos quando morrerem, e que a história nacional e a alma portuguesa os estão julgando, e que por mais que cortem páginas de processo ou mintam e escapem do reconhecimento das luvas e das culpas, isso não será esquecido na contagem das suas almas...

Oremos e esforcemo-nos para que haja mais dervishes e seres livres, capazes de não se deixarem atemorizar e corromper, e assim viverem e falarem a verdade e serem exemplos de desprendimento, coragem e discernimento para os outros e a sociedade.

                     “Compreende agora enquanto a riqueza está na tua mão
                    Que a fortuna e o reino abandonarão um dia a tua mão.”

Sa'adi, e a sabedoria perene do Irão. "Gulistão". 1ª história. Tradução original de Pedro Teixeira da Mota.

                              

 Abū-Muḥammad Muṣliḥ al-Dīn bin Abdallāh Shīrāzī, mais conhecido simplesmente por Sa'adi, nasceu no Irão, em Shiraz, em 1208 e teve uma vida bastante aventurosa, sábia e criativa, até 1291, deixando-nos muitas obras valiosas que ainda hoje são das mais lidas no mundo persa: o Gulistan, o Pomar, Boostan, o Roseiral, e um Diwan de ghazals, isto é, uma antologia de poemas amorosos e espirituais. 

Quando estive em 2013 durante 30 dias fortes e encantadores no Irão, fazendo conferência e encontros, traduzi várias histórias e ghazals dele e de Hafiz, com várias amigas iranianas, a quem muito agradeço, e espero num futuro não distante dá-las à luz e à leitura de almas vivificáveis, pois Sa'adi era claramente um despertador dos seres. Todavia, nestes dias mais trágicos da vida do povo iraniano, constantemente vítima dos criminosos do sionismo israelita e do imperialismo norte-americano, vou partilhar em dias sucessivos algumas das suas histórias, do Gulistão, .em homenagem a tão maravilhoso povo e aos seus grandes seres, tantas vezes martirizados desde o Imam Husayn até a Qassem Soleimani e mais recentemente Fakhrizadeh...

Não estamos sós e há uma vida depois da morte, justa...

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«Um dos servidores do sultão Umrulais escapara mas alguns homens enviados no seu alcance trouxeram-no de volta. O vizir, que tinha uma certa animosidade para com ele, desejava que o matassem para que os outros servidores não imitassem o seu exemplo. Ele baixou-se com a cabeça no chão diante do sultão Umrulais, e disse-lhe:

O que quer que caia sobre a minha cabeça é legítimo com a tua aprovação.

Que pedido pode adiantar um escravo?  A sentença é o mestre.

Mas tendo sido nutrido pela generosidade desta dinastia [Saffari, 881-1103] eu estou aborrecido porque no dia da Ressurreição serás punido por teres derramado o meu sangue; mas se desejas matar-me, fá-lo de acordo com as cláusulas da lei”. 

O sultão perguntou-lhe: “Como devo eu então interpretá-la?” 

O servo replicou-lhe: “Deixa-me matar o vizir e depois toma a minha vida em retaliação, de modo a que eu possa ser morto justamente”.

O rei sorriu e perguntou ao vizir o que pensava ele da questão. Este replicou: “Meu Senhor, dá liberdade a este bastardo, como uma oblação diante do túmulo do teu pai, por receio que ele me cause desse modo mal. É minha a culpa de não ter tomado em conta a máxima pronunciada pelos filósofos:

Quando lutas com um atirador de pedras,

        Partes ignorantemente a tua própria cabeça.

Quando desferes uma flecha na face de um inimigo,

Fica de guarda pois estás a ser como um alvo para ele.»

 

Comentário nosso:

Saibam os seres e os governantes não serem tão violentos nas suas ambições, pois cedo ou tarde pagarão, seja nesta vida seja na outra, pois a justiça mundial no mundo da alma trabalha de noite e de dia e os criminosos acabarão por sentir na consciência o que fizeram. Quanto aos diabólicos, esses poderão de ter de ser mesmo cortados um dia, qual joio no dia da colheita....

Saibamos ter a nossa consciência pura, a nossa mente capaz de silenciar-se e de, perante o tribunal do seu íntimo, saber quanto bem e mal tem gerado em si e nos outros, para corrigir-se, melhorar-se, religar-se ao espírito divino, viver fraternalmente, criativamente e em sabedoria e amor...

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Os melhores cartooms do Médio Oriente. Uma boa imagem vale por muitas palavras.

Neste final do Novembro, e no dia 27, de 2020, em que foram assassinados no Irão sete cientistas iranianos por agentes israelitas e que estamos na eminência de um conflito embora regional forte, para tal contribuindo os últimos dias no poder do corrupto e pró-sionista Trump, talvez seja bom mostrar alguns dos cartooms ou desenhos trágico-cómicos que desmascaram o que se passa, talvez para que haja alguma reacção a tanta maldade e criminalidade da parte dos sionistas que governam Israel e  isso possa diminuir, terminar mesmo... E assim haja paz, justiça, irmandade e amor...
 
 



Provavelmente o maior criminoso das últimas décadas, Netanyahu. Responsável por milhares de mortos, feridos e traumatizados. Nestes dias a tentar, antes que Trump saia, provocar a guerra com o Irão, assassinando hoje sete cientistas iranianos próximo de Teerão. O anti-Cristo em acção...











 
 



Esperemos que a coligação do eixo do mal não continue a assassinar no Yemen, no Irão e na Síria e que sejam mesmo derrotados em tais maléficos intentos..

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Poesia pitagórica e rosacruciana de Raul Traveira, figueirense, major do exército e pioneiro dos kayak da Goltziana.

Raul Traveira (n. 1924), natural da Figueira da Foz, major do exército, amante e pioneiro da navegação em barcos pequenos, kayaks, a remo,  notável pitagórico e rosacruciano,  poeta matemático, e ainda amigo convivente de Joaquim Montezuma Carvalho e de Agostinho da Silva, é um notável português que conheci através de Agostinho da Silva nos anos finais da década de 80, nuns encontros informais que se
realizavam junto à Torre de Belém, aos fins de semana, e nos quais eles participavam.
Era então uma pessoa de coração, muito bondosa, um ser puro, tal como a sua
mulher. Estive com eles também dialogando em Coimbra, na casa onde moravam,  lembrando-se o seu filho Eduardo de eu ter trazido o meu tacho de inox e o arroz integral. 

Com efeito este seu filho, Eduardo, dirige hoje a Goltziana, uma empresa e marca de renome nos kayak de mar, por eles fundada, no final da década de 70, bem sinalizada na internet e que depois de ter falado comigo me proporcionou hoje receber um telefonema dos pais, com mais de 90 anos e pujantes de alma, sabedoria e amor.
Não está suficiente "imortalizado" na grande biblioteca digital mundial, umas
pequenas referências enquanto dinamizador do Associação Naval da Figueira da Foz, pioneiro dos kayak, e amante da história antiga da Figueira, mais alguns poemas, mas disse-me ao telefone que pensa editar em breve alguma da sua criatividade.
Embora possa ter outros documentos ou apontamentos dos nossos encontros, o facto
de ter encontrado este pequeno impresso e manuscrito leva-me a partilhá-lo, pois o conteúdo desta pequena pagela poético-pitagórica e aritmológica é por si só suficiente para merecer divulgação.



Vejamo-la:                     

  «Raul Traveira

POEMAS

Tese (Primeira)

Poeticamente

Falando,

É; matemática

E geometricamente

Falando,

Musicalmente

Falando,

Verdadeiramente

Falando,

Porque falando

Poeticamente

Não se mente

Falando.


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Sei um triângulo!

Juro,

Raro,

Tão puro

Mas mais seguro

Que a neve do Kilimanjaro!

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Graças te dou

Sol-Amigo

Cristo Rei,

Porque sou

Sempre serei

Garimpeiro de pepitas

As palavras infinitas.

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                                                                  *******

 «O Teorema de Pitágoras fascinou as antigas civilizações. Acontece que não há triângulo rectângulo sem ângulo recto.

Ora, foi por fascinante pressentimento que meu neto João me sugeriu que calculasse a gematria do apelido Traveira da nossa família, o qual como se vê coincide rigorosamente com a medida, em graus, do referido triângulo:

T R A V E I R A

19 17 1 21 5 4 17 1=90

Com os votos mais sinceros de que o ESPÍRITO DA FASCINANTE E SANTA PÁSCOA sempre o acompanhem,
do muito grato amigo,
Raul Esteves Traveira.»

 Comentários meus:
Ser que ama a palavra profundamente e a pesquisa e trabalha, Raul Traveira lembra-nos no primeiro poema que a devemos proferir poética, matemática, geométrica, musical e verdadeiramente. Bem simples, mas inegavelmente uma grande arte que exige uma auto-consciência grande e perseverança na sua auscultação e emissão...
No segundo poema, quase mantra ou sutra, e com a sua a pertença à tradição pitagórica pois, tal como eles, jura pelo triângulo, Raul Traveira muito provavelmente partilha uma intuição e visão que terá recebido na meditação: a contemplação do triângulo, branco, puro, qual a neve da alta montanha africana do Kilimanjaro. Talvez uma visão no plano espiritual das formas arquétipas ou primordiais, e que lhe deu uma certeza pessoal de algo, que só ele saberá indubitavelmente, mas que ao ser partilhada, nos poderá estimular a estarmos mais abertos à visão espiritual das formas geométricas fundacionais do cosmos.
Talvez até pudesse dizer no 1º verso: "Sou um triângulo", pois com sua mulher construiu-o, tendo no vértice, e assim dinamizando a circulação da três Graças, seja a Divindade seja cada filho que gerou.

O 3º poema é quase uma auto-biografia concentrada de si próprio: adorador do Sol, do Logos Solar, de que o Cristo Rei será uma expressão humana. E ser consciente da sua imortalidade de amante da Palavra, do Sermo, Verbo ou vibração do som Amen ou Aum ou Iao, que depois se infinitiza nas pepitas das palavras com as quais podemos comunicar, aprender e comungar e muitas ressonâncias encontrar e
admirar.
Como nós fazemos neste momento, graças a ele, e logo dando graças, sentindo
gratidão por esta comunhão com a Palavra,  o Som e a Divindade que as emana
musicalmente, geometricamente, poeticamente, verdadeiramente.
Que tal arte, sensibilidade, capacidade e aspiração se torne mais viva em nós!
O texto manuscrito que me dedicou nessa "fascinante e santa Páscoa de 1988",
assinala bem a sua pertença à tradição iniciática pitagórica, ainda que apenas falando do interesse das várias civilizações por tal descoberta geométrica de Pitágoras. E marca a importância do ângulo recto, de sermos rectos, de conseguirmos ligar a terra e o céu direitamente, confirmando aritmologicamente e pela gematria da correspondência das letras e números,  ser um ângulo recto.

A final dedicatória mostra-o de novo um cristão gnóstico rosacruz, e assinalando como a passagem da morte para a vida, da mortalidade corporal para a imortalidade anímico-espiritual, será sempre algo fascinante, pelo seu mistério, dificuldade, 
santidade e beleza.
Poderíamos aqui mesmo aduzir o dito grego, desenvolvido por Antero de Quental,
Joaquim de Araújo e Fernando Pessoa, "Morrer é ser iniciado", pois embora Jesus já fosse iniciado, certamente que a sua morte foi uma outra iniciação e sobretudo para os que o amam, o seguem ou nele se inspiram, um modelo e imagem de iniciação foi dada: ressuscitar logo, ou em poucos dias, para a vivência consciente no mundo 
espiritual.
Espero visitar Raul Traveira e a família na Figueira da Foz e dialogar sobre as nossas caminhadas e realizações nestes já trinta anos sem nos vermos e desde já o saúdo de coração e com muito amor e votos de saúde e inspirações.

Post-scriptum: Anote-se que anteontem, 9 de Janeiro de 2021, partiu da terra o nosso querido amigo Raul Traveira, com a sua missão certamente muito bem cumprida. Acrescentarei, através do contributo escrito pelo Eduardo Aroso, na página do Eduardo no Facebook, que  Raul Traveira «fundou com Manuela de Azevedo, Julião Bernardes (pseudónimo poético do major João Repolho) e Eduardo Aroso, entre outros, o GRESFOZ – Grupo de Estudos Figueira da Foz. Durante cerca de duas décadas o Gresfoz realizou recitais de poesia e música, tendo promovido edições de poesia (colecção Ponte). O Gresfoz representou, entre outros acontecimentos e sem quaisquer ajudas oficiais, a Figueira da Foz e Portugal, nomeadamente no Centenário do poeta Afonso Duarte (Cáceres, 1984) e Rosalía de Castro (Santiago de Compostela,1984), tendo participado na I Bienal Internacional de Poesia, 25 nações,
(Madrid, 1987).»
|Que continue a ser nos mundos subtis um espírito irradiante de luz e de amor e que
nos possa inspirar e fortalecer na nossa caminhada ainda na Terra, bem necessitada nos nossos dias de virus, manipulações e opressões, e tão pouco da palavra órfica, pitagórica e rosacruciana, isto é, verdadeira, proporcionada e realizada, que Raul Traveira tanto cultivou e cultuou...