Abū-Muḥammad Muṣliḥ al-Dīn bin Abdallāh Shīrāzī, mais conhecido simplesmente por Sa'adi, nasceu no Irão, em Shiraz, em 1208 e teve uma vida bastante aventurosa, sábia e criativa, até 1291, deixando-nos muitas obras valiosas que ainda hoje são das mais lidas no mundo persa: o Gulistan, o Pomar, e Boostan, o Roseiral, e um Diwan de ghazals, isto é, uma antologia de poemas amorosos e espirituais.
Quando estive em 2013 durante 30 dias fortes e encantadores no Irão, fazendo conferência e encontros, traduzi várias histórias e ghazals dele e de Hafiz, com várias amigas iranianas, a quem muito agradeço, e espero num futuro não distante dá-las à luz e à leitura de almas vivificáveis, pois Sa'adi era claramente um despertador dos seres. Todavia, nestes dias mais trágicos da vida do povo iraniano, constantemente vítima dos criminosos do sionismo israelita e do imperialismo norte-americano, vou partilhar em dias sucessivos algumas das suas histórias, do Gulistão, .em homenagem a tão maravilhoso povo e aos seus grandes seres, tantas vezes martirizados desde o Imam Husayn até a Qassem Soleimani e mais recentemente Fakhrizadeh...
Não estamos sós e há uma vida depois da morte, justa... |
******
«Um dos servidores do sultão Umrulais escapara mas alguns homens enviados no seu alcance trouxeram-no de volta. O vizir, que tinha uma certa animosidade para com ele, desejava que o matassem para que os outros servidores não imitassem o seu exemplo. Ele baixou-se com a cabeça no chão diante do sultão Umrulais, e disse-lhe:
“ O que quer que caia sobre a minha cabeça é legítimo com a tua aprovação.
Que pedido pode adiantar um escravo? A sentença é o mestre.
Mas tendo sido nutrido pela generosidade desta dinastia [Saffari, 881-1103] eu estou aborrecido porque no dia da Ressurreição serás punido por teres derramado o meu sangue; mas se desejas matar-me, fá-lo de acordo com as cláusulas da lei”.
O sultão perguntou-lhe: “Como devo eu então interpretá-la?”
O servo replicou-lhe: “Deixa-me matar o vizir e depois toma a minha vida em retaliação, de modo a que eu possa ser morto justamente”.
O rei sorriu e perguntou ao vizir o que pensava ele da questão. Este replicou: “Meu Senhor, dá liberdade a este bastardo, como uma oblação diante do túmulo do teu pai, por receio que ele me cause desse modo mal. É minha a culpa de não ter tomado em conta a máxima pronunciada pelos filósofos:
Quando lutas com um atirador de pedras,
Partes ignorantemente a tua própria cabeça.
Quando desferes uma flecha na face de um inimigo,
Fica de guarda pois estás a ser como um alvo para ele.»
Comentário nosso:
Saibam os seres e os governantes não serem tão violentos nas suas ambições, pois cedo ou tarde pagarão, seja nesta vida seja na outra, pois a justiça mundial no mundo da alma trabalha de noite e de dia e os criminosos acabarão por sentir na consciência o que fizeram. Quanto aos diabólicos, esses poderão de ter de ser mesmo cortados um dia, qual joio no dia da colheita....
Saibamos ter a nossa consciência pura, a nossa mente capaz de silenciar-se e de, perante o tribunal do seu íntimo, saber quanto bem e mal tem gerado em si e nos outros, para corrigir-se, melhorar-se, religar-se ao espírito divino, viver fraternalmente, criativamente e em sabedoria e amor...
Sem comentários:
Enviar um comentário