sábado, 20 de julho de 2019

"O Livro do Deus Vivo", de Bô Yin Râ. Cap. XIV. A Vontade de Luz.

  A Vontade de Luz. Cap. XIV do Livro do Deus Vivo, de Bô Yin Râ, 2ª versão da tradução em português, por Pedro Teixeira da Mota.
«Eu sei que a muitos dos que lerem estas palavras se lhes abrirá um mundo, que lhes parecerá demasiado estranho e que irá contra a sua cosmovisão, sagazmente elaborada, ou obstinadamente tomada por verdadeira, de modo que poderão rejeitar hostilmente o que - "não completamente sem riscos" - os alcança aqui.
Mas o facto de poderem ser hostis para com ela, muito dificilmente impedirá a Realidade de permanecer como ela é e sempre foi e deverá ser.--
Que as pessoas não se permitam iludirem-se.
Não fala aqui um fantasioso, descrevendo os seus sonhos extáticos!
Não fala aqui um poeta, que quer descrever as suas visões!
O que é aqui dado é orientação segura, e cada palavra está fundada na Realidade mais profunda!
Quem até agora não pode ainda conhecer esta Realidade pode aprender a conhecê-la, e é-lhe mostrado aqui o "Caminho" para chegar a tal Conhecimento, o qual de longe ultrapassa e contém em si todos os outros "conhecimentos".-
Mas cada um fará bem em contar desde o início com o facto de que os estados de ser espirituais primordiais, iluminados sob tantos ângulos neste livro, são Realidades - muito "mais reais" do que tudo o que o uso corrente da língua designa de "real", - e que eles exercem constantemente a sua acção, mesmo quando o ser humano terreno nada saiba ainda deles, e mesmo quando não quer reconhecer a sua acção...
Decerto que muitos dos que ouvem falar destas coisas neste momento saberão tirar para si consequências; todavia, cada um só se ajuda a si próprio, quando aprende a reconhecer a "Realidade" em si, e portanto não permanecerá certamente mais  na dúvida de que aquilo a que até agora chamava a sua "Mundividência" era apenas uma ilusão, mesmo quando lhe parecia muito "real", porque confiava nas aparências, - mesmo quando as suas especulações mentais lhe pareciam reluzir já do mais íntimo de si.---
"A imobilidade é um recuo", diz um provérbio,- mas, na verdade, a imobilidade é muito pior do que o recuo, pois o caminhar recuando pode levar a novos valores, nunca alcançáveis por aquele que é demasiado comodista, ou demasiado obstinado, para querer renunciar ao seu "ponto de vista" em favor da procura.--
Quem porém receia o recuo, tem também todas as razões para confiar no progresso apenas com alguma reserva...
Não existe nenhum progresso ilimitado aqui na Terra!
Todo o aperfeiçoamento humano está submetido às leis do movimento das ondas!-
Os seres humanos de hoje perderam muito saber e poder que outrora os seus distantes antepassados acreditavam "inalienável",- e nessas áreas em que cada antepassado só sabia e podia muito pouco, atingiu-se hoje um grande saber e poder.
Só que a Natureza não tolera qualquer paragem!
"Ó, que fosses tu quente, ou frio!- Mas como és morno, cuspir-te-ei da minha boca!"
Foi assim que a "Lei" eterna se exprimiu em todos os tempos, e ainda hoje não alterou a sua palavra...
Quem espiritualmente permanece na escuridão, ainda não tem a Vontade de Luz!
"Desejaria" muito estar na Luz, de que ouve os outros falar,- só que ainda não o quer!
A partir do momento em que verdadeiramente o queira, já terá enveredado pelo "Caminho" que conduz à Luz!-
Se para ti a Luz do Espírito é um "valor" para cuja obtenção queres empregar todas as tuas forças, então podes estar certo que um dia poderás aproximar-te da Luz! 

Mas enquanto a tua visão espiritual permanecer sob uma espessa venda, ser-te-á impossível poderes “ver"!
A tua vontade só - e não o teu "desejo" - pode arrancar essa espessa venda!--
Quando trouxeres em ti a Vontade da Luz, chegarás certamente à Luz,- quer queiras aproximar-te dela como pessoa de fria prudência, ou como um entusiasta ardente.--
Só "meia-vontade" não te conduzirá à meta!
Em todos os espaços siderais e acima de todas as estrelas não existe nenhum Deus exterior para alcançares, que oiça os teus pedidos sem efeitos...
Tens que querer ajudar-te a ti próprio, se queres que o teu Deus, que só é alcançável dentro de ti, te envie ajuda elevada, segundo a ordem original que nele é ordenada!-
No teu "Eu" está encerrado todo o Ser, e toda a aparência crias tu para ti próprio e inconscientemente das forças do teu "Eu". 

Foste tu próprio antes da tua existência terrena que te separaste do teu Deus, quando deixaste de O reconhecer no teu "Eu", porque te procuravas a ti mesmo,- onde só o teu Deus se podia encontrar...
Assim "Deus" tornou-se para ti um "Outro", e tu para ele um "estranho".---
Agora, para a tua compreensão, divides o teu "Eu", e parece-te esconder em ti mesmo um "Eu" superior, assim como um "Eu" inferior, porque não conheces a extensão do teu "Eu" inteiro, indivisível.-
Não existe todavia nenhum Eu "superior" ou "inferior" em ti, mas no teu "Eu" está contida todo o Infinito, e ele abarca as mais fundas profundezas, como as mais elevadas alturas no mundo espiritual...
Tu próprio deves escolher, - e aqui só podes “escolher” através da acção, - o que queres manifestar a ti mesmo no teu "Eu"...
Na tua própria infinidade, - no ponto do meio do teu “Eu” que abrange o Ser ” - "nascer-te-á" então de novo o teu Deus!---
Então também o sentirás ainda primeiro  como um outro Ser, até que reconheças de seguida, que ele abrange-te a ti próprio no teu "Eu" completo e inteiro.---

sexta-feira, 19 de julho de 2019

"O Livro do Deus Vivo", de Bô Yin Râ. Cap. XIII. A Unidade das Religiões.

A Unidade das Religiões, numa pintura indiana inspirada nas vivências de Ramakrishna, mestre que Bô Yin Râ refere.
Pintura de Bô Yin Râ, também sugestiva do cerne íntimo da Unidade das Religiões.
 A Unidade das Religiões, cap. XIII do Livro do Deus Vivo, Das Buch vom Lebendigen Gott, de Bô Yin Râ.
«Em todas os ensinamentos religiosos do mundo encontra-se no cerne:- a  Verdade última, - mesmo quando este cerne se reveste muitas vezes dos mais bizarros invólucros...
Ociosa, presunçosa e descabida seria porém discutir onde é que tal Verdade se deixa ainda reconhecer mais pura.
Quem souber retirar cuidadosamente todos os invólucros, irá encontrar por fim em todas as verdadeiras "religiões" o grande ensinamento da existência do eterno Homem-Espírito, que outrora estava unido ao seu Deus e que dele caiu porque no seu "Eu" se desligou do seu Deus.-
É-lhe anunciado um "Caminho", que outra vez o leva para o alto, para que finalmente se una de novo ao seu Deus, em si mesmo, no seu próprio "Eu". 

Mas porque este ensinamento é demasiado espiritual e demasiado simples para ser compreendido superficialmente pelo Homem, afundado como está na complexidade do culto dos sentidos, assim ele próprio acumulou fantasias em torno dessa última e profunda Verdade e libertador Ensinamento, até que por fim, perante tamanho emaranhado, cheio de frutos pretensamente importantes, não soube mais descobrir o ensinamento da Verdade.--
É verdade que ele intui ainda que por detrás desse emaranhado e dos seus frutos balofos estava antigamente visível a Verdade e, portanto, ele agarra-se ainda com persistente teimosia ao que chama a “sua crença”, a todas as formas inchadas, com que ele antigamente encobriu a Verdade, - e com as quais a deixou ficar completamente sufocada...
Em muitos dos mais elevados ensinamentos das religiões antigas será sempre possível encontrar de diversos modos o conhecimento velado da existência de alguns Homens-Espírito, que não sucumbiram à queda e que, de algum modo actuam nesta Terra, como altos Auxiliares dos seus irmãos na escuridão, para os libertarem de novo das suas cadeias da animalidade terrena...
As sagas religiosas antigas relatam como estes Ajudantes espirituais apareceram de tempos a tempos aos seus irmãos humanos, ou como entre os "justos" escolheram os seus enviados, que por sua vez deveriam no seu meio espalhar a "Luz" entre os que se debatiam nas trevas...
É frequente aparecer o nome de um  Santuário das altas Montanhas, -  da Montanha da Salvação, e das montanhas "Sagradas", da qual vem a Ajuda deles... 

É verdade que encontramos agora tais palavras e ainda muitas outras carregadas de elevados sentidos nos livros sagrados de todas as religiões antigas, só que já ninguém sabe o que elas nos querem dizer, e tomam-se como imagens alegóricas, ou no máximo como significados simbólicos, e interpreta-se desta forma o evidente em erro  auto-gerado .--
Mas a sabedoria de todas as  religiões antigas provinha primordialmente apenas do ensino do Homem pelos seus irmãos mais elevados unidos ao Espírito na  "Luz" eterna...
Os seus "Filhos" e "Irmãos" no Espírito, escolhidos entre os homens terrenos, tentaram outrora exprimir a única Verdade sob as mais diversas formas, para trazerem a "Luz" no modo mais adequado a cada tipo particular da humanidade terrena...
A sua força auxiliadora sustentou todas estas revelações...
Aqui está descoberta a única "Fonte Primordial", donde brotam todas as antigas e verdadeiras religiões da humanidade!--- 

Onde estão, porém, os instrutores actuais destas religiões, que ainda sabem o que eles dizem com as palavras dos textos antigos??!—-
Todavia, também ainda hoje, tal como antigamente, os elevados Auxiliares espirituais da Terra:- os nossos Irmãos não caídos,- vivem em estado espiritual na eterna substância Espiritual, e também hoje consagram como outrora nas coisas da Vida espiritual e na última Verdade pré-existente,  os que se queriam tornar um dia os seus "Filhos" e "Irmãos" no mundo visível e que eles encontraram logo a seguir à queda da Luz...
O Homem terreno caiu tão fundo que sem um degrau intermédio não alcançará os mais elevados e nunca caídos Auxiliares espirituais.--
É por isso que preparam os espíritos humanos a fim de que eles, depois do nascimento terrestre, encarnados no corpo terreno, possam constituir esse " degrau intermédio" ...
Neles e através deles actuam os altos Auxiliares, a fim de que  a Humanidade desta Terra nunca permaneça sem a sua ajuda.---
Jamais houve uma época em que se desconhecesse  existência desses Irmãos actuantes e auxiliares no corpo terreno.
Em todos os povos se encontram.
Quem tem ouvidos, para ouvir, sentirá muitas palavras de todos os tempos, as quais "a carne e o sangue" jamais poderão patentear...
Quem quer chegar à verdade, escute tais palavras!
Elas irão interpretar-lhe muitos segredos, - e afastar muitos véus, que ainda lhe escondem o reconhecimento da Sabedoria última.--
Exige também só pouca perspicácia distinguir-se os falsos profetas, que berram às multidões nos mercados e que lamentavelmente têm tão pouco a dizer, dos silenciosos Actuantes, os Irmãos dos Portadores da Luz Primordial.
Onde uma nova seita, que a si própria também orgulhosamente se permite denominar nova “religião", se tiver instituída sobre os escombros de antigos templos, não devereis verdadeiramente supor que os Portadores da Luz Primordial possam estar escondidos por detrás de tal actividade!-
Podereis bem mais acreditar nos Principados do Abismo no invisível deste mundo físico:- os súbditos e vassalos do "Príncipe das Trevas", em acção em tais instituições, mesmo quando é pregado vaidosamente o "Amor" e ressoem lá muitas “grandes” palavras cheias de unção...
O que os Actuantes da Luz têm, todavia, para vos dar, chega-vos hoje, quando não podeis mais livrar-vos de "religiões" nem de tudo aquilo a que dais esse nome,  certamente não como uma "nova religião"! 

Trata-se, porém, da mesma Verdade, que dormita no mais profundo cerne das antigas e autênticas Religiões.---
Só se trata de descascar o invólucro deste cerne e mostrar-vos em novas imagens claramente compreensíveis, o que permanece  há muito como "religião" sem o saberdes interpretar, adaptadas ao vosso tempo e a dias futuros, para que possais inclinar-vos de novo em veneração perante o que contêm em si todas as religiões genuínas.--
A Verdade "nua", nem um Irradiante da Luz Primordial vos poderá mostrar!
Tereis vós de a desvendar na quietude, - no vosso íntimo.---
Só em vós próprios poderá a maior maravilha atestar-se na Realidade!
Só no próprio "Eu" podereis reencontrar um dia, o que perdestes antes da vossa vida terrena!---
Não sois apenas animais da Terra dotados de uma inteligência superior, tal como vos considerais a vós próprios segundo a vossa natureza exterior e a vossa história.--
Em vós esconde-se algo bem mais profundo e elevado.-
Acostumastes-vos a referir-vos a vós próprios com a palavrinha "Eu".
Porém, ainda não sabeis o que é o "Eu" em vós próprios, -- porque o "Eu" é infinito e é vivenciável em inúmeros degraus de despertar do Ser...
Cada um destes "degraus" encontra eternamente acima dele um novo e mais elevado degrau de vivência...
Cada um destes "degraus" vê abaixo de si um número infinito de níveis inferiores, talhados nas mais recônditas profundidades...
Mas vós viveis ainda como os animais, que não trazem em si o "Eu",- mesmo que a vossa vida esteja debruada de "Ciência" e de "Arte", e a vossa existência esteja já bastante saturada de prazer.
Quando vos conhecerdes a vós próprios, então apenas podereis lembrar-vos com espanto e estremecimento dos dias de hoje vividos ingenuamente e numa mentalidade tão superficial, como se neles nada mais que todo o Ser em si estivesse contido para vós».
 

quinta-feira, 18 de julho de 2019

Antero de Quental e a defesa do espírito de independência local e do génio inventivo em Portugal. Com os penedos esculpidos do Gerês.

                       
No dia 27 de Maio de 1871, no centro de Lisboa, no Largo da Abegoaria, na sala do Casino Lisbonense, Antero de Quental pronunciava a segunda (e a primeira, cinco dias antes, também dele, O Espírito das Conferências fora mais uma apresentação do Programa das Conferências Democráticas, publicado a 17 de Maio) das famosas Conferências Democráticas, tendo como título e tema  Causas da Decadência dos Povos Peninsulares nos últimos três séculos
Já realizamos neste blogue uma transcrição e comentário aos cinco primeiros parágrafos, que são como que uma apresentação de ordem metodológica ao diálogo e fermento que as palestras aspiravam a ser, e assente numa visão muito profunda e elevada do ser humano e das suas capacidade de procura da verdade, e vamos agora partilhar, o começo da conferência propriamente dita, transcrevendo o sexto parágrafo, pela sua tremenda actualidade, enquanto lembrança do que fomos e sugestão do que podemos ou devemos ser, perante as tendências cada vez mais alienantes, uniformizantes e opressivas manifestadas pelos governos ocidentais, liderados ou obedientes ao imperialismo anglo-saxónico do petrodólar e mais recentemente, face ao sar corona, a exagerados lockdowns e confinamentos.
Leiamos então o jovem líder Antero de Quental, com sublinhados meus, nesta sua obra prima de análise vigorosa histórico-filosófica, tanto idealista como realista, tão elogiada entre nós no séc. XX por pensadores como Sant'Anna Dionísio e Eduardo Lourenço.
                           
«Meus Senhores:
A Península, durante os séculos 17, 18 e 19, apresenta-nos um quadro de abatimento e insignificância, tanto mais sensível quanto contrasta dolorosamente com a grandeza, a importância e a originalidade do papel que desempenhámos no primeiro período da Renascença, durante toda a Idade Média, e ainda nos últimos séculos da Antiguidade. Logo na época romana aparecem os caracteres essenciais da raça peninsular: espírito de independência local, e originalidade de génio inventivo. Em parte alguma custou tanto à dominação romana o estabelecer-se, nem chegou nunca a ser completo esse estabelecimento. Essa personalidade independente mostra-se claramente, na literatura, onde os espanhóis Lucano, Séneca, Marcial, introduzem no latim um estilo e uma feição inteiramente peninsulares, e singularmente característicos. Eram os pronúncios da viva originalidade que ia aparecer nas épocas seguintes. Na Idade Média a Península, livre de estranhas influências, brilha na plenitude do seu génio, das suas qualidades naturais. O instinto político de descentralização e federalismo patenteia-se na multiplicidade de reinos e condados soberanos, em que se divide a Península, como um protesto e uma vitória dos interesses e energias locais, contra. a unidade uniforme, esmagadora e artificial. Dentro de cada uma dessas divisões as comunas, os forais, localizam ainda mais os direitos, e manifestam e firmam, com um sem-número de instituições, o espírito independente e autonómico das populações. E esse espírito não é só independente: é, quanto a época o comportava, singularmente democrático. Entre todos os povos da Europa central e ocidental, somente os da Península escaparam ao jugo de ferro do feudalismo. O espectro torvo do castelo feudal não assombrava os nossos vales, não se inclinava, como uma ameaça, sobre a margem dos nossos rios, não entristecia os nossos horizontes com o seu perfil duro e sinistro. Existia, certamente, a nobreza, como uma ordem distinta. Mas o foro nobiliário generalizara-se tanto, e tornara-se de tão fácil acesso, naqueles séculos heróicos de guerra incessante, que não é exagerada a expressão daquele poeta que nos chamou, a nós espanhóis, um povo de nobres. Nobres e populares uniam-se por interesses e sentimentos, e diante deles a coroa dos reis era mais um símbolo brilhante do que uma realidade poderosa. Se nessas idades ignorantes a ideia do Direito era obscura e mal definida, o instinto do Direito agitava-se enérgico nas consciências, e as acções surgiam viris como os caracteres.» 
«Logo na época romana aparecem os caracteres essenciais da raça peninsular: espírito de independência local e originalidade de génio inventivo.»
As partes mais importantes por mim sublinhadas permitem-nos compreender qual é a Tradição orgânica, cultural, política e espiritual de Portugal, e como nos temos afastado cada vez mais dessas linhas de força. E face ao diagnóstico de Antero constata-se alguma recuperação com a República e com o 25 de Abril, mas nas últimas décadas temos estado a ficar demasiados submetidos aos grandes interesses económico-financeiros, nacionais e internacionais, e aos partidos que os servem, ou por eles se deixam corromper....
Realcemos ainda assim, e portanto, a necessidade de conseguirmos defender melhor os direitos e liberdades tanto individuais como locais e comunitários, face ao centralismo nacional ou europeu frequentemente vendido a interesses não populares nem sequer nacionais, ou ainda da verdade e bem comum internacionais.
Este discurso a ser pronunciado actualizadoramente, nos nossos dias, por Antero de Quental, em que direcções se encaminharia? Teria ele muito a verberar tanto nos políticos como nos portugueses? Fundaria ele um novo partido, apoiaria algum ou poria em causa as mentalidades egoístas e a partidocracia?
Inspirados por Antero de Quental, saibamos pelo menos desenvolver caracteres justos e profundos e, unidos por interesses e sentimentos nobres e do bem comuns, agirmos virilmente e deste modo aprofundando a auto-consciência  da energia, da ética e do espírito em nós, para o Bem de muitos.                                    
  Faces do Gerês transmontano ecoando Antero: «Espírito de independência local e originalidade de génio inventivo.». Saibamos vencar as covinagens....

quarta-feira, 17 de julho de 2019

Os dragões, telúrico-celestiais, ou as grandes nuvens do Gerês. Julho de 2019.

Os dragões, telúrico-celestiais, ainda ainda se manifestam no Gerês, brotando do vales e picotas, águas e cristas, e rapidamente se metamorfoseando em seres alados, velozes, impressivos.   Quais Kamis ou Devas...
Contemplá-los faz-nos bem, pois expandimos nossas almas e somos uns com eles, e treinamos para quando um dia já vivermos apenas em corpo subtis espirituais...
 
 
 
Dos raios subtis das almas e seres... Irradia a Luz Divina...Sê o dragão poderoso...
 
 Sopra a lâmpada de Aladino, consciencializa-te mais do teu corpo espacio-espiritual e eleva-te..
 Ser, Seres, das Pedras aos Anjos, em fraternidade e cooperação... Não deveria haver lugar para repressões injustas, genocídios e imperialismos anglo-saxónico e dos seus coligados, tão destruidores da natureza e dos seres, causadores de tantas feridas e sofrimentos...
  Que no teu coração arda o fogo do Amor espiritual e divino que é a substância da tua essência e que eleva os seres e coisas na harmonia e beleza, aspiração e adoração...
          Sabedoria, Alma, Fraternidade, Amor, mantras ou jaculatórias.....  Discerne, pela capacidade da alma e do hemisfério direito, os seres espirituais nas nuvens e comunga com eles na adoração divina. Experimenta nesta.... AUM.....

sábado, 6 de julho de 2019

"Antero político" e profético, por Sant'Anna Dionísio. Os últimos números ou voos da revista "A Águia", em 1932. Com vídeo...

José Sant'Anna Dionísio (Porto, 23-II-1902 - Porto, 5 -V-1991), foi um dos ilustres pensadores do movimento da Renascença Portuguesa, fundada por Leonardo Coimbra, Teixeira de Pascoaes e Jaime Cortesão (e que teve como seu órgão a revista A Águia, de 1910 a 1932), aprendendo e convivendo com eles e tendo-se notabilizado como professor e ensaísta, destacando-se os seus estudos acerca da vida e obra de Leonardo Coimbra e de Antero de Quental.
                                 
Aos 32 anos era um dos directores da revista A Águia, e no nº 1 dessa quinta e última série de uma das revistas literárias mais importantes portuguesas de sempre, escrevia um valioso apontamento sobre Antero de Quental, que resolvemos ler, comentar brevemente, gravar e partilhar.
                                  
Dois anos depois, em 1934, saia numa edição da editora e revista lisboeta Seara Nova, uma série de reflexões valiosas em livro sob o título Antero, algumas notas sobre o seu drama e cultura. Oito anos depois,  em 1942, no nº 733-34 da revista Seara Nova,  escreveria um polémico texto Tentativa de definição do que talvez seja permitido chamar o fracasso de Antero.
                             
E em 1946 dava à luz o Testamento Filosófico de Antero de Quental (Antologia), prefácio e anotações por Sant'Anna Dionísio. 
                              
Seria em em 1949 que publicava em edição de autor, no Porto, o seu último livro sobre Antero, A Sinceridade Política de Antero, aqui reproduzido com uma dedicatória que me fez "como singela lembrança de uma boa quadra, em boa parte, de convívio anteriano"... Muita luz e amor para a sua alma!
                                      
                                                          Segue-se a gravação do artigo da Águia, mas transcrevamos algumas linhas, para quem não tiver tempo de ouvir...
« (...) A obra anteriana, apesar de fragmentária, tem o suficiente para que avaliemos a envergadura o seu pensamento político e a seriedade da cultura de que este pensamento se alimentava. Nenhum homem de propaganda republicana possuiu em tão alto grau estes dois requisitos dum político de ideias; diremos mais: nunca em Portugal um homem aliou, como Antero de Quental, as faculdades de alta especulação, a profundidade e largueza duma cultura europeia, como ele possuía, com a viva preocupação de actuar sobre sua geração e rectificar os rumos incertos da nacionalidade. Herculano, Oliveira Martins e Bruno, conseguiram decerto realizar uma obra de cultura mais inteira e duradoura, sem deixarem, todavia, de exercer certa acção sobre os homens do seu tempo; mas nenhum depôs, como Antero, tanta humanidade, isto é, tanto ardor juvenil, nas análises e exortações que saíram da sua pena ágil e da sua alma límpida como a água dos seus olhos azuis».
 Mais à frente, escreve Sant'Anna Dionísio:
(...) Por aqui se vê claramente que Antero não era, como insinuam algumas vergônteas do nosso barresismo [de Barrés, integralista francês], um desenraizado, um iconoclasta ignaro e colérico das «venerandas glórias da Grei» - era simplesmente, um pensador sério e profundo, guiado nos seus julgamentos por uma consciência límpida, inflexível e superior a todas as mentiras convencionais de que se alimentam ainda muitos portugueses. Antero estava longe de ser, efectivamente, um  negativista, um destruidor por sistema; ele sabia bem que a revolução não é sinónimo de convulsão ululante, desordenada, sangrenta (1) como ainda hoje muita gente timorata, e provocadora destas aparentes revoluções, pensa. Mas ele sabia também que a missão construtiva do revolucionário, embora "obra de paz, de reflexão, quase de ciência», não pode deixar de ser extremamente lúcida e impiedosa na pesquisa dos agentes mórbidos do organismo social que pretende tonificar. Nessa pesquisa foi ele, realmente, implacável. "Portugal, escreve, é uma nação enferma e do pior género de enfermidade, o languor, o enfraquecimento gradual, que sem febre, sem delírio, consome tanto mais seguramente quanto não se vê o órgão especialmente atacado nem se atina com o nome da misteriosa doença. A doença existe todavia", Três anos depois, Antero mostrava ter descoberto as três causas profundas e complexas da misteriosa enfermidade: o catolicismo, o estatismo absoluto e a mentalidade imperialista». Hoje no séc. XXI, Antero certamente apontaria como outra causa um Estado (e consequentemente o povo) explorado e manipulado pelos partidos e pelas grandes corporações e grupos obscuros internacionais.
                           

quarta-feira, 3 de julho de 2019

"O Livro do Deus Vivo", de Bô Yin Râ. Cap. XII. Guerra e Paz.


                                     Cap. XII. Guerra e Paz

«Quem uma vez conheceu as forças formadoras deste mundo aparente da matéria física na sua potência assustadora e na inapreensível simplicidade da sua inexorável tendência voluntariosa, - foge imediatamente à ilusão superficial de que tudo o que é apreensível pelos sentidos só corporiza visivelmente a " Harmonia do Espírito".--
Observa a vespa icnêumone que tem de colocar os seus ovos no ventre da lagarta viva para que as suas jovens vespas possam viver pela morte dolorosa da lagarta,- e ficarás para sempre curado dessa crença ilusória!-
O mundo sensível é o efeito da Força Primordial do Espírito no mundo espiritual.
Mas para se manifestar espiritualmente sob a forma de mundo espiritual esta Força Primordial eterna e una tem de se reflectir em aspectos infinitamente diversos dela própria e, gerada em cada um desses aspectos como Elemento do Ser Primordial, tem de se afirmar nele de cada vez, pelo que cada um destes elementos só tenta realizar-se a si próprio, de tal modo que para ele todos os outros elementos do Ser original surgem como formas vazias, porque ele só se conhece  como Força Primordial em si próprio.
Cada aspecto da Força Primordial do Espírito, - cada "Elemento do Ser Primordial",- torna-se assim causa de que a forma manifestada da sua acção no domínio físico receba um impulso para viver apenas para si mesma e para consumir todas as outras formas manifestadas a fim de preservar a sua existência.
Em cada elemento do Ser Primordial a Força Primordial mantém-se indivisível quer  na sua acção seja a causa da mais inferior ou da mais sublime forma de manifestação.
Sucede assim que toda a força física, toda a forma manifestada fisicamente, tenta afirmar-se, como se apenas a sua existência e mais nenhuma outra fosse querida.
A minúscula célula só se afirma a si mesma, mesmo quando é temporariamente constrangida, em conjunto com biliões de congéneres, a servir uma vontade de forma superior, para quem, por sua vez, a existência dessa célula só tem valor na medida em que precisa  dela e a usa para se afirmar a si própria.—
O universo sensorial fisicamente visível é o polo oposto extremo  do Ser espiritual
A "vida" do Espírito requer uma formação espiritual com infinitas possibilidades de desenvolvimento nela mesma, nos elementos do Ser Primordial, e a actuação deles, por sua vez, requer por fim a manifestação da forma fenomenal física igualmente "coagulada": - uma força espiritual infinitamente "ampliada"  que fica por fim num estado enfeitiçado, de impotência relativa, por estar atada em específicas e rígidas formas de vontade.
Desta forma adversa de expansão e rígida limitação em extrema tensão, estas forças do Espírito elevam-se porém de novo, devido à poderosa atracção da região mais elevada do Ser Espiritual formado e convertem-se em novas formas, menos densas e rígidas, até que, por mutações inúmeras, libertam-se cada vez mais da ânsia de expansão e, finalmente, sentem-se elevadas ao seu estado Primordial no íntimo da vida espiritual...
O que, porém, nos é dado a conhecer através dos sentidos físicos, não são as formas tipo dos elementos do Ser Primordial, mas apenas os resultados da acção através das forças por eles produzidas...
Interiormente, porém,  os elementos do Ser Original tornam-se perceptíveis numa forma tipo muito elevada, como, - as nossas "forças anímicas"...
Este é o eterno, - eternamente renovando-se a si - ciclo da "Vida" no Espírito substancial,  de si próprio "sendo"!
Tornando-se "alimento" para si mesmo, mergulha em si para se erguer de novo e elevar-se até à sua mais alta seidade, livre de toda a rigidez da forma.--
Só através desta "Vida Eterna" pode  Deus no Espírito configurar-se,- no "Homem" espiritual.---
Se não fosse a haste de erva do caminho e o verme, que se nutre das suas raízes, também tu não existirias, e não haveria o Espírito e nem Deus no Espírito!!
Se não existisse o micróbio, que talvez amanhã poderá começar a destruir o teu corpo, - então também o teu corpo não existiria, nem a tua alma, nem a centelha do Espírito, que em ti se experiencia!!
Então também não existiria a vontade do Espírito que, em tempos,  no teu espírito se constituía como o  teu Deus e  agora de novo  quer dar-se ti como teu Deus!!
Mas por maior que seja a fúria com que as forças no universo físico se agridam mutuamente na sua ânsia de se afirmarem, a natureza não conhece qualquer "ódio".-
É insensato comparar o ódio humano ao instinto dos animais, que esforçam-se por destruir outros animais, porque eles, - tal como qualquer forma em cuja manifestação vivem os elementos do Ser Original,- só se querem afirmar a si mesmos.
O "ódio" é pelo contrário uma expressão da impotência desesperada do Homem!
Só na forma humana de sentir é possível chamar "ódio" à expressão dos instintos agressores próprios de animais ferozes, e não é difícil reconhecer que está em erro quem pensa encontrar nos animais a mesma sensação à qual, no Homem, se dá esse nome.
Até às zonas invisíveis do mundo físico o Homem trouxe o ódio, pois mesmo os seus piores inimigos no mundo físico invisível são incapazes de tal sentimento de ódio, e é de motivos essencialmente diferentes que deriva a sua hostilidade para com o Homem...
Os espíritos malignos mais pavorosos do mundo físico invisível foram também outrora homens terrenos que, pela sua vida terrena, se "justiçaram" a si mesmos.
Quanto mais alto se elevaram espiritualmente, tanto mais fundo caíram agora, abaixo dos mais desgraçados homens terrenos.
Aeons poderão passar antes que eles possam finalmente expirar no aniquilamento,- embora antes tentem sempre fazer baixar o que se coloca ao alcance do seu ódio...
Além disso estes invisíveis auto-justiçados só são incitados ao seu ódio implacável pela sensação da sua impotência.-
O poder [macht] é portanto o mais nobre vencedor do ódio...
A pessoa forte e  consciente do seu poder, ama o seu poder, e isso fá-lo gradualmente tornar-se um ser de amor.
O amor contudo não tolera o ódio!
Quanto mais a humanidade, nas suas múltiplas células a que chamamos "povos" e "nações", se tornar consciente do seu poder espiritual, mais depressa desaparecerá o ódio, pois quem está consciente do seu poder, não inveja o poder dos outros,- e a inveja é quase sempre a infernal instigadora do ódio...
Todas as guerras têm o ódio como o seu pai, e não é bom para a guerra quem não sabe odiar.--
Grita-se ainda: "Guerra à guerra"! -- porém eu aconselho-vos, gritai antes:
"Desprezado seja para sempre o ódio!"
Só quando o ódio se tornar desprezível, chegará o tempo que vos ensinará a condenar a guerra!---
Só quando se tornar para vós desprezível aquele que ainda quer através de massacres dirimir os litígios cuja solução deveria ser alcançada pela exposição de argumento e contra argumento perante a compreensão de juízes, - só então poderá o Homem da Terra gabar-se da sua "dignidade humana"!
Sempre ocorrerão divergências de opinião entre os homens, já que aí é uma vontade que se opõe a outra vontade, e cada vontade quer afirmar-se só a si própria.
Mas no Espírito humano a vontade é capaz de reconhecer-se igualmente nas outras vontades e, dessa forma, o Homem pode procurar conscientemente um compromisso, que salvaguarde a paz, se souber disciplinar a sua vontade, que então já não se quer só a si própria, mas também as vontades dos outros.---
Enquanto cada um não matar o ódio no seu íntimo, permanecerá sempre este caminho de domesticação da vontade do género humano só transitável em curtos troços.-
Como consequência sempre haverá guerras até que o último vestígio de ódio não encontre  no coração dos homens mais acolhimento.--
Todos os outros impulsos que levam à guerra deixam-se superar pela boa vontade, mas perante o mar encapelado do ódio mesmo a melhor das vontades é arrastada nos turbilhões e abismos...
Os antagonismos e disputas entre argumentos e contra argumentos desenvolvem energias e activam o fluxo da vida,- mas não têm necessariamente que levar à guerra, tal como o vencedor num jogo não precisa necessariamente de arrasar o adversário vencido.--
Todo aquele, porém, que tentar aniquilar em si o ódio, empreende a única guerra verdadeiramente "justa" - a guerra que, um dia, tornará impossível qualquer guerra de genocídio!---
No entanto, mesmo a supressão definitiva de todas as guerra de massacres pelo Espírito humano não pode fazer com que as forças opositoras, que estão à obra na natureza física, se possam unir numa mesma aspiração, já que tal união significaria a destruição de todo o universo exterior... 
 O reino da "Paz eterna", a que tantos seres nobres na continuidade do Tempo sempre ardentemente aspiraram, só poderá ser outorgado aos homens terrenos que somos quando,- após esta vida terrena,- nos encontrarmos de novo na Luz, que une  eternamente em si tudo o que ao princípio estava unido a ela. --»
[Pinturas de Bô Yin Râ.... Tradução, nesta versão última, de Pedro Teixeira da Mota]