terça-feira, 16 de novembro de 2021

Pensamentos, Reflexões e Máximas, do Padre Transfiguração, franciscano, publicados em 1806 e comentados em 2021.

Em 1806 saía a à luz no Porto, na Tipografia de António Alvarez Ribeiro, o Tomo I das Obras Póstumas do Reverendo Padre Mestre Transfiguração, franciscano, professor de Filosofia. Esse Tomo I que contém os seus Pensamentos, Reflexões e Máximas,  é dado à luz por "José Pedro da Cunha Coutinho, presbítero secular professo da Congregação de Oliveira do Douro [em V. Nova Gaia], único amigo do autor"...

E, passados 214 anos, possuindo o livro, resolvi seleccionar alguns desses pensamentos, transcrevendo-os e comentando-os, numa disposição anímica de comunhão com os geradores de um livro de sabedoria,  aparentemente algo trágico, pois diz-se que a obra é póstuma, que o seu autor «nunca pode resolver-se a dar à luz alguns de seus Escritos» e, morrendo cedo, «aos trinta e tantos anos», dependera «do único amigo» para os publicar, o que apontaria para que o autor estivesse  bastante isolado, apesar de ter sido Lente ou professor da ordem de S. Francisco, e alguns amigos ou colegas o tivessem instado a publicar as suas cogitações. 

É  valiosa a descrição da amizade dos dois:« Ora, este Padre, como era muito meu amigo, como fiava muito de mim, porque na verdade eu e ele éramos uma só alma, e posso dizer sem hipérbole, que eu a seu respeito fui este outro eu, que ele chame num dos seus Pensamentos - o só verdadeiro, e único amigo do homem; nas vésperas da sua partida legou-me todos os seus papéis, indicando-me os que podiam ver a luz da impressão...» 

A obra não é rara, tem pouca cotação como alfarrábio, e valorizarmos plenamente todo o seu conteúdo é difícil, pois se encontramos bons pensamentos, justos e sãos, de facto, como o "autor diz ao leitor", o tónus é o de uma visão crítica dos defeitos humanos, por vezes até com  preconceitos, nomeadamente em relação à pessoa normal, à mulher, aos protestantes, aos ateus, embora reafirme haver muita pessoa boa. 

Todavia, pelo amor aos livros e nomeadamente aos de reflexões, valiosos para a tradição espiritual portuguesa e até pela sua função de biblioterapia, porque  me veio parar às mãos algo cansado e manchado e, como já dissemos, ecoar certa incomunicabilidade, resolvi-me a ressuscitá-lo, relativamente, claro, nos pouco leitores do blogue, e fazendo votos que algumas energias de luz e de amor cheguem até aos dois amigos, que contudo na realidade serão um só e o mesmo, conforme nos esclarecem Sampaio Bruno, no Porto Culto, de 1912, e recentemente Joaquim Domingues num excelente artigo de investigação e contextualização O Padre Transfiguração na génese da nossa contemporaneidade, publicado na revista Itinerarum, no nº 199, de 2011, onde narra alguns dados importantes da sua vida,  tendo nascido em 1740 com o nome José Pedro da Cunha, o tal amigo  e editor, e vivido até 1740 e 15-IV-1815, como professor de filosofia e pregadora apreciado, pelo que vemos portanto que não era póstuma a obra, editada em 1806, em que entraremos agora um pouco...

                 O autor, na Justificação, deseja que todos entrem no fundo de si mesmos e, saindo do mundo e da natureza corrompida, encontrem o seu bem último e bondade intrínseca, tanto como espíritos individualizados imortais como também enquanto seres provindos da Divindade.
                                   

A obra tem a dedicatória e uma prefação do editor, da qual já transcrevemos partes, e umas palavras Do Autor a quem ler, e logo a Justificação do Autor a propósito, tudo encavalitando-se em mais  352 páginas de reflexões críticas das negatividades humanas, por vezes ousadas ou difíceis, e por isso não admira o P. Transfiguração ter de advertir de início (como se pode ler nas imagens) que há gente boa e não só desnorteada pelas paixões e corrompida, e na última página apresentar uma bem arquitectada Protestação, pois se em «algum destes meus sentimentos não vou coerente com o sentir comum da Santa Igreja Universal ou com o verdadeiro sistema da minha Pátria, de que eu faço muita glória, para eu me explicar, desdizer ou retractar, sendo possível, ou preciso. Sou igualmente filho da Igreja e Vassalo do Império». Justificava-se pois o autor era algo ousado na sua sede de justiça e perfeição para o meio português de então e já tivera problemas com isso.

Entremos então em alguns pensamentos dos professor de Filosofia, o Padre Mestre freire José da Transfiguração, que nas suas palavras introdutórias confessa ter apreciado muito «a obra imortal dos Pensamentos de Rochefoucauld  (...) embora muito antes de eu conhecer a este homem raro, e extraordinário, tinha eu já produzido em muitos dos meus Sermões não poucos dos Pensamentos do meu Livro; não me atrevo contudo a afirmar se com a mesma facilidade, que ele.»  Desses sermões foi publicado um volume de vários no Porto em 1790, e outro de um pronunciado em Braga em 1803, e Joaquim Domingues transcreveu de manuscrito o Sermão de São Marcos pregado na capela Real de N. Senhora da Ajuda em 1785, onde está patente a sua inteligente pregação e a sua exigente visão dos trabalhos a que todos somos chamados para um dia recebermos a paga justa do mestre Jesus, onde interroga quase erasmianamente os religiosos, os juízes, os oficiais, os pobres, e ele próprio quanto à correcção das suas vidas e esforços, pois «cuidamos tão  pouco em trabalhar por nos vencermos a nós mesmos e ao mundo, que são os dois únicos inimigos que se atravessam no caminho da nossa Salvação», aqui curiosamente saindo da tradição cristã que fala num terceiro inimigo, o Diabo.

O Padres Mestre Transfiguração,  aceitando a relatividade das verdades humanas, adverte, no final Do Autor a quem ler, que não iria responder a críticas, «porque sendo verdade, que o pensar de cada um dos homens se compõem directamente do espírito, do génio, e das instituições, cada um dos meus Leitores deverá ser racional para não me criminar de eu não discorrer como ele: e para estes é que eu deixo pesar um trabalho, em que só a boa fé teve toda a parte. Quanto aos Censores da língua, nem quero a sua aprovação, nem temo as suas notas.»

I - Amigo Verdadeiro.  1. «Um amigo verdadeiro é uma pedra preciosa; pode dar-se tudo para o topar.»  2. «É tão difícil achar-se um amigo verdadeiro, como é impossível encontrar-se outro eu.» (...) 4. Em toda a vida do homem há só um caso de se provar o amigo verdadeiro; que é o desconsolado momento da nossa desgraça. Em quanto somos felizes, e só o interesse quem nos faz roda. O comum dos amigos é bem como estas aves, a quem vemos somente na Primavera.»

Para além de enaltecer o valor das almas verdadeiramente amigas, e como tal é tão raro de se topar, e portanto tão merecedor de ser amorosamente cultivado, o padre mestre Transfiguração insere-se na tradição pitagórica discretamente, ao ecoar o famoso dito: "não tenhas andorinhas na tua casa", que se interpreta nesta linha de interesse, de egoísmo, de ingratidão e ainda da superficialidade no falar e nos interesses de algumas pessoas que se fazem amigas , ou o são, mas dispersantes das nossas melhores potencialidades.

II - Amor. «Não é bastante para enfraquecer um amor, que ele tenha sido mal pago: um amor generoso não espera retribuição, e uma alma grande paga-se de si mesma.»

Este pensamento ajuda-nos a discernir quão grande ou verdadeiro ou forte é um amor: não se enfraquece quando é mal respondido ou pouco reciprocado. E a razão que o P. Transfiguração dá é boa: característica do verdadeiro amor é não esperar retribuição, ´ter suficiente em si mesmo, de alma e de amor, que se satisfaz, se retribui, se replenifica ainda que tenho dado muito e nada recebido do outro.»

III -  Filosofia. «A Filosofia por uma de suas partes é tão necessária para os outros conhecimentos, de que se precisa nesta ordem coisas, como a alma é necessária para mover o corpo; de sorte que sem aquela, um grande Letrado será bem como um Navio carregado de géneros, mas imposto da barra sem leme.»

Nestes tempos de menosprezo pelo saber humanista e filosófico, é importante relembrarmos esta valorização do saber filosófico como a alma não só dos conhecimentos como da própria direcção ou orientação da vida.

«O primeiro bom efeito de uma sã Filosofia é ensinar aos seres humanos a conhecerem-se a si mesmos. Um Filósofo inchado é um odre de vento, que cede ao mais leve furo de uma agulha.»

Este auto-conhecimento implica muito ou a meditação ou uma escrita interrogante, às vezes num estilo de diário, ou então diálogos fortes e sinceros com alguém muito próximo.

IV - Paixões. «Somos tão cegos com as nossas cousas, que por mais defeitos, que elas tenham, nunca lhos divisamos; a nossa paixão é bem como um denso véu, que elas trazem sobre si, que não as podemos atravessar com a vista; de sorte que precisamente hão de ser boas, porque são nossas, e não nossas porque são boas.»

Bastante valiosa esta ideia que cobrimos seja as coisas seja a nossa percepção delas com um véu que nos impede de discernir verdadeiramente o seu valor, a sua justiça, e até que ponto é que estão a desviar-nos da verdade e da felicidade, acontecendo isto sobretudo ao que nós gostamos ou nos habituamos, ou ao que chamamos nosso.

V - Sábio. «O Verdadeiro Sábio parece algumas vezes ficar vencido não prosseguindo com calor nas demonstrações da verdade. É imprudência empreender de ensinar em um instante a ignorância, ou desabusar de repente a um juízo, encabeçado de puerilidades do berço, de preocupações dos Mestres, e das impertinências de alguns livros»

Estes pensamentos do nosso franciscano são valiosos, pois mostram-nos a necessidade de segurarmos com as rédeas o fulgor apaixonado de um diálogo ou discussão, quando podemos intuir que a outra pessoa sabe muito pouco do assunto e não vai gostar nada de consciencializar-se de tal. Como também, porque, certas vezes, as pessoas estão já tão habituadas a um conceito ou juízo, que tirá-las dele de uma vez ou muito depressa é contraproducente ou inútil.

A expressão "encabeçado das puerilidades do berço", também é muito forte e rica, pois mostra-nos algumas pessoas com grandes cabeças cheias de infantilidades ou imaginações recebidas na infância. É certo que este dito até se pode aplicar contra algumas puerilidades que a Igreja ensinou às crianças e aos católicos.

"Encabeçado das preocupações dos Mestres", é também uma boa crítica à dependência excessiva dos grandes teólogos, ou filósofos, ou professores, e quando quase já não se pensa ou medita por si mesmo. Já no Renascimento Erasmo e Ulrich von Hutten se ergueram contra os mestres sorbónicos e dominicanos que, petrificados na escolástica medieval e na literalidade das Escrituras se tornavam impermeáveis à crítica textual e ao sentido espiritual e  crítico libertador.

Finalmente "encabeçados pelas asneiras e insensatez dos Livros", tanto profanos e sagrados, e muita, muitíssima gente ficou apanhada nas malhas subtis de tanto livro sagrado, ou revelado, ou canalizado.  Em tudo isto sente-se bem a experiência do professor de filosofia e história eclesiástica e quem sabe mesmo se algo das críticas irónicas de Elogio da Loucura, de Erasmo, certamente lido por ele, ecoa em algumas destas imagens encabeçadas que se formam na nossa imaginação, quando o que devia brilhar são conhecimentos vividos e que geram auréolas, nimbos de sabedoria e amor, aberturas ao Sol divino da Verdade...

domingo, 14 de novembro de 2021

Sonho Oriental, Idílio e Aparição, sonetos de Antero de Quental, oferecidos inéditos a Maria Amália Vaz de Carvalho, para o "Feixe de Penas", sonhando o amor e intuindo a sua via solitária.

Em Março de 1884,  a escritora Maria Amália Vaz de Carvalho,  convidada a colaborar numa festa de caridade, intuiu que a sua participação auxiliadora do Asilo das Raparigas Abandonadas seria organizar uma antologia, e  no ano seguinte nascia Um Feixe de Penas e, como  nos narra no fim das Duas Palavras de Explicação prefaciais, «pedi então a muitos dos mais formosos espíritos, das mais robustas individualidades literárias, dos pensadores mais sinceros e mais convencidos, dos mais finos e delicados cultores da poesia que me auxiliassem, e todos aqueles a cuja porta fui bater - romeira da Caridade - responderam fidalgamente e bizarramente à minha súplica.
A todos agradeço a obra boa e a obra bela, que a colaboração de tantos espíritos iluminados produziu.
Guardarei sempre no tesouro das minhas recordações
melhores, a memória deste momento, em que tantos nomes ilustres e geralmente queridos, vieram reunir-se num impulso generoso e santo, a pedido meu, sob a mesma bandeira caridosa, cujo lema abençoado, será sob todas as formas ainda as mais imperfeitas, para todos os espíritos ainda os mais cépticos, um das consolações eternas, uma das consolações inesgotáveis da cansada velha e entristecida Humanidade.» 

A colaboração foi ampla e valiosa, como ela diz e dos nomes estampados na capa do livro destacaremos apenas Camilo Castelo Branco, que o abre  com uma carta bastante irónica e até etnográfica, nos seus 59 anos adoentados e castigados com tanto pedido de colaboração, mas perenemente actual, pois conclui-a assim: "Além de que, Ex. Snr.ª, da maneira como neste país se está mendigando para tudo e por todos os motivos, o colaborador assíduo dos jornais de um número só [e por vezes almanaques], tornou-se o velho mendigo das romarias e das portas dos templos, garganteando clamorosamente: Ó pais e mães da caridade, contemplai... etc.

 Não seria indiscreta coisa, minha senhora, ver se os governos podem aguentar-se na sua missão providente de socorros à miséria dos seus administrados sem a nossa colaboração de Andadores das almas numa efectividade quase humorística».

Já Antero de Quental, em resposta ao pedido de colaborar nessa obra que sairia no ano seguinte, o Feixe de Penas, escreveu-lhe a seguinte carta  de Vila do Conde, a 1 de Abril de 1884: 

«Minha Senhora,  

Penhoradíssimo com a simpática confiança e boas palavras de V. Ex.ª, sinto não poder enviar-lhe coisa de mais valor do que três sonetos antigos - e oxalá não lhe pareçam, além de antigos, velhos também! Tentaria escrever algumas páginas em prosa, sobre matéria que valesse a pena, se V. Ex.ª me não dissesse que há pressa; e, com tal aperto, creio que me seria impossível achar um assunto, que é essa a dificuldade para mim maior. Eu mesmo pasmo às vezes, ao considerar quantos pensamentos e conhecimentos que tenho acumulado em tantos anos de estudo parecem não ter servido senão para me tornarem indeciso e para me esterilizarem! Mas, enfim, o que é, é.  - Os sonetos, que envio, apesar de antigos, são inéditos; e como imagino que o livrinho é destinado principalmente a correr mãos femininas, achei preferível contribuir com aquelas coisinhas antigas e ternas, que, em suma, são inocentes e não apavoram, a enviar-lhe dos Apocalipses que agora faço, "pesadelos rimados", como lhe chama um amigo meu, entendido em rimas e em pesadelos.

Folgo deveras por esta ocasião de poder dar a V. Ex.ª um testemunho da muito grande e respeitosa simpatia que sempre me inspirou e da admiração que professo pelo seu raro talento.

Sou, minha senhora, de V. Ex.ª

Criado humilíssimo, Antero de Quental»

 São então oferecidos a Maria Amália os sonetos Sonho Oriental, Idílio e Aparição, e esta carta é o único testemunho de Antero de Quental quanto a eles  e, tal como diz, são mais ou menos poemas inocentes e ternos, que pouco têm a ver com as suas produções denominadas "pesadelos rimados", estilo apavorante Apocalipse, este uma obra de imaginação de facto algo aterrorizante e messiânica e que hoje se sabe não ter sido escrita por S. João Evangelista, mas por um zelota que acreditava que brevemente seria o fim e julgamento do mundo, e a vinda de Jesus.  Todavia, além dos três sonetos, misteriosamente, o Feixe de Penas finda com mais uma colaboração de Antero de Quental, O que diz a Morte, que será posicionado como o penúltimo da edição dos Sonetos Completos, em 1886. 

 De quem partiu a iniciativa desta publicação, de novo de um poema inédito, e que não tem sido equacionado nas publicações modernas dos Sonetos? Falta o elo documental, tal outra carta, mas deverá ter havido um pedido de Maria Amália, ao qual Antero anuiu, disponibilizando o soneto final da antologia...

Escritos em Coimbra em 1864, como Antero assinala no envio, os três sonetos escolhidos, que estavam inéditos, andaram  20 anos com Antero até serem salvos do anonimato e dados à luz para mãos femininas de Maria Amália Vaz de Carvalho e das futuras leitoras dos poemas, como Antero imagina, descrevendo-se "humilíssimo" no respeito à viúva do poeta Gonçalves Crespo (1846-1883), aos quais muito empaticamente se referira por causa do desenlace, numa carta de Junho de 1883 a Joaquim de Araújo:«Senti a morte do Crespo, de que só agora tive notícia. Não conheço a Maria Amália, mas nem por isso tenho deixado de pensar nela com pesar e simpatia sincera.»

O primeiro soneto, Sonho Oriental, é muito simples, com um ambiente totalmente orientalista do final do séc. XIX (presente até noutras colaborações do Feixe de Penas, tal a de Cristóvão Aires) e permite-nos viajar um pouco com a imaginação oriental ou mesmo indiana com que Antero se revestiu animicamente para o compor, nada difícil pois sabemos que  para além do seu interesse pelos Vedas, o sânscrito e a sabedoria indiana (o que partilhava com o seu colega e amigo Guilherme Vasconcelos de Abreu, futuro 1º professor de sânscrito em Portugal), numa carta de Março de 1866 ao seu dilecto companheiro António de Azevedo Castelo Branco, interrogando-se para onde deve ir, diz, numa observação bem perene, que «talvez indague dum emprego para a Índia, para Goa ou Macau, países aonde a vida moderna não deve ostentar-se em muito excessivo luxo do seu vermelho sangue burguês e gordura de banalidade, como cá acontece nesta Europa soesmente comodista, esta Cartago sem Moloch, mas com muitos mercenários.» E continua instando-o:  «Tu deves, nesse caso, ir comigo: mesmo que só eu vá empregado, aquelas terras, que alimentaram a descuidada infância da humanidade, são fáceis para a vida e, quais santos richis ou macerados budas, viveremos de arroz e bananas. Continuaremos os nossos desprezados estudos orientais; e, em face das ruínas do que já foi ruidoso e imponente, aprenderemos a desprezar todos os ruídos e imposturas que hoje nos assoberbam e ensurdecem.»

Os aspectos orientais que lhe vieram do inconsciente e das suas leituras mais ao de cima vemos que foram a natureza tropical, a ilha frondosa de bosques, a lua refulgente na noite, os aromas das flores e árvores, nomeadamente o da baunilha, o mar e a sua espuma rítmica, e ele meditando numa torre de marfim enquanto a a amada passeia no jardim, com um  leão aos seus pés.

O que há de mais onírico?  Sonhar-se rei, numa utópica ilha, bem longe do que o rodeia, a lua cheia brilhante nos céus e espargindo seus mil raios na água, uma noite mágica de cheiros e luzes, pois o próprio ar se mostra diáfano, e o mar doce e terno lambendo a ilha, deixando transparecer em tais movimentos os seus desejo sensuais e amorosos pela amada, que contudo anda ao longe no bosque, e  tem um leão aos seus pés.
Este leão, e
m termos de projecção psicológica, poderá ser ele próprio Antero, ou o seu ardor do amor e do coração, calmo aos pés dela, mas capaz de se tornar o animal poderoso a qualquer momento.

                                      

É um soneto de grande calma e paz, com alguma irrealidade, transparecendo a força interior contida, ou não fosse ele rei. Quanto à amada, que não é apresentada senão com esse estatuto, ao contrário dele que cisma, divaga, e há neste contraste uma certa afirmação de maior concentração na sua actividade mental, enquanto a mulher apenas divaga, embora expandida pela luz da lua, enquanto que ele interiorizou-se mais, absorveu-se, queda-se absorto quase sem fim. 

É uma atmosfera irreal, simbolista, fazendo lembrar a da peça de teatro estático de Fernando Pessoa (que leu e traduziu vários sonetos de Antero para inglês, e o elogiou muito), o Marinheiro, náufrago numa ilha, e também sob um vago luar, onde três irmãs divagam, uma das suas primeiras publicações, em 1913, na revista portuense A Águia,  dirigida por Teixeira de Pascoes e Leonardo Coimbra. Todavia, se o ambiente psíquico no Sonho Oriental é de grande paz e harmonia com uma natureza idílica, já o envolvimento amoroso entre os dois paira numa certa interrogação que só a expressão "meu amor" a vence.  

                                         SONETOS ANTIGOS

                                                             I  

                                            Sonho Oriental

Sonho-me às vezes rei, nalguma ilha, 
Muito longe, nos mares do Oriente, 
Onde a noite é balsâmica e fulgente
E a lua cheia sobre as águas brilha... 


O aroma da magnólia e da baunilha 
Paira no ar diáfano e dormente... 
Lambe a orla dos bosques, vagamente, 
O mar com finas ondas de escumilha3... 

E enquanto eu na varanda de marfim 
Me encosto, absorto n'um cismar sem fim, 
Tu, meu amor, divagas ao luar, 

Do profundo jardim pelas clareiras, 
Ou descansas debaixo das palmeiras, 
Tendo aos pés um leão familiar.»

Anote-se  estarem os três sonetos enviados por Antero de Quental como I, II e III e constituem um todo sob a designação de Sonetos Antigos,  e que portanto devem ser lidos de algum modo como um avançar na declaração de amor e vivência,  idealizado no 1º, Sonho Oriental,  embora com certa apreensão  face ao futuro, perante tanto amor e pudor, sensibilidade e intuição, comunhão e absorção, que os dois sentem, pois já no 2º Idílio, Antero surge como visionário do estranho, do triste e do trágico, pois acaba por sentir dúvidas quanto à luz húmida do olhar, ao emudecimento da amada e  ao estremecimento das mãos, mesmo com a entrada das vozes amorosas do universo no coração dos dois...

 Idílio 

    Quando nós vamos ambos, de mãos dadas,
Colher nos vales lírios e boninas,
E galgamos dum fôlego as colinas
Dos rocios da noite inda orvalhadas;

Ou, vendo o mar das ermas cumeadas
Contemplamos as nuvens vespertinas,
Que parecem fantásticas ruínas
Ao longo, no horizonte, amontoadas:

Quantas vezes, de súbito, emudeces!
Não sei que luz no teu olhar flutua;
Sinto tremer-te a mão e empalideces

O vento e o mar murmuram orações,
E a poesia das coisas se insinua
Lenta e amorosa em nossos corações.» 

Já o 3º e último soneto, Aparição, revela, após a tese e a antítese,  a sua síntese amorosa algo derrotada e perdida. Desilusão da amada, que não o quis, e lhe estalou o coração, auto-biográfico, deveremos deduzir ou intuir? Cada um que o sinta ou adivinhe...

                                                    Aparição

Um dia, meu amor (e talvez cedo,
Que já sinto estalar-me o coração!)
Recordarás com dor e compaixão
As ternas juras que te fiz a medo...

Então, da casta alcova no segredo,
Da lamparina ao tremulo clarão,
Ante ti surgirei, espectro vão,
Larva fugida ao sepulcral degredo...

E tu, meu anjo, ao ver-me, entre gemidos
E aflictos ais, estenderás os braços
Tentando segurar-te aos meus vestidos...

— «Ouve! espera!» — Mas eu, sem te escutar,
Fugirei, como um sonho, aos teus abraços
E como fumo sumir-me-hei no ar! »

Anote-se que, tomando os três sonetos como um todo (embora saibamos que na ordenação final dos Sonetos Completos em 1886 eles estejam espaçados), passamos do "meu amor", do 1º soneto,  para o "meu anjo", do 3º soneto final, e quem fora rei no 1º e depois no 2º namorado em idílio campestre e unidade de corações, transforma-se no 3º e último soneto, Aparição, num espectro, numa aparição que rejeita os pedidos da amada, ou porque já não a quer, ou porque já não pode.  

Há na obra de Antero, para além do seu grande amor, destemor e idealismo social, constantes sinais da solidão, de morte e mesmo de suicídio. Por vezes interrogo-me quantos dos seus amigos terão sentido intuitivamente isso, sobretudo com o avançar da idade, seja vendo-o ao longe a aproximar-se, seja nos silêncios das conversa.  Ou ele próprio, quantas vezes terá sonhado ou intuído que teria essa quase que predestinação à sua espera?

                                    

Há algo de desilusão e quase maldição do Amor humano. Ou a consciência de quão difícil  seria vivê-lo numa sociedade ainda com tantos aspectos injustos e opressivos e com as pessoas por vez tão divididas e longe da sua totalidade e sinceridade. Não é um Apocalipse, como disse na carta a Maria Amália, mas não era de modo algum um poema terno ou para sossegar jovens leitoras, sobretudo o último soneto. Anote-se que nesta época Antero, assinando como o Bacharel José,  entre 1864-1865, para o jornal O Século XIX, de Penafiel, testemunhava uma grande ironia e irreverência. E assim o amor terno e romântico era dissipado por um espectro, numa consciencialização da fragilidade da vida e dos sentimentos. Talvez devamos admitir que Antero só vivenciou na verdade o amor paixão unitiva nos namoros juvenis, o que alguns poemas das Primaveras Românticas espelham bem. E ficou mais com o da mãe, dos amigos, da poesia, da filosofia, da morte e da liberdade, o que já foi muito, e que nos fazem hoje enviar-lhe muita luz e amor para a sua ascensão espiritual...

sábado, 13 de novembro de 2021

A mão de Fátima, um ícone protector, um canal de religação espiritual e divina...

                                  

Esta mão que desce do céu e derrama dos seus dedos dons é uma bela imagem visível da Mão divina, da Fonte primordial que sabe responder aos nossos apelos e presentear-nos com o que necessitamos para alcançar a mais alta evolução espiritual possível aqui na Terra.  

Encontra-se na janela de minha casa virada a Sul, e com o céu azul acrescentando luz sobre luz e, embora pudesse estar ao vento, encontra-se no interior, queda e calada, mas presente, subtilmente irradiante...

Esta mão de Fátima, um ícone imemorial de tradições artísticas, mágicas e religiosas do Médio Oriente, do Islão e dos Shiia, contém nesta versão ao alto o losango do cruzamento das forças: as nossas em aspiração e as que descem do mundo espiritual e divino, lembrando-nos como toda a nossa vida é uma constante batalha de amor e sabedoria, de purificação e elevação, certamente com momentos de desânimo e derrota, queda e erro, pois a dualidade, a ignorância e o sofrimento fazem parte da vida terrena e existem para os vencermos, com discernimento e humildade, sabendo ora aceitar e repousar, ora desenvolver as forças psico-espirituais apropriadas, vitoriosas.

 A mão de Fátima diz-nos: - Deixa cair as tuas preocupações e receios, as tuas dores e medos e abre-te ao silêncio e ao vasto espaço cósmico, com a sua imensidade mas também o corpo místico da Humanidade, onde antepassados, mestres, imams e Fátima velam...

- Tem a esperança verdejante e trabalha a fé de quereres a abertura do teu olho espiritual, exercitando-o pelo discernimento, a admiração, a concentração, a contemplação, a reverência, o amor...

É por isso que o olho espiritual surge representado no meio da mão, não só aludindo ao que do mundo espiritual e divino  nos pode chegar sempre, mas para nos estimular a sairmos do pensar automático do quotidiano e desenvolvermos mais a visão ampla e contemplativa, que está associada ao hemisfério direito e que tanto temos atrofiado...

Esta mão considera-se que afasta as más vibrações que os olhos e almas dos outros nos enviam, algo que não é automático apenas pelo seu uso, mas sim se nós trabalhamos com regularidade a humildade de nos abrirmos à sua eficácia espiritual, a qual depende da nossa aspiração ou fé em sermos espíritos luminosos e emitindo energias benéficas que vençam as eventuais negativas que nos mandem ou envolvam.

As mãos de Fátima, todavia, mais poderosas, não são as muitos antigas e belas que possam estar em museus ou em casas de seus devotos, mas a que nós podemos ora fazer ora fortificar nas nossas casas e sobretudo gerar nas nossas mãos e alma espiritual e por elas emitirmos os raios espirituais que dissipam as trevas e obscuridades,  interconectando assim os seres e os mundos criativamente...

Deste modo imaginarmos a Fonte divina e os santos, mestres, imams e Fátima abençoando-nos é bem valioso e, para isso, o meditar, orar, ou contemplar a imagem e seus pormenores simbólicos pode-nos bem impulsionar espiritualmente.

                                     

 Há quem utilize a imagem com os dedos para cima, e estou-me a lembrar da Niama Moraes, e sem dúvida é uma forma mais assumida e energética de irradiação espiritual, seja dizendo-se: - Dissipem-se as tuas energias negativas, ou - Afasta-te, se vens por mal. Ou então, positivamente: - Sê bem acolhida ou mesmo abençoada, oh alma que estás em intencionalidades boas, luminosas e aspiras à sabedoria e ao amor.

Possamos nós merecer, criativamente, que a mão,  a bênção, a inspiração de Fátima, mulher de Ali, filha de Maomé, geradora da linhagem dos 10 imams Shiaa, e uma das faces femininas da Divindade mais veneradas, nos proteja e oriente, eleve e toque, para que as nossas ligações com Ela e o mundo espiritual e Divino, ou o corpo místico da Humanidade, se conservem e desenvolvam luminosamente e para o bem da Natureza e da Humanidade...


quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Aproximações ao santo Graal, nestes tempos de pseudo-ensinamentos e falsas profecias...

                                                    
 O santo Graal era e é um subtil cálice ou vaso capaz de acolher, ou ser receptor de influxos subtis, espirituais, do alto, divinos. E é simultaneamente um conhecimento e uma realização espiritual e divina.
Encontramo-lo em diversas tradições pré-cristãs, iranianas e celtas, embora seja com o cristianismo e já no séc. XIII que uma legenda literária se começará a formar, a partir de fontes pré-cristães e cristãs, com certas linhas de força, e a popularizar-se com 5 ou seis versões principais.
Este vaso ou cálice portador do Bem em tais narrativas ora desce do alto, em geral no meio de um grupo bem unido e espiritual, ora se manifesta a uma só pessoa, pela sua aspiração, pureza e coragem, ora na sua intimidade ou visão interior, ora como eleito entre alguns próximos.
A procura do merecimento da descida do Divino, das suas energias, forças ou bênçãos, seja directas seja através dos seus cavaleiros, guardiões e iniciadores, é de certo modo a demanda do santo Graal.
Ou seja, como estarmos conscientes, preparados, merecedores, receptivos, sintonizados e intuitivos com o nosso ser espiritual, com os planos espirituais e os seus seres e forças benéficas, luminosas, divinas, maxime, o Espírito Divino...
O que se vê é o brilho do espírito, o que desce é a Luz, a corrente do espírito, o amor, a bênção divina que nos intensifica e plenifica na auto-consciência espiritual harmoniosa e nos faz dar graças...

O santo Graal pode aparecer a uma pessoa como o resultado de uma ordenação e aprofundamento energético pessoal, ambiental, geral.

Ele pode ser um vaso invisível que paira no centro da divisão em que estamos e que intercomunica com o nosso coração.

Ele pode estar sobre o nosso peito, como uma fulguração das nossas aspirações e realizações e um alinhamento espiritual e cósmico.

Ele pode estar ao longe no cimo de uma montanha (imagem de uma pintura de Bô Yin Râ), custodiado pelos cavaleiros, ou mestres.
O santo Graal visita-nos só de vez em quando e devemos acolher bem tais momentos e depois meditá-los com regularidade para se aprofundar a nossa relação com ele e para comungarmos com tal bênção.

O Graal aparece-nos quando o merecemos, quando a nossa vida, apesar de desilusões, sofrimentos, desânimos e isolamentos, é regida por uma dinâmica de procura da verdade e do amor, de estudo e ordem, de aspiração e amor divino, de fraternidade e universalidade.
Contudo, há que estarmos bem atentos pois a maioria das pessoas não está numa vibração do santo Graal, e menos ainda o mundo enquanto soma das suas pessoas,  demasiado apanhado numa série de egrégoras (políticas, económicas, raciais, nacionais, religiosas, ocultas) em lutas fortes ou mesmo ferozes pelo domínio dos bens escassos e das mentes e energias das pessoas, para não dizer das suas almas e espíritos, sob formas enganadoras de novas ordens ou  religiões...

Sabermos ainda assim escapar às tentações e logo ao mal, que poderemos delinear como a ausência do bem e da verdade, é fundamental. Só assim se pode dar o acolhimento do Divino e sermos portadores do Graal. A sua sintonização e comunhão regular é uma tarefa a ser sempre prosseguida, e por isso nos romances antigos do ciclo do Graal os cavaleiros partiam em aventuras, perigos e tentações, para apenas uma ou outra vez, um ou outro, conseguir contemplar o Graal, ou vê-lo com a luz e o amor Divino.
 
No século XXI a legenda já não deveria ser tanto assim, pois a evolução da humanidade e da suas capacidades de cognição e auto-conhecimento deveriam estar a render mais frutos de lucidez e clarividência, compaixão e amor e logo a não a estarmos ainda tão sujeitos a negatividades e alienações, petrificações e materializações, mistificações e manipulações. Nem a constatações trágicas, tal como a do rei de Thulé que sentindo que a morte vem para o seu corpo não tem no filho nem nos seus cavaleiros a quem possa transmitir a custódia do santo Graal, e lança a taça para o Oceano do imanifestado.

O ser na demanda do Graal, o cavaleiro ou cavaleira, o peregrino ou  peregrina, tem assim regularmente de orar, invocar, d sintonizar o Graal, clamando com os seus mantras e orações mais adequados, até que, mais harmonizadas e unificadas as suas energias anímicas, possam sentir em si ou ver na sua visão espiritual seja a luz seja o cálice impregnado de luz e amor, e ir assim aumentando a sua receptividade e acolhimento do espírito e do amor a Deus e de Deus, para melhor resistir aos desequílibrios que o rodeiam ou às formas de pensamento enganadoras mundiais

Quem nos ajuda a sintonizar com o Graal, ou a elevar-nos vibratoriamente é o Anjo, o ser do mundos subtis e espirituais que em alguns dos tradicionais relatos do ciclo do santo Graal o precede ou acompanha. Ou ainda os eremitas,  mestres e santos, os seres que estão já despertos nos seus corpos subtis e espirituais e comungam com o Graal, a Fonte e entre si na Unidade.

Portanto lembrar-nos do Anjos, ou contemplarmos imagens ou esculturas suas, ajuda-nos a sentirmos mais luz e amor, a centrar-nos, a alinhar-nos com eles e o mundo espiritual, logo a fazermos descer mais as bênçãos do Graal, do Espírito, do Divino, na Terra.
                                                  
Quando contemplamos a soma de obras escritas sobre a religiosidade e espiritualidade não podemos deixar de pensar como é que se complicou tanto o caminho espiritual, como é que se construíram charadas sobre charadas, mistificações sobre mistificações, alegorias sobre alegorias, evangelhos sobre evangelhos, canalizações sobre canalizações, cabalas sobre cabalas, e só podemos compreender tal como exercícios terapêuticos, catárticos, e em geral até mais egóicos, que os seus autores foram segregando, enganando ou infectando outros.
Após tantos séculos de mistificações nos domínios da religiosidade e da espiritualidade deveríamos já ser bem mais exigentes no que ouvimos, lemos e escrevemos, no que acreditamos e no que nos envolvemos e participamos.
Estou a pensar nas tolices de tantas previsões astrológicas ou de ensinamentos quânticos, nas conversas com Deus e mensagens de mestres ascensionados ou pseudo-instrutores actuais, nas complicações da alquimia e da cabala, nos tratados escolásticos medievais e nas interpretações em forçadas simbolizações do Antigo Testamento ou de outros textos antigos, tão rudes e no seu sentido literal e histórico, ora mostrando a brutalidade dos modos de vida de então ou as limitações das concepções religiosas e de Deus, e a desfaçatez com que se publicaram e publicam (hoje em livros e vídeos) tais imaginações por vezes até desregradas e violentas, em geral enganadoras seja no que ensinam seja nas autorias, tais as  intituladas de Cartas dos Mestres, Decretos, Mensagens dos Mestres Ascensos, Ascensão do Coração, Ensinamentos de Merkaba, Evangelho de Maitreya, etc..

Hoje mais do que nunca há que fortalecer a prática espiritual das pessoas, assente numa vida ética e ecologicamente bem vivida, sóbria e lúcida e sem miragens de saltos quânticos, apocalipses e revelações fulminantes para alguns grupos de eleitos. Que prática espiritual, perguntarão?
Aquelas interiorizações e concentrações, meditações e contemplações que mais nos harmonizarem, iluminarem, satisfazerem, melhorarem, dinamizarem, inspirarem e, ao Graal do coração e da Divindade, nos ligarem ou conduzirem, na paz, na visão, no sentir, no amar, no ser...
Aquelas que tragam ao de cima a espiritualidade própria nossa, livre e libertadora, a da comunhão com o espírito em nós e nos outros, a comunhão das almas no bem e no corpo místico da humanidade....

Saudemos o santo Graal, sintonizemos mais com ele, e os mestres e Anjos que mais o transmitem, com a  intencionalidade persistente do coração sincero, vivo, flamejante, intuitivo, directo, a sós ou em comunhão com outros seres, qual alma-gémea, qual távola redonda, qual campo psico-mórfico que une várias almas, distantes no espaço mas próximas nas colorações e afinidades espirituais. 
Mas não nos deixemos prender nos milhares de grupos semi-iludidos, e de profecias e promessas, ensinamentos e mensagens estrambólicas e desequilibradas,  atribuídas a extra-terrestres, a mestres ascensos, a Jesus e a Deus, tal como tanto ser ambicioso e descarado proclama, gera e confunde. Liberte-se dessas ilusões, ainda que possa participar aqui e acolá nos grupos que tentam verdadeiramente discernir e viver os mistérios...
Ore e medite mais no silêncio com humildade e persistência, aspiração e amor, e receba os sinais ou as bênçãos interiores... 
 Este texto, "concluído" hoje 11-11-2021 e revisto em 17-1-23, que seria para o livro em preparação Ensaios Espirituais, é dado à luz antes no blogue, pois talvez seja mais lido do que em livro, uma realidade que temos contudo de avaliar constantemente. Poderá todavia um dia, e até aprofundado, ter lugar nele ou num outro, pois o mistério do Graal tem sido demandado e escrito por mim ao longo dos anos...

terça-feira, 9 de novembro de 2021

Palavra sobre Deus, Logos, Espírito Santo, Espírito, Meditação, Campo unificado de energia consciência, Ecologia, Liberdade....

Uma breve aproximação a alguns dos grandes mistérios da Vida, de Deus, da Trindade, do Espírito Santo, do Espírito em nós e dos caminhos da religião perene ou universal, com algumas referências às tradições grega, romana, cristã e indiana, e à ciência moderna, e com indicações práticas para melhor fazermos luz. Apenas 21 minutos de palavra fluída, gravada pelas nove e tal da manhã de 9.XI.21

Se alguém quiser dactilografar o texto, agradece-se, pois servirá certamente para o podermos aprofundar e escrever por cima e por dentro.

Lux Dei.

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

O Salão Anual dos Sócios da Sociedade Nacional das Belas Artes. Imagens de algumas das melhores obras expostas, no rés do chão. 5-XI-21

 Inauguração do Salão Anual, sob a temática do Ambiente. Lisboa, 2021.

Uma visita que se esperava breve alongou-se pelo encontrar de algumas pessoas amigas e de outras que se vieram a cruzar e a reconhecer nestes momentos de entrada e imersão numa sala-gruta- piscina em que infinitas sinapses quânticas se estão a interconectar constantemente, graças ou infelizmente sem nos darmos conta, apenas vendo que houve alguns encontros mais longos com pessoas mais afins e logo conversantes, ou seja, convergentes para a Verdade. E uma escolha das peças que, entre as cerca de 80 expostas no rés do chão (e no andar de cima haveria mais 100) me encantaram e foram então fotografadas e agora partilhadas:

O Futuro semeia-se e constrói-se no Presente, e a educação é quase tudo.

                                           

De António Ventura, este trabalho que sob o dito clássico "Ars Longa, Vita Brevis", nos mostra muitos livros cortados e intervencionados, com cola e papel, e como que comprimidos pela passagem do tempo e contudo talvez com conteúdos preservados e quem sabe transfigurantes para quem os souber intuir, ler, aplicar, viver.

 De Lu Mourelle, "Sydri", acrílico s/ tela. Quem não gostaria de ler ou meditar sob esta árvores elegante, frondosa e inspiradora? E como o tema da exposição é o Ambiente, que melhor ícone da Natureza que a Árvore, eixo dos mundos?

Autora não registada, num ver calmo, firme e desafiante...

De Beatriz Cunha, em madeira reutilizada, este sólido platónico contemporâneo, talvez uma arquetipização das geometrias subtis do mundo e da humanidade actual, "PGSOL", quem sabe pedindo que haja mais contemplação das formas e ideias arquétipas, para remodelarmos o mundo, a sociedade, as almas...

De Elizabeth Oliveira, esta fotografia da luta dramática da estátua clássica pela sua respiração livre, ou "Arts in Covid".

A Maria José Menezes, numa técnica mista com colagem sobre papel kraft intitulada "Do Fundo do Baú", desafia-nos a fazermos sair das nossas profundidades e potencialidades os ornatos e jóias criadores de beleza, harmonia, amor...
A Cristine Enrègle, que acabou agora uma residência artística de dois meses no Museu de Ciência Natural, da qual resultará dentro de meses uma exposição de desenho de plantas e folhas, captou bastante do génio refulgente, na fotografia a cores "Depois da Chuva", de uma das duas subtilmente animadas figueiras do jardim Botânico de Lisboa.
 
De Lena Horta Lobo esta fascinante multidimensionalidade outonal, "Autum Light", uma fotomontagem a partir de fotografias de uma sua tapeçaria.
 
 Escapou a autoria e título, mas é um alfabeto e uma linguagem bem sensual, animada e exemplificante das pernas e pés de uma mulher sensível e expressiva e, ao ser muito bem fotografada e sequenciada, quase em movimento transformada...
Bem desafiante peça, para entramos e nos elevarmos, e que foi a segunda menção honrosa, de J. C. Trindade, mas cujo título me escapou.

De Milucha, inegavelmente uma das melhores obras (técnica mista: grafite, lápis de cera e acrílico)  e por isso menção honrosa, ou não encaminhasse o seu título para essa actividade honrada e criadora e tão necessárias às almas viandantes e que se querem despertantes:  "Meditações"...

De António Marques Miguel este diagrama, a lápis antracite, com marcadores a cores, dos mundos subtis "Ao longo das cíclicas" que Dante imaginou visitar e que muitos  artistas e comentadores seus desenharam e meditaram...

De António Saraiva, as inestéticas máscaras transfiguradas pela poderosa arma da sensibilidade e delicadeza feminina, em colagem que vence "Covid19/2020"
 
                                  
A tripla instalação de João Motta (ou João Teixeira da Mota), com um pequeno (3 minutos) mas bem profundo filme de Eduardo Sousa, e ainda um texto,  intitula-se "A Crise Planetária. A relação do vírus com a Humanidade", na qual procura dar sentido ao mundo actual recorrendo às visões orientais que o vêm como ilusório, na sua separatividade e dualidade, e  necessitando de ser desegotizado e caminhado com mais profundidade e harmonia. E, lembrando-nos do poder do sorriso ou mesmo riso, deseja "que uma epidemia de riso dissipe as trevas da ignorância..."
                                  
                                                    
                                                   
Glória, César (com o seu canal das Conversas da Alma) e João, comunicadores multidimensionais.