quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Aproximações ao santo Graal, nestes tempos de pseudo-ensinamentos e falsas profecias...

                                                    
 O santo Graal era e é um subtil cálice ou vaso capaz de acolher, ou ser receptor de influxos subtis, espirituais, do alto, divinos. E é simultaneamente um conhecimento e uma realização espiritual e divina.
Encontramo-lo em diversas tradições pré-cristãs, iranianas e celtas, embora seja com o cristianismo e já no séc. XIII que uma legenda literária se começará a formar, a partir de fontes pré-cristães e cristãs, com certas linhas de força, e a popularizar-se com 5 ou seis versões principais.
Este vaso ou cálice portador do Bem em tais narrativas ora desce do alto, em geral no meio de um grupo bem unido e espiritual, ora se manifesta a uma só pessoa, pela sua aspiração, pureza e coragem, ora na sua intimidade ou visão interior, ora como eleito entre alguns próximos.
A procura do merecimento da descida do Divino, das suas energias, forças ou bênçãos, seja directas seja através dos seus cavaleiros, guardiões e iniciadores, é de certo modo a demanda do santo Graal.
Ou seja, como estarmos conscientes, preparados, merecedores, receptivos, sintonizados e intuitivos com o nosso ser espiritual, com os planos espirituais e os seus seres e forças benéficas, luminosas, divinas, maxime, o Espírito Divino...
O que se vê é o brilho do espírito, o que desce é a Luz, a corrente do espírito, o amor, a bênção divina que nos intensifica e plenifica na auto-consciência espiritual harmoniosa e nos faz dar graças...

O santo Graal pode aparecer a uma pessoa como o resultado de uma ordenação e aprofundamento energético pessoal, ambiental, geral.

Ele pode ser um vaso invisível que paira no centro da divisão em que estamos e que intercomunica com o nosso coração.

Ele pode estar sobre o nosso peito, como uma fulguração das nossas aspirações e realizações e um alinhamento espiritual e cósmico.

Ele pode estar ao longe no cimo de uma montanha (imagem de uma pintura de Bô Yin Râ), custodiado pelos cavaleiros, ou mestres.
O santo Graal visita-nos só de vez em quando e devemos acolher bem tais momentos e depois meditá-los com regularidade para se aprofundar a nossa relação com ele e para comungarmos com tal bênção.

O Graal aparece-nos quando o merecemos, quando a nossa vida, apesar de desilusões, sofrimentos, desânimos e isolamentos, é regida por uma dinâmica de procura da verdade e do amor, de estudo e ordem, de aspiração e amor divino, de fraternidade e universalidade.
Contudo, há que estarmos bem atentos pois a maioria das pessoas não está numa vibração do santo Graal, e menos ainda o mundo enquanto soma das suas pessoas,  demasiado apanhado numa série de egrégoras (políticas, económicas, raciais, nacionais, religiosas, ocultas) em lutas fortes ou mesmo ferozes pelo domínio dos bens escassos e das mentes e energias das pessoas, para não dizer das suas almas e espíritos, sob formas enganadoras de novas ordens ou  religiões...

Sabermos ainda assim escapar às tentações e logo ao mal, que poderemos delinear como a ausência do bem e da verdade, é fundamental. Só assim se pode dar o acolhimento do Divino e sermos portadores do Graal. A sua sintonização e comunhão regular é uma tarefa a ser sempre prosseguida, e por isso nos romances antigos do ciclo do Graal os cavaleiros partiam em aventuras, perigos e tentações, para apenas uma ou outra vez, um ou outro, conseguir contemplar o Graal, ou vê-lo com a luz e o amor Divino.
 
No século XXI a legenda já não deveria ser tanto assim, pois a evolução da humanidade e da suas capacidades de cognição e auto-conhecimento deveriam estar a render mais frutos de lucidez e clarividência, compaixão e amor e logo a não a estarmos ainda tão sujeitos a negatividades e alienações, petrificações e materializações, mistificações e manipulações. Nem a constatações trágicas, tal como a do rei de Thulé que sentindo que a morte vem para o seu corpo não tem no filho nem nos seus cavaleiros a quem possa transmitir a custódia do santo Graal, e lança a taça para o Oceano do imanifestado.

O ser na demanda do Graal, o cavaleiro ou cavaleira, o peregrino ou  peregrina, tem assim regularmente de orar, invocar, d sintonizar o Graal, clamando com os seus mantras e orações mais adequados, até que, mais harmonizadas e unificadas as suas energias anímicas, possam sentir em si ou ver na sua visão espiritual seja a luz seja o cálice impregnado de luz e amor, e ir assim aumentando a sua receptividade e acolhimento do espírito e do amor a Deus e de Deus, para melhor resistir aos desequílibrios que o rodeiam ou às formas de pensamento enganadoras mundiais

Quem nos ajuda a sintonizar com o Graal, ou a elevar-nos vibratoriamente é o Anjo, o ser do mundos subtis e espirituais que em alguns dos tradicionais relatos do ciclo do santo Graal o precede ou acompanha. Ou ainda os eremitas,  mestres e santos, os seres que estão já despertos nos seus corpos subtis e espirituais e comungam com o Graal, a Fonte e entre si na Unidade.

Portanto lembrar-nos do Anjos, ou contemplarmos imagens ou esculturas suas, ajuda-nos a sentirmos mais luz e amor, a centrar-nos, a alinhar-nos com eles e o mundo espiritual, logo a fazermos descer mais as bênçãos do Graal, do Espírito, do Divino, na Terra.
                                                  
Quando contemplamos a soma de obras escritas sobre a religiosidade e espiritualidade não podemos deixar de pensar como é que se complicou tanto o caminho espiritual, como é que se construíram charadas sobre charadas, mistificações sobre mistificações, alegorias sobre alegorias, evangelhos sobre evangelhos, canalizações sobre canalizações, cabalas sobre cabalas, e só podemos compreender tal como exercícios terapêuticos, catárticos, e em geral até mais egóicos, que os seus autores foram segregando, enganando ou infectando outros.
Após tantos séculos de mistificações nos domínios da religiosidade e da espiritualidade deveríamos já ser bem mais exigentes no que ouvimos, lemos e escrevemos, no que acreditamos e no que nos envolvemos e participamos.
Estou a pensar nas tolices de tantas previsões astrológicas ou de ensinamentos quânticos, nas conversas com Deus e mensagens de mestres ascensionados ou pseudo-instrutores actuais, nas complicações da alquimia e da cabala, nos tratados escolásticos medievais e nas interpretações em forçadas simbolizações do Antigo Testamento ou de outros textos antigos, tão rudes e no seu sentido literal e histórico, ora mostrando a brutalidade dos modos de vida de então ou as limitações das concepções religiosas e de Deus, e a desfaçatez com que se publicaram e publicam (hoje em livros e vídeos) tais imaginações por vezes até desregradas e violentas, em geral enganadoras seja no que ensinam seja nas autorias, tais as  intituladas de Cartas dos Mestres, Decretos, Mensagens dos Mestres Ascensos, Ascensão do Coração, Ensinamentos de Merkaba, Evangelho de Maitreya, etc..

Hoje mais do que nunca há que fortalecer a prática espiritual das pessoas, assente numa vida ética e ecologicamente bem vivida, sóbria e lúcida e sem miragens de saltos quânticos, apocalipses e revelações fulminantes para alguns grupos de eleitos. Que prática espiritual, perguntarão?
Aquelas interiorizações e concentrações, meditações e contemplações que mais nos harmonizarem, iluminarem, satisfazerem, melhorarem, dinamizarem, inspirarem e, ao Graal do coração e da Divindade, nos ligarem ou conduzirem, na paz, na visão, no sentir, no amar, no ser...
Aquelas que tragam ao de cima a espiritualidade própria nossa, livre e libertadora, a da comunhão com o espírito em nós e nos outros, a comunhão das almas no bem e no corpo místico da humanidade....

Saudemos o santo Graal, sintonizemos mais com ele, e os mestres e Anjos que mais o transmitem, com a  intencionalidade persistente do coração sincero, vivo, flamejante, intuitivo, directo, a sós ou em comunhão com outros seres, qual alma-gémea, qual távola redonda, qual campo psico-mórfico que une várias almas, distantes no espaço mas próximas nas colorações e afinidades espirituais. 
Mas não nos deixemos prender nos milhares de grupos semi-iludidos, e de profecias e promessas, ensinamentos e mensagens estrambólicas e desequilibradas,  atribuídas a extra-terrestres, a mestres ascensos, a Jesus e a Deus, tal como tanto ser ambicioso e descarado proclama, gera e confunde. Liberte-se dessas ilusões, ainda que possa participar aqui e acolá nos grupos que tentam verdadeiramente discernir e viver os mistérios...
Ore e medite mais no silêncio com humildade e persistência, aspiração e amor, e receba os sinais ou as bênçãos interiores... 
 Este texto, "concluído" hoje 11-11-2021 e revisto em 17-1-23, que seria para o livro em preparação Ensaios Espirituais, é dado à luz antes no blogue, pois talvez seja mais lido do que em livro, uma realidade que temos contudo de avaliar constantemente. Poderá todavia um dia, e até aprofundado, ter lugar nele ou num outro, pois o mistério do Graal tem sido demandado e escrito por mim ao longo dos anos...

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