quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Armando Martins Janeira. Uma resumida biografia e bibliografia, no dia da comemoração do seu 107º aniversário.

Pequeno contributo para a biografia do embaixador Armando Martins Janeira, notável diplomata, escritor e profundo conhecedor e divulgador da presença e interacção portuguesa no Japão, da alma do Dai Nippon e, em especial, de Wenceslau de Moraes, escrito para o seu 107º aniversário, em 2021.

Armando Martins Janeira é um transmontano, tal como Miguel Torga,  nascido em Felgueiras, Bragança, em 1 de Setembro de 1914, filho de José Júlio Martins e Elvira Janeiro, professora primária, que irá estudar e licenciar-se em Lisboa na Faculdade de Direito aos 22 anos. Entrou em 1939 na carreira  diplomática, tendo estado em numerosos países, primeiro como cônsul em Leopoldville, Liverpool e Sydney e, em seguida, como secretário, adido e, finalmente, embaixador em Itália, Inglaterra e Japão.

A sua primeira estadia no Japão  como Primeiro  Secretário de Legação, em Tóquio, é de 1952 a 1955, e desenvolve então um grande amor pelo Japão e a sua relação com Portugal, e começa a inteirar-se in loco da magnitude do encontro luso-nipónico, apercebendo-se das personalidades mais marcantes desse encontro, seja japonesas, seja as portuguesas, onde se destacam Jorge Alvares, Francisco Xavier, Fernão Mendes Pinto, Luís de Almeida, Luís Fróis, João Rodrigues, Diogo de Carvalho e sobretudo Wenceslau de Moraes. Estas individualidades virão a ser  abordadas mais detalhadamente no seu livro Figuras de Silêncio.
Casa em 1959, aos 45 anos com a alemã Ingrid Bloser, bastante mais nova do que ele (vinte anos, vindo a ter uma filha e um filho), que o acompanhou com grande qualidade na sua missão e o continuará no amor, partilha e estímulo da amizade aprofundante luso-nipónica.

E, ao ser nomeado Embaixador de Portugal de 1964 a 1971, consegue pela segunda vez residir e aprofundar o seu amor pelo Japão, e o diálogo luso-nipónico, que testemunhará em muitos actos públicos, recepções em sua casa, textos, conferências e eventos.

Deixou uma vasta obra histórica e ensaística, as primeiras obras publicadas sob o pseudónimo de Mar Talegre, sobre Literatura Portuguesa. tal a intitulada Três Poetas Europeus (Camões. Bocage. Pessoa), impressa em 1947, onde após uma original Introdução com sub-capítulos Poesia, Essência da Poesia, Espírito da Poesia Portuguesa, Europeidade, dedica-se depois a Camões, Bocage e Pessoa, com referências ainda a Antero, reconhecendo com bastante intuição e pioneirismo a espiritualidade forte de Fernando Pessoa, algo que aprofundará depois em artigos sobre o Zen na sua poesia, nomeadamente no I Congresso Pessoano de 1978 e em que levado por Dalila Pereira da Costa ainda o ouvi.  Seguiram-se Sentidos Fundamentais do Romance Português, e os contos Esta Dor de ser Homem, em 1948. E já em 1952, O Teatro Moderno, um género apreciado e trabalhado por ele, e que em 1957 frutificará numa peça dedicada ao amor de Inês de Castro e D. Pedro, a Linda Inês - Tragédia.
 Posteriormente assina ora Armando Martins Janeiro ora Armando Martins, e assim publica em Tóquio, em 1954, Nô,  impresso em papel de arroz e com as folhas duplas à japonesa, contendo uma valiosa apresentação, seguida de três belíssimas peças do teatro japonês, traduzidas por Armando com várias ajudas e recursos: A Vida é Sonho (kantan), por Motokiyo Seami, O Espírito da Neve (yuki), O Manto de Penas (hagoromo) por Motokiyo Seami.
   Nesse mesmo ano de 1954, no centenário do nascimento de Wenceslau de Moraes, dá à luz simultaneamente em Tóquio e no Porto uma obra toda ela, nas suas  286 páginas, consagrada excelentemente a ele: Jardim do Encanto Perdido, Aventura Maravilhosa de Wenceslau de Moraes no Japão, ilustrada com oportunas fotografias, algumas inéditas. 
                                          
Pouco depois, em 1956, dá à luz, com vinte e três capítulos, alguns já publicados em jornais Ler, Comércio do Porto, Nippon Times e Mainichi, um dos seus livros mais pessoais do encantamento nipónico Caminhos da Terra Florida. A gente, a paisagem, a arte japonesa, onde descreve as suas impressões da primeira estadia no Japão, a que juntou uma bela capa e algumas ilustrações coloridas coladas ao alto e logo flutuantes.  As suas descrições de Kioto, "não há cidade no mundo como Kioto", das suas geishas, matsuris, ruas, história, mistura do antigo e do ultra-moderno e rio Kamo vibram ainda hoje graças (e mais ainda em quem lá esteve) à sua tão rica sensibilidade poética e amor: «Rio Kamo, Rio Kamo, tu que embalastes barcas faustosas de imperadores e batéis engalanados das mais célebres gueishas e das mulheres mais formosas de Kioto, tu é que sabes todos os segredos dum passado luminoso que ainda nos fascina e penetra no presente, emprestando-lhe aura, poesia, sonho; Rio Kamo, Rio Kamo, que escutas as canções nostálgicas das gueishas de Guion e Pontocho, e à noite te ficas, de águas paradas sob a lua mais ténue que um balão de papel, a escutar-lhes os suspiros, os dramas de amor que os livros não contam, os segredos que nunca serão ditos./ Para mim, não há no mundo cidade como Kioto.» [Tendo eu lido este livro nas vésperas da minha primeira e única peregrinação ao Japão, em 2011, anotei no fim: "Direi o mesmo, em Setembro?» e, sem dúvida que, cidade e rio maravilhosos...]
 É nestes Caminhos da Terra Florida que Armando Martins Janeira exerce esta bela auto-consciencialização e comunhão vertical e perenizante, fotografada até: «Estou sentado no chão sobre o tatami brando, a uma mesa baixa - na mesma posição em que o Wenceslau escreveu a Ó-Yone e Koharu, que estou lendo. E leio nas páginas deste português exilado, a doçura e o encanto da vida japonesa que o seduziu e me envolve. 
Se fizermos um inquérito mental ao que atrai o estrangeiro no Japão, creio que encontraremos, desde logo, esta doçura de viver, delicada e frágil, que seduz sem enlear, duma alegria serena, mas colorida e excitante, este encanto dum gozo simples e puro, que o japonês pôs na construção e arranjo da sua casa, nos seus prazeres, no gosto de embelezar os objectos do seu viver habitual (...)»
 Em 1962  imprime a sua obra mais impressionante, original, bela, O PEREGRINO, Lisboa, num in-fólio oceânico de 72 páginas em papel de arroz, dentro de estojo em algodão estampado ao modo japonês, e constitui uma valiosa aproximação à vida,  amores e livros de Wenceslau de Moraes, com referências importantes ao Shinto e ao Budismo na sua vida e obra e como foi acolhido pelas duas religiões aquando da sua morte. É uma belíssima edição, muito bem ilustrada e que inclui até um postal  escrito por Wenceslau, uma toalhinha japonesa e duas gravuras originais de final do séc. XIX, além de imagens de Wenceslau. A tiragem é apenas de 100 exemplares numerados e portanto rara. Complementarmente, publicou num formato pequenino, com o mesmo título, um livro, só com texto de 57 páginas, editado já em Lisboa pela Livraria Portugal em 1962, no qual relata a inauguração do monumento consagrado pela cidade Tokushima a Wenceslau de Moraes, com profundas reflexões sobre a religiosidade e universalidade de Wenceslau e de ele próprio.
Outros exemplos de valiosos estudos são o The Japanese Classic Theatre and the Theatre of Gil Vicente, publicado inicialmente no Japão num volume de Comparative Literature, de 1966, onde manifesta o seu bom conhecimento do teatro de Gil Vicente e peninsular da época, pondo-o em diálogo comparativo com teatro No. 
                                      
E, nesse mesmo de 1966, no nº 187 da revista France-Asie/Asia, a sua contribuição, e como Armando Martins Janeiro: Lacfadio Hearn and Wenceslau de Morae. Two interpreters of Japan, onde valoriza em Wenceslau a busca de uma civilização diferente e onde poderia encontrar felicidade, pois «ele sentiu que não podia ser feliz na Europa, porque o materialismo e a mediania da civilização Ocidental aborreciam-no, e detestava também a rotina seca da sua própria existência (...) A sua sensibilidade delicada, o seu esteticismo refinado, estavam desgostosos com o Ocidente»....
Em 1969 publica, ainda sob o nome de Armando Martins, na revista STVDIA, nos números 27-28, 1969, um estudo sobre Wenceslau de Moraes valioso, onde critica o extremismo jesuíta anti-protestante e holandeses e valoriza a capacidade de ultrapassarmos as nossas "crenças, hábitos e preconceitos", escrevendo mesmo:«estou convencido  que o único homem que conseguiu libertar-se dos seus hábitos e preconceitos ocidentais foi Wenceslau de Moraes. Viveu inteiramente como um japonês e atingiu o estado de ser capaz de pensar e de sentir como um Japonês», mostrando em seguida a uma curta biografia, com extractos da sua obra, como Wenceslau chegou a tal nível identitário e de osmose unificadora...
É só a partir de 1969 é que assume definitivamente o nome de Armando Martins Janeira, por homenagem aos japoneses que assim o tratavam, e faz sair numa editora reputada de Tóquio numa bela edição cartonada à japonesa  uma das suas obras mais pessoais e filosóficas de comparativismo: The Epic and the Tragic Sense of Life in Japanese Literature. A Comparative Essay on Japanese and Western Culture. São três os capítulos, e traduzimos os títulos: I O Épico e o Trágico. II O Conceito Épico da Vida. III - O sentido Trágico da Vida, nos quais analisa com grande cultura e sensibilidade as dicotomias e contrastes entre Oriente e Ocidente, entre cómico, trágico e épico, entre amor e compaixão impessoal, recuando a sua aproximação até aos gregos e romanos e ao Humanismo da Renascença.
Em 1970  dá à luz em Lisboa na progressista editora Publicações Dom Quixote   O Impacte Português Sobre a Civilização Japonesa, «em homenagem aos portugueses que nos séculos XVI e XVII levaram ao Japão e a todo o mundo a cultura da Europa, aos meus amigos japoneses construtores do progresso do Japão moderno, que pela combinação criativa das culturas do Oriente e do Ocidente se lançou na linha de elevação duma civilização universal, eu dedico este livro, com o sentimento recolhido de quem contempla uma grande obra humana.» São 340 páginas de história dos portugueses e das suas influências e relação com o Japão. Teve uma segunda edição em 1997.

 
No ano seguinte em 1971 dá à luz uma volumosa  e boa escolha e bem apresentada antologia, intitulada Wenceslau de Moraes. Selecção de textos e introdução de Armando Martins Janeira. São 464 páginas, antecedidas por cento e oito duma valiosa introdução e de uma muito completa nota bibliográfica. Alguns títulos dos vinte capítulos temáticos: Amores, Amores, O Japão, a Gente, A Mulher Japonesa, O amor dos Animais, Religião, Meditações. 
                                   
  Em 1977, aquando da sua estadia em Itália, enquanto Embaixador de Portugal, publica a sua conferência realizada em 15-5-1975, na Academia Nazionale dei Lincei, L'Oriente ne «I Lusiadi». E em 1981 sai à luz, em Lisboa, o excelente  Figuras de Silêncio – A Tradição Cultural Portuguesa no Japão de Hoje, valorizado com o prefácio de Shusaku Endo, que rende uma grande homenagem a Armando:«Martins Janeira desempenhou o importante posto de embaixador no Japão por muito tempo. Entre os embaixadores de outros países, ele era o diplomata mais querido. A sua casa estava sempre cheia dos seus íntimos amigos japoneses; não eram apenas políticos e homens de negócios, eram também escritores, calígrafos, actores, etc. Havia ali a atmosfera dum salão de cultura. Amava o teatro tradicional, mesmo o Nô e o Kabuki, que são raramente compreendidos por estrangeiros - e introduziu-os na Europa. Eu próprio sou um dos romancistas por ele introduzidos na Europa.»
 Neste livro histórico aborda muito bem as grandes almas portuguesas no Japão: o capitão-do-mar Jorge Álvares, Fernão Mendes Pinto, os missionários jesuítas S. Francisco Xavier, Luís de Almeida, Luís Fróis, João Rodrigues e Diogo de Carvalho e finalmente "o último dos grandes aventureiros lusíadas: Wenceslau de Moraes."
                                                      
  Os  livros de Armando Martins Janeira estão repletos de sabedoria não só dos outros mas de si próprio e nesse sentido escreveu: «O significado da vida e da felicidade — todos os sábios do Oriente e do Ocidente nos ensinam — só se encontra quando o homem se dedica a uma grande tarefa, se entrega inteiramente a uma missão e se dissolve no poder imenso que o transporta para além da existência individual». 
Armando Martins Janeira vivendo no Japão cerca dez anos, como um diplomata muito afável e convivial (como Shusako Endo bem realçou), como estudioso, orientalista e escritor, onde ajudou a «erguer 15 monumentos comemorativos da grande obra portuguesa», um museu, uma escola infantil e um cortejo histórico, no fundo um descobridor moderno, confessará: «Foi uma luta combatida e vivida num fervor de cruzada, não para ressuscitar um legado histórico, mas para inserir a História na vida de hoje e amanhã. Isto só no Japão poderia ter sido conseguido. Oxalá um dia em Portugal igual eco se levante, para que assim a obra portuguesa no Japão desça da leniente seara dos eruditos para o campo da cultura geral, e aí tome um significado vivo e universal, hodierno e criador — para que o amor entre os dois povos se engrandeça».
Armando Martins Janeira foi e é, de portugueses e estrangeiros, quem melhor compreendeu Wenceslau de Moraes e também o Japão, destacando nele, por exemplo, na antologia referida, págs. XV-XVI, duas fases: «Nos primeiros anos de Japão, Moraes vivia no encanto da cor, na surpresa do exótico, no arroubo das maravilhas pitorescas do lendário Dai-Nippon. Este lado superficial deu-lhe em Portugal grande voga: ainda hoje para os leitores de Portugal, Moraes é apenas um escritor exoticista, delicado e louco, perdido no lindo sonho de um romântico Japão (...) 
O Moraes profundo e verdadeiro é o dos últimos anos do Japão. É o homem que amadurece no sofrimentos os seus verdadeiros valores humanos. É o estrangeiro isolado em um meio hostil, por vezes insultado, perseguido, mas nunca desistindo do grande propósito da sua vida - conhecer a essência da vida oriental e fazer o relato detalhado das suas reacções ocidentais no ambiente estranho que o cerca. Este relato minucioso é um documento de inestimável valor humano pois até hoje ninguém nos deixou uma confissão tão íntima e interessante das suas experiências diárias de ocidental entre orientais.»
Realçará ainda dois aspectos muito importantes: «Moraes escreveu a primeira história de amor entre um ocidental e uma japonesa - a confissão do seu drama com Ko-Haru; e porque foi também o pioneiro na análise da vida diária de uma comunidade japonesa, a pequena cidade de Tokushima, Moraes mostra também mais largueza e visão do futuro.» 
Do seu conhecimento do amor "religante" ou religioso dos japoneses há um trecho de Armando Martins Janeira bem curioso e instrutivo: «O Japonês ama carinhosamente os seus templos, quer sejam xintoísta - erguidos no cimo das montanhas para de mais perto adorar o Sol - quer na sua penumbra sorria tranquila a plácida face de Buda, infundindo bondade e profunda paz espiritual conquistadas pelo esforço ingente de renunciar ao mundo para se dissolver no universo, e assim, dentro do humano, atingir o infinito. O Japonês ama acima de tudo os seus velhos templos e os seus antigos jardins, que desde há mais de mil anos trata com esmerado carinho, e onde ainda hoje vai procurar retemperar a sua alma de serenidade e de paz.»

Tendo deixado a carreira diplomática em 1980,  foi professor na Universidade Nova, onde criou o Instituto de Estudos Orientais  e co-fundou a Associação de Amizade Portugal-Japão em 1981,  partindo para os mundos espirituais em 1988. Tem sido a sua mulher Ingrid Bloser Martins quem mais tem mantido viva tanto a sua vida e obra, tal como a de Wenceslau de Moraes (de quem Armando recolheu muito postal manuscrito e documentação), com colóquios, conferências e exposições, tendo parte substancial do seu espólio sido doado à Biblioteca Municipal de Torre de Moncorvo. 
A Câmara Municipal de Torre de Moncorvo publicou em 2015, de Paula Mateus, Por que Estrada Caminhamos. Armando Martins Janeira. Uma fotobiografia, num in-4º de 212 págs. execelentemente documentada e apresentada. E da autoria da Ingrid Bloser Martins, um valioso livrinho sintético Portugal e o Japão. Armando Martins Janeira e Wenceslau de Moraes. Duas personalidades humanas diferentes, numa comparatividade luminosa e enriquecida com as impressões pessoais e terminando com um pequeno capítulo dedicado ao Caminho do Chá, Chado, como sabemos um caminho espiritual, estético e convivial de grande tradição e elevação, ainda hoje mantido na sua sacralidade e intemporalidade, e que Wenceslau, nomeadamente com o seu belíssimo livro O Culto do Chá,  e Armando e Ingrid bem cultivaram, e que deveremos continuar como caminho do chá, Chado, tal como o Shinto é o caminho do espírito.

                                     
   Uma geisha servindo o chá, ilustração para o Culto do Chá, de Wenceslau de Moraes, e uma Miko de um jinja de Kyoto servido o chá e aguardando...

domingo, 29 de agosto de 2021

Da escrita íntima e perene das nuvens e do Amor.... Ao pôr do divino Sol, de 29-VIII-2021....

Por vezes uma só nuvem incendeia de tal o modo o céu e a consciência, que manifesta mais o Amor que muitas palavras, promessas e discursos...
Quantos de nós aspiramos a estar e a voar nas labaredas do Amor e, como as gaivotas, nos lançamos ao ar, ao mar, ao amar?
Felizes dos seres que sabem estar e ser, plenamente e de corações abertos e gratos, conscientes da sua auto-consciência e do que emanam no campo unificado universal...
Entrar mais dentro do coração espiritual, do fogo do Amor e do Ser, é a obra prima da Vida, num estar atento e criativo perseverante...
A demanda da Verdade e da Justiça, do Amor e da Divindade espelha-se e desafia-nos nas nuvens...
As letras e escritas íntimas que no Coração e suas telas e nuvens vamos escrevendo ou desenhando poucos discernem, intuem, sentem...
Esta nuvem, tão fugaz mas quão ardente, atravessou os céus e aqui se perenizou para os que, apesar de tanta violência, mentira e opressão, ainda acreditam e querem o Amor e a Fraternidade, o Espírito e a Divindade e agora a acolhem nas suas almas e neurónios, no graal ou jam-e jam do coração, e se fortalecem e expandem na unidade desta comunhão...

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

"Despertador Quotidiano", da Soror Thomazia (Tomásia) Caetana de Santa Maria, lido e comentado em vídeo.

                                       

 No ano da graça de 1758 saía à luz benigna de Lisboa, ainda fendida, ensanguentada e turvada pelo terramoto do 1º de Novembro de 1755, um opúsculo poético de quatro folhas, da oficina de Pedro Ferreira, impressor Real, intitulado Despertador Quotidiano.
Constava de um poema proémio e de um soneto, este glosado quatorze vezes em oito versos, tendo ainda no fim um soneto de António Correia Viana, "em aplauso da discretíssima autora, a reverendissima Madre Soror Thomazia Caetana de Santa Maria", natural de Lisboa mas religiosa no Real Convento de Santa Cruz de Vila Viçosa.
O folheto fora custeada pelo seu pai, o médico cirurgião Manuel de Mira Valadão, e levava o aviso no frontispício, quem sabe afastando importunos pensamentos ou censuras contra a jovem sóror que das profundidades do Alentejo deplorava a decadência e vaidades de Portugal considerando um castigo da Providência divina e elemental o terramoto que abatera a capital do reino.

O Despertador Quotidiano, como seu nome indica, visa despertar as pessoas para o Amor divino e para uma vida mais luminosa, ou seja, humilde, pura e contemplativa, e funciona quase como um exorcismo ou uma litania de poesias mantricas estruturadas a partir de um proémio e de um soneto que é glosado quatorze vezes em oito versos, em todas se referindo o lastimoso sucesso ocorrido pela braveza dos elementos, a qual é atribuída a um castigo divino.

A obrazinha é hoje rara, com mais de 250 anos e resolvemos lê-la e comentá-la brevemente.

                        

Depois de tal gravação consultamos a Biblioteca Lusitana, onde Barbosa de Machado informa que ela nascera a 7 de Março de 1719, sendo sua mãe Josefa Maria. E que «recebeu o hábito eremítico de Santo Agostinho no Convento de Santa Cruz de Vila Viçosa a 29 de Setembro de 1731, e professou solenemente a 15 de Outubro do ano seguinte. Por ser dotada de génio feliz para a Poesia, publicou...», seguindo-se os títulos de algumas das obras dela....

                                
                 Imagem de uma religiosa da sua época,  conventual no Alentejo. 

Entrara na religião muito cedo, com treze anos, e aos vinte e quatro anos começara a dar em letra de imprensa, e certamente antes em manuscritos, e facilmente imaginamos a soror Tomásia a conseguir harmonizar a sua vocação poética com a consagração religiosa e o tempo disponível na sua cela.
Como era ela, na face e na alma, como foi o seu noviciado, que forças instintivas nela lutaram, que devoções germinaram, já é bem mais difícil deduzirmos ou intuirmos mas, pelo conteúdo das suas obras, constatamos que discernia bem a mutabilidade do mundo e  atrevia-se tanto a rebelar-se contra as mortes de pessoas valiosas, como também a considerar as desgraças naturais como ordenadas pela Providência divina, algo que na época o Marquês de Pombal e o seu círculo iluminista ou mais esclarecido não gostavam ou admitiam. Todavia, conseguiu  publicar cerca de vinte e três obras pequenas, dedicadas a pessoas importantes da corte e da província, talvez por o seu pai ser cirurgião e para receber mais protecções e leitores. 

Em 1993, a investigadora Isabel Morujão dedicou-lhe uma valiosa comunicação, Entre o convento e a corte: algumas reflexões em torno da obra poética de Soror Tomásia Caetana de Santa Maria, baseada na leitura das suas vinte e três publicações (constatando ainda como sinal de aceitação pública a existência de mais de uma versão manuscrita de algumas das suas obras), onde analisa  aspectos do diálogo entre a corte e o claustro, nomeadamente através do paratexto da publicação (os elementos constantes no frontispício, dedicatórias, poemas, licenças, censuras, etc.)  e a sua diferença em relação a outros de religiosas da época, comprovando ou reforçando o que dissemos: em todas as obras (menos uma) é o pai médico que apresenta a obra à Mesa Censória e que a custeia. Observa ainda como as dedicatórias escritas por ela e  dedicadas a pessoas importantes estabelecem essa teia de apoios, elogios, protecções, algo menos visível nos poetas que ela glosa ou que a poetizam, por serem de pouco reconhecimento posterior.
Isabel Morujão considera ainda como a melhor obra de Tomásia Caetana este Despertador Quotidiano, que precisamente possuímos, e que lemos e comentamos no vídeo sem saber da autora mais do que nas oito páginas da obra está escrito. Das três obras que li posteriormente talvez a que mais apreciei seja contudo as Saudosas expressoens de hum reverente, e obsequioso affecto na sensivel morte do desembargador Luiz Borges de Carvalho, de 1753, hoje digitalizada na web, e onde, depois de pedir na dedicatória a protecção de um Mercúrio, para não ser um Ícaro a cair dos céus, caracteriza muito bem rítmica e psicologicamente o magistrado justo.
Ora se ouvirmos o Despertador Quotidiano e entrarmos nele com uma hermenêutica não só religiosa mas também espiritual talvez se possam acrescentar alguns dados sobre a autora (certamente bem diáfana para nós no séc. XXI), quase que "acusada" de fazer entrar o amor profano no sagrado, ou usar a linguagem do sagrado em domínio profano, numa "contaminação discursiva".
Quer-nos parecer porém  que Tomásia Caetana tinha uma visão mais unificada desses dois aspectos, ou seja, no amor ao amado ou amada humano, expresso por exemplo num poema-dedicatória a um casamento, pode estar a amar-se o amado divino, ou mesmo o Amor em si. Esta unidade omniabrangente do Amor é importante de se compreender e realizar, em vez de se considerar falta de respeito, abuso e intromissão do profano no sagrado pela apropriação da sua linguagem...

                               

Também se pode destacar nesse seu Despertador Quotidiano, a trindade final do Proémio: "Gosta de Cristo a pureza/ Vê de Jesus a fineza,/ Escuta de Deus a voz", na qual, realizando-se uma hermenêutica mística, contemplamos e realizamos, numa entrada aprofundante no templo da nossa alma, o Cristo que é o Logos ou Inteligência Universal divina, a fineza ou gentileza do Jesus ser humano e, mais íntima ou importante, a audição da voz de Deus, no saber fazer o silêncio e no receber orientação, no nosso interior.
Curiosa ou propositadamente, soror Tomásia Caetana, vai replicar o ouvir na glosa final da sua obra, pedindo ao doce Pai que abrande seus rigores e que abra os ouvidos aos nossos pedidos, e nisso seguia o seu mestre Jesus de quem aprendera o "Pedi e ser-vos-á dado".
Poderiam alguns mais ortodoxos ou até inquisitoriais levantar as sobrancelhas a tal ousadia de uma "pirralha", que só teria em seu abono ter-se sacrificado pela religião desde a tenra idade dos doze anos e ser poeta sensível: o querer aconselhar o Pai a ser mais doce...
O poema todavia passou, quem sabe se graças à dimensão elevada, misteriosa e amorosa do Pai, de Jesus, tão diferente do ciumento e vingativo Javeh do Antigo Testamento (que por isso mesmo foi tão ridicularizado por Guerra Junqueiro e Fernando Pessoa), e chegou aos nossos dias, onde ainda tem encontrado almas ressoantes, como a Isabel Morujão e eu, que tentam ouvir sua palavra e voz ou sermo de soror poeta portuguesa do século XVIII, que em 1766 era declarada como a escrivã do seu convento, por seu pai, no frontispício das (por ela) compostas Queixas da Saudade na falta do Sereníssimo Senhor D. Manoel Infante de Portugal, aonde escreve «ponderando-se a circunstancia de nascer, e morrer Sua Alteza no mesmo dia; porq[ue] nasceo a 3 de Agosto de 1697; e faleceo a 3 do mesmo mez do corrente anno de 1766»,  na sua linha de sacralização do ser humano, caracteriza o príncipe D. Manoel «por excesso de amor constante» e compara-o a um «Celeste Serafim na virtude e na candura»... 
Amor constante, oração persistente, gratidão permanente, consciência espiritual mais desperta e admissão da existência dos espíritos celestiais e da nossa aprendizagem com eles...
Com esta leitura e notícia do Despertador Quotidiano, que em si significa intentarmos quotidianamente despertar da mutabilidade e dispersão para a pureza, fineza e vibração divina, desejamos que todos os geradores de tal publicação, e em especial a soror Tomásia Caetana de Santa Maria, se intercomuniquem e alegrem nesta comunhão do corpo místico da Tradição Espiritual Portuguesa que, transcendendo imanentemente fronteiras e limitações do espaço e tempo, na sua muldimensionalidade tão subtil e desafiante, sobretudo para quem medita, quer contribuir para a Paz, a Justiça, a Verdade, a Liberdade e a Divindade nos seres e no mundo...
Segue-se o vídeo do Despertador Quotidiano, como já dissemos, pela 1ª vez lido e gravado em simultâneo sem nada dela ainda sabermos...

                             

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Harold Bloom, "Omens of Millennium.The Gnosis of Angels, Dreams and Ressurrection", a critical review, specially on Angels.

                                                        

A critical review of the book of Harold Bloom, Omens of Millenium.The Gnosis of Angels, Dreams and Ressurrection. London, Fourth Estate, 1996.

The impression that remain with us at the end of reading the book, with so many approaches and references to Angels, is that the author,  an university professor, an american jew and a great admirer of the Mormon efabulation (that he sees as a return of the old gnosis), althought having made a very good research on the history of the Angeology in religion and literature and trying to convey to us that what he is sharing is the correct view from sufis, kabbalists and gnostics (and, why not, yogis?), and that the commum source of all these angeologies is the persian Zoroastrism, in fact  the exploration, even if well written and based in good references, sometimes is a bit manipulated, and not so true or neither enlightening in pratice.

Indeed, he has collected facts about the evolution of the understanding of Angels, coming from Iran and Babilony and from Zoroastrism and Kervanism  into Judaism, Christianity, Gnosticism and Kabbalism, mostly related to the Bible and around it, and makes a good contrast with the New Age superficial theory of Angels, sharing with wit or humour some interesting aspects of American religionism ("the New Age prose, which is of a vacuity not to be believed") for which he is surely well equipped, as he has written a book on The American Religion in 1992.

The emphasis in the Millennium, and the new prophets,  natural in USA, as he wishes and writes: "a nation whose quasi official high priest is the Reverend Billy Graham, author of Aproaching Hoofbeats: The four Horsemen, is rather clearly more likely than most other countries to have strong intimations of Millenium. Our Southern Baptists and Mormons, our Adventists, Pentecostals, and other indigenous faiths all have particular end-time prospects in view, and I have seen these as parts of this book's subject...».

 But with the passing of the border line of 2001 without  anything special happening in the world, and with the evolution of Mankind in ways not so much according to his millenium's wishes and profecies (like the one at the end of the book that Mormons will greatly expand), gives today to the book and title a bit a flavour of failure, or of the so used apocalyptical trend, that is made mostly of fears and expectations, human and messianic, but not truly spiritual and divine, even if at the end of the New Testament was aded the spurious Apocalipse, made by a imaginative christian zelot and atributed to S. John the evangelist, that had a long history of being taken seriously by generations and generations of zealots, scaremongers, believers, theologians and professional esotericists, and surely also by good mystics and theologians.

Anyway, Bloom is very keen in drawing the evolution of  the theological thoughts about Angels and Satan, arriving to the Apocalipse and then being superseded by S. Paul's suspicion or even hate of angels, fallen and unfalen (Ephesians 6:11-12) and after by S. Augustine narrative of an envious and prideful Satan already being or existing from the beginning of Creation.

After reading the book of Harold Bloom (1930-2019), if our objective was a better, clear or more active view of the Angels, we will be provided with much  information about their evolution in the history of religions but we may feel  a bit disapointed as he enters, for example, too much in the efabulations of the great Archangels and how men can become angels (specially in chapter IV), much based on late Testament productions of Enoch and other imaginatives authors-prophets and sources, notably the modern one "Joseph Smith doubtless by now is a ressurrected angel, another god-man, working for the welfare of the world's 10 milions or so Mormons."

In fact in the Introduction he recognizes that «the angels scarcely play independent roles until the very late Book of Daniel, written about 165 B. C.E., the time of the Maccabean rising against the Syro-Hellenes. In earliest biblical narrative, the Yahwist or J strand of the tenth century B.C.E., most of the angels are surrogates for Yahweh himself, and probably were added to the text by the Redactor at the time of the return from Babylon or soon afterwards. There is a wry Talmudic adage that "The angels' names came from Babylon" and I suspect that more than their names came from east of the Jordan. / The angelology of Daniel, and of the Books of Enoch after it, is essentially Zoroastrian rather than Israelite. Norman Cohn, an authority upon millenarium thinking, traces its origin to the Iranian prophet Zoroaster, who cannot be precisely dated, but who may go back to 1500 B. C.E., half a millenium before the Yahvist.»

                                                          

For the pratical aspect of knowing the Angels the author has no experience and even doesn't consider so much possible that, giving little or no value to the modern testimonies of awareness and vision of Angels. So, apart from John Milton and Emmanuel Swedenborg, he only accepts or sees Joseph Smith, the founder of the sect of Mormons, «the greatest, and most authentic of American prophets, seers and revelators», recognizing out of these only some sporadical literary expressions, like the ones in Raine Marie Rilke, in fact probably arising more by sensibility and poetic creativity than by true angelic experience.

His understanding of the valuable work of Henry Corbin, that he praises highly,  sometimes is not good, as when Bloom characterizes the subtle or imaginal world, between the literal and the intelectual, «for a religious believer, whether normative or heterodox, this middle world is experienced as the presence of the divine in our world», what is not the case and gives value to a very superficial and not experienced vision of God, happening in mostly of the believers. But his apreciation of Aldous Huxley's anthology Perennial Philosophy is important and is in line with the apology made by him of the need of reading good books instead absorbing superficial new age and digital fantasies.

Already in the second chapter, about Dreams as omens of spiritualiy or of Millenium or of the capacity of prophecy, Bloom presents very well the angeology of the main kabbalists of Saphed, like Luria and Cordovero, and their view of the voice of the angel that answers  in the dreams the queries made in vigil. For Harold Bloom, "the Answering Angel (maggid) remains the most shocking innovation in the entire history of angelology, as he and others like Rabi Zwi Wer Blowsky sees him like a man-made angel. Hayim Vital is also called or quoted, in one of the typical exagerations of kabbalists and messianics: “for every word that is uttered creates an angel”.

These aspects about the power of the words and sounds are indeed important but should be correct and not mystified. We could say better that some words and sounds uttered with more awareness, power, significance and consequences can attract some angelic blessings, or some not so good entitities or energies, or affect our different bodies and levels...

And we should say that the possibility of the spiritual or angelic anwers to our prayers or queries before entering into sleep  is something generalized in many traditions and not created by the kabbalists. We can say that either the spiritual self, or the guardian Angel, or the ancestors, guides or Masters, or the Unified field of energy conscience and information, the Logos or the Buddhi of the Yogis, that entangles all minds and souls, can indeed inspire anyone who merits or needs it, specially if prayer is done before sleeping.

The kabbalists are prone indeed to mystify, to exagerate, and they could be well called mystagoges, althought Harold Bloom prefers to give that title to Giordano Bruno, a so valuable humanist, or to the french philosopher Lacan...

On that chapter Dreams, on the subchapter On the Nature of Dreams, he mentions some interesting teories, like the ones of Lehman and Koukkou, that in dreaming we are revising childhood's conceptions with the latter ones, and one of Francis Crick that we are then unlearning the irrelevant material of the day, and so counseling us to forget them and not remember, as Freud wanted. I prefer to see that kind of dreams as a processing and development of the relevant material of the lasts days or even a preparation for the next day.

Harold Bloom confesses, what is not so so good about his sensibility, that “I am not more a mystic or a normative believer than Freud ever was” and he agrees that Freud doesn't give an adequate account of the nature of dreams, and  considers him the great blocking agent to find omens of the milenium on dreams, as Freud was all his life avoiding profecy, ocultism, telepathy, saying exactly in 1934 to his disciples: “Psychoanalysts are fundamentally unreconstruted mechanisst and materialists, even thought they refuse to strip the mind and soul of their as yet understood qualities. They study occult material only because they hope that this would enable them to eliminate once and for all the creations of the human wish from the realm of material reality”. And then Bloom points «that it is just on some other researchers opposed to Freud that we can see some light on dreams, like Wendy Doniger, Dreams  Illusions and Other realities, a specialist on Indian tradition, or Ludwig Wittgenstein critics of Freud's theories...», but Carl G. Jung, «masqueraded as a gnostic», was not at all apreciated by Bloom...

Harold Bloom tends to value two lines on dreams: that we are dreamed by others. Or even by the Angel, and goes to say: "What the Shekinah, or Fatima or the Angel of Christ gives in the dream ultimately is the image of the astral body, a man or woman all light". But this broad comparativistic identification of Angel of Crist, Fatima wife of Ali, 1º Shia Imam, and the Kabbalist Shekinah as being the some, seems also a bit just an intelectual afirmation by someone who has not such experience, and so it is weak, because only by inner experience can we know what level of reality or of imagination is being shown to our dream consciousnesse or even to spiriritual eye. But to claim that some spiritual entities or ideas  they can give only the image of astral body (although is not the lower conception of the theosophists but the one of the Greek-Romans classics - ochema- and Gnostics), is  reductionist because much more can happen and we should also attain that unification and vision of our spiritual entity by our own efforts, pratices and love.

The debasement, or downgrading, or materialization of the spiritual realities and experiences is typical of the USA's consumist and imperialist civilization and mindset, where Harold Bloom lives  and  we can see that by the incredible optimistic idea that «for at least two centuries now most Americans have sought the God within rather than the God of European Christianity».  Within the soul, with the Baptists, Mormons, Protestants, free churchs?

Anyway, beyond these exagerated nationalistic and kabbalist valorizations exhibited in the book and in these two first interesting chapters I - Angels, and II - Dreams, both in 90 pages,  Harold Bloom enters still in a III - Not Dying, where in the 1º subchapter is very critical of Raymond A. Moody, Kenneth Ring and of the industry (research, books and workshops) of Near-death experience,  and in the 2º subchapter - Shamanism, following sometimes Mircea Eliade's wrong understandings on Shamanism, as we can say that more than dreams, spiritual visions were essential; or still the mystifying affirmation that the shamans went to all Heavens and Hells, when in reality  they only entered or had some acess to the energetic and astral levels which are acessible generaly to mediuns, sorcerers, magicians. And then Harold Bloom sees and affirms Jesus as the universal shaman, considering the legend of descent to the hells and the 40 days as ressurrected on Earth as true shamanic accomplisments, much more than the near-death experiences and astral travels of the New Age.

In the chapters  IV - Gnosis, with five subchapters, on Hermetics, I, and Christian gnostics, II,  he defends mostly the hebrew roots of Hermeticism and Gnosis (what is not true) and of Gnosticism, but gives a fair approach to Valentinus gnosis and to the Gospel of Truth and Gospel of Thomas, from the Nag Hammadi texts. In Sufism, III, he quotes mostly Henry Corbin and Sohrawardi about Hurqalya and the imaginal world but mixes that with Ibn Arabi visions, sometimes loosing the right path to understand, at least rationally, what has to be lived and seen by the inner eyeIn the subchapter Metraton   he gives details of the weird speculations about this imaginative entity, like being  Jahve, the angel of Exodus, Jahoel, Enoch, Shekinah, Shadai, etc.   

And in the subchapter Isaac Luria, he expresses one more time his own division between the normative orthodow Jew and the adept of kaballa, and enters into the subject of the doctrines of the transmigration of souls, and concludes with the confession that the Shi'ite sufism, despite its imaginative boldness, neverthless conveys a more unified image of ressurrection than the wilder Kabbalh could accomplish.  And he finishes with V chapter -  Millenium, with two subchapters, American Centuries, and Gnosis of the World to come, where valuable but sometimes not correct statements or, better, conclusions are provided. In this last chapter, may be a bit manipulative or even cunningly, Bloom reaffirms the dependence of the Western world from Zoroaster dual conceptions and writes about the ethos of USA: «our agressive millenarism has verry little to do with Christian humility, and can be interpreted as a throwback more to the ancient Iranian sense of being the Chosen People than to the biblical sense of election. It was, after all, Zoroaster, and not the Hebrew prophets, who invented Western ideas of Hell and of the Devil, and so it is Zoroaster who is the ultimate ascestor of the full range of recent American millenarians, from the now-benign national icon, Billy Graham, all the way to such nativist groups as the Aryan Nation and the Pose Comitatus, unknowing heirs of the ancient Persians». 

In this direction of repudiating dualistic concepcions, there is a discarding of the Millenarism at the end of the book, pointing that there can be no Gnosis of the world to come, but only the Gnosis of the perennial innmost self, as Aldous Huxley so well had given so many examples in the true spiritual teachings of many traditions, in its classical anthology Perennial Philosophy, that personally I had to read with my first guru in India, in Riskikesh, Swami Kaivalyananda, an Advaitic Vedantic..

In a last apendix, a Gnostic Sermon, he shows the division of choice between the follower of the God of the covenant of the three religions of the Book, and the gnostic being, seeing these ones exemplified better in Valentinus and his followers, and giving to the gnostic an incorrect interpretation:«If you know yourself as having an affinity with the alien, or stranger God, cut of from this worlds, then you are a gnostic», as there is no alien's God affinity but only spiritual and divine reunification. He may say that this is a definition of gnostic negation of the material worlds and bodies, but the gnostic is mostly called with that name because he knows, or he has a gnosis about himself as a spiritual being,,,,

Manuel Duarte de Almeida e o seu contributo no " Antero de Quental In Memoriam", bem valorizado por José Bruno Carreiro.

                                           

Manuel Duarte de Almeida (1844-1914), foi um transmontano natural de Vila Real, estudante de Farmácia na Universidade de Coimbra, tal como o seu irmão Custódio, de Medicina, na época áurea de Antero de Quental e da sua geração, quando se abriram as portas à modernidade europeia em Portugal. Participou mesmo em Abril de 1864 na famosa saída dos estudantes liderados por Antero para o Porto, a Rolinada, em protesto contra o chefe do Governo José
Rolim de Moura, 1º duque de Loulé.
Após a formatura, embora tivesse exercido farmácia em Vila Real,
preferiu entrar na Administração dos Correios (tendo-se casado em 1880, com descendência) e depois (1902) na Direcção Geral de Instrução Pública, e dedicar-se à poesia, alguns dos seus poemas tendo tido grande sucesso e consagração, nomeadamente pelo seu conhecimento científico e amor a Portugal, e o  último deles, Vai Victoribus!  escrito contra o imperialismo inglês por ocasião do Ultimato de 1890, mereceu um forte elogio do seu amigo Antero de Quental, em carta do Porto, de 24-III-1890: «Recebi o teu admirável poema, que, esperando eu sempre muito de ti, excedeu ainda a minha expectativa. A tua linguagem simples, forte, intensa, é verdadeiramente clássica. 

Escrevo à pressa. Teu do Coração, Anthero de Quental» 

Ora o infatigável publicista José Bruno Carreiro, a propósito do último período de vida de Antero, transcreve na sua ainda hoje incontornável obra Antero de Quental, Subsídios para a sua Biografia, 1948, no 2º volume, páginas 227 e seguintes, parte do contributo de Manuel Duarte de Almeida no In Memoriam de Antero de Quental, considerando-o «tão importante que cada um dos seus pormenores deve ser fixado e retido, como contribuição de alto valor para o conhecimento do seu estado de espírito nessa época. Procurando encontrar o que poderia ter-lhe "armado o braço com que, deliberada e friamente, pôs termo à sua preciosa existência", o velho amigo de Antero começou por reconstituir o último período da sua vida"... E começa a transcrever algumas partes, com comentários interessantes, embora os primeiros parágrafos do contributo tenham sido omitidos, nos quais Manuel Duarte de Almeida defende o direito ao suicídio e traça uma breve síntese do carácter de Antero. Ora como escreveu com bastante conhecimento, já que era dois anos apenas mais novo do que Antero e foram amigos desde pelo menos  1863 até 1891, oiçamo-lo: 

«É preciso pôr, completamente, de parte a ideia de padecimentos físicos incomportáveis, que pelo desespero, levassem o Antero à trágica resolução, que tão inesperadamente pôs termo aos seus dias.
Tal hipótese é a meu ver, absolutamente insustentável - e só quem não conhecesse a rija tempera daquele carácter, um tanto desigual, é certo, mas heróico, mas dotado, em sumo grau, de todas as energias morais; só quem não soubesse do, relativamente, plácido e resignado viver do Antero nos últimos tempos é que a poderia admitir.
O Antero só era fundamental vulnerável aos sofrimentos do espírito, ao mal do pensamento, e creio bem que nunca o tormento físico, por mais cruel e dilacerante que fosse, lograria quebrantar-lhe a robustez de animo a ponto de o forçar a eximir-se-lhe por um acto de fraqueza. Não que eu capitule assim a solução do suicídio, em toda e qualquer hipótese que ele se produza. casos pode haver e há, com feito, em que o suicídio, longe de revelar pusilanimidade, de significar ausência de energia para arcar corajosamente com as dificuldades da existência ou para suportar o peso de amarguras e adversidades iníquas e inexplicáveis que nos couberam em partilha, é, pelo contrário, um acto de coragem serena e reflectida, uma prova autêntica de verdadeira grandeza moral. É escusado recordar exemplos históricos e por demais eloquentes, que sobejamente o comprovam e que a ninguém medianamente ilustrado é lícito desconhecer.»
Saltando estes quatro parágrafos e mais quatro, Bruno Carreiro começa a transcrever assim: "A derradeira fase da existência do Antero derivou pacífica e repousada. As grandes lutas morais e sobretudo intelectuais, que no seu espírito por vezes tão violentamente se debateram, haviam cedido o lugar a uma serenidade calma e filosófica, feita de decepções e amarguras, como é a sorte de nós todos, mas nem, por isso, menos sólida e resistente; a uma quase perfeita conformidade, em suma, com as condições humanas da existência, com as suas dores e as suas misérias, intransferíveis e inevitáveis, conformidade que era nele aureolada pelo divino reflexo da bondade moral que de si espargia e fortalecida pelo ascendente prestigioso que ele bem conhecia exercer no círculo restrito dos amigos que o admiravam e compreendiam... Os padecimentos físicos haviam acalmado. As insónias, aquelas pavorosas e memoráveis insónias, que tão horridamente o haviam torturado durante a época mais agitada da sua vida intelectual e que eram devidas, sem dúvida, ao trabalho incessante, trabalho profundo e exaustivo, do seu poderoso cérebro, no período de gestação e sistematização das suas ideias filosóficas, acabaram afinal por desaparecer completamente, permitindo-lhe um sono tranquilo e fisiologicamente reparador. [Nota: Luís de Magalhães, escrevendo para a Província em 25-IX-1891, confirma-o: «Há bons seis anos que o seu estado geral melhorara. A terrível excitação dos nervos acalmara; alimentava-se bem, ainda que uma só vez ao dia; e as tormentosas insónias, que tanto o haviam martirizado, só de longe em longe e excepcionalmente se repetiam»]. O apetite, e com ele o vigor físico – um certo vigor físico, é claro – voltou, como era natural. Dava passeios de légua, a pé, sem experimentar a menor fadiga, como por mais de uma vez me asseverou... Alimentava-se pouco e uma só vez por dia. Devo, todavia, acrescentar que esse pouco bastava à sua regular nutrição, como ele próprio o reconhecia, sendo certo que, desde muito, se habituara completamente a esse regime sóbrio e que possuía a inestimável felicidade de se dar bem com ele, sem que vez alguma sentisse a necessidade de o alterar». (pág. 228).

                            
Depois de afirmar mais de uma vez que Antero estava bem e satisfeito com o seu regime dietético, bem como com a construção filosófica a que chegara, Duarte de Almeida interroga-se quanto a ele necessitar de partir para os Açores e narra algumas das conversas que tiveram nas quais Antero confessou que «as suas queridas pupilas estavam senhoras feitas. Acabavam de sair do colégio; precisavam de entrar no mundo, de abandonar aquela monótona e arredada tebaida de Vila Conde». Depois havia a conveniência de uma casa grande: «O Antero não podia prescindir de casa espaçosa e ampla, com um vasto salão, pelo menos, onde pudesse isolar-se, em plena liberdade, passear de extremo a extremo, quando o seu espírito nervosamente exigia concentração criadora, a ausência de todo o ruído, o afastamento de toda a comunicação com o mundo exterior».
E por fim precisava de um ambientes sereno e livre da agitação lisboeta para «reduzir a sistema o conjunto de as suas ideias filosóficas, de as coordenar e fundir em corpo de doutrina, dando-lhe a forma arquitectural e técnica, a definitiva redacção, em suma (...) Para um tal empreendimento, Lisboa não lhe podia convir» pois «a intriga é enorme, trovejante, ensurdecedora (...) e nenhuma ideia convergente, nem sombra de pensamento patriótico - sincera e desinteressadamente patriótico - salvas raríssimas excepções, entre tantos alvitres opostos, tantos desalentados queixumes, tantas invectivas pessoais e miseráveis intrigas e inconscientes afirmações do mais impudente e desvairado egoísmo!»
São muito interessantes os sucessivos parágrafos em que Manuel Duarte de Almeida, amigo íntimo de Antero, reconstitui os diálogos tidos com Antero, com uma linguagem por vezes tão invulgarmente astral que ficamos siderados. Atente-se aos efeitos da "absurdeza e puerilidade das ideias emitidas pela vacuidade vertiginosa de uns cérebros", pois «em tais condições é impossível pensar. Toda a serenidade, de que o espírito necessita, esfarrapa, dissolve-se na bruma espessa, gelatinosa, desse meio asfixiante, dessa bisbilhotice mórbida, tão incorrigível, quanto insaciável, ficando-nos, de tudo, uma grande sensação de fadiga, de aborrecimento, de insuperável e apavorada repulsão.»
Quanto ao suicídio, considerando ser «difícil coisa, em verdade, averiguar e surpreender num espírito tão complexo e profundo ( e ao mesmo tempo tão cândido e cristalino!) as causas psicológicas, que poderiam determinar tão irreparável resolução põe a hipótese então de subitamente, num dos seus rompantes e assentes no seu sistema nervoso frágil, na sua "hereditariedade mórbida", considerando a imperfeição do seu trabalho ou escrito, que já o levara a rasgar o Programa de Trabalhos para as Gerações Novas, decidir partir da Terra, já que se desiludira da perfeição da sua filosofia. Não cremos contudo que seja esta explicação, pois não houvera descobertas que suscitassem tal derrocada de uma construção ainda hoje válida filosoficamente, embora certamente com outros conceitos, tais os da física quântica, a sustentarem-na, mas são valiosas as caracterizações que faz da demanda filosófico-espiritual de Antero, do seu sistema, muito ainda no séc. XIX, e certamente a sua espiritualidade ter-se-ia erguido mais fortemente senão se tivesse embrenhado tanto na filosofia alemã...
                                        
Mas oiçamos então a hipótese posta por Manuel Duarte de Almeida: «O sistema filosófico do Antero, a aliança íntima do espiritualismo e do materialismo, indissol
uvelmente fundidos num misticismo superior e transcendente, seria, na realidade, um sistema perfeito, impecável, absoluto, invulnerável e inacessível à acção e à influência progressiva das ciências físico-naturais, que na sua ininterrupta evolução têm feito ruir por terra as maiores produções do espírito humano, para as substituir por novas fórmulas e novas concepções, que, a seu turno, cederão o lugar a outras que melhor corresponderão e satisfaçam a um mais adiantado grau de civilização?
- O meu sistema é sólido, indefectível, dizia-me o Antero um dia, no quintalzinho das Águas Férreas [no Porto, na casa de Oliveira Martins], ao terminar uma saudosa e ameníssima palestra, em que, largamente, me expusera a súmula das suas ideias. E, tomado de crescente entusiasmo, prosseguiu: Como vês, assenta maciçamente no solo, sem precisar de escoras. Eleva-se por si, naturalmente; não carece do auxílio emprestado de estranhas teorias nem de vagas hipóteses ou postulados iniciais. O progresso das ciências físicas, seja qual for, há de fazer-se dentro do meu quadro e não virá senão confirmar, cada vez mais, a solidez indestructível da minha construção.
Tal era, com efeito, a sua convicção íntima no momento em que me falou. Mas o espírito do Antero era eminentemente progressivo e móbil, de uma plasticidade inigualável ou só igualada pela sua insaciável sede de saber. A dúvida, o monstro incoercível e informe, o lendário abutre do Prometeu, mordia-o, espicaçava-o, de contínuo, como sucede a todos os espíritos daquela envergadura e compleição. E se ele viesse a descobrir uma falha, uma fenda, por onde o seu grandioso sólido edifício? (...) Verificada essa impossibilidade, ou como tal julgado, de conseguir esse desideratum supremo, cessou toda a razão de existir. Avivarei este tópico essencial, que cumpre não esquecer: os combates de ideias foram sempre os que mais violenta e dilacerantemente se travaram na personalidade moral de Antero. Era do pensamento sobretudo que ele sofria, muito mais que do corpo ou ainda do coração.»
Discordamos da hipótese da desilusão filosófica, como já dissemos, pois as últimas conversas já nos Açores não a confirmam, e provavelmente Manuel Duarte de Almeida desconhecia os problemas de Antero com a irmã a propósito da guarda e educação das crianças, quanto a mim o factor decisivo do suicídio, tanto mais que se tinham tornado, tal como são mencionadas neste contributo, "mulheres feitas".
Como o preito da amizade profunda é expresso várias vezes neste contributo e com uma qualidade tão grande, concluiremos esta breve homenagem à amizade de Manuel Duarte de Almeida e Antero de Quental acrescentando, de outras partes do seu contributo para o imortal In-Memoriam de Antero de Quental, as que Duarte exprimiu no seus dois últimos parágrafos:
«Sim. Nestas breves e descoradas linhas, não procurei tracejar um Antero sobrenatural e fantástico, para ter o pretexto e o prazer de lhe acolchetar depois os factos e os comentários críticos, e bordar sobre essa criação da minha fantasia um tecido cintilante de imaginosas pedrarias, de tropos faiscantes, ou recamado de eruditas e autoritárias considerações.
Narrei singelamente factos: formulei conjecturas e induções; e se, de umas e de outras, não ressaltar, irrefragável, a evidência das conclusões alvejadas, destacar-se-á, pelo menos, espero eu, um pálido reflexo dessa imortal e radiosíssima figura - soberbo diamante preto, de incomparável e profundo fulgor, que nas letras portuguesas riscou tão inapagável e inconfundível traço - desse paladino idealista e intemerato sonhador, que, alfim, se partiu em demanda da sua fria noiva sepulcral, deixando nos corações dos que a amaram uma tão vívida saudade, uma tão indelével e espontânea e simpática veneração».
Foz do Douro, 24 de Janeiro, 1894. M. Duarte d'Almeida.

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Um poema espiritual, de Luz no Caminho, escrito ao som de "The fosse" - Wim Mertens, em 23.VIII.2021

Lisboa, 23.VIII.2021. Princípio da tarde, um poema espiritual. 


Cante a tua alma,

corajosamente,

contra ou acima de todas as oposições,

desferindo as setas que são orações,

a abrem as portas dos acontecimentos.


Mantém firme os teus objectivos maiores

a ligação ao espírito e a Deus,

o discernimento do que de subtil te rodeia

e a capacidade de apoiares o que vale.


Segue solitário, pois esse sempre foi a via

de quem quis subir à montanha divina,

embora possas encontrar almas afins

e cruzarem peitos e aspirações

na presença do Amor divino.


Liberta-te dos horizontalismos excessivos,

de tudo o que pouco podes modificar,

e consagra-te mais à realização interior

e partilha alegremente tal sobriedade

para que os antigos mestres encontrem em ti

ecos seus harmonizadores e inspiradores.

 

Nestes tempos de pestes e derrotas internacionais,

como não abrires mais os olhos e o coração

e saberes dialogar, apoiar e comungar

com os que à Verdade aspiram e se dão?


Um entre mil, dois num milhão,

que luta a da Humanidade mais luminosa

para se encontrar e saber comungar

a Verdade, a Justiça, o Amor e a Divindade.


Junto as mãos, cerro os olhos

À porta do peito bato e persisto

Até o resplendor do Amor

e do Ser Divino brilhar,

e nos encantar, alegrar e fortificar.


Tanta ignorância e egoísmo nas pessoas,

tanta opressão e sofrimento no mundo.

Quem consegue divertir-se ou dormir

quando tão grande é o clamor da dor?


Rasgo o meu peito corajosamente

que ele sangre de dor e aspiração,

e que saibamos derrotar a mentira

a opressão, e a insidiosa manipulação.


Circunsescrve agora a alma e avança.

Leva o fogo do amor lúcido acesso

e assume bem o teu corpo espiritual,

sintonizando aquelas luzes e estrelas

 dissipadoras da obscuridade e superficialidade

e que trazem o Graal do coração vivo,

prontas a reconhecerem-se na unidade Divina.

Fotografias no Gerês, Verão de 2021. Lux Dei!