sábado, 4 de abril de 2020

Marsilio Ficino. "Os três guias da vida, e um princípio de vida óptimo". Carta a Lorenzo Franchesi. Com gravação.

Eis uma carta, não datada, de Marsilio Ficino (1433-1499) a Lorenzo Franchesi, um escritor de Florença, poeta (nomeadamente com apreciados versos de homenagem na morte de Michelangelo) e membro da Accademia della Crusca e da Accademia Fiorentina.  
Marsilio Ficino, o médico da família Medici, o primeiro tradutor da obra completa de Platão e Plotino do grego para o latim, o animador da famosa Accademia Platonica, dedicou ainda a Lorenzo Franchesi uma carta prefacial no seu comentário ao VIII capítulo da República de Platão.
  A tradução que faço a partir da edição latina de Paris impressa por Dionysium Bechet em 1641, consultando a tradução inglesa (The Letters of Marsilio Ficino, Volume I. London, School of Economic Science, 1975) e desviando-me dela em alguns passos, e que pode ler mais em seguida, foi realizada porém já após a leitura gravada do vídeo que se encontra no fim, no qual só segui a tradução inglesa, embora adaptando-a na linguagem ou esclarecendo-a por vezes. Reproduzo imagem do texto latino da carta de Ficino...
            «Três  guias da Vida, e um princípio óptimo da Vida.
Três são os guias da vida. O primeiro é a razão, constantemente e cuidadosamente examinada. O segundo é a experiência das coisas, confirmada duradouramente pela tradição. O terceiro é a autoridade daqueles antigos, a saber, que tais foram que nunca puderam ser enganados facilmente por outro e que nunca foram vistos com desejos de enganar os outros. 
Por isto aplica mais o que é praticado do que o que é dito, pois muitos falam bem, mas poucos agem bem.
A melhor razão [princípio] de vida é que cogites e te esforces o máximo que possas para viver segundo a mente-inteligência-razão [mens], e sempre que estejas infeliz, recuperar tal estado de tranquilidade, pois quem da mente-razão cai, escorrega para o inferior..
Não desejes obstinadamente viver longamente no corpo, pois a duração das coisas corporais comparada com a eternidade é nada.
Para além de que na vida corporal temos de superar muitas coisas triviais.
A vida no corpo é punição e é chamada a morte da alma.
Esforça-te acima de tudo por esta só [alma], como o nosso Platão recomenda no Górgias, para que no tempo que por Deus te é assinado  vivas o mais optimamente possível, de tal modo que sejam evitados os suplícios do sofrimento duradouro e que sejam estabelecidos com o auxílio divino os fundamentos da vida eterna e feliz.»
Eis mais uma cartinha de Marsilio Ficino que traduzo (ver outras no blogue, bem como sua biografia), sem grandes elevações aos planos subtis e espirituais, ou aos mistérios da alma humana e da Divindade, mas da qual realçarei apenas, como prefácio ao que nos comentários gravados poderá ouvir, dois passos:
1º, a frase de esforça-te por esse Um, por essa alma espiritual que és eternamente e que te está tão escondida pela tua identificação ao corpo e o apego à personalidade, com seus desejos e repulsões.
2º, como deve ser nossa meta ou intenção permanente a  fixação ou unificação maior na mente ou razão pura, de modo a que não caiamos tanto no inferior ou nos sofrimentos, mas antes estejamos mais na paz e na comunhão, com o auxílio divino.
Isto vale até para os nossos tempos mais conturbados, em que não devemos deixar-nos enfraquecer tanto por medos e receios, manipulações, pressões outros modos de afastamentos do racional, do proporcional, do interior espiritual, de modo a sermos guiados pelo Logos, Razão-Amor-Inteligência-Ordem cósmica, e logo a estarmos numa sábia resistência prudente, amorosa e luminosa, sem necessariamente termos de ver tão negativamente o corpo, como de certo modo fazia a tradição platónica e Ficino segue no texto, conseguindo antes harmonizá-lo e utilizá-lo com sobriedade, sensibilidade e sabedoria.
                

terça-feira, 31 de março de 2020

Eric Kurlander, "Hitler's Monsters" and Corinna Treitel, "A Science for the Soul: Occultism and the Genesis of the German Modern", and their errors about Bô Yin Râ.

In his book Hitler's Monsters (London, Yale University Press, 2017), about the "supernatural imaginary" in Germany, from 1888 to 1945, with special emphasis in paganism, myths, secret societies, occultism, astrology and doctrines of national socialism, focusing mostly in the Weimar's period (1919-1933) and Hitler's time (1933-1945), the auctor, Eric Kurlander, professor of history at Stetson University, USA, although presenting a broad and detailed view of the actors, doctrines, groups and influences that shaped German beliefs and hates (as the monsters were mostly Slavs, Bolsheviks, Jews and Freemasons), has in it some sensationalism,  mitigations and contradictions and,  for our particular study in this article, three short misguiding statements about the German painter and teacher Bô Yin Râ, who lived from 1876 to 1943, having left Germany for Swizerland in 1923.
 I quote the full paragraphy: «Weimar artist craved "directed intuitive" experience and "self mystical deification" grounded in the occult. Hans Ewers, his fellow horror writter Gustav Meyrinck, and the poet Rainer Maria Rilke all drew on occultism for creative inspiration. Some experimented with Steiner's eurythmy, an occult meditative dance akin to Schertel's unconventional high school curriculum mentioned above. Others, like Meyrinck prefered theosophy. So did the German painter and poet, Joseph Anton Schneiderfranken (otherwise known as Bô Yin Râ), who claimed to have met the spirit of Jesus after years of training his mental powers. Even the great expressionist Russian painter Kandinsky read occult literature, such as Hubbe Scheleken's theosophical journal Sphinx in seeking to tap  into a creative unconscious that offered something less suited to the body than the soul»
It is understandable in such a big work some chapters had to be more superficial or with less knowdlege, as Erik Karlander is not so much a knower of spirituality or  even of esotericism, but more a historian of ideas and mouvements, and probably with some indulgence for Hitler and the Third Reich.
The writer on esoterism Julian Strube has made a very lucid and exigent review (Correspondences 5, 2017) about his shortcomings and may be even to some kind of valorization of Hitler and the Nazi party in terms of occultism, even if  Eric Kurlander prefered, with some reasons, to use the term "supernatural imaginary", that he justifies in this way: «I argue that no mass political movement drew as consciously or consistently as the Nazis on what I call the ‘supernatural imaginary’ — occultism and ‘border science’, pagan, New Age, and Eastern religions, folklore, mythology, and many other supernatural doctrines — in order to attract a generation of German men and women seeking new forms of spirituality and novel explanations of the world that stood somewhere between scientific verifiability and the shopworn truths of traditional religion.» Also dangerous, or in a certain way also lessening the bad aspects of nazism, some affirmations as the one: “Like any shaman or magician, the spoken word was essential to Hitler’s magic.”
But let us concentrate in the misguiding opinions: the first one is when he says that the  Bô Yin Râ was "a painter and a poet", as he was a painter and spiritual writer, a teacher or master with a magnus opera of 4o books, and not a poet, even if time to time he has given his teachings in poetry. In a certain way this characterization of Bô Yin Râ manifests either ignorance, either bad will, making him much less important then what he was in reality, as we know by narratives of Rom Landau, Corinna Treitel and magazines and newspapers of his time, or by his disciples, like Felix Weingarten, Baron of Winspeare and Rudolf Schott, that thousands of persons were reading his books.
The second error is when Erik Karlander says that Bô Yin Râ, as the writer Gustav Meyrink (1868-1932 and who made the preface of the first edition of The Book of Living God, that after Bô Yin Râ decided to cut, as their friendship finished), prefered theosophy in his path.
 We know that statement is incorrect even if recurrent, because we can read in many parts of his work Bô Yin Râ speaking against the errors, misconceptions and mystifications made by the theosophical founder Helena P. Blavatsky, and then by their sucessors. But, surely, it is natural that Bô Yin Râ
in young age had read some theosophical books, as they were very popular at that time.
Anyway, he explained that in a kind of presentation of himself, in a short book, writen in 1936, On my behalf :
«Every attempt to integrate my revelations, teachings and explanations into the systems of thought and perception found in the mysticism of an ancient oriental and later Christian orientation – simply because I make use of the linguistic and conceptual heritage these systems possess and they offer me a form which is currently without substitute if I am to make myself understood –, must lead with all certainty to a confused misinterpretation of my books». And then also:
«Even the most ingenious and well–read mind will fail to get nearer to what I have written if he approaches my teachings using measures he has brought with him, or derived from beliefs or philosophical “systems” close to his heart which explain the spiritual in the world. Least of all will one attain what could be found if the urge to make a hasty judgement leads one into counting me amongst the modern “Theosophists” or “Occultists”, or whatever other name they like to call themselves. For here too I have not anxiously avoided using the terminology current in these circles where it has offered me an aid to understanding.
All ancient oriental and later Christian mysticism was only possible in humanity because that of which I give an account was uninterruptedly present on earth from the first awakening of the eternal spiritual spark in the souls of a few earthly men in remote primeval times, – and a true understanding of the development of religious ideas presupposes a knowledge of this continual presence, in the same way one knows the law of gravity...
 I explicitly say here, once and for all, in the face of this foolish whispering and murmuring, that I have never, at any point in my life, had any allegiance or even belonged to these or similar corporations (for this too has been claimed!); likewise I have never shown any allegiance, directly or indirectly, to any political party in any country.
I have also never belonged to a “theosophical” or “occult” association and was never even a “pupil” of a member or associate of these societies and communities, nor of anyone who was well disposed to such assemblies.»

The third affirmation of Eric Kurlander, that Bô Yin Râ "claimed to have met the spirit of Jesus " after  years of training his mental powers" is also incorrect, as he didn't claim like that and it were not Bô Yin Râ's mental powers who gave him acess to the master Jesus, but his spiritual state of being a master enabled him to communicate with the others masters when it was needed or even wanted, as they are bound or united in an invisible spiritual communion, even when they are far away in time or space... 
It seems to me, that the auctor ignores and unrecognizes such a union of the masters of the Primordial Light ("Leuchtenden des Urlichts"), so axial in the teaching of Bô Yin Râ, and prefers to downgraded it to a kind of occult power by means of a long effort of concentration, in the way of many occultist work to achieve their magic feats. Also the expression "to meet the spirit of Jesus" has may be some intention of comparing to spiritism, something that Bô Yin Râ has considered more than once a dangerous pratice.
As without doubts his source was Corinna Treitel, who presented the image of Jesus in her book, with an incredible biased legend-explanation, specialy with the funny idea that after some theosophical training he achieved astral travel: «Bô Yin Râ. Jesus (circa 1932). A Theosophical guru whose followers included the writer Gustav Meyrink. Bô Yin Râ said he painted from real life. He claimed to have encountered Jesus in immaterial form during one of the many spiritual journeys he undertook according to Theosophical precepts. Rudolf Schott. Der Maler Bô Yin Râ (Munich, Franz Hanfstäengel, 1927), plate 19»
In the whole,
and taking in account that he gives only three lines to Bô Yin Ra, Eric Kurlander, shouldn't be seen  as so much against Bô Yin Râ, in trying to make it a ordinary theosophical reader, and in making him almost a fakir who after many years claimed to have seen or met Jesus. 
In fact that  opposition was more the case of Corinna Treitel, in his A Science for the Soul: Occultism and the Genesis of the German Modern, 2004, a broad study on the occult in Germany, but a bit confused as she divided the study and pratice of the Occultism in three areas: arts and creative process, aplied sciences and psychology, and Theosophy, by this name englobing all the ones practiced or developed  to achieve spiritual enlightenment. Or that name "theosophy"has become quickly taken to mean Theosophical Society and their so mixed and mystified theosophy pseudo-given by some of the so called Mahatmas or oriental masters. 
After that ocorrence, to call theosophists to Bô Yin Râ, or Rudolf Steiner (also not so well studied and treated by Eric Kurlander) or even Gustave Meyrinck, all of them distanciating themselves expressely from Theosophy and or Theosophical Society, is misguiding. In fact or not very well explained,  Corinna doesn't explain that and seems by the contrary to she is  biased (may be by being a theosophist) to catalogue Bô Yin Râ as theosophist and specially that he met Jesus in one of his travels in the invisible that he achieved by "following the Theosophical precepts". What a non sense...
It is so much probably from Corinna that Eric Kurlander has taken his ignorance about Bô Yin Râ, considering him just a painter and poet, following Theosophy and achieving the vision of Jesus "after  years of training  his mental powers", as Corinna Treitel uses exactly these same words some lines after in her book. It is possible even that Eric  Kurlander didn't read anything from Bô Yin Râ. It would be good for him to do it, and may be also contemplate some of his paintings...

sábado, 28 de março de 2020

A entrada tardia das andorinhas em Lisboa, sinalizada por gaivotas, nuvens, devas. 28.III.2020

Hoje, 28 de Março, pelo meio da tarde, veio-me de novo ao pensamento o atraso das andorinhas, face a um céu, ainda que crepitante das partículas do éter, silencioso pela quarentena do corona e a ausência delas. Seleccionei duas fotografias de nuvens fortes recolhidas há uns tempos em Évora e olhando o céu da minha janela, escrevi para o grupo que fundei Nuvens e Céus de Portugal, no Facebook, de certo modo interrogando o observatório colectivo que constituímos:
                                     Nuvens bem poderosas
Formas e dinamismos, energias e cores que nos inspiram e fortalecem...


 "I - E as andorinhas, companheiras fiéis dos céus Primaveris, por onde andam que ainda não as lobrigamos por entre nuvens e além janelas, purificando e alegrando o astral?"

Pus-me a trabalhar num ensinamento espiritual mas a dado momento interroguei-me, ouvindo invulgarmente gaivotas  a grasnarem bastante em cima e ao lado da casa, pelo que me levantei da mesa, fui à janela e vendo umas nuvens bastante escuras pensei então que elas estariam a anunciar chuva. Mas passou-me pela cabeça a ideia: queres ver que as andorinhas estão para chegar?
 Pouco depois, de repente, vejo na janela aberta um voo rapidíssimo de uma andorinha, e depois de mais duas que passam e desaparecem...
 E aí está na imagem o voo de uma delas, as que vieram anunciar em Março deste ano tão especial de 2020 a sua amizade fiel aos seres humanos e às suas casas e céus, e já referidas desde os tempos dos pitagóricos...
 Acrescentei então no que escrevera na página-grupo  Nuvens e Céus de Portugal:
"II- Afinal, afinal, após uma hora, uns gritos das gaivotas, e eis que vi o voo fulgurante de uma primeira e depois de três andorinhas, com belas nuvens a receberem-as e a abençoarem-nos. Demos graças e estejamos mais na comunhão da harmonia do Universo e da Divindade.
E legendei a imagem assim: "As andorinhas em seus voos alegres e purificantes", pois parece que limpam o astral de estagnações e obrigam os humanos a acelerarem a sua visão para as poderem acompanhar e com elas se alegrarem...
 
 As duas gaivotas que andaram a voltejar e a clamar nos céus pararam sobre o telhado e a chaminé da casa em frente, talvez por terem cumprido sua missão e me fazerem ver melhor as nuvens tão especiais que ali pairavam, e das quais só podemos pressentir ou intuir (por vezes fortemente, porém...) as presenças subtis que possam conter ou manifestar.
 
 E uma das gaivotas, a quem dirigi algumas palavras na língua das aves, levantou voo, qual grande pomba da Paz ou um "Fernão Capelo Gaivota", apelando e inspirando-nos a sabermos lutar pela liberdade, a harmonia das espécies (fim da crueldade animal no mundo e sobretudo na China) e a fraternidade entre povos (fim do imperialismo da USA, em especial na Síria, Iraque e Irão, Cuba e Venezuela) e dos genocídios na Palestina e Yemen...
 
 A gaivota calma observa do alto. Assim saibamos nós estar mais ligados ao espírito e ao nosso dharma (em sânscrito, dever, ordem ou missão) ou ainda, a nossa sensibilidade dinâmica espiritual...
 Saudações aos devas, anjos e mestres e a todo os que nos inspiram dos mundos subtis e espirituais, na acção justa e auto-consciente, na meditação silenciosa e na invocação divina...
 
Será que os devas, anjos ou espíritos da Natureza das andorinhas vieram com elas e se sinalizaram nestas nuvens invulgares, na hora amareladas, e que se socorreram das vozes das gaivotas para sinalizar a sua vinda?
Mistérios...
Demos graças todavia pela natureza e a Ordem do Universo mostrarem a sua beleza e reflexo da Divindade e possamos nós sermos humanistas face a esta tragédia do corona virus e não deixarmos que os habituais financeiros, políticos e executivos gananciosos, egoístas, violentos, anti-ecológicos ou mesmo imperialistas continuem a dominar, manipular e oprimir a humanidade e a destruir a Natureza...

quinta-feira, 26 de março de 2020

Poesia e comunhão na Tradição Espiritual Portuguesa: "Prudente e Corajosamente", com o Anjo da Guarda. 26.III.2020. Pedro Teixeira da Mota

 
 
                                                          ( Transcreverei em breve....)
 
                                      
Estejamos mais conscientes do coração e da cabeça irradiando luz e amor e, logo, coroados flamejantemente.
                              
Contemplado e escrito no final da manhã de 26.III.2020....
Por sociedades a todos os níveis, mas sobretudo humana, ecológica e politicamente, muito mais não-violentas, harmoniosas e justas, oremos e lutemos, prudente mas também corajosamente.

quarta-feira, 25 de março de 2020

Da mediunidade e da criação artística. VII cap. de " O Mistério da Golgota, de Bô Yin Râ. Com vídeo da leitura, por Pedro Teixeira da Mota.

  Mediunidade e creatividade artística, VII cap. d' O Mistério da Golgota", de Bô Yin Râ. Tradução...

«Parece muito difícil para as pessoas envolvidas em manifestações mediúnicas poderem prever completamente os resultados que surgirão das manifestações das entidades invisíveis em questão.
Recebam-se mensagens sublimes e longas, ou mesmo conselhos muito acertados para o quotidiano, que logo se está pronto a assumir a intervenção de elevados espíritos directores, estado este de coisas que pode chegar longe, confiando-se cegamente o destino da vida e o futuro material ao influxo dessas altas entidades espirituais.
Uma pessoa não se apercebe que está sob um tipo de hipnose e a entregar-se submissamente aos impulsos de uma vontade externa.
Expliquei detalhadamente no meu Livro do Além, e no Livro da Arte Real, assim como neste livro, os tipos de entidades que  estão verdadeiramente aqui em questão. Não se tratam de "amados desaparecidos" nem de "elevadas ou menos elevadas" entidades espirituais, mas de seres invisíveis duma parte do mundo físico que nos é em geral invisível.
Estas entidades não são boas nem más mas amorais. A única coisa que lhes importa é manifestarem-se aos humanos e a certas pessoas com dons psico-físicos especialmente apropriados, que lhes servem de instrumentos, e apenas para a auto-satisfação delas.
As entidades, de que tratamos, trabalham de acordo com a Ordem Cósmica, enquanto plasmadoras internas das formas do mundo de manifestação física.
Será uma surpresa  se, nas suas tentativas irregulares para se manifestarem num lugar por assim dizer impróprio, eles ajam também formando imagens?
Há toda uma gama completa de manifestações de tais entidades, que aparecem manifestando-se segundo os seus tipos de formadoras de imagens, e a tal caso pertence a utilização dos médiuns que desenham ou pintam quadros, o que na história do Mediunismo acontece frequentemente.
Eu próprio observei suficientes manifestações dessas, e ainda vivenciei coisas mais surpreendentes de tipo semelhante, apenas com uma diferença, a de que eu tinha em meu poder essas entidades utilizadas pelo médium, de modo que elas tinham de fazer o que eu lhes ordenava.
É certo que tais manifestações no domínio da pintura parecem à primeira vista como bastante inofensivas, mas não é assim em absoluto.
Cada actuação das entidades em questão exige do médium que ele renuncie completamente ou quase completamente ao seu próprio impulso de vontade e entregue as suas forças  a entidades que apenas procuram o seu próprio prazer, sem qualquer sentido de responsabilidade, pouco importando que a alma do médium permaneça intacta ou não.
Estas entidades procuram e encontram instintivamente em qualquer momento  o ponto de menor resistência da sua vítima.
Elas lançam a cada um o engodo que ele morderá.
Sobre as forças da Alma, que elas utilizam, trabalham estas entidades tão nocivamente como os bacilos e outros micróbios sobre as forças do corpo físico.
Nunca pode ser demasiado cedo a consciencialização que se deve tomar do perigo, mesmo que tais fenómenos possam ser "belos", "elevados", "interessantes"
Mesmo quando na altura nenhum dano se nota, ainda assim ele permanece e na maioria dos casos, nos quais as pessoas não combateram a tempo o perigo, os danos são irreparáveis.
Nunca se consegue alertar suficientemente quanto a tal jogo com entidades que escapam a qualquer controlo
Certamente cada verdadeiro artista é pelo seu processo criativo um servidor do seu Deus interior.
Certamente ele conhece a audição para o íntimo e o silêncio interno.
Certamente ele também não sabe dizer quando vem o espírito, que o "preenche"!
Mas quando e onde teve um artista criador de abandonar-se a este espírito tal como um médium - sentindo a sua mão conduzida mecanicamente e gerando obras que não foram determinadas primacialmente pelas suas capacidades?
Giotto:Jesus visionado como um serafim, flamejante de amor, por S. Francisco de Assis

Onde está o criador, de Dante até Goethe, de Giotto até aos nossos pintores modernos, que não teve que lutar para conseguir exprimir o que o movia interiormente, que não teve durante anos de estudar para adquirir a base através da qual se pode tornar um servidor de Deus?
Nunca a inspiração do artista lhe retirará de si mesmo o comando das forças criativas, nunca ele se tornará apenas um simples instrumento mecânico, pois é bem o contrário que acontece directamente.
Toda a capacidade criativa penosamente adquirida é convocada, cada qualidade de alma dos criadores torna-se consciente e viva em intensificação apropriada, todas as forças da alma tornam-se mais leves e livres, enquanto que o eu individual reina e opera num modo completamente inaudito e cheio de força, de tal modo que o artista uma vez reentrado na sua vida quotidiana, sente-se estranho a si mesmo e pode mesmo não se sentir igual aquele que nas horas de criação soube trazer à luz todas as forças da sua alma, dum modo tão soberano.
Onde está aqui o que seja da passividade do médium, que apenas é movido como a coxa da rã sujeita à corrente eléctrica de Galvani, que não tem quase necessidade de prestar atenção ao trabalho a que empresta a sua mão, e cujo eu no fundo não tem absolutamente nada a ver com toda a história, já que aquele que verdadeiramente age explora a sua vítima tanto mais facilmente quanto ela lhe presta menos atenção - idealmente num autêntico estado de transe, ou seja por um completo abandono da sua consciência.
 Ao mesmo tempo, o que estas entidades através do médium produzem não é nada de original, pois elas são plenamente modeladoras das formas da Natureza mas não criadoras de formas, estando sem pensamentos próprios, sem uma ideia de que lhes seja própria e quando não servem o impulso cósmico seguindo a sua natureza, são obrigados a reunir o seu material juntando imagens criadas pelos cérebros humanos.
Por vezes apresentam imagens mentais ainda intactas para reprodução, de tal modo que é fácil reconhecer de onde extraíram o seu roubo.
Mas a maioria das vezes eles tecem as suas representações apenas a partir de uma desajeitada mistura de fragmentos heterogéneos, possam ser eles revelações mentais ou pinturas e desenhos mediúnicos.
É necessário  ter-se aqui presente com a mais clara transparência, a distinção entre criação artística e a actividade medianeira, senão caímos numa confusão de conceitos nitidamente diabólica.
Como consequência ergue-se em mim o dever, baseado no conhecimento mais seguro dos processos em questão, de falar de acordo com a verdade, e mais ainda porque esta variedade de possessão lemuriana é demasiadas vezes admirada como uma graça celestial e  eu quero neste livro separar nitidamente o que nunca se deixará unir.»
                            

Poesia Espiritual Portuguesa. Cantos e orações das mantas alentejanas. Burdas e Burkas. Por Pedro Teixeira da Mota. 25.III.2020.

Mantas protectoras, quais murais inexpugnáveis para as energias vitais e espirituais ora íntimas ora irradiantes, eis uns poemas visuais, quais mandalas orientais, ou a ode chamada Al burda (que já li) da tradição sufi ou tasawwuf, burdas, burkas, mantos ou mantas protectoras do calor vital, da identidade íntima e do amor divinal nos corpos e almas, pastoras, peregrinas, silenciosas, demandantes: nós...
                  
Qual escada para o céu, tracei sobre estas linhas e degraus de mantas tradicionais portuguesas e universais nossos nomes e palavras ascensionais e ofereci-te para poderes erguer também a tua alma ao cone Divino a que possas chegar, ou em que possamos unitivamente invocar, adorar:
 
Escada para o céu, sobe: 
Subirei contigo rumo a Deus. 
Avançarei firme contigo. 

Meu Amor, amo-te tanto! 
 Escuta, Amor, une-nos. 
Coração, brilha em amor.

Amada (o), Mestre, Divindade,
Comunguemos...
 
 
Ao alto, à estrela, ó filha ou filho de Deus,
clama o nosso coração ardente e irradiante. 

Assim aspiramos, a alma tua, a alma minha,
assim lutamos por harmonizar o ambiente,
para haver justiça e paz na terrena interacção
se realizar a sede de elevação e união,
pela sábia oração e meditação, 
pela  justa e libertadora acção.  
 
                      
Cobrirmos a nossa alma com a manta ou burda da aspiração e da devoção ao Amor,
Cerzi-la constantemente dos fios mais coloridos dos sentimentos e palavras mais luminosas,
Despertar mais plena e conscientemente o espírito imortal e torná-lo nosso corpo vivencial, em acções justas, sábias, multipolares.
Eis o caminho para a imortalidade consciente, na intuição e  comunhão com os antepassados, mestres, Anjos e Deus-Deusa, Divindade Primordial multifacetada em cada um de nós. 
Na teia ou rede de tecelagem, campo unificado de energia, informação e consciência, corpo místico da humanidade onde sonhamos e telepatizamos, manto da Feminidade, de Maria ou de Fatimah e da Gaia Terra que tanto precisa de ser respeitada, ecologizada, amada...
Avancemos sábia e luminosamente, vencendo todas as doenças e adversidades, todas as distrações e manipulações, divisões e opressões, com o coração ardendo no fogo do Amor Divino e na Unidade fraterna multipolar. 
     *********         
Escrito no final da manhã de 25.III.2020, ao redor de padrões de mantas protectoras, e por mim intervencionados, presentes em Mantas Tradicionais do Baixo Alentejo, de Ângela Luzia, Isabel Magalhães, Cláudio Torres, Caderno nº 1 do Campo Arqueológico de Mértola, dado à luz pela Câmara Municipal de Mértola, 1984, e a quem agradecemos a transmissão.

                                                            

terça-feira, 24 de março de 2020

Uma Mandala da quadratura do Círculo, na tradição espiritual, por Pedro Teixeira da Mota. 24.III.2020.

Sobre este desenho intervencionado, escrevi esta manhã, entre as 7:17 e as 7.47, o seguinte texto:
Uma quadratura humana e terrena do círculo da manifestação cósmica infinita: fazemos das quatro direcções principais do espaço uma geografia convergente no tempo para o ponto e palavra primordial, donde tudo brotou e a aonde tudo tende pela acção do Amor.
Mil raios, mil pétalas mil seres interagindo nesta harmonização da relação vertical norte sul, Deus e Eu e alargada ou expandida horizontalmente e socialmente no "Nós" fraterno e sanador e no "Tu" amado, sentido, e aqui e agora, bem dialogado e compreendido, conhecido e amado.
Geografia do corpo tratado, curado e amado, irradiação do coração invencível para os quatros cantos irradiando o espírito e o amor invencíveis para uma humanidade mais sã, eis aprofundamentos desta mandala de equação simples de A com B harmonizam bem C e D.
ABC de soletrarmos interiormente a geometria sagrada das palavras e orações e no silêncio convergirmos para o centro do espírito, sintonizando com a sua Fonte Divina, e nesta dinâmica de recolhimento recebendo do alto as inspirações e energias que vamos emanar no dia a dia para vencermos as dificuldades e harmonizar os contrários.
Uma mandala de múltiplos sentidos e direcções, com os mil raios prontos a serem usados pelas diferentes qualidades e nomes divinos, ou mesmo escritos ou preenchidos por si, em mantras, orações, contemplações e irradiações que fazem bem a si e a nós.
Uma quadratura do círculo fecundada e aberta pelo amor que brota do centro, de Deus e de cada um dos eus, até chegar a mim e a ti, unidos nesta comunidade ou corpo místico da Humanidade que luta pela saúde e a justiça, a beleza e o bem, a ecologia e a fraternidade, em suma a harmonia da Humanidade e da Divindade, na qual somos todos chamados a participar intensa e amorosa e invencivelmente.
Uma mandala para ser contemplada e colorida e unificarmos as vagas de pensamentos e entrarmos por círculos concêntricos do nosso ser e do cosmos psíquico nas suas dimensões e sentidos mais subtis e espirituais até se sentir ou ver mais a vida espiritual e a sua Fonte, Som ou Ponto Primordial.