segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Sobre a Oração, a Meditação, a Religião, o Amor, o Espírito, a Divindade. E o Caminho espiritual.

A oração-meditação é um momento anímico, ou um processo na biografia histórica e tendendo a superar as limitações do espaço e do tempo, pelo qual tentamos ligar-nos mais com o espírito, o mundo espiritual e a Divindade, ainda tão pouco conhecidos e vivenciados...
É uma invocação ou aspiração de comunhão do misterioso espírito, das energias e qualidades espirituais e divinas. E logo dos seres subtis, mestres, anjos, deuses ou faces da Divindade.
É também uma invocação e sintonização com o nosso ser mais pleno, com o ambiente subtil luminoso que nos rodeia ou ao qual aspiramos e com o corpo místico da Humanidade...
É um respirar mais profundo e consciente, inspirar e expirar energias, fazer circulá-las, verticalizar-se, fortificar-se, plenificar-se, ser, irradiar. 

É o invocar tais bênçãos, seja dos Espíritos da Natureza, seja dos mestres e Anjos e fazê-las descer sobre os alimentos e as refeições, os campos e as sementeiras, ou no nascer e no pôr do sol e comungar das energias e da beleza que unem a Terra e o Céu.
É dar graças por uma realização, uma purificação, uma cura, uma amizade, um diálogo, um amor...
É começar bem o dia, com a oração meditação sintonizante e recarregante, e fechá-lo, com a revisão do dia, pitagórica e harmonizadora, e a gratidão por tudo e a última aspiração a uma boa navegação onírica ou mesmo a ensinamentos nocturnos...
Assim, a oração-meditação-gratidão é união da Terra e do Céu...
Há muitos tipos de orações possíveis e  cada um deve encontrar a sua, ou as suas, a cada momento, com os companheiros dela (onde dois ou três se reunem em meu nome [Amor-Espírito]- eu estou neles) ou com os destinatários ou as intenções mais diversas, embora certamente a principal seja harmonizar-nos e poder ligar-nos mais ao espírito e a Deus, emanando tal estação elevada ou bênção...
Suponhamo-nos no Ocidente cristão: Podemos rezar o Pai nosso, adaptando-o até à nossa sensibilidade e religião pessoal, ou usando até apenas uma das suas petições e demorando-nos nela o tempo que sentirmos adequado a gerar o estado orativo, recolhido, iluminado. Mas a oração simples ao «Anjo da Guarda, minha doce companhia, guiai a minha alma de noite e de dia» também poderá ser muito luminosa e harmonizadora para nos aproximarmos do espírito e do Anjo e logo da bênção Divina. 

Mas o que é a oração, o que se entende pelo estado de oração sem cessar,  tão valorizada por Erasmo de Roterdão no seu belo livro Modo de Orar a Deus (que eu traduzi com Álvaro Mendes e contextualizei comentei) são questões a  investigar e aprofundar, relembrar e assumir no dia a dia, com perseverância, criatividade e até algum diário ou diálogo...
A mecanicidade com que se ora em geral não está muito de acordo com o que deve ser a essência da oração, genuína, profunda, verdadeira, e com os mistérios que nos rodeiam quanto à alma, ao espírito, à vida eterna, à Divindade...
A oração é uma aspiração do ser humano a uma melhoria de si próprio, dos outros e do que o rodeia em múltiplos níveis, é uma aspiração a mais Luz e clareza e deve envolver todo o nosso ser e brotar do interior, e ser sentida ao ser exprimida...
É uma invocação ou aspiração a que a sua essência espiritual desça mais sobre si, das alturas e profundidades em que ela se encontra.
É uma tentativa de harmonizarmos os pensamentos dispersos, as emoções instáveis e de conseguirmos no silêncio, na concentração, reflectir ou incarnar mais o espírito.
Muitas orações existem nas religiões que podemos utilizar, tal esta universal: Ó meu Deus, vem nascer em mim.  Mas nas indianas, tão ricas de mantras e da valorização do som subtil, o Anahata Nada, alguns como o Om Mani Padme Hum, o  Om Tat sat, o Tat Twam Assi são bem reconhecidos. Podemos também ir para atributos ou virtudes, ou as afirmações da unidade como o Islão e o sufismo desenvolveram,  tal o Allah Hu, como o universal expressado no:  Que o amor e a pureza nasçam ou estejam mais em nós. 

Om Mani Padme Hum, pintura de Bô Yin Râ
 O que é a tão primordial noção, no sagrado religioso, da pureza?  Para além das purificações e interditos tradicionais, outrora bem desenvolvidos nos Mistérios, é nós acreditarmos e sentirmos que a Divindade de algum modo está dentro de nós, é evitarmos o que dificulta  acolhermos ou sentirmos tal presença e é valorizar o que nos aproxima Dela e o que nos faz evoluir espiritualmente e que, portanto, verdadeiramente nos satisfaz, alegra e harmoniza animicamente. É saber cultivar tal no dia a dia, com os cinco elementos, com a ordem e beleza e com uma consciência mais alargada do ambiente que nos rodeia, da nossa aura e dos sentimentos e pensamentos que por ela circulam, abrindo canais para o alto e criando transparência e luz em nós...
Quem são o Buda, o Cristo, por exemplo? 

A palavra Buddha vem do sânscrito bodh que significa a qualidade de sabedoria, discernimento, iluminação,  designando  um ser que atingiu bastante, muito, plenamente tal nesta vida, o mais famoso sendo Gautama Buddha..
A palavra Cristo provem do grego Kristos, e significa ungimento, descida de energia espiritual ou divina em alguém, ou em especial num ser. É a tradução do hebreu Messiah e surge no Antigo Testamento aplicada a Ciro, rei dos persas ou iranianos, e ainda nas profecias visionárias de Daniel e Isaías da vinda de um Ungido,    sofredor num caso e  triunfante noutro, sendo por fim aplicada e reconhecida, para o Cristianismo e a maioria das outras religiões, na pessoa de Jesus.
Além deste sentido geral primitivo, pode ter o de ser a 2ª pessoa da Trindade na dogmatização trinitária cristã, a qual tem certas analogias com outras Trindades ou Tríades, tal a de Pai, Mãe e Filho, a do Positivo, Negativo e Neutro, ou ainda Céu, Terra e Humanidade, e poder-se-á considerar então seja como um ser seja como um nível psico-espiritual, caracterizável como amor-sabedoria,  o Filho,  a Luz, a Palavra que perpassa por tudo e todos, conforme  o início do Evangelho mais gnóstico de S. João. Os Cristãos dirão que Jesus foi a encarnação, ou descida à carne, única, de tal nível ou ser. 

Mas como se sabe tão pouco com certeza de tais níveis divinos, e como tal é bastante pessoal e subjectivo na alma de cada um, e não podemos esperar certezas científicas mas temos de ser nós a adquirir a ciência ou conhecimento que nos satisfaça e pacifique, devemos com paciência e equanimidade irmos avançando na demanda do Graal da Verdade neste mundo moderno onde tantos factores desequilibrantes se introduziram numa natureza harmoniosa mas que por culpa dos egoísmos e imperialismos é bombardeada e explorada, menosprezada, esgotada e queimada.
Venha a nós o Vosso reino, ou consciência, ou unidade, e Que o Amor divino brilhe em todos os seres são então  pedidos orativos  feitos não só à Providência Divina,  à Divindade e aos seus espíritos celestiais e humanos mas também a cada um de nós: 
- Tu, também tens um reino de Amor e Sabedoria em ti, no teu ser.  Desenvolve, cultiva e partilha tal potencialidade e realidade.
Que a maior consciência do sagrado da vida e da Presença Divina  se manifeste e venha até nós, desabroche a partir do coração espiritual,  pela nossa decisão e vontade, intencionalidade e perseverança amorosa e esperançosa.
Então oramos interiormente e exteriormente, na alma espiritual e no corpo social, o qual bem precisa pois está tão dilacerado e explorado pelas elites económicas e pelo partidarismo dos partidos e seus executores egoístas e superficiais, em geral os mais ambiciosos e menos religiosos e ecológicos, espirituais e fraternos.
Vemos assim a actualidade de aprofundarmos individualmente a oração e meditação, a religião e a espiritualidade, sem nos deixarmos cair nas novas eras superficiais e ilusivas, com tantas canalizações, alucinações e mistificações e, calma, racionalmente, espiritualmente, unindo os vários campos e níveis do saber e do  conhecimentos, tão em rede actualmente, para não nos deixarmos guiar por cegos e pseudo-iluminados, nem massificar e alienar pelos espertalhões de que área forem, de modo a irmos desabrochando por nós próprios, naturalmente sem drogas nem poções mágicas, nem dependências e sectarizações.
Descobre mais a Luz em ti e deixa que a luz ilumine o teu olho espiritual, ser e corpo, em comunhão com a Divindade, o Campo unificado de energia consciência, a Alma do mundo, a Tradição espiritual portuguesa, ou outra, a Perene...
E como a oração é também um acto social, ambiental, sem limites definidos na sua subtil irradiação convirá ainda interrogar-nos: a eficácia da nossa oração, seja por vivos seja por mortos, seja por causas, assenta em que factores?
Factores nossos, dos outros e do que os envolve e do que nos une e se comunica, em processos telepáticos, osmóticos e de ressonâncias que ainda sabemos pouco, como o genial poeta, infelizmente sem ter conseguido aperfeiçoar a sua oração e meditação, Antero Quental já há mais de 100 anos constatava e afirmava...
Estarmos com saúde, bem e logo com forças, parece importante, pois a nossa oração pode ser vista como irradiação energética, emotiva, psíquica e espiritual...
Se estamos doentes, fracos, com pouca energia, a força dinâmica da nossa oração por si só é mais escassa, embora as virtudes e méritos psico-espirituais possam ser grandes e por aí ela ter eficácia.

Mas mais importante será a capacidade de termos entrado já na nossa dimensão de seres com corpo e coração espiritual  e com intencionalidade e unidade, conseguirmos ver e visualizar, invocar e evocar o que será bom para os outros e o planeta...
Qual a pessoa que poderá rezar melhor por mim no mundo? Por quem posso eu rezar melhor? Quem neste momento precisa mais da minha oração, ou seja, de algumas energias psico-espirituais luminosas para a sua alma, ou ainda invocações da graça divino-espiritual? 

Sabermos orar e meditar melhor, ou seja, com mais eficácia, com mais energia do coração e com mais ressonâncias e bênçãos concretizadoras é então importante...
Devemos reconhecer que há certas pessoas que têm mais canais ou laços,  afinidades ou proximidades íntimas entre si e connosco e assim podendo-se apoiar e fortificar mais...
Embora seja difícil deduzirmos e quantificarmos tais factores ou aspectos, tais como o conhecimento há mais tempo, a maior intimidade vivida, por quem sentimos mais amor e quem o sentiu muito por nós, família espiritual vibratoriamente, ainda assim volta e meia devemos pôr esta questão e ir dedilhando alguns mantras e orações e deixar que venha ao de cima, por entre a potencialidade geral dos destinatários amigos, quem sabe surgindo no nosso olho espiritual, a pessoa
cujo cálice ou alma precisa mais de algumas energias que através de nós a poderão iluminar, fortificar, elevar....
Chakra do olho espiritual. Pintura em batik por Teresa Mester, professor de yoga.
 Alguns dos seres que já morreram e que foram nossos amigos podem precisar de nós, e tecer algumas orações e mantras na intencionalidade de os ajudar é bom, cruzando o no man's land, abrindo luzes e calores por entre as brumas do desconhecimento.
Saibamos ter um coração flamejante sempre a irradiar amor em geral e capaz de o concentrar para quem mais precisar de ser abraçado e cuidado, ampliado e iluminado.
Que o Amor divino arda e brilhe benigna e sabiamente em nós...
Que estejamos em oração incessante pela consciencialização do coração espiritual e da comunhão na Luz, no Amor e no Som ou vibração divina...
Demos graças, vivendo harmoniosamente,  à Natureza, à Humanidade, aos seres espirituais e angélicos e à Divindade, e às Suas manifestações, faces e atributos, amorosamente, luminosamente.

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Dos espíritos da Natureza, das árvores, dos incêndios, das reflorestações boas ou más e da Esperança.

Pintura do dinamarquês Hans Andersen Brendekilde e enviada por Gisele Verilo.
Esta fada, hamadrídade, ou espírito da natureza, pictograficamente humanizada, fala-nos de um nível subtil de seres e de vida que é completamente ignorado nas cíclicas discussões inconsequentes acerca das tragédias e prevenções dos incêndios florestais - das suas causas, descoordenações, incompetências, interesses ou agentes ocultos e criminosos -, e que ano após ano arrasam, calcinam e destroem partes importantes e vastas do corpo terrestre de Portugal, cada vez mais desertificado e artificializado, reduzido já numa proporção significativa nas cidades e eucaliptais a uma manjedoura turística e a pasto da indústria do papel...
Os milhares de Espíritos de Natureza, para não falarmos de insectos, de aves, de animais, que desaparecem ou morrem com os arbustos e as árvores, algumas delas centenárias e que deveriam estar protegidas, vivenciam nos incêndios grande sofrimento, e tudo isto é uma tragédia incalculável que só quem percorre as zonas a arderem ou pouco depois de ardidas é que pode ter alguma subtil e fugaz sensação ou intuição...
Fotografia tirada no Gerês transmontano, de zona ardida e a arder. VII-2018
Mas como nem casas nem animais frequentemente contam, para não falarmos das pessoas quando os fogos são ateados criminosamente, também falar do sofrimento das árvores em si e nomear os espíritos da natureza, gnomos e duendes, fadas, sílfides, elfos, dríades e devas que possam estar ligados a elas ou aos seus ambientes naturais, pouco ou nada dirá à maioria das pessoas, se é que não as fará rir...
Mas quem tem mais experiência, conhecimento ou clarividência afirmará a existência de tais seres e como a mentalidade materialista, consumista, superficial, tecnocrática e insensível está destruir o planeta e de vários modos a humanidade, em cadeias de reacção que apenas agora estão a ser mais notadas devido à excessiva perturbação dos equilíbrios e ritmos climáticos pelo aquecimento global e pela brutalidade de bombas e mísseis que diariamente explodem no planeta, em grande parte devidos ao America first, logo seguidos da Inglaterra, da Nato, da Arábia Saudita e de Israel, com os seus coligados e terroristas, que têm posto sobretudo o Médio Oriente, mas também a Ásia e a África (em especial o povo do Yemen, pelos carniceiros governantes sauditas, armados pelos ingleses, espanhóis, canadianos e norte-americanos) a ferro e fogo, causando ainda uma mortandade, sofrimento e destruição imensa, para além de um êxodo de refugiados que buscam o paraíso europeu ou Ocidental mas tragicamente morrendo ainda muitos na travessia dos desertos e mares.
O que podemos nós fazer? Pouco à grande escala, na realidade, pois a classe política, em geral mas especialmente a dos já mencionados países, está em grande parte surda e cega à natureza e à humanidade, vendida ao dinheiro, a posições e ambições, sistema capitalista opressivo e imperialista.
E a maior parte dos partidos só estão interessados em defender-se, se estão no governo, ou atacar se não estão, mas verdadeiramente sensibilidade à terra, à agricultura biológica e à floresta natural mediterrânica, aos parques e zonas de reserva agrícola, encontrar-se-á, em Portugal, talvez no PAN e numa ou outra das deputadas do Bloco de Esquerda e eventualmente numa mão pouco cheia de deputados de outros partidos...
Sem se poder esperar muito, apesar das cíclicas promessa pré-eleitorais, de uma classe política refém do dinheiro para os seus partidos, ordenados, reformas e parcerias, pouco sensível, culta e bastante incompetente na sua maioria, dependente de quem lhes  manda ou paga, cada pessoa terá então de localmente de tentar harmonizar os ambientes, as terras, as comunidades, não se deixando alienar, vender, manipular ou algemar e, resistindo aos fogos, às eucaliptizações, à desgovernação florestal nacional, criar redes de informação, partilha e ajuda, desenvolver plantações e semeaduras das espécies autóctones e resistentes, cooperar com comunidades alternativas e finalmente participar em encontros, feiras, mercados, associações...
Eis um pequeno requiem pelos seres da Natureza, para não falar dos seres humanos de Pedrogão ou de um ou outro bombeiro, tombado algo ingloriamente numa batalha na qual não se vê da parte dos governos ou dos ministros, ou até municípios e munícipes, vontade de verdadeiramente vencer...
Talvez se possa dizer ainda que lamentavelmente as prioridades nacionais estão muito distorcidas e o dinheiro nacional e internacional é mais aplicado em pensões e reformas elevadas, na protecção do bancos e dos seus gestores corruptores e corruptos, em espectáculos e partidos, enquanto a terra portuguesa se deixa ao abandono ou a arder pois os eucaliptos (secantes e desertificantes) crescem rápido e rendem mais que os sobreiros ou carvalhos, castanheiros ou nogueiras, freixos ou oliveiras...
Haja contudo esperança numa revolução ou evolução das mentalidades e na muita gente nova que está já a viver no campo e desenvolvendo permacultura, a agricultura biológica, a biodinâmica e, comunhão com a Terra e os seus espíritos da natureza, preservando a sacralidade ou divindade da Terra e das árvores em Portugal e não deixando ficar reduzida a écrans de telemóveis ou de computadores a visão subtil dos portugueses, antes harmonizando-se com os nascer e pôr do Sol, as flores e árvores, os regatos, os cantos das aves ou dos animais, as joaninhas, os bosques e jardins encantados, os espíritos da Natureza e o Arcanjo de Portugal... 
Assim a grande Alma Portuguesa não ficará demasiado calcinada ou seca pelos incêndios, eucaliptos e alienações modernas, mas poderá viverá mais harmoniosa e inspiradoramente nos ambientes e em muitos de nós... 
Pintura do alemão Bô Yin Râ
                                           Post-scriptum
Como este texto nasceu da calamitosa destruição da belíssima e tão fragrante serra de Monchique e dos seus eco-sistemas, um ano depois de outra mítica zona florestal, o pinhal de Leiria ter ardido, duas tragédias imensas, duas amputações tremendas no corpo psico-mórfico de Portugal e que só num país da bola, da alienação televisiva, do partidarismo cego ao Bem Comum, e da impunidade financeira e política, acontecem ainda, partilho uma imagem única da alma sensível e subtil Monchique, dos seus bosques e arvoredos, desenhada a carvão em 1920, por esse notável  pintor algarvio Carlos Augusto Lyster Franco, certamente tristíssimo do outro lado da existência com a incompetência e insensibilidade dos dirigentes políticos e de tantos agentes económico e sociais... 
                           Como se reflorestará a serra de Monchique? 
Só há dinheiro para tapar os buracos dos gestores políticos e financeiros, ou para os seus ordenados, benesses e reformas, ou finalmente utilizar-se-á algum dinheiro pelo Portugal perene e far-se-á  não a gananciosa e destrutiva eucaliptização mas a correcta reflorestação autóctone e uma melhoria dos parques e zonas protegidas? 
Esperemos que sim. 
E que assim as fadas e duendes, dríades, elfos e demais espíritos da natureza se alegrem e dinamizem a natureza viva, colorida e alegre...

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

A letter of Carl Gustav Jung critical of some spiritual teachers: Blavatsky, Steiner, Bô Yin Râ, Gurdjieff, Ouspensky and their books. 1954.

A significative letter of Carl Gustav Jung (1875-1961), already in his maturity, expressing his thoughts about some of contemporary spiritual teachers, like Gurdjieff, Ouspensky, Rudolf Steiner and Bô Yin Râ, and also about the Communists, was published in the Letters, vol. 2, pp. 179-180:
«13 July, 1954
Dear Herr [Fernando] Cassani
Best thanks for your friendly letter. I can only tell you that none of my books represents a "syntesis or foundation of my work" at least not in my view. I am not a philosopher who might be able to achieve something as ambitious as that, but an empiricist who describes the progress of his experiences; thus, my work has no absolute beginning and no all-encompassing end. It is like the life of an individual, which suddenly becomes visible somewhere but rests on definite though invisible foundations, so has no proper beginning and no proper end, ceasing just as suddenly and leaving questions behind which should have been answered. You do not know my later (and perhaps more important) works yet. I therefore enclose a list of them.
As for the writings of Ouspensky and Gurdjieff, I know enough to satisfy me that I have no time for them. I seek real knowledge and therefore avoid all unverifiable speculation. I have seen enough of that as a psychiatrist. You might as well recommend Mme. Blavatsky's Isis Unveiled or the compendious opus of Rudolph Steiner or Bô-Yin-Râ (why not Schneiderfranken?). Anyway, I thank you for your good intentions.
It is so difficult to establish facts that I detest anything that obscures them. You can attribute this to a déformation professionelle.
I naturally agree with that you say about freedom of thought. The Communist doesn't come into this category, since he doesn't think, but his actions are a danger to the public. If he thought, he would have found out his deceit long ago.
Hope you will excuse my freedom of thought,
Your sincerely, C. G. Jung.»
Let us give some more attention to this important quotation of Jung's letter: «As for the writings of Ouspensky and Gurdjieff, I know enough to satisfy me that I have no time for them. I seek real knowledge and therefore avoid all unverifiable speculation. I have seen enough of that as a psychiatrist. You might as well recommend Mme. Blavatsky's Isis Unveiled or the compendious opus of Rudolph Steiner or Bô-Yin-Râ (why not Schneiderfranken?)»
Gurdjieff
 We see that Carl GustavJung feels satisfied with what he knows and that he avoids what is not possible to verify, considering that the teachings of Gurdjieff (1866-1949), Ouspensky (1878-1947), Blavatsky (1831-1891), Rudolf Steiner (1861-1925) and Bô Yin Râ (1876-1943) are mostlty inverifiable, and that may lead to some psychiatric troubles, as himself as doctor and psychiatrist had already faced and helped to cure, or normalize in many or some cases...

At the end of the letter, Carl G. Jung gives a kind of justification for his severity of judgements: a déformation professionelle. In other words, he is so much a psychiatric that he sees easily possibilities of psychic problems in the life of the persons, coming from their occult, or religious beliefs or even, worst, visions and revelations... 
It is interesting to note the caracterization of the work of Rudolf Steiner, at that time already dead (1861-1925), as "compendious work", or, in other words, some books and many conferences that will become too much books. But we have in another letter of Jung's correspondance more condennations of Rudolf Steiner's teachings and clairvoyance, as he could read the Atlantean inscriptions but not the archeological ones of the Hittites:
"So long as Steiner is or was not able to understand the Hittite inscriptions yet understood the language of Atlantis which nobody knows existed, there is no reason to get excited about anything that Herr Steiner has said" – Letters, vol. I, pp. 203-4, a statement a bit exagerated as Rudolf Steiner could be misguided by his intuitions in many cases but that doesn't rule out the ones where he was really clairvoyant. And if in fact sometimes he went away from the truth with some imaginations or the successive reincarnations, in our days there is still many people aplying and feeling well his teachings on Waldorf education and health, using Weleda organic products and bio-dynamic agriculture, worldwide. About Blavatsky, Q. Judge and others, Isis without Veil, C. Gustav Jung is correct as the work is a patchwork of hundreds of books and thousand of informations, many obscure, decontextualized and mystified.
Rudolf Steiner...
About the spiritual painter and master Bô Yin Râ (1876-1943), that was born in a simple family of peasants of Baviera as Joseph Scheiderfranken, after questionning if he ever read any of his works (and it seems not) there is what seems a sort of irony, with a bit of class superiority, as he asks: "why he doesn't say that his name is not Bô Yin Râ, but the more prosaic Schneiderfranken, a tailor?"
Bô Yin Râ
 We feel bad with this kind of critic, just because he changed his name, arguing that its name of familly was a prosaic one, a tailor, probably saying that his ancestors were tailors. Even if that was true, what is the bad of having good manual artists as ancestors?
 Anyway Bô Yin Râ explained more than one time why he received that particular name, according to the caracteristic energies of his spiritual soul, from the oriental master who  initiated him when he was in Greece. 
Didn't Jung know that pratice from the Eastern tradition, or even in the West and christianity, or is he doubting about the reality of that claim and making Bô Yin Râ just a mystificator? 
Interesting is the fact that there is no word about his teachings, only the general inclusion in the inverifiable ones, when Bô Yin Râ so differently from many, asked people just to learn and realize and then know and affirm.
As the teachers mentioned have all passed away at that time of the writing of the letter, 1954, we can see that C. Gustav Jung is mostly desqualifying the teachings and the books, and in a response to Fernando Cassani who probably asked him about these teachers and their teachings. 
At the end of the letter Carl G. Jung goes a bit too much also against the common communist person saying that is someone who doesn't think and so his actions are dangerous for the public. We may feel the conservative side of Jung more visible in this way of expressing, probably also (or he want to believe) in a exagerated ironic sketch as we know of so many great thinkers and artists that were communists...
To finish, Jung asks forgiveness to Fernando Cassani, not for the expressions used, neither for the critical aspect or "déformation professionelle" showed, but for his freedom of thought...
A freedom fighter?
In a certain way, yes, as Jung is surely fighting against the possibility of errors and mystifications of occultism and of pseudo-spiritual teachers and teachings, so prevalent in the modern new Age mouvements and in most of the gurus, teachers and channelers of our days,  and against the Communism, with its good and tragic aspects for the evolution of Mankind, and in our days supersed by the omnipotent massification and alienation of people by the Media at the service of forces and beings of a elite surely against freedom and justice, truth and love. But most probably his psycho-spiritual limitations also blinded  him to see better in the spiritual realms and give truer judgements on the spiritual path and their teachers.
So, let us proceed with caution, either reading Carl G. Jung or the others, as human ignorance is still so vast, and let us be humble and search with eagerness and aspiration that inner Light of the Star (as in the engraving of Bô Yin Râ) in the path of Truth, and surely with mens sana in corpore sano as stone foundation.

domingo, 5 de agosto de 2018

Uma biografia de Johann Strauss por Higino da Costa Paulino, na "Gazeta Musical" de Abril de 1885.

    Johann Strauss, breve texto biográfico na Gazeta Musical, Jornal Illustrado Theatros, Musica e Bellas Artes, 1885, por Higino da Costa Paulino.
«Se a popularidade é uma das grandes bases para se atingir o imortal, Strauss tem, sem dúvida, nesse vantajoso elemento, a força bastante para que o seu nome floresça eternamente, circundado de grinaldas imurchecíveis, onde, por entre as rosas brancas e aframadas [avermelhadas] que lhe inundaram o túmulo, a palavra Saudade reflorirá a cada momento, sempre luminosa, qual estrela fulgurante, reflectida por milhares de corações, que a meio do Beau Danube Bleu, do Aimer, boire et chanter suspiram eflúvios de ternura, de êxtase, de paixão, que se convertem em homenagem imorredoira ao talentoso maestrino.
Para nós, Johann Strauss, não representa somente uma originalidade como músico, é um casamenteiro sem igual! O prestígio dele ascende, nesta segunda acepção, a regiões superiores às do taumaturgo português [S. António], e cremos bem que às do padroeiro de Amarante [S. Gonçalo]. No giro de uma das suas valsas, quando a musica vibra entusiástica e ardente, quando desliza mórbida e sonhadora, quando os braços se enleiam, os olhares se encontram, as frontes se tocam, e os corpos se apertam, quantos prelúdios amorosos se não entoam, quantos protestos loucos se não trocam, quantos contactos sagrados se não firmam!
Strauss é um propagador do matrimónio, e quando a sua inteligência deixar de produzir, a humanidade sentirá inquestionavelmente a ausência desse hercúleo sustentáculo da escola romântica, mais forte, mais invencível, mais invulnerável que os próprios Flaubert, Zola, Droz ou Daudet. Les Joies de la vie, bastam para destruir as impressões colhidas, durante horas de leitura, na Bovary [Madame Bovary, de Gustave Flaubert], na Raquin [Therese Raquin, de Emile Zola], no Nababo [de Alphonse Daudet] e no Monsieur, Madame e Bebé [de Gustave Droz]! 
Depois do realismo cru e positivo dos grandes reformadores da literatura exiba-se uma valsa de Strauss, alegre e fascinante, ver-se-á a transformação repentina que se opera! O idílio fulge no seu máximo esplendor, e não há a combatê-lo, quando a sedução pouco a pouco se infiltra no coração daqueles que se deixam arrastar pelos gorjeios dessa sereia que se chama valsa, pelo estilo desse cupido que se chama Strauss!
Se um dia a realidade volver a condenar o excesso de frases trocadas nesses momentos em que a loucura suplanta a sensatez, se ela vos exprobar, caros leitores, a precipitação com que fizestes a vossa escolha, num instante de alucinação, aplicai-lhe o Feu devorant, ou as Fantasies de poëte, e vereis como os tempos de outrora volverão a subjugar a incompatibilidade dos génios, a atenuar as deficiências da ménage.
Johann Strauss concentra no seu espírito toda a fortaleza dessa ciência musical que fez do seu pai um maestro distinto, e que preparou os seus irmãos José e Eduardo para os grandes triunfos alcançados em Viena. Johann foi mais longe do que eles, e se a Alemanha, a Rússia, a França e a Inglaterra conhecem pessoalmente o inspirado maestrino, o mundo inteiro o aplaude, porque as suas composições, são por todas ouvidas com um entusiasmo febril, como se uma alma nova, despreocupada, risonha, se infundisse nos corpos de todos que se embalam aos sons festivos e atraentes dessas músicas únicas na sedução!
Era para o comércio que o papá Strauss destinava o seu primogénito, mas a sua esposa, que reconhecia as tendências artísticas do pequeno, opôs-se tenazmente, e, não faltamos à verdade se dissermos que a primeira produção do Johann lhe custou alguns castigos bem severos, e até poucos animadores da parte do progenitor. Isto porém não lhe destruiu a vocação, e tanto assim, que devido aos conselhos do eminente Drexler professor de harmonia e regente de música sacra, que reagiu contra a opinião do pai, favorecendo as pretensões do pobre do rapaz, de maneira tal que aos 19 anos, em 1844, depois de alguns concertos públicos em que tomou parte, depois de haver recebido numerosos aplausos como compositor, debutava como regente dessa orquestra, que durante quinze anos se conservou debaixo da sua direcção, conquistando desde logo a fama invejável que desde então enflora o seu nome. Chanson d'amour, Ver luisant, e Sons de Rhadamante foram as primeiras valsas que revelaram o gosto exquis do estimado autor vienense.
Hoje sobem a mais de 400 as composições de Johan Strauss, e nem uma deixa de ser notável, apreciada, original e encantadora. Quatro editores ainda existem em Viena, que enriqueceram com as populares produções deste maestro, e se de começo não tivesse prosseguido na tentativa da música deste género, sua especialidade, a fortuna não lhe sorriria tão lisongeiramente. Como sorriu e sorrirá por longo tempo.
Casando em 1863 com a cantora Jelly Treffz, de quem enviuvou, Strauss cedeu a direcção da sua orquestra a seu irmão Eduardo e, retirando-se à vida particular, raras vezes aparece em algum concerto, não deixando contudo de se aplicar a novas composições.
É notável que sendo músicos todos os três irmãos, não exista paridade alguma na escola que cada um professa.
Johann Strauss, que nasceu em Viena aos 25 de Outubro de 1825, só encontra inspiração para esses trechos de baile, para tudo quanto denuncie alegria, vertigem e voluptuosidade.
José Strauss, já falecido, nasceu na mesma cidade aos 20 de Agosto de 1827. Na sua imaginação só havia lugar para o estilo melancólico, apaixonado, lacrimoso. Les Hirondelles du Village, bem confirmam esta verdade.
Edurado Strauss, que nasceu aos 15 de Março de 1835, bem pouco iguala a inteligência dos seus irmãos, entretanto o seu amor pela música inclina-se mais para o género clássico.
Hanslick, o célebre crítico musical alemão, assevera que se deve a Johann Strauss, e a ele só, o grande desenvolvimento moderno da walsa, que prometia finar-se nas antigas e acanhadas formas de que dispunha. Diz mais que o Danube bleu tomou as proporções de um canto nacional. Que todos entoam à maneira de um hino patriótico! É a Marselheza dos vienenses.
Entre as composições de Johann Strauss, com quanto todas sejam notáveis, as que mais célebres se têm tornado, e que recomendamos às nossas leitoras, são:
Valsas: - Le beau Danube bleu, Chanson d'amour, Ver luisant, Sons de Rhadamante, Les Feuilles du matin, La vie d'artiste, Les bonbons de Vienne, Les joyeux etudiants, L'echo des montagnes, Le Telegramme, La Renommée, Les mille et une nuit, Les joies de la vie, Legendes de la forêt, Le sang viennois, Les bals de la cour, Les Fueilles volantes, Bella Italia, Les Contes de fée, Aimar, Boire et chanter, Souvenirs de Convent garden, Sur les montagnes, Vienne nouveau.
Polkas: - Message de Pierrot, Hommage à Vienne, Madgyares, Fantasie de Poëte, Feu devorant, Sympathie, L'Eletrique, Polka des masques, Polka des echarpes, Express-polka.
Polkas-mazurkas: - Hommages aux dammes, Plaisanterie, Ville et campagne.
Quadrilhas: - Bal champêtre, Mascarade, sans souci, Slovianska, e ainda outra sobre motivos franceses.
Marchas: - Marche persanne (https://www.youtube.com/watch?v=33hbO3OEOSQ), Marche egypcienne, Marche russe, Fraternisation, Fête polonaise.
Operetas: - Femmes joyeuses, Reine Indigo, Carnavalle de Rome, Chauve souris, Cagliostro, Mathusalem, Reveillon, Collin Maillard e Orgie, todas cantadas com entusiasmo em Viena, Berlim, Berlim Paris, Londres, Hamburgo, Bruxelas e Amárica. O Barão Zingaro é a última produção do talento de Strauss e que breve vai ser sancionada pelo aplauso do público.»
Gino 
Assim escreveu, com toda a sua riqueza de vocabulário e estilo, Higino da Costa Paulino para o número 5º do 2º Ano da Gazeta Musical, da qual era o Director Literário, dado à luz na Quarta-feira 30 de Abril de 1885,  acompanhada do desenho de Strauss da autoria de Columbano Bordalo Pinheiro e já inserto no texto. 
 Gazeta Musical que se publicou durante dois anos, tendo como directora musical a sua amiga e notável artista Joséfine Amann, sendo a redacção e administração bem no centro de Lisboa, no Largo do Loreto nº 1, e tendo como sucursais em Lisboa Lambertini & Irmão, e E. Amann, e agências no Porto, a de Pastor & Cª e no Rio de Janeiro, a de Laemmert & C.ª. 
Higino e sua filha Helena, minha avó materna, em Goa.
São de destacar na biografia a originalidade das comparações de Strauss, mais casamenteiro que S. António e que S. Gonçalo de Amarante, ou ainda o emprego por Higino de expressões hoje muito olvidadas na banalização massificada crescente da linguagem, tal como o primeiro parágrafo  contém, gerando imagens e sentimentos interiores bem fortes e espirituais:
«Se a popularidade é uma das grandes bases para se atingir o imortal, Strauss tem, sem dúvida, nesse vantajoso elemento, a força bastante para que o seu nome floresça eternamente, circundado de grinaldas imurchecíveis, onde, por entre as rosas brancas e aframadas que lhe inundaram o túmulo, a palavra Saudade reflorirá a cada momento, sempre luminosa, qual estrela fulgurante, reflectida por milhares de corações, que a meio do Beau Danube Bleu, do Aimer, boire et chanter suspiram eflúvios de ternura, de êxtase, de paixão, que se convertem em homenagem imorredoira ao talentoso maestrino.»
  Ainda mais uns 14 anos o maestrino viveu, nesta altura já  com a sua terceira e última mulher Adele Deutch e gerando cerca de uma centena de obras, morrendo de uma pleuro-pneumonia aos 73 anos...
Da sua vida sentimental talvez se possa acrescentar que, seis semanas depois de ter morrido a  Henrietta Treffz em 1878, referida por Higino,  casou com a atriz Angelika Dittrich. Infelizmente não se conseguiram dar bem. O divórcio não tendo sido concedido  pela Igreja Católica Romana, obrigou-o a mudar de religião e nacionalidade, e  a tornar-se um cidadão de Saxe-Coburg-Gotha, em Janeiro de 1887, casando-se pela terceira vez em Agosto de 1887, finalmente com alguém com muitas afinidades,  Adele Deutsch, uma musa que o acompanhou e inspirou poderosamente para algumas das melhores obras finais. De destacar ainda as várias obras cinematográficas consagradas a Johann Strauss ou à família Strauss.
 As suas obras continuam a ser muito tocadas e apreciadas, e mesmo as valsas, sobretudo na Europa Central e na Áustria, não definharam como danças. A diversidade etno-musical da Humanidade é realmente de uma vitalidade prodigiosa e sem dúvida Strauss é de uma enorme alegria dinâmica...

sábado, 4 de agosto de 2018

A exploração do petróleo na costa algarvia é um crime ambiental. Manifestação na Cova do Vapor. 4-8-2018

Não ao furo de exploração de petróleo no mar do Algarve, não à poluição das águas e da fauna da costa algarvia, não à venda de Portugal para uns poucos de mafiosos ganharem, não à falta de democracia e transparência nas graves decisões tomadas, que deviam ser antes discutidas e plebiscitadas
No séc. XXI, quando cada vez mais se põe em causa o petróleo e se buscam as energias alternativas não poluentes, porque será que tal ambição gananciosa anti-ambiental ainda arrasta os menos portugueses dos principais partidos e um Governo de coligação dita democrática?
O que estará por detrás desta traição ao Portugal natural e até de um turismo de qualidade?
Imagens da manifestação artística, cultural, energética e espiritual realizada entre a terra e o céu, frente ao mar, na cova do Vapor, próxima da mais conhecida Cova Piedade, dia 4-8-2018 e onde fui desafiado pelo Alfredo Cunhal, da cooperativa e herdade biológica do Freixo do Meio...
Belos momentos, que tiveram panos coloridos para ficarem desenhadas certas formas mandalicas que foram filmadas por um drone...
Boas convivências com várias almas luminosas...
Muita gente nova pura, com vontade de bem, de harmonia, de trabalhar para além dos impasses da sociedade tecnocrática capitalista consumista que vai arrasando o planeta e ainda conta com muitos vendidos para se manter na sua senda de irresponsável destruição planetária...
Um bom banho no mar, a finalizar, no meu caso o 1º, sempre o melhor...
Ranshi, um activista da regeneração dos rios e aldeias ribeirinhas da Índia, e que dirá «a Natureza é a minha mestra, é com ela que aprendo», e uma índia da tribo dos Dakota norte-americanos, foram certamente estrangeiros bem luminosos presentes, a que juntam as muitas almas jovens, ou mais amadurecidas, de Tamera ou de vários grupos e associações de defesa do Ambiente e do mar do Algarve...
Fornos solares, com bom pão a ser gerado. Porque não haverá mais, tal como para o aquecimento das águas, nas casas? Que burocracias e monopólios abafam o desabrochar de uma sociedade não poluente? 
Esperemos que esta manifestação contra o fracturamento hidráulico e o lobby das poluidoras petrolíferas e do seu dinheiro corruptor, que aconteceu hoje na bela praia da Cova do Vapor, seja criadora de  ressonâncias psicomórficas que façam com que o furo e a exploração não andem para a frente, tal como em Ferrel em 1976 a tentativa de implantação de energia nuclear claudicou pela acção de muitos de nós mais idealistas e utópicos, entre os quais se contava o Afonso Cautela, pioneiro ecológico em Portugal, recentemente partido para os mundos psico-espirituais e que já homenageei num artigo neste blogue...
Oremos à Divindade, ao Arcanjo de Portugal, aos manes, vates e mestres de Portugal e aos espíritos da Natureza para que não deixem avançar esta destruição do Portugal natural..
               Juventude abnegada e com forte amor e aspiração a um planeta harmonioso
Um imenso coração, que transparecia a vários níveis de gente tão luminosa...
                                      

Poemas do Médio Oriente ardente, clamando justiça, paz e amor...
Recolhendo as bandeiras da esperança do Amor Universal e não dos bolsos dos "petrolificados"
As energias solares ainda são quase extra-terrestres em Portugal....
Dilogo animados entre o Alfredo, o Ranshi e eu... "Definitivamente creio nos espíritos da natureza ou Anjos que estão dentro ou por detrás da Natureza", responder-me-á....
Belo e querido Altar ou Kamidama do Mar, da Água, dos Sentimentos luminosos: Amor!
Os laços e bandeiras da Sacralidade da Terra e do Mar, na luta não-violenta face à tecnocracia poluidora e corrupta...
Amigos, Sangas, Comunidades, peregrinos, guerreiros pela sobrevivência da Natureza e da Humanidade...
                                                   SOL DIVINO, doador da Vida e do Amor
Mesmo na areia mais seca a flor pode desabrochar. Continuemos nas nossas lutas com esperança e o céu nos cobrirá do seu orvalho, a terra nos dará seus frutos e mais almas se encontrarão e religarão ao Ser Divino....

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Desenhos de José Pinto Antunes e escritos e poemas dedicados por mim a Attar e a José Pinto Antunes

 Tendo recebido há dias um belo desenho do José Pinto Antunes, da série de ilustrações geradas por ele para o poema do persa Attar, a Conferência dos Pássaros, e que esteve exposta na livraria galeria de arte do ISPA e para a qual contribui com o texto da exposição, já publicado neste blogue, resolvi hoje contemplar melhor o belíssimo desenho aguarelado que ele e o Hélder, da galeria Hélder Alfaiate, da Ericeira,  ofereceram à escolha e escrever um pequeno poema, algo na linha da poesia sufi ou amorosa de Attar, de Dara Shikoh, ou mesmo minha, por vezes... 
E assim o reproduzo tal como o escrevi entre a 19:00 e as 19:30 deste 3 de Agosto lisboeta, ardente, mesmo a 250 metros do curso do aurífero Tejo e das Tágides nossas...
Do mais extenso texto dedicado às pinturas e desenhos do José, sobre a Conferência das Aves, de Attar, transcrevo agora apenas os primeiros parágrafos, contextualizantes, seguindo-se a reprodução do meu poema a eles dedicado.
  «O belo poema metafórico de Attar, aliás Farïd al-dîn 'Attâr (1142-1221, em Nichapour, no Khorassan, Irão, e que foi um perfumador, ervanário, curador), intitulado Mantiq al-Tayr, o Colóquio ou Linguagem das Aves, ou ainda Conferência dos Pássaros, extenso nos seus mais de quatro mil e seiscentos versos, foi de todas as obras de Attar a que teve mais sucesso ao longo dos séculos, conhecendo-se algumas versões em diferentes línguas desde esses remotos tempos. No Ocidente, em França, houve traduções em 1819 e 1863, e no século XX e XXI alargou-se o número.
Corre entre nós uma das versões, mas abreviada e fraca, da
obra, sob o nome de Conferência dos Pássaros, editada pela Cultrix, sendo uma tradução da versão inglesa de C. S. Nott, que a fez ou traduziu da tradução francesa de Garcin de Tassy, de 1863, realizando nos USA em 1954 tal feito de retalhar e alterar substancialmente, retirando muito da espiritualidade da obra. Uma lástima. Hoje já há outras versões em português, de melhor qualidade.
Depois de ter sido um boticário de perfumes e ervas, impressionado pelo desprendimento e comando do corpo e alma de um dervishe, Attar foi iniciado na via espiritual pelo sheik Mudj al-din, de Bagdad, e da sua demanda restam-nos cerca de uma dúzia de obras das quais as mais valiosas são o Pand-Nama, Livro dos Conselhos, Asrar-Nama, O Livro dos Segredos (a sua última obra, e da qual há uma tradução comentada excelente de Christiane Tortel), Elahi-Nama, o Livro Divino e o Tadhkarat al-Auliya, Memórias dos Santos, esta contendo histórias e ensinamentos de 142 sufis do Irão, do Egipto e da Arábia, entre os quais Jafar Sadiq, a iraquiana Rabia Basri, Junayd, Hazrat Abdul Jilani, Mansur al-Hallaj, todos eles verdadeiramente entregues ardentemente ao Amor Divino.
O grande especialista de mística islâmica e persa Louis de Massignon foi um estudioso e admirador de Attar, e realçou
a afirmação do famoso Jalâl- ud dîn Rûmî: dois séculos depois da desencarnação de al-Hallâj a sua luz (nour), ou alma espiritual (de al-Hallâj), manifestara-se em Farîd 'Attar, tornando-se o seu mestre espiritual.  
Não sabemos ao certo se assim terá sido, mas a comunhão dos amigos de Deus, a comunidade dos santos ou sufis, a auliya, é conhecida, é real, todos os que meditam mais profunda e intensamente vivenciam-na de um modo ou outro por graça, pelo que naturalmente Attar foi abençoado pelo Alto e o Ser Divino, e pelos sufis, sendo Mansur al-Hallaj, um famoso mártir no Islão da afirmação da não-dualidade entre o humano e o divino, certamente um potencial inspirador dele e, quem sabe, o seu mestre ou guia invisível. Mevlana Rumi, que segundo algumas versões ainda se teria encontrado com Attar, quarenta e cinco anos mais velho que ele, diria ainda que Attar era a sua alma íntima, tal como Sana'i o seu olho espiritual. 
Attar, na Conferência ou Diálogo dos Pássaros, agora entre nós inspirando o pintor José Pinto Antunes a ilustrá-la em mais de cem desenhos, compila numerosas histórias tradicionais e acrescenta algumas novas, adicionando sobretudo comentários de ordem moral e espiritual, e propondo a tradicional ascese e renúncia ao mundo e aos seus prazeres e seres (uma metodologia talvez hoje discutível quando se expressa de modos algo humanamente egoístas: «Enquanto não morrermos para nós próprios e não formos indiferentes às criaturas, a nossa alma não estará livre. Um morto vale mais que aquele que não está inteiramente morto às criaturas, pois ele não poderá ser admitido para o outro lado da cortina»), em troca ou em prol do amor ardente pelo Divino, o único que merece e perdura.
O amor a Deus (denominado bhakti, prema, na tradição indiana) é então o objectivo e a necessidade máxima e muitos exemplos são dados de amor extraordinários ou intensíssimos entre os seres e pares humanos e como daí podemos tirar impulsos para a nossa 
caminhada de amor para Deus, neste século XXI cada vez menos propenso a amores devocionais como outrora flamejaram no Cristianismo e no Islão medievais ou mesmo posteriores.
A Conferência dos Pássaros congrega então milhares de aves na demanda de acesso ao misterioso ser, Simurgh, a qual as vai levar, com dúvidas e diálogos esclarecedores, por um caminho de individuação e iniciação longo e árduo (per aspera ad astra) até Simurgh, onde apenas chegam trinta delas, as que acreditaram na mestra poupa e nelas próprias e mantiveram a chama da aspiração e do Amor unitivo mais fortemente».
 Desse Amor, do Amor, nos fala, nos transmite então ainda o poema que se segue, para já apenas na fotografia do manuscrito, e que gerei na linha de Erasmo que defendia, em carta aos irmãos polacos Laski, que o anel das Graças deve ser mantido, e assim vai oferecido ao José Pinto Antunes e aos sufis nomeados...
A vida é uma caravana minotáurica
e nela se desenvolve um caleidoscópio
tão infinito, multifacetado e sedutor
Que todos geramos muito amor.

Da conferência das aves elegeu-se a pôpa
Assim cada um de nós escolhe o que ama
E fecha-se frequentemente ao que devia amar.
E se não fosse a popa, o anjo, o mestre
Muitos de nós se perderiam na travessia.

O mundo dos animais e dos humanos
Sem serpentes emplumadas, sem asas,
Não teria os tapetes de oração a ligar ao Céu
Não teria a visão dos seres de coração.

Passam os séculos, os poemas, as pinturas
E só fica o coração ardente vivo,
Aquele que agora somos em comunhão
Com o misterioso Simurgh Divino. 

Que a lucidez do teu olhar fino e colorido
Drapeje a tua aura das melhores intenções
E, levando aos lábios, o Graal do Amor,
Sente e recria a grande Unidade, no destemor.

Cresçam as nossas asas, flameje o Amor 
Ouve no silêncio o canto das aves e de Simurgh
Ò Attar, ò Dara Shikoh, ò José, ò Pedro, ò Alma leitora,
Entremos pelo coração e cheguemos à Divina Adoração
                               e Comunhão.
             ***** 
Transcrito em uníssono com a partida do José da Terra. Muita luz e amor na sua alma rumo a Deus. VI-IV-2019.