sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Dos espíritos da Natureza, das árvores, dos incêndios, das reflorestações boas ou más e da Esperança.

Pintura do dinamarquês Hans Andersen Brendekilde e enviada por Gisele Verilo.
Esta fada, hamadrídade, ou espírito da natureza, pictograficamente humanizada, fala-nos de um nível subtil de seres e de vida que é completamente ignorado nas cíclicas discussões inconsequentes acerca das tragédias e prevenções dos incêndios florestais - das suas causas, descoordenações, incompetências, interesses ou agentes ocultos e criminosos -, e que ano após ano arrasam, calcinam e destroem partes importantes e vastas do corpo terrestre de Portugal, cada vez mais desertificado e artificializado, reduzido já numa proporção significativa nas cidades e eucaliptais a uma manjedoura turística e a pasto da indústria do papel...
Os milhares de Espíritos de Natureza, para não falarmos de insectos, de aves, de animais, que desaparecem ou morrem com os arbustos e as árvores, algumas delas centenárias e que deveriam estar protegidas, vivenciam nos incêndios grande sofrimento, e tudo isto é uma tragédia incalculável que só quem percorre as zonas a arderem ou pouco depois de ardidas é que pode ter alguma subtil e fugaz sensação ou intuição...
Fotografia tirada no Gerês transmontano, de zona ardida e a arder. VII-2018
Mas como nem casas nem animais frequentemente contam, para não falarmos das pessoas quando os fogos são ateados criminosamente, também falar do sofrimento das árvores em si e nomear os espíritos da natureza, gnomos e duendes, fadas, sílfides, elfos, dríades e devas que possam estar ligados a elas ou aos seus ambientes naturais, pouco ou nada dirá à maioria das pessoas, se é que não as fará rir...
Mas quem tem mais experiência, conhecimento ou clarividência afirmará a existência de tais seres e como a mentalidade materialista, consumista, superficial, tecnocrática e insensível está destruir o planeta e de vários modos a humanidade, em cadeias de reacção que apenas agora estão a ser mais notadas devido à excessiva perturbação dos equilíbrios e ritmos climáticos pelo aquecimento global e pela brutalidade de bombas e mísseis que diariamente explodem no planeta, em grande parte devidos ao America first, logo seguidos da Inglaterra, da Nato, da Arábia Saudita e de Israel, com os seus coligados e terroristas, que têm posto sobretudo o Médio Oriente, mas também a Ásia e a África (em especial o povo do Yemen, pelos carniceiros governantes sauditas, armados pelos ingleses, espanhóis, canadianos e norte-americanos) a ferro e fogo, causando ainda uma mortandade, sofrimento e destruição imensa, para além de um êxodo de refugiados que buscam o paraíso europeu ou Ocidental mas tragicamente morrendo ainda muitos na travessia dos desertos e mares.
O que podemos nós fazer? Pouco à grande escala, na realidade, pois a classe política, em geral mas especialmente a dos já mencionados países, está em grande parte surda e cega à natureza e à humanidade, vendida ao dinheiro, a posições e ambições, sistema capitalista opressivo e imperialista.
E a maior parte dos partidos só estão interessados em defender-se, se estão no governo, ou atacar se não estão, mas verdadeiramente sensibilidade à terra, à agricultura biológica e à floresta natural mediterrânica, aos parques e zonas de reserva agrícola, encontrar-se-á, em Portugal, talvez no PAN e numa ou outra das deputadas do Bloco de Esquerda e eventualmente numa mão pouco cheia de deputados de outros partidos...
Sem se poder esperar muito, apesar das cíclicas promessa pré-eleitorais, de uma classe política refém do dinheiro para os seus partidos, ordenados, reformas e parcerias, pouco sensível, culta e bastante incompetente na sua maioria, dependente de quem lhes  manda ou paga, cada pessoa terá então de localmente de tentar harmonizar os ambientes, as terras, as comunidades, não se deixando alienar, vender, manipular ou algemar e, resistindo aos fogos, às eucaliptizações, à desgovernação florestal nacional, criar redes de informação, partilha e ajuda, desenvolver plantações e semeaduras das espécies autóctones e resistentes, cooperar com comunidades alternativas e finalmente participar em encontros, feiras, mercados, associações...
Eis um pequeno requiem pelos seres da Natureza, para não falar dos seres humanos de Pedrogão ou de um ou outro bombeiro, tombado algo ingloriamente numa batalha na qual não se vê da parte dos governos ou dos ministros, ou até municípios e munícipes, vontade de verdadeiramente vencer...
Talvez se possa dizer ainda que lamentavelmente as prioridades nacionais estão muito distorcidas e o dinheiro nacional e internacional é mais aplicado em pensões e reformas elevadas, na protecção do bancos e dos seus gestores corruptores e corruptos, em espectáculos e partidos, enquanto a terra portuguesa se deixa ao abandono ou a arder pois os eucaliptos (secantes e desertificantes) crescem rápido e rendem mais que os sobreiros ou carvalhos, castanheiros ou nogueiras, freixos ou oliveiras...
Haja contudo esperança numa revolução ou evolução das mentalidades e na muita gente nova que está já a viver no campo e desenvolvendo permacultura, a agricultura biológica, a biodinâmica e, comunhão com a Terra e os seus espíritos da natureza, preservando a sacralidade ou divindade da Terra e das árvores em Portugal e não deixando ficar reduzida a écrans de telemóveis ou de computadores a visão subtil dos portugueses, antes harmonizando-se com os nascer e pôr do Sol, as flores e árvores, os regatos, os cantos das aves ou dos animais, as joaninhas, os bosques e jardins encantados, os espíritos da Natureza e o Arcanjo de Portugal... 
Assim a grande Alma Portuguesa não ficará demasiado calcinada ou seca pelos incêndios, eucaliptos e alienações modernas, mas poderá viverá mais harmoniosa e inspiradoramente nos ambientes e em muitos de nós... 
Pintura do alemão Bô Yin Râ
                                           Post-scriptum
Como este texto nasceu da calamitosa destruição da belíssima e tão fragrante serra de Monchique e dos seus eco-sistemas, um ano depois de outra mítica zona florestal, o pinhal de Leiria ter ardido, duas tragédias imensas, duas amputações tremendas no corpo psico-mórfico de Portugal e que só num país da bola, da alienação televisiva, do partidarismo cego ao Bem Comum, e da impunidade financeira e política, acontecem ainda, partilho uma imagem única da alma sensível e subtil Monchique, dos seus bosques e arvoredos, desenhada a carvão em 1920, por esse notável  pintor algarvio Carlos Augusto Lyster Franco, certamente tristíssimo do outro lado da existência com a incompetência e insensibilidade dos dirigentes políticos e de tantos agentes económico e sociais... 
                           Como se reflorestará a serra de Monchique? 
Só há dinheiro para tapar os buracos dos gestores políticos e financeiros, ou para os seus ordenados, benesses e reformas, ou finalmente utilizar-se-á algum dinheiro pelo Portugal perene e far-se-á  não a gananciosa e destrutiva eucaliptização mas a correcta reflorestação autóctone e uma melhoria dos parques e zonas protegidas? 
Esperemos que sim. 
E que assim as fadas e duendes, dríades, elfos e demais espíritos da natureza se alegrem e dinamizem a natureza viva, colorida e alegre...

6 comentários:

Luama Socio disse...

Além de belo, o texto também é um alerta, uma lembrança das coisas importantes deixadas para trás...

Pedro Teixeira da Mota. disse...

Muitas graças, Luama. Sim, raízes importantes de serem cultivadas, vividas, cantadas, para que o corpo místico ou subtil do Planeta reverdeça mais!

Alda Mary disse...

Por tudo isto eu penso que todo o incendiário intencional é um culpado de crime contra a humanidade e assim deveria de ser julgado.

Pedro Teixeira da Mota. disse...

Pois, parece que o poder judicial e o político têm outra visão e orientação. Ainda recentemente alguém, acusado de vários fogos postos, foi logo por ordem do tribunal liberto... Parece que tem havido uma queda ética e moral em Portugal nas últimas décadas

Maria do Rosário Barbosa disse...

Cada um de nós se sente esmagado e pensa que nada pode fazer perante os desastres ecológicos a que passivamente assistimos. Mas cada um de nós tem a sua quota de responsabilidade. Precisamos, urgentemente, de nos reorganizar socialmente. E intervir enquanto sociedade civil. Constituir grupos, associações,defender o Planeta que é a nossa casa. Só que temos de ser MUITOS! Os Partidos políticos não cumprem esse papel.


Pedro Teixeira da Mota. disse...

Diz muito bem, Maria do Rosário Barbosa, e desculpas por só agora dois anos já passados ver o seu comentário, já que revi o texto e melhorei-o. Sim, grupos, associações é o que se está a realizar um pouco por toda a parte, fortificando os eco-sistemas. Os partidos estão demasiado corrompidos pelos seus interesses egoístas para se interessarem pela agricultura biológica ou natural, os bosques e matas,a ecologia... Tenhamos forças e capacidade de diálogo e união...