segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Sobre a Oração, a Meditação, a Religião, o Amor, o Espírito, a Divindade. E o Caminho espiritual.

A oração-meditação é um momento anímico, ou um processo na biografia histórica e tendendo a superar as limitações do espaço e do tempo, pelo qual tentamos ligar-nos mais com o espírito, o mundo espiritual e a Divindade, ainda tão pouco conhecidos e vivenciados...
É uma invocação ou aspiração de comunhão do misterioso espírito, das energias e qualidades espirituais e divinas. E logo dos seres subtis, mestres, anjos, deuses ou faces da Divindade.
É também uma invocação e sintonização com o nosso ser mais pleno, com o ambiente subtil luminoso que nos rodeia ou ao qual aspiramos e com o corpo místico da Humanidade...
É um respirar mais profundo e consciente, inspirar e expirar energias, fazer circulá-las, verticalizar-se, fortificar-se, plenificar-se, ser, irradiar. 

É o invocar tais bênçãos, seja dos Espíritos da Natureza, seja dos mestres e Anjos e fazê-las descer sobre os alimentos e as refeições, os campos e as sementeiras, ou no nascer e no pôr do sol e comungar das energias e da beleza que unem a Terra e o Céu.
É dar graças por uma realização, uma purificação, uma cura, uma amizade, um diálogo, um amor...
É começar bem o dia, com a oração meditação sintonizante e recarregante, e fechá-lo, com a revisão do dia, pitagórica e harmonizadora, e a gratidão por tudo e a última aspiração a uma boa navegação onírica ou mesmo a ensinamentos nocturnos...
Assim, a oração-meditação-gratidão é união da Terra e do Céu...
Há muitos tipos de orações possíveis e  cada um deve encontrar a sua, ou as suas, a cada momento, com os companheiros dela (onde dois ou três se reunem em meu nome [Amor-Espírito]- eu estou neles) ou com os destinatários ou as intenções mais diversas, embora certamente a principal seja harmonizar-nos e poder ligar-nos mais ao espírito e a Deus, emanando tal estação elevada ou bênção...
Suponhamo-nos no Ocidente cristão: Podemos rezar o Pai nosso, adaptando-o até à nossa sensibilidade e religião pessoal, ou usando até apenas uma das suas petições e demorando-nos nela o tempo que sentirmos adequado a gerar o estado orativo, recolhido, iluminado. Mas a oração simples ao «Anjo da Guarda, minha doce companhia, guiai a minha alma de noite e de dia» também poderá ser muito luminosa e harmonizadora para nos aproximarmos do espírito e do Anjo e logo da bênção Divina. 

Mas o que é a oração, o que se entende pelo estado de oração sem cessar,  tão valorizada por Erasmo de Roterdão no seu belo livro Modo de Orar a Deus (que eu traduzi com Álvaro Mendes e contextualizei comentei) são questões a  investigar e aprofundar, relembrar e assumir no dia a dia, com perseverância, criatividade e até algum diário ou diálogo...
A mecanicidade com que se ora em geral não está muito de acordo com o que deve ser a essência da oração, genuína, profunda, verdadeira, e com os mistérios que nos rodeiam quanto à alma, ao espírito, à vida eterna, à Divindade...
A oração é uma aspiração do ser humano a uma melhoria de si próprio, dos outros e do que o rodeia em múltiplos níveis, é uma aspiração a mais Luz e clareza e deve envolver todo o nosso ser e brotar do interior, e ser sentida ao ser exprimida...
É uma invocação ou aspiração a que a sua essência espiritual desça mais sobre si, das alturas e profundidades em que ela se encontra.
É uma tentativa de harmonizarmos os pensamentos dispersos, as emoções instáveis e de conseguirmos no silêncio, na concentração, reflectir ou incarnar mais o espírito.
Muitas orações existem nas religiões que podemos utilizar, tal esta universal: Ó meu Deus, vem nascer em mim.  Mas nas indianas, tão ricas de mantras e da valorização do som subtil, o Anahata Nada, alguns como o Om Mani Padme Hum, o  Om Tat sat, o Tat Twam Assi são bem reconhecidos. Podemos também ir para atributos ou virtudes, ou as afirmações da unidade como o Islão e o sufismo desenvolveram,  tal o Allah Hu, como o universal expressado no:  Que o amor e a pureza nasçam ou estejam mais em nós. 

Om Mani Padme Hum, pintura de Bô Yin Râ
 O que é a tão primordial noção, no sagrado religioso, da pureza?  Para além das purificações e interditos tradicionais, outrora bem desenvolvidos nos Mistérios, é nós acreditarmos e sentirmos que a Divindade de algum modo está dentro de nós, é evitarmos o que dificulta  acolhermos ou sentirmos tal presença e é valorizar o que nos aproxima Dela e o que nos faz evoluir espiritualmente e que, portanto, verdadeiramente nos satisfaz, alegra e harmoniza animicamente. É saber cultivar tal no dia a dia, com os cinco elementos, com a ordem e beleza e com uma consciência mais alargada do ambiente que nos rodeia, da nossa aura e dos sentimentos e pensamentos que por ela circulam, abrindo canais para o alto e criando transparência e luz em nós...
Quem são o Buda, o Cristo, por exemplo? 

A palavra Buddha vem do sânscrito bodh que significa a qualidade de sabedoria, discernimento, iluminação,  designando  um ser que atingiu bastante, muito, plenamente tal nesta vida, o mais famoso sendo Gautama Buddha..
A palavra Cristo provem do grego Kristos, e significa ungimento, descida de energia espiritual ou divina em alguém, ou em especial num ser. É a tradução do hebreu Messiah e surge no Antigo Testamento aplicada a Ciro, rei dos persas ou iranianos, e ainda nas profecias visionárias de Daniel e Isaías da vinda de um Ungido,    sofredor num caso e  triunfante noutro, sendo por fim aplicada e reconhecida, para o Cristianismo e a maioria das outras religiões, na pessoa de Jesus.
Além deste sentido geral primitivo, pode ter o de ser a 2ª pessoa da Trindade na dogmatização trinitária cristã, a qual tem certas analogias com outras Trindades ou Tríades, tal a de Pai, Mãe e Filho, a do Positivo, Negativo e Neutro, ou ainda Céu, Terra e Humanidade, e poder-se-á considerar então seja como um ser seja como um nível psico-espiritual, caracterizável como amor-sabedoria,  o Filho,  a Luz, a Palavra que perpassa por tudo e todos, conforme  o início do Evangelho mais gnóstico de S. João. Os Cristãos dirão que Jesus foi a encarnação, ou descida à carne, única, de tal nível ou ser. 

Mas como se sabe tão pouco com certeza de tais níveis divinos, e como tal é bastante pessoal e subjectivo na alma de cada um, e não podemos esperar certezas científicas mas temos de ser nós a adquirir a ciência ou conhecimento que nos satisfaça e pacifique, devemos com paciência e equanimidade irmos avançando na demanda do Graal da Verdade neste mundo moderno onde tantos factores desequilibrantes se introduziram numa natureza harmoniosa mas que por culpa dos egoísmos e imperialismos é bombardeada e explorada, menosprezada, esgotada e queimada.
Venha a nós o Vosso reino, ou consciência, ou unidade, e Que o Amor divino brilhe em todos os seres são então  pedidos orativos  feitos não só à Providência Divina,  à Divindade e aos seus espíritos celestiais e humanos mas também a cada um de nós: 
- Tu, também tens um reino de Amor e Sabedoria em ti, no teu ser.  Desenvolve, cultiva e partilha tal potencialidade e realidade.
Que a maior consciência do sagrado da vida e da Presença Divina  se manifeste e venha até nós, desabroche a partir do coração espiritual,  pela nossa decisão e vontade, intencionalidade e perseverança amorosa e esperançosa.
Então oramos interiormente e exteriormente, na alma espiritual e no corpo social, o qual bem precisa pois está tão dilacerado e explorado pelas elites económicas e pelo partidarismo dos partidos e seus executores egoístas e superficiais, em geral os mais ambiciosos e menos religiosos e ecológicos, espirituais e fraternos.
Vemos assim a actualidade de aprofundarmos individualmente a oração e meditação, a religião e a espiritualidade, sem nos deixarmos cair nas novas eras superficiais e ilusivas, com tantas canalizações, alucinações e mistificações e, calma, racionalmente, espiritualmente, unindo os vários campos e níveis do saber e do  conhecimentos, tão em rede actualmente, para não nos deixarmos guiar por cegos e pseudo-iluminados, nem massificar e alienar pelos espertalhões de que área forem, de modo a irmos desabrochando por nós próprios, naturalmente sem drogas nem poções mágicas, nem dependências e sectarizações.
Descobre mais a Luz em ti e deixa que a luz ilumine o teu olho espiritual, ser e corpo, em comunhão com a Divindade, o Campo unificado de energia consciência, a Alma do mundo, a Tradição espiritual portuguesa, ou outra, a Perene...
E como a oração é também um acto social, ambiental, sem limites definidos na sua subtil irradiação convirá ainda interrogar-nos: a eficácia da nossa oração, seja por vivos seja por mortos, seja por causas, assenta em que factores?
Factores nossos, dos outros e do que os envolve e do que nos une e se comunica, em processos telepáticos, osmóticos e de ressonâncias que ainda sabemos pouco, como o genial poeta, infelizmente sem ter conseguido aperfeiçoar a sua oração e meditação, Antero Quental já há mais de 100 anos constatava e afirmava...
Estarmos com saúde, bem e logo com forças, parece importante, pois a nossa oração pode ser vista como irradiação energética, emotiva, psíquica e espiritual...
Se estamos doentes, fracos, com pouca energia, a força dinâmica da nossa oração por si só é mais escassa, embora as virtudes e méritos psico-espirituais possam ser grandes e por aí ela ter eficácia.

Mas mais importante será a capacidade de termos entrado já na nossa dimensão de seres com corpo e coração espiritual  e com intencionalidade e unidade, conseguirmos ver e visualizar, invocar e evocar o que será bom para os outros e o planeta...
Qual a pessoa que poderá rezar melhor por mim no mundo? Por quem posso eu rezar melhor? Quem neste momento precisa mais da minha oração, ou seja, de algumas energias psico-espirituais luminosas para a sua alma, ou ainda invocações da graça divino-espiritual? 

Sabermos orar e meditar melhor, ou seja, com mais eficácia, com mais energia do coração e com mais ressonâncias e bênçãos concretizadoras é então importante...
Devemos reconhecer que há certas pessoas que têm mais canais ou laços,  afinidades ou proximidades íntimas entre si e connosco e assim podendo-se apoiar e fortificar mais...
Embora seja difícil deduzirmos e quantificarmos tais factores ou aspectos, tais como o conhecimento há mais tempo, a maior intimidade vivida, por quem sentimos mais amor e quem o sentiu muito por nós, família espiritual vibratoriamente, ainda assim volta e meia devemos pôr esta questão e ir dedilhando alguns mantras e orações e deixar que venha ao de cima, por entre a potencialidade geral dos destinatários amigos, quem sabe surgindo no nosso olho espiritual, a pessoa
cujo cálice ou alma precisa mais de algumas energias que através de nós a poderão iluminar, fortificar, elevar....
Chakra do olho espiritual. Pintura em batik por Teresa Mester, professor de yoga.
 Alguns dos seres que já morreram e que foram nossos amigos podem precisar de nós, e tecer algumas orações e mantras na intencionalidade de os ajudar é bom, cruzando o no man's land, abrindo luzes e calores por entre as brumas do desconhecimento.
Saibamos ter um coração flamejante sempre a irradiar amor em geral e capaz de o concentrar para quem mais precisar de ser abraçado e cuidado, ampliado e iluminado.
Que o Amor divino arda e brilhe benigna e sabiamente em nós...
Que estejamos em oração incessante pela consciencialização do coração espiritual e da comunhão na Luz, no Amor e no Som ou vibração divina...
Demos graças, vivendo harmoniosamente,  à Natureza, à Humanidade, aos seres espirituais e angélicos e à Divindade, e às Suas manifestações, faces e atributos, amorosamente, luminosamente.

2 comentários:

Maria Fernanda Reboredo disse...

Gostei muito!

Pedro Teixeira da Mota. disse...

Muitas graças, Maria Fernanda! Ainda fiz uns acrescentos iniciais e duas imagens depois da sua leitura. Votos de boas inspirações e orações-meditações.