quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Daria Dugina, três anos desde a sua partida. O testemunho tocante de Balbino Katz, e as interrogações que suscita e só o futuro, Fortuna nos desvendará-

Já decorreram três anos desde que Daria Dugina Platonova, com trinta anos de vida pulsante, ardente, pura, foi arrebatada ao nosso convívio terreno por uma traiçoeira bomba de uma assassina paga pelo regime extremista de Kiev. Todavia há almas que embora partindo   permanecem presentes seja pelas memórias seja pelas obras e ideias que continuam a ser lidas, reflectidas, apreciadas, seja pelo carisma que as assinalava e o martírio ainda mais reforça...

Neste blogue encontra outros artigos dedicados a ela, com entrevistas e textos de Daria Dugina, e neste vamos traduzir do francês, e que recebi através do Vk.com (a valiosa rede social russa que recomendo) o recentíssimo testemunho de quem, Balbino Katz, a conheceu bem  e que quis partilhar o seu afecto e respeito por ela e realçar que embora tivessem ideias diferentes em certos aspectos da visão geo-estratégica civilizacional,  o génio, o amor e o carisma de Daria suplantavam tudo.

Tentemos clarificar as divergências: enquanto Dara acreditava na missão essencial da Rússia tradicional e imperial, religiosa e multipolar, desvalorizando o papel e contributo actual da União Europeia, Baldino Katz, investigador e jornalista francês,  no diálogo com ela recusava tal supremacia de missão histórica actual da Rússia e acreditava que a Europa, semi-pagã, semi-católica, alma faustica e prometaica, ainda que ferida na sua essência, continuaria a ter um papel importante ou liderante na marcha do mundo.

Talvez fosse bom interrogá-lo, se passados estes anos, em 2025,  ainda continua a acreditar na Europa dirigida pelas ineptas direcções afiliadas ao Fórum Económico Mundial, e se o  papel que ela tem desempenhado ou continua a querer desempenhar não será indiscutivelmente negativo, mau,  tal como não aceitando as condições justas da Rússia para terminar a sua operação especial militar, e antes tentando prolongar o conflito, e enfraquecer ou, na sua hubris imensa, vencer a Rússia?

 Talvez fosse bom perguntar-lhe também se pensa que a Europa está unida atrás dos seus desgovernantes políticos, a tal "coligação dos dispostos", dos quais vários são cocainómanos, que lutam pelos interesses da oligarquia a que estão avençados ou escravizados há muito, mas que em nada defendem os interesses dos seus cidadãos, cada vez mais apertados pela inflação que decorre da péssima política da União Europeia. sempre em sanções cobardes contra a Rússia e as suas energias que tanto invejam, como a pindérica Kaja Kallas manisfesta no seu afã de querer retalhar a Rússia?

É pena que Baldino Katz se afirme ainda contra o que chama o  "sonho euroasiático" de Daria Dugina, quando ele é também de Alexandre Dugin, de Vladimir Putin, de Lavrov, de Xi Ping, de Modi, de Lula, de Pezensky, Traoré, e de tantos outros milhões de seres, entre os quais me incluo,  que desejam que  a civilização euroasiática, o BRICS, a multipolaridade mundial se desenvolvam e triunfem sobre as diversas formas de hegemonias oligárquicas ou neocolonialismos opressivos ocidentais. É pena que fique à espera que a Europa celta e etno-diferenciada nacionalista, reivindicada e sonhada pelo seu grupo GRECE, fundado em 1960 que teve o seu valor intelectual e o dos dois pensadores citados,  mas que está hoje bastante ultrapassado pelas dinâmicas de partidos de direita, e que pense conseguir algumas vez influenciar os burocratas e anti-russos de Bruxelas e da oligarquia nos destinos da Europa?

 Oiçamos então, parecendo-me ainda hoje algo limitado pelo chauvinismo francês e europeísta ocidental, o testemunho mesmo assim cheio de amor de Balbino Katz:

 «Terça-feira de manhã, céu nublado sobre o porto de Guilvinec, o vento do mar já traz a mordidela precoce do outono. No bar do Oceano, onde gosto de me abrigar dos caprichos do tempo, deixei ressurgir a lembrança de uma jovem mulher cujo nome permanece gravado em mim como um luto que não passa: Daria Dugina, morta aos trinta anos, em 20 de agosto de 2022, na explosão criminosa do carro de seu pai.

                                      
Conheci o seu pai, Alexandre, no dia seguinte à queda do muro de Berlim. Ele saía de uma Rússia exausta, estrangeiro aos nossos costumes, tacteando na Europa atlântica. Vi-o a aprender rapidamente, estabelecer conexões, forjar sua influência. Com o passar dos anos, os nossos caminhos se afastaram-se, pois seu sonho eurasiático que ele não cessava de construir era-me estranho. Eu permaneci fiel à escola do GRECE, o Groupement de Recherche et d'Études pour la Civilisation Européenne, a Alain de Benoist, a Guillaume Faye, a essa Europa faustiana, prometaica, que deve o seu futuro a si mesma [Que ilusão: pobre população e civilização europeia tão manipulada, oprimida e alheia a si mesma]. Mas se nossas visões divergiam, a amizade permaneceu.

                                                  
Foi assim que conheci no início dos anos 2010, alguns anos depois, a sua filha, que veio a Paris com sua mãe [Natalia Melentyeva]. Elas tinham feito questão de rever os amigos que, na época das dificuldades, souberam acolhê-las. Eu fui um deles, e recebi-as para jantar. Revejo a mãe, atenta, feliz por nos reencontrarmos, e Daria, ardente, ávida, perscrutando as nossas palavras como se fossem fragmentos de verdade. Ela era  ainda apenas uma estudante, mas já carregava aquela intensidade de olhar que sinaliza um destino.

                                                
Revi-a em Paris nas instalações da TVLibertés, em Aix-en-Provence, em uma Domus amiga, e especialmente na Moldávia, em dezembro de 2017. Um fórum eurasiático reunia lá os não-alinhados contra o globalismo. Eu tinha ajudado Daria e sua mãe a fazer a viagem. Foram dias de fraternidade, de conversas profundas, de risos também. Lembro-me dos seus passos nas ruas de Chișinău, da sua alegria e gravidade misturadas. Foi a última vez que a beijei.

 Os nossos desacordos eram conhecidos. Ela acreditava em Moscovo como uma Terceira Roma, messiânica, ortodoxa, a única portadora da Tradição frente ao Ocidente materialista. Acredito na Europa, mesmo ferida, como um organismo vivo, pagão e cristão ao mesmo tempo, múltiplo, trágico e heroico. Ela colocava a sua fé em uma Rússia imperial projetando sua força sobre o continente; eu esperava o despertar de uma Europa senhora de seu destino. Mas essas divergências não abalavam nosso vínculo: nós dois sabíamos que a amizade supera as divisões nas nossas visões de mundo.
Quando soube da sua morte, foi como se me arrancassem um dos meus filhos. Ela não era apenas a filha de Dugin, não era apenas uma voz ideológica. Ela era uma presença luminosa, uma promessa, um futuro. Seu sangue derramado numa uma rua obscura de Moscou foi como uma luz que se apaga na noite.
Então, neste 20 de agosto que retorna a cada ano como uma ladainha, eu penso nela como uma estrela quebrada muito cedo, mas cujo brilho continua a alcançar-nos. Ela carregava em si essa ardência que as nossas juventudes europeias perderam [nem todos graças a algumas linhas de força ainda vivas], essa certeza de que a vida tem um sentido e que é preciso arriscar a própria existência para realizá-lo. Seu desaparecimento é uma ferida aberta para a Rússia, mas também para todos nós, pois ela encarnava, à sua maneira, uma esperança comum.
                                              
Sim, seu nome permanece, o seu rosto  impõe-se, a sua memória arde. E eu, que a conheci, posso dizer que ela não desapareceu apenas num atentado, ela permanece em nossa memória como uma chama que, apesar do tempo que passa, desafia o esquecimento e não se apaga.

Balbino Katz, cronista dos ventos e das marés

Impossível mencionar Alexandre e Daria Douguine sem mencionar Christian Bouchet e suas Edições Ars Magna, que publicam em francês as obras desses dois autores russos, incluindo "Optimismo Escatológico", escrito por Daria e disponível no site da editora: https://www.editions-ars-magna.com 

Crédito da foto: DR (foto de ilustração)
[cc] Breizh-info.com, 2025

Mardi matin, ciel bas sur le port du Guilvinec, le vent de mer apportait déjà la morsure précoce de l’automne. Au bar de l’Océan, où j’aime à m’abriter des caprices du temps, je laissai remonter le souvenir d’une jeune femme dont le nom demeure gravé en moi comme un deuil qui ne passe pas : Daria Douguine, morte à trente ans, le 20 août 2022, dans l’explosion criminelle de la voiture de son père.
Je connus son père, Alexandre, au lendemain de la chute du mur de Berlin. Il sortait d’une Russie épuisée, étranger à nos usages, tâtonnant dans l’Europe atlantique. Je l’ai vu apprendre vite, nouer les liens, forger son influence. Au fil des années, nos chemins se sont éloignés, car son rêve eurasiste qu’il ne cessait de bâtir m’était étranger. Je suis resté fidèle à l’école du GRECE, à Alain de Benoist, à Guillaume Faye, à cette Europe faustienne, prométhéenne, qui doit son avenir à elle seule. Mais si nos visions divergeaient, l’amitié demeura.
C’est ainsi que j’ai rencontré au début des années 2010, quelques années plus tard, sa fille, venue à Paris avec sa mère. Elles avaient tenu à revoir les amis qui, au temps des épreuves, avaient su les accueillir. Je fus de ceux-là, et je les reçus à dîner. Je revois la mère, attentive, heureuse que l’on se retrouve, et Daria, ardente, avide, scrutant nos paroles comme des éclats de vérité. Elle n’était encore qu’une étudiante, mais déjà portait cette intensité de regard qui signale une destinée.
Je la revis à Paris dans les locaux de TVLibertés, à Aix-en-Provence dans une Domus amie, et surtout en Moldavie, en décembre 2017. Un forum eurasiste y réunissait les non-alignés contre le globalisme. J’avais aidé Daria et sa mère à faire le voyage. Ce furent des jours de fraternité, de conversations profondes, de rires aussi. Je me souviens de ses pas dans les rues de Chișinău, de sa gaieté et de sa gravité mêlées. Ce fut la dernière fois que je l’embrassai.
Nos désaccords étaient connus. Elle croyait à Moscou comme à une Troisième Rome, messianique, orthodoxe, seule porteuse de la Tradition face à l’Occident matérialiste. Je crois à l’Europe, même blessée, comme à un organisme vivant, païen et chrétien à la fois, multiple, tragique et héroïque. Elle plaçait sa foi dans une Russie impériale projetant sa force sur le continent ; j’attendais le réveil d’une Europe maîtresse de son destin. Mais ces divergences n’entamaient pas notre lien : nous savions l’un et l’autre que l’amitié surpasse les clivages dans nos visions du monde.
Quand j’appris sa mort, ce fut comme si l’on m’arrachait un de mes enfants. Elle n’était pas seulement la fille de Douguine, pas seulement une voix idéologique. Elle était une présence lumineuse, une promesse, un avenir. Son sang versé sur une rue obscure de Moscou fut comme une lumière qui s’efface dans la nuit.
Alors, en ce 20 août qui revient chaque année comme une litanie, je songe à elle comme à une étoile brisée trop tôt, mais dont l’éclat continue de nous parvenir. Elle portait en elle cette ardeur que nos jeunesses européennes ont perdue, cette certitude que la vie a un sens et qu’il faut risquer son existence pour l’accomplir. Sa disparition est une plaie béante pour la Russie, mais aussi pour nous tous, car elle incarnait, à sa manière, une espérance commune.
Oui, son nom demeure, son visage s’impose, son souvenir brûle. Et moi, qui l’ai connue, je peux dire qu’elle n’a pas seulement disparu dans un attentat, elle demeure dans notre mémoire comme une flamme qui en dépit du temps qui passe défie l’oubli et ne s’éteint pas.

Balbino Katz, chroniqueur des vents et des marées

Impossible d’évoquer Alexandre et Daria Douguine sans mentionner Christian Bouchet et ses Éditions Ars Magna qui publient en Français les oeuvres de ces deux auteurs russes dont Optimisme eschatologique écrit par Daria et disponible sur le site de la maison d’édition : https://www.editions-ars-magna.com

Última fotografia de Daria com seu pai, umas horas antes de se tornar uma mártir da Santa Rússia,  de S. Sergio de Radonega, St. Serafim de Sarov, Dostoievsky, Tolstoi, Soloviev, Berdiaef. .. Espero brevemente escrever nais sobre ela e a sua obra. Que Daria Dugina desperte mais no seu corpo glorioso e nos possa inspirar.

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