Já decorreram três anos desde que Daria Dugina Platonova, com trinta anos de vida pulsante, ardente, pura, foi arrebatada ao nosso convívio terreno por uma traiçoeira bomba de uma assassina paga pelo regime extremista de Kiev. Todavia há almas que embora partindo permanecem presentes seja pelas memórias seja pelas obras e ideias que continuam a ser lidas, reflectidas, apreciadas, seja pelo carisma que as assinalava e o martírio ainda mais reforça...
Tentemos clarificar as divergências: enquanto Dara acreditava na missão essencial da Rússia tradicional e imperial, religiosa e multipolar, desvalorizando o papel e contributo actual da União Europeia, Baldino Katz, investigador e jornalista francês, no diálogo com ela recusava tal supremacia de missão histórica actual da Rússia e acreditava que a Europa, semi-pagã, semi-católica, alma faustica e prometaica, ainda que ferida na sua essência, continuaria a ter um papel importante ou liderante na marcha do mundo.
Talvez fosse bom interrogá-lo, se passados estes anos, em 2025, ainda continua a acreditar na Europa dirigida pelas ineptas direcções afiliadas ao Fórum Económico Mundial, e se o papel que ela tem desempenhado ou continua a querer desempenhar não será indiscutivelmente negativo, mau, tal como não aceitando as condições justas da Rússia para terminar a sua operação especial militar, e antes tentando prolongar o conflito, e enfraquecer ou, na sua hubris imensa, vencer a Rússia?
Talvez fosse bom perguntar-lhe também se pensa que a Europa está unida atrás dos seus desgovernantes políticos, a tal "coligação dos dispostos", dos quais vários são cocainómanos, que lutam pelos interesses da oligarquia a que estão avençados ou escravizados há muito, mas que em nada defendem os interesses dos seus cidadãos, cada vez mais apertados pela inflação que decorre da péssima política da União Europeia. sempre em sanções cobardes contra a Rússia e as suas energias que tanto invejam, como a pindérica Kaja Kallas manisfesta no seu afã de querer retalhar a Rússia?
É pena que Baldino Katz se afirme ainda contra o que chama o "sonho euroasiático" de Daria Dugina, quando ele é também de Alexandre Dugin, de Vladimir Putin, de Lavrov, de Xi Ping, de Modi, de Lula, de Pezensky, Traoré, e de tantos outros milhões de seres, entre os quais me incluo, que desejam que a civilização euroasiática, o BRICS, a multipolaridade mundial se desenvolvam e triunfem sobre as diversas formas de hegemonias oligárquicas ou neocolonialismos opressivos ocidentais. É pena que fique à espera que a Europa celta e etno-diferenciada nacionalista, reivindicada e sonhada pelo seu grupo GRECE, fundado em 1960 que teve o seu valor intelectual e o dos dois pensadores citados, mas que está hoje bastante ultrapassado pelas dinâmicas de partidos de direita, e que pense conseguir algumas vez influenciar os burocratas e anti-russos de Bruxelas e da oligarquia nos destinos da Europa?
Oiçamos então, parecendo-me ainda hoje algo limitado pelo chauvinismo francês e europeísta ocidental, o testemunho mesmo assim cheio de amor de Balbino Katz:
«Terça-feira de manhã, céu nublado sobre o porto de Guilvinec, o vento do mar já traz a mordidela precoce do outono. No bar do Oceano, onde gosto de me abrigar dos caprichos do tempo, deixei ressurgir a lembrança de uma jovem mulher cujo nome permanece gravado em mim como um luto que não passa: Daria Dugina, morta aos trinta anos, em 20 de agosto de 2022, na explosão criminosa do carro de seu pai.

Conheci o seu pai, Alexandre, no dia seguinte à queda do muro de Berlim. Ele saía de uma Rússia exausta, estrangeiro aos nossos costumes, tacteando na Europa atlântica. Vi-o a aprender rapidamente, estabelecer conexões, forjar sua influência. Com o passar dos anos, os nossos caminhos se afastaram-se, pois seu sonho eurasiático que ele não cessava de construir era-me estranho. Eu permaneci fiel à escola do GRECE, o Groupement de Recherche et d'Études pour la Civilisation Européenne, a Alain de Benoist, a Guillaume Faye, a essa Europa faustiana, prometaica, que deve o seu futuro a si mesma [Que ilusão: pobre população e civilização europeia tão manipulada, oprimida e alheia a si mesma]. Mas se nossas visões divergiam, a amizade permaneceu.


Revi-a em Paris nas instalações da TVLibertés, em Aix-en-Provence, em uma Domus amiga, e especialmente na Moldávia, em dezembro de 2017. Um fórum eurasiático reunia lá os não-alinhados contra o globalismo. Eu tinha ajudado Daria e sua mãe a fazer a viagem. Foram dias de fraternidade, de conversas profundas, de risos também. Lembro-me dos seus passos nas ruas de Chișinău, da sua alegria e gravidade misturadas. Foi a última vez que a beijei.
Os nossos
desacordos eram conhecidos. Ela acreditava em Moscovo como uma Terceira
Roma, messiânica, ortodoxa, a única portadora da Tradição frente ao
Ocidente materialista. Acredito na Europa, mesmo ferida, como um
organismo vivo, pagão e cristão ao mesmo tempo, múltiplo, trágico e
heroico. Ela colocava a sua fé em uma Rússia imperial projetando sua
força sobre o continente; eu esperava o despertar de uma Europa senhora
de seu destino. Mas essas divergências não abalavam nosso vínculo: nós
dois sabíamos que a amizade supera as divisões nas nossas visões de
mundo.
Quando soube da sua morte, foi como se me arrancassem um
dos meus filhos. Ela não era apenas a filha de Dugin, não era apenas
uma voz ideológica. Ela era uma presença luminosa, uma promessa, um
futuro. Seu sangue derramado numa uma rua obscura de Moscou foi como uma
luz que se apaga na noite.
Então, neste 20 de agosto que retorna a
cada ano como uma ladainha, eu penso nela como uma estrela quebrada
muito cedo, mas cujo brilho continua a alcançar-nos. Ela carregava em
si essa ardência que as nossas juventudes europeias perderam [nem todos graças a algumas linhas de força ainda vivas], essa certeza
de que a vida tem um sentido e que é preciso arriscar a própria
existência para realizá-lo. Seu desaparecimento é uma ferida aberta
para a Rússia, mas também para todos nós, pois ela encarnava, à sua
maneira, uma esperança comum.

Sim, seu nome permanece, o seu rosto impõe-se, a sua memória arde. E eu, que a conheci, posso dizer que ela
não desapareceu apenas num atentado, ela permanece em nossa memória
como uma chama que, apesar do tempo que passa, desafia o esquecimento e
não se apaga.
Balbino Katz, cronista dos ventos e das marés
Impossível
mencionar Alexandre e Daria Douguine sem mencionar Christian Bouchet e
suas Edições Ars Magna, que publicam em francês as obras desses dois
autores russos, incluindo "Optimismo Escatológico", escrito por Daria e
disponível no site da editora: https://www.editions-ars-magna.com





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