
Nicholai, Helena, George e Svetoslav, em Nagar, Kullu Valley, Índia.
A 16 de Agosto de 1902 nasce em Okulovka, Novogorod, Rússia, George (ou Yuri) Roerich, filho do notável pintor Nicholai Roerich e de Helena Roerich. Em 1904 será o seu irmão e companheiro, Svetoslav, a vir à luz e destacar-se-á como pintor, casando-se em 1945 com Devika Rani, uma famosa actriz de cinema e viverão e desencarnarão em Bangalore, em 1993. Ainda me correspondi com ele, mas convidado a visitá-los não pude.
Desde cedo mostrou
facilidade na aprendizagem de línguas, aos 15 anos estudando
o egípcio e o mongol na Rússia, e desde os 17, em Londres, o sânscrito e
o pali. De 1920 a 1922 está nos USA com os pais e aprofunda na
universidade de Harvard o
sânscrito e os estudos de arte ornamental e simbólica, bem como o
chinês. Em 1922-23 estuda em Paris, colabora com vários sábios e
aprofunda sânscrito, persa, mongol, chinês e tibetano, doutorando-se em
Filologia Indiana em 1923. Chega no fim do ano aos sonhados Himalaias,
onde aprofunda os estudos de tibetano e de arte, descobrindo ligações
entre a Rússia e o Tibete, publicando o livro pioneiro Tibete Paintings.
Em 6 de Março de 1925, após uns meses de visita da Índia e do Sikkim, começa a expedição da Ásia Central com os pais, e alguns ajudantes, que os leva de Srinagar até Darjeeling através do interior da Ásia central (Turquistão chinês, Rússia, Tibete, Mongólia) durante mais de quatro anos (fim, em Maio de 1928), 25.000 quilómetros, e recolherá muita informação, peças e documentos
pioneiros de arte, história e arqueologia (nomeadamente dolmens e cairns ou pirâmides de pedras), religião, magia e ciência botânica,
destacando-se ainda pelos seus conhecimentos militares, e por isso foi o
encarregado da segurança de expedição (por vezes bem complexa, pois iam 44 camelos com pessoas e coisas, e perigosa) e linguísticos pois era o
intérprete ideal ao saber hindi, sânscrito, tibetano e mongol. Dotado de grande sensibilidade, clarividência e capacidade de síntese, conseguiu controlar e ajudar a superar as dificuldades, e talvez destas experiências se formasse o seu conselho, mais tarde frequente, de que deveremos ver qualquer assunto a partir das mais diferentes perspectivas ou fontes, se queremos chegar à verdade, curiosamente algo hoje negado e perseguido pelas narrativas oficiais dos governos e meios de comunicação ocidentais.
Instalam-se
em Darjeeling , no Talai-Pho Brang, onde fundam a 24 de Julho de 1928 o Instituto Urusvati, de Investigação
Himalaica, para ordenarem, preservarem, estudarem e divulgarem o extenso
material recolhido, e recebem e dialogam com alguns visitantes tibetanos especiais, tal o Geshe Rimpoche do mosteiro em Chumbi, bom conhecedor dos ensinamento do Kalachakra, de Shambhala e de Rigden Jyepo, e dinamizador de tal corrente espiritual na arte e no culto.
Mudam-se uns meses depois para Naggar, em Kullu
Valley, onde estabilizarão, e ele dirigirá durante dez anos o Instituto, com várias
publicações valiosas a serem dadas à luz. Embora um erudito e intelectual, era sobretudo um espiritual e constantemente advertiu do perigo do intelectualismo, pois o sentir, o sentimento, a simpatia, a aspiração e o amor são essenciais na progressão no caminho da realização espiritual, da beleza, da ética. Toda a família trabalhava espiritualmente no aprofundamento da energia psíquica, dos raios cósmicos, da ligação ao mestre.
George transcreveu o diário que foi escrevendo durante a expedição, documenta com boas fotografias, enriqueceu-o com equilibrada e ajustada erudição histórica, etnográfica e religiosa, e seu livro Trails to inemost Asia sai em 1930, com tradução francesa três anos depois prefaciada por
Louis Marin, Sur Les Pistes de l'Asie Centrale, tornando-se um marco no conhecimento da Ásia Central, até então
pouco conhecida cientificamente. O pai realizou 500 pinturas durante a
expedição, hoje espalhadas por todo o planeta...
Entre
1934 e 1935 participa com o pai numa nova expedição à Mongólia e à
Manchúria, China e Japão, desta vez já não financiada pelo governo russo de Estaline mas pelo discípulo de Nicholas Roerich e secretário
do Departamento da Agricultura dos USA, Henry Wallace, para colherem sementes e
plantas. Regressam a Naggar em Outubro de 1935, e estabilizam finalmente no Centro, que irá recebendo ilustres visitantes e investigadores. Eu
próprio passados muitos anos também o peregrinei por duas vezes... A 2ª
grande Guerra é pois passada em Naggar, com o pai tentando movimentações para a
Paz, e a restante família investigando, escrevendo, meditando. Com a morte dele 1947, George e a mãe Helena mudam-se para Deli, onde a mãe não se dá bem com o calor, Khandala e por fim a fresca himalaica de Kalimpong onde já ensinava chinês e tibetano, e história budista: com as autoridades soviéticas a demorarem a autorização do repatriamento de Helena,
a mãe desincarnará na Índia, na terra do Sanata Dharma, em 1955.
Só em 1956, após o encontro com a delegação soviética que foi a Índia,e em particular com Nikita Kruchev , é que George será convidado a regressar à Rússia como membro do Instituto de Estudos Orientais, da Academia das Ciências da URSS, onde dirige e dinamizará partir de Agosto 1957 a secção de Filosofia e História das Religiões da Índia, que alarga em Tibetologia e Nomadismo, escrevendo dezenas de artigos, começando um Dicionário de Russo, Tibetano e inglês, com correspondências em sanscrito, e uma História da Ásia Central, e ensinando sânscrito.
Divulgou ainda, além das pinturas do seu pai, os ensinamentos espirituais da Ética viva, dados pelos pais nos livros do Agni Yoga, o que foi um feito na época de forte materialismo e ateísmo de Nikita Krushchov. E quando lhe perguntaram sobre o que fazer face a tais situações, Yuri respondeu: "Considerando as condições e as possibilidades actuais, devemos esforçar-nos por falar numa linguagem que seja compreendida e, através da arte, da ciência e da moralidade, influenciar os nossos ambientes e elevar o entusiasmo e o heroísmo, que estejam ou sejam direcionados para o bem comum." E de facto o brilho do seu génio, o amor da sua alma, a realização espiritual e
divina que tinha, estimulavam beneficamente todos os que entravam em
contacto com ele.
Infelizmente em 1960, com 58 anos, talvez pelo excesso de trabalho, um ataque de coração fê-lo
deixar a Terra quando tanto ainda se esperava dele... Gate, gate paragate, parasamgate, bodhi svaha!
Do seu livro Trails to inmost of Asia,
ou do título em francês Sobre os trilhos ou pistas da Ásia Central, resolvemos
traduzir duas páginas (que encontrará destacadas no blogue no dia 17) em que trata
de Shambhala, a misteriosa dimensão espiritual mais elevada da Terra,
situada seja no Pamir, Turquestão ou deserto central do Gobi e
cujo rei ou hierarca supremo é Rig-den Jye-po, que se crê
sempre estar para voltar à Terra com o seu exército para vencer as
hordas do mal e iniciar um novo ciclo de luz. A iconografia dele e de Shambhala é muito
rica e George Roerich estudou-a bastante, para além do seu pai também a ter descrito e a ter enriquecido com algumas pinturas, uma delas muita famosa de Rig-den Jye-po flamejante, em Agni....
Enquanto o seu
pai e Helena escreveram ora como etnógrafos, pedagogos e crentes entusiastas, ora como inspirados, nomeadamente no ensinamento do Agni Yoga de mestre Morya,
sobre tal dimensão e reino, George, mais cientista, embora bom conhecedor e vivenciador das práticas espirituais, opta apenas por
referir a história e as tradições ou crenças e, sem as validar já, prefere reservar a sua opinião para quando todo o corpo documental
estiver pronto. Já antes, tal o imaginativo St. Yves de Alveydre, ou sobretudo nas décadas seguintes muitos escreveram, mais ou
menos miticamente sobre Shambhala, enquanto outros seguiram mais o conhecer e praticar a tradição tibetana,
tântrica e mântrica ligada ao ensinamento de Kalachara e de Shambala.
Os Anais Azuis, Deb-snon, uma volumosa crónica do budismo no Tibete, composta entre 1476 e 1478 por Gos lo-tsa-ba gZon-nu-dpal, e dividida em 15 skabs períodos e onde perpassam os grande e seus ensinamentos e escolas, foi outro dos livros muito
valiosos que George Roerich nos deixou, neste caso uma tradução gigantesca de mais mil páginas dada à luz em 1949, e encontrando-se hoje acessível no
Internet Archive...
Em 2002 publicaram-se os dois volumes grandes da sua correspondência, que se encontra online, em russo, e a sua História da Ásia Central está a ser também publicada, havendo vários centros dedicado às vidas e obras de Yuri, Nicholai, Helena e Svetoslav Roerich, dem dúvida génios, heróis ou mestres da Rússia e da Humanidade.
Pintura final de Nicholai Roerich: Aum Mani Padme Hum, avistado pela família Roerich na sua expedição. E com eles e os peregrinos, e o P. António de Andrade nosso missionário de Oleiros que pioneiramente o traduziu cristãmente, também nós repetimos: - Oh joia da consciência espiritual, brilha no nosso ser, chakras, actos...







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