Desta natureza ígnea resulta que o amor precisa de ar, de espaço, de liberdade e de poder ora acolher ora dar. E assim as pessoas desejam-se umas às outras, desejam ser recebidas e presentearem as melhores pérolas e dádivas que adornem o sorriso de alegria e confiança que então se desfralda na bandeira ou lenço transparente da face.
Já
a alma de quem o Eros é mais urânico e não tanto venusiano torna-se
mais amante da sabedoria dos livros e vai até eles ora como viajante perdido
no deserto em busca de refrigério, ora como sábio certeiro que na prateleira escolhe e arranca um
livro do naufrágio de estar há muito publicado e o traz de novo à luz do presente vivo, aperfeiçoando-o ao lê-lo e anotá-lo, e assim o salvando na comunhão na
Unidade, intensificando a Luz e o Amor com o autor e com o que lê, pensa e senta.
O Amor sendo um fogo subtil interior tem esse condão de aquecer e iluminar quem toca, seja livro ou pessoa, alcançando tal à distância ou mesmo já após a morte.
Quem conhece bem a capacidade dos sentimentos e orações vencerem tais barreiras de planos e tocarem as almas dos que já partiram e que nós de algum modo mais amamos ou celebramos?
São
necessários minutos, ou é a intensidade dos sentimentos, ou será a
força da vontade ou ainda a sintonia íntima, o que obra esse milagre do
que está em cima ser um com o que está em baixo, ou de dois corações
comunicarem-se em intuições e em sonhos?
Não
diga pois nenhum ser que não tem quem amar, que não ama, pois foi
gerado e educado em amor, e por muitos actos de amor ajudado ao longo da
sua vida. E tantos seres e coisas apelam ao seu amor, cuidado, atenção,
no fundo a um coração ígneo ora harmonizador, ora intensificador.
Não sejamos pois ingratos, e saibamos recolher-se dentro de nós e aí estar tanto em aspiração de realização espiritual e religação divina, como a sentir por quem mais se deve orar ou apoiar, como ainda em silêncio apenas comungar no fogo do coração.
Na noite actual de tanto egoísmo e hubris, ignorância e ódio, divisão e da inveja, saibamos não deixar que o nosso fogo seja obscurecido demasiado por tais obscurecimentos da luz e, apelando seja aos seres que mais amamos ou admiramos, seja aos mestres e anjos, seja à Divindade, invoquemos e recebamos as correntes espirituais, os suplementos de alma que intensificam o nosso tónus e lume interno e nos harmonizam.
Ad astra per aspera, aos céus e suas estrelas e luminárias vai-se por caminhos árduos, ásperos, estreitos, frequentemente de desilusão, doença e morte, para depois renascermos numa nova vibração e transparência de alma que permite ao fogo do Amor brilhar melhor, de mais profundo.
Desilude-te
pois lucidamente com o que se passa à tua volta ou no mundo, escapa dos meios de informação vendidos e facciosos, sabe
escolher a verdade e a justiça, e reforça antes o teu sistema imunitário, a tua
irradiação interior, o alargamento do fogo solar de toda a tua alma e
corpo, que o mestre Jesus Cristo na transfiguração manifestou na sua plenitude,
visivelmente mesmo ao olhar dos discípulos mais sensíveis, segundo o relato verídico, ou então mistificado, como sucede tanto nas ditas Escrituras Santas ou mesmo Divinas
Saberemos nós tornar-nos discípulos sensíveis ao caminho do meio, ao caminho, verdade e vida, a uma maior unificação e iluminação da alma que Jesus, Buda, Lau Tseu, Pitágoras, Madhva, Ruysbroeck, Marsilio Ficino, Jacob Boehme, Ramakrisna, Bô Yin Râ e outros mestres e santos e santas tanto desejam de nós?
Eis
o grande desafio do Amor: conseguirmos tanto estar e interagir criativa, alegre e sabiamente, como sintonizar e comungar com as correntes
divinas e com os seres mais despertos nelas, verdadeiros irradiantes da Luz e do Amor primordiais.
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