terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Acerca do Amor: um segundo breve ensaio. E com o duo de harpas Andreia Marques e Carmen Cardeal.

O Amor, sendo um fogo subtil interior, procura arder, comunicar-se, tocar e abrasar outros e nesses sentidos os gregos e romanos apresentaram Eros ora como um daimon, um espírito intermediário entre o Céu e a Terra, os Deuses ou Imortais e os humanos, ora como um jovem Cupido desferindo as flechas que ferem de amor quem atingem mas que também refluem sobre o amador no anel das graças.

Desta natureza ígnea resulta que o amor precisa de ar, de espaço, de liberdade e de poder ora acolher ora dar. E assim as pessoas desejam-se umas às outras, desejam ser recebidas e presentearem  as melhores pérolas e dádivas que adornem o sorriso de alegria e confiança que então se desfralda na bandeira ou lenço transparente da face.

Já a alma de quem o Eros é mais urânico e não tanto venusiano torna-se mais amante da sabedoria dos livros e vai até eles ora como viajante perdido  no deserto em busca de refrigério, ora como sábio certeiro que na prateleira escolhe e arranca um livro do naufrágio de estar há muito publicado  e o traz de novo à luz do presente vivo, aperfeiçoando-o ao lê-lo e anotá-lo, e assim o salvando na comunhão na Unidade, intensificando a Luz e o Amor com o autor e com o que lê, pensa e senta.

O Amor sendo um fogo subtil interior tem esse condão de aquecer e iluminar quem toca, seja livro ou pessoa, alcançando tal à distância ou mesmo já após a morte.

Quem conhece bem a capacidade dos sentimentos e orações vencerem tais barreiras de planos e tocarem as almas dos que já partiram e que nós de algum modo mais amamos ou celebramos? 

São necessários minutos, ou é a intensidade dos sentimentos, ou será a força da vontade ou ainda a sintonia íntima, o que obra esse milagre do que está em cima ser um com o que está em baixo, ou de dois corações comunicarem-se em intuições e em sonhos?

Não diga pois nenhum ser que não tem quem amar, que não ama, pois foi gerado e educado em amor, e por muitos actos de amor ajudado ao longo da sua vida. E tantos seres e coisas apelam ao seu amor, cuidado, atenção, no fundo a um coração ígneo ora harmonizador, ora intensificador.

Não  sejamos pois ingratos, e saibamos recolher-se dentro de nós e aí estar tanto em aspiração de realização espiritual e religação divina, como a sentir por quem mais se deve orar ou apoiar, como ainda  em silêncio apenas comungar no fogo do coração.

Na noite actual de tanto egoísmo e hubris, ignorância e ódio, divisão e da inveja, saibamos não deixar que o nosso fogo seja obscurecido demasiado por tais obscurecimentos da luz e, apelando seja aos seres que mais amamos ou admiramos, seja aos mestres e anjos, seja à Divindade, invoquemos e recebamos as correntes espirituais, os suplementos de alma que intensificam o nosso  tónus e lume interno e nos harmonizam.

Ad astra per aspera, aos céus e suas estrelas e luminárias vai-se por caminhos árduos, ásperos, estreitos, frequentemente de desilusão, doença e morte, para  depois renascermos numa nova vibração e transparência de alma que permite ao fogo do Amor brilhar melhor, de mais profundo.

Desilude-te pois lucidamente com o que se passa à tua volta ou no mundo, escapa dos meios de informação vendidos e facciosos, sabe escolher a verdade e  a justiça, e reforça antes o teu sistema imunitário, a tua irradiação interior, o alargamento do fogo solar de toda a tua alma e corpo, que o mestre Jesus Cristo na transfiguração manifestou na sua plenitude, visivelmente mesmo ao olhar dos discípulos mais sensíveis, segundo o relato verídico,  ou então mistificado, como sucede tanto nas ditas Escrituras Santas ou mesmo Divinas

Saberemos nós tornar-nos discípulos sensíveis ao caminho do meio, ao caminho, verdade e vida,  a uma maior unificação e iluminação da alma que Jesus, Buda, Lau Tseu, Pitágoras, Madhva, Ruysbroeck, Marsilio Ficino, Jacob Boehme, Ramakrisna, Bô Yin Râ e  outros mestres e santos e santas tanto desejam de nós?

Eis o grande desafio do Amor: conseguirmos tanto estar e interagir criativa, alegre e sabiamente, como sintonizar e comungar com as correntes divinas e com os seres mais despertos nelas, verdadeiros irradiantes da Luz e do Amor primordiais.

Consciencializemos e realizemos pois o Amor  pela vida activa sincera, harmoniosa e fraterna e pelo estudo, meditação, oração, canto e contemplação que nos abrem ao  mundo espiritual e divino, para que assim os raios luminosos do Amor Sabedoria resplandeçam e penetrem cada vez mais beneficamente na Gaia tão ferida e no Universo.  
                                
 Segue-se nesta pequena homenagem à alma amiga e tão luminosa, e já partida para os mundos espirituais, da Andreia Marques, que há conheci há uns anos,  a música  da sua harpa-lira pitagórica, com que fui redigindo o ensaiozinho. Muita Luz e Amor Divinos na Andreia!

                          

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