sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

De Fernando Leal, versão do "Primeiro Encontro do Cristo com o Túmulo", poema de Victor Hugo. Dum jornal de Pangim, 1910.

                                                                      
                    Vera efígie de Jesus, por Bô Yin Râ, que nas suas obras aprofundou bem a sua vida e ensinamentos, em especial no Livro do Deus Vivo, Mistério da Golgota e A Sabedoria de João.
Em Setembro de 1910, uns meses depois de desincarnar  o poeta Fernando Leal, um luso-indiano nascido em Margão, Índia Portuguesa, de pais portugueses e casado com uma portuguesa Maria Guiomar de Noronha, cuja família já vivia há séculos na Índia (e pode ler a sua biografia em https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2014/10/fernando-leal-oficial-cientista-e-poeta.html), era dado  à luz num jornal luso-indiano (cujo nome está semi-obliterado nas costas do poema), cremos que de Goa, uma versão sua dum poema de Victor Hugo, que parafraseia um passo da vida de Jesus Cristo, conforme foi elaborado no Evangelho de S. João, o menos histórico e mais místico, gnóstico e iniciático (donde as inúmeras hermenêuticas mais ou menos gnósticas ou esotéricas), e onde se transmite o ensinamento mais profundo de Jesus, o do renascimento do Espírito em nós, de que o episódio de Lázaro é uma materialização milagrosa,  para mover as emoções das pessoas, fazendo-as talvez admitir e aspirar mais  ao renascer do Espírito.

Victor Hugo, muito influente, com Jules Michelet, em Portugal na segunda metade do séc. XIX.

Passados 113 anos, e porque encontrei o recorte do jornal que o continha, trazido  pelos meus bisavó maternos, já que a bisavó Maria Helena era irmã da Guiomar e nora de Fernando Leal, certamente quando vieram da Índia para Portugal continental em 1921, resolvi publicá-lo nestes dias ainda natalícios de 2023, embora tão trágicos pela desumanidade  israelita contra os palestinianos, até para nos fazer vibrar um pouco mais com o mestre Jesus Cristo, tão sofredor na aura espiritual da Terra com o que se passa...

Uma das duas fotografias de Fernando Leal conhecidas, publicada no Século aquando da sua libertação terrena em Abril de 1910, como pode ler em https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2014/10/fernando-leal-oficial-cientista-e-poeta.html

E ainda porque Fernando Leal, que fora durante muitos anos um audaz livre pensador, com Gomes Leal, forte crítico do imperialismo inglês e do clericalismo, e grande amigo de Antero de Quental, de cujo convívio  nos restam cartas bem profundas dos diálogos que acalentaram e perenizaram,  demandara sempre a Justiça, a Verdade e a Divindade, e como tradutor excelente do francês e de Victor Hugo, e nisso muito elogiado por Antero de Quental e outros  escritores, como Camilo Castelo Branco, Silva Pinto, Gomes Leal, Guiomar Torrezão, fez uma bela tradução (com um senão: traduzir o prêtre, de Victor Hugo, por padre, quando deveria ser sacerdote) dum dos passos miraculosos da vida de Jesus, lendário mas emocionante, embora, passados estes 2000 anos e  tão ensanguentados agora na Palestina, a sua força seja menor....

                                     

Partilho assim o recorte, e transcrevo-o. Anote-se que o poema tinha sido publicado originalmente no livro Reflexos e Penumbras. Traduções de Victor Hugo e Versos Originais, Lisboa, 1880, e fora dedicado então a João de Deus, grande amigo de Fernando Leal e de Antero de Quental, e de Deus mais crente do que este último, o cavaleiro da Mors-Amor.

Antero de Quental, 1842-1891, na cruz da Luz Divina.

Que a paráfrase (como Erasmo realizara para todos os Evangelhos muito sabiamente) nos possa inspirar a renascer e a religar-nos mais ao espírito divino tão manifesto em Jesus e nos mestres, no campo unificado de energia consciência, ou corpo místico da Humanidade, de que Jesus Cristo é para muitos, sobretudo Ocidentais, a cabeça ou, quem sabe, o coração.

                                   

Primeiro Encontro do Cristo com o Túmulo.

De Victor Hugo.

 «Naquele tempo andava o Cristo pelo Mundo;

Do corpo da possessa havia expulsado o Imundo,

Aos cegos dera a vida e sarara os leprosos;

Mandavam-no espreitar os sacerdotes, rancorosos.

Quando Ele ia uma vez para Jerusalém,

Em Betânia morreu Lázaro, homem de bem.

Eram suas irmãs Maria e Marta; aquela

Foi a que, derramando a essência pura e bela

De nardo, ungiu os pés de Jesus Cristo um dia.

Ora, ele amava a Marta, a Lázaro e a Maria.

"Lázaro faleceu", lhe disse alguém.

                                                      Passou-se

Um dia; e como o povo ao seu caminho fosse,

Ele explicava a lei e os símbolos, em fábulas;

Como Elias e Jacob, falava por parábolas.

Dizia: "Quem me segue, ao anjo é semelhante.

Se marcha um dia inteiro ao sol um caminhante

Através dum sertão sem água e sem pousada,

Em vindo a noite cai de inanição na estrada,

Se não o ampara a fé, chorando e sem alento;

Mas pode recobrar as forças num momento,

Erguer-se e prosseguir, se orar, se crer no Cristo."

E aos discípulos disse, interrompendo-se, isto:

"Lázaro dorme; eu vou erguer o nosso amigo."

E eles disseram:"Mestre. iremos nós contigo."

Quinze estádios percorre, ou pouco menos, quem

De Betânia caminha até Jerusalém.

Jesus partiu. Andava adiante e pensativo;

Muitas vezes, na estrada, um cintilante e vivo

Fulgor lhe iluminava a túnica de linho

Quando Jesus chegou, saiu Marta ao caminho,

E caindo a seus pés, bradou-lhe com transporte:

Se estivesses aqui, não o prostrava a morte"

E a chorar ajuntou:"Chegas tarde, Senhor!"

"Que sabes tu, mulher? - lhe disse o Redentor -

O ceifeiro somente é dono da seara."


Maria, em sua casa, entretanto ficara.

Marta, disse-lhe "Vem, o mestre quer-te ver."

Foi, disse-lhe Jesus:"Porque choras, mulher?"

E ela, a seus pés, clamou: "Só Tu, Senhor, és forte!

Se estivesses aqui, não prostrava a morte."

"Quem me segue é feliz, disse-lhe então Jesus.

Teu irmão viverá, Eu sou a vida e a luz,

Quem crê em mim, ressurge e vive eternamente."

E estava ali Tomás, o lídimo, presente.

Seguiam Cristo, Pedro e João, com desvelo: 

Jesus disse aos judeus que tinham vindo vê-lo:

"Onde o pusestes vós? - A sepultura é esta,"

Disse a turba mostrando, ao pé duma floresta,

Um sepulcro que estava aquém duma torrente.

Então chorou Jesus.

Vendo isto aquela gente,

Começou a bradar."Vede como era intensa

A afeição que lhe tinha! Ao cego de nascença

Dizem que deu a vida: ora se fosse Deus,

Deixaria morrer assim amigos seus?"

 

 Marta levou Jesus aquele ermo silvestre

Onde estava o sepulcro, e ali disse:"Mestre!

Sei que és o Cristo [ungido de Deus], e sempre cri no que dizias;

Mas ele já morreu, Senhor, há quatro dias."

 

Disse Jesus:" Mulher, se crês, os olhos teus

Vão aqui a ver a glória infinita de Deus."

Sobre o sepulcro estava, a servir-lhe de tampa,

Uma pedra; Jesus mandou abrir a campa.


Pode então ver-se o morto envolto no sudário,

Qual saco de dobrões que enterra um usurário.

E Erguendo a vista ao céu, Jesus como quem ora,

"Lázaro! - em voz alta bradou -sai para fora." 

E o que estivera morto, ergueu-se então depressa;

Tinha atado os pés e um lenço à cabeça;

Levantado encostou-se ao muro tumular.

Disse Jesus:" Soltai-lhe os nós, deixai-o andar"

Veno isto a multidão, creu logo no Messias.

Ora, os padres, conforme as santas profecias,

Foram cheios de medo a casa do perfeito

Romano; o que em Betânia o Cristo havia feito

Sabiam-no e, de pois de bem deliberar,

Disseram:"É chagado o tempo de o matar."

                                          Fernando Leal.

Com a fé dos que acreditaram nesta piedosa lenda ou santo milagres, saibamos reerguer-nos sempre que precisarmos e, com as bênçãos de Jesus e dos Mestres, Santos e Santas, renascermos no corpo espiritual para a nossa entidade de centelhas filhas da Divindade...

Pintura de Jean de Flandes...
                               

quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

O pedagogo Manuel Ferreira Patrício, fala sobre Leonardo Coimbra e Agostinho da Silva, em 1999, na Associação Agostinho da Silva. Breve apontamento.

O pedagogo Manuel Ferreira Patrício, 1938-2021.

Transcrição, algo acrescentada [..], do diário de 1999, 29 Janeiro, Sexta: «Há dois dias fora uma conferência do José Flórido no Museu da República, e ontem foi a conversa com Manuel Patrício, da Universidade de Évora, na Associação Agostinho da Silva, em Lisboa. Falou acerca de Leonardo Coimbra e de Agostinho da Silva, uma união de duas almas bem valiosas e pioneiras, com boa fluência ainda que perdendo algum tempo com explicações pessoais iniciais, embora contextualizadoras. Mostrou o plano da conferência: origens, formação, personalidades e estilos, destino. E relembro que escreveu a sua dissertação de doutoramento em Ciências de Educação em 1983 na Universidade, sobre A Pedagogia de Leonardo Coimbra, Teoria e Prática, uma valiosa obra que se encontra hoje em linha, e onde aprofunda a pedagogia antropológica e filosófica de Leonardo, denominando-a mesmo com originalidade como uma "antropagogia" pois o seu horizonte é sempre espiritual e divino.

Agostinho da Silva, 1906-1994.

Leonardo Coimbra, 1883-1936.

No decorrer da conversa lembrou algumas confidências de Sant'Anna Dionísio e de outros discípulos quanto à personalidade de Leonardo, tal a de alguém ter visto levitar Leonardo [pelo seu entusiasmo, e como outros o viram tentar ressuscitar um seu aluno acabado de falecer], ou ainda a sua paixão por uma estudante, a Eurídice, destinatária da Adoração [uma sua obra de prosa poética amorosa, que li e de grande beleza e sensibilidade amorosa com a Mulher e a Natureza, algo que ele manifestaria desde novo pelo seu genial espírito e por ter nascido próximo do Marão e dos campos regados pelo rio Tâmega].

Páginas da Adoração, livro com sugestivos desenhos de João Peralta.

No aspecto da sinceridade e frontalidade considerou-os iguais, e por isso talvez desde cedo tenha havido um certo choque entre eles, pois não corresponderia ao seu som o som do outro. Assim, dirá Manuel Ferreira Patrício [um especialista de música, fundador de coros e maestro], na apreciação formativa das pessoas repudiamos o que não nos soa ou ressoa.
Ainda tentei
que ele clarificasse e aprofundasse o mistério do som característico de cada ser, se proveniente dos pais, dos genes, da alma na sua profundeza ou na sua variável constituição, mas a resposta não foi clara pois referira-se mais ao som geral da voz e do que sentimos da interioridade de tal pessoa. 

Mas podemos imaginar que há uma menção da sonoridade das almas nossas, compostas de milhões de partículas a vibrarem segundo certas qualidades, características, intencionalidades, que impactam sobre os outros e o ambiente invisivelmente; e que fatalmente nem sempre há afinidades entre as nossas frequências e as dos outros, pelo que sentimos um certo repúdio a deixar-nos influenciar por essas que não apreciamos dos outros. Provavelmente o estilo bem mais ígneo e de tribuno, levitante, entusiasmador de Leonardo não era bem o de Agostinho da Silva, muito mais de diálogo, ainda que o seu verbo-palavra também fosse contínuo, não ouvindo tanto do outro e antes mais intuindo o que lhe brotava na conversa como o mais apropriado para aquele ouvinte ou momento.
Referiu 
no pensamento da Educação portuguesa um aspecto positivista  em Leonardo Coimbra, embora sendo a sua filosofia platónica e criacionista, pois era um não messianista, ao contrário portanto duma linha e tradição que Agostinho da Silva defendeu bastante, baseando-se até na Rainha S. Isabel e D. Dinis e o culto fraterno do Espírito Santo, e depois nos Descobrimentos e na ilha do Amor, de Camões, e no V Império do Padre António Vieira e Fernando Pessoa, chegando a afirmar mesmo Agostinho, afirmou Patrício, que se não o fossemos (o povo ou nação do Encoberto, da era do Espírito Santos, ou do Império fraterno) que nos auto-elegessemos... Muito numa linha provocadora ou estimulante agostiniana...
                                               
Questionei-o então se conseguiríamos, ta
nto mais que a síntese crítica e lúcida entre os utopismos nacionalistas e uma racionalidade objectiva de quem somos e o que conseguimos fazer e dinamizar é evidentemente muito necessária. E por isso, já no fim, em conversa, expus-lhe a necessidade duma educação universalista que deveria ser redigida por um grupo alargado de sábios, cientistas, religiosos e artistas e que a UNESCO ou as Nações Unidas implementariam para todo os povos e centros de ensino do planeta, ultrapassando nacionalismo e fanatismos religiosos. Assim como a história da Europa que deveria ser ensinada em todos os países europeus, com alguns livros de referência de leitura obrigatória, acrescento agora. [Algo que infelizmente vemos ter desaparecido completamente, com a quase dissolução das Europa histórica das nações, tradições e culturas na União Europeia dirigida pelos globalistas infrahumanistas.]

Leonardo Coimbra e Teixeira de Pascoaes, 1877-1952.

Um aspecto apenas aflorado foi o do nacionalismo, ou génio nacional português, poder gerar uma corrente universal, ou se é antes a corrente universal espiritual que perpassa meramente pelos povos e pensadores, já que Teixeira de Pascoais, [o principal teorizador do nacionalismo espiritual lusitano, do saudosismo] tenderia a crer na primeira versão, bastante mitificada [nas suas obras, como já vinha de antes dele, numa linha que Fernando Pessoa prosseguirá depois ainda mais messianicamente, estudando profecias e escrevendo a Mensagem com algumas inseridas muito artística e esotericamente.]
                                                  
Entre o racional e o que já não se deixa alcança
r por ela, [ou seja o supra-sensível, o imaginal, o espiritual], Teixeira de Pascoais , Fernando Pessoa e Agostinho da Silva tentaram erguer os mitos, diz Manuel Patrício. Contudo, não me parece ser esta a melhor ou mais adequada escolha de intermediarização, pois interessa antes que as pessoas desenvolvam as suas capacidades supra-sensoriais, sensitivas, intuitivas e de religação ao amor, ao espírito, à Divindade, e eventualmente aos mestres e anjos, reais, e não os espectros da natureza de Pascoaes ou de D. Sebastião de Fernando Pessoa.

                                      
Na realidade um dos graves perigos actuais
é a perda da sensibilidade interior aos mundos espirituais interiores e ao Todo, ao Universo a qual é devida em grande parte ao excesso de informação racional, ainda que muita manipulada e facciosa, que recebemos constantemente pelos meios de informação, e que faz crescer desmesuradamente o intelecto, ou então a emocionalidade instintiva e facilmente manipulável, Assim diariamente deveríamos ter algum tempo destinado à meditação, à interiorização, pois como o sábio médico florentino Marsilio Ficino, o primeiro tradutor das obras de Platão, Plotino e dos esotéricos e herméticos gregos para latim, disse um dia: como é só pela adoração e oração que a Divindade se deixa ver, aqueles que não rezam não a podem ver, seja de que forma for, e logo alcançar uma íntima certeza da sua existência.

Nas conferências, tanto no primeiro dia, com José Flórido (um rosacruciano e agostiniano), como ontem com Manuel Patrício, dois professores amigos, estavam umas dez pessoas em cada. É pena, mas é significativo do desinteresse das pessoas por estas iniciativas valiosas mas frequentemente pouco ou mal divulgadas. O ilustre pedagogo Manuel Ferreira Patrício referiu ainda duas confissões que o Jaime Cortesão [outro dos co-fundadores (com Teixeira de Pascoaes, Leonardo Coimbra, etc.) da Renascença Portuguesa e da sua então tão brilhante revista A Águia, lhe fizera: a pertença dele e de Leonardo (embora apenas na juventude) à Maçonaria, e o ter talvez sacrificado (ou oferecido em oração de abnegação) a sua vida para que a do seu do filho então com grave doença fosse poupada, já que a sua morte precoce num acidente de automóvel, quanto tanto se esperava dele, causou muitas hipóteses explicativas , tais as de Teixeira Pascoaes e de Sant'Anna Dionísio, que admitiram que a sua conversão ao catolicismo, do Portugal de Salazar e de Cerejeira, fora um passo em falso, outras considerando o acidente um acaso e louvando a sua aceitação dos sacramentos (mais até que de uma conversão, pois Leonardo Coimbra sempre foi um espiritual e um admirador de Jesus), para poder ficar casado pela igreja e baptizar o seu filho.

Que Leonardo Coimbra, Teixeira de Pascoaes, Sant'Anna Dionísio, Agostinho da Silva e Manuel Patrício possam comunicar-se e elevar-se mais divinamente, em bons planos espirituais, e até inspirarem-nos, eis os nossos votos. Lux, Amor!

Embora me tenha encontrado cordialmente em eventos culturais algumas vezes com o prof. Manuel Patrício ao longo dos anos e de ter recebido uma sua carta valiosa em 2009 (que poderei vir a transcrever) acerca do  livro de Erasmo, Modo de Orar a Deus, que eu co-traduzira e comentara, o que posso partilhar de mais completo, já que o apontamento da palestra é exíguo, será o diálogo (em quatro partes) que gravei (com alguma força a mais já que ele ouvia mal) em 2020, em sua casa e biblioteca de Montargil, onde fui com a amiga e sua colega Maria Dulce, uns meses antes dele partir para os mundos espirituais. E eis uma delas: https://youtu.be/yL1BdSZGE7I?si=jplCs-6xloR_Ep-Q ou https://youtu.be/cD11Ars02Nw?si=ZjOKBR2D256vlazQ

terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Acerca do Amor: um segundo breve ensaio. E com o duo de harpas Andreia Marques e Carmen Cardeal.

O Amor, sendo um fogo subtil interior, procura arder, comunicar-se, tocar e abrasar outros e nesses sentidos os gregos e romanos apresentaram Eros ora como um daimon, um espírito intermediário entre o Céu e a Terra, os Deuses ou Imortais e os humanos, ora como um jovem Cupido desferindo as flechas que ferem de amor quem atingem mas que também refluem sobre o amador no anel das graças.

Desta natureza ígnea resulta que o amor precisa de ar, de espaço, de liberdade e de poder ora acolher ora dar. E assim as pessoas desejam-se umas às outras, desejam ser recebidas e presentearem  as melhores pérolas e dádivas que adornem o sorriso de alegria e confiança que então se desfralda na bandeira ou lenço transparente da face.

Já a alma de quem o Eros é mais urânico e não tanto venusiano torna-se mais amante da sabedoria dos livros e vai até eles ora como viajante perdido  no deserto em busca de refrigério, ora como sábio certeiro que na prateleira escolhe e arranca um livro do naufrágio de estar há muito publicado  e o traz de novo à luz do presente vivo, aperfeiçoando-o ao lê-lo e anotá-lo, e assim o salvando na comunhão na Unidade, intensificando a Luz e o Amor com o autor e com o que lê, pensa e senta.

O Amor sendo um fogo subtil interior tem esse condão de aquecer e iluminar quem toca, seja livro ou pessoa, alcançando tal à distância ou mesmo já após a morte.

Quem conhece bem a capacidade dos sentimentos e orações vencerem tais barreiras de planos e tocarem as almas dos que já partiram e que nós de algum modo mais amamos ou celebramos? 

São necessários minutos, ou é a intensidade dos sentimentos, ou será a força da vontade ou ainda a sintonia íntima, o que obra esse milagre do que está em cima ser um com o que está em baixo, ou de dois corações comunicarem-se em intuições e em sonhos?

Não diga pois nenhum ser que não tem quem amar, que não ama, pois foi gerado e educado em amor, e por muitos actos de amor ajudado ao longo da sua vida. E tantos seres e coisas apelam ao seu amor, cuidado, atenção, no fundo a um coração ígneo ora harmonizador, ora intensificador.

Não  sejamos pois ingratos, e saibamos recolher-se dentro de nós e aí estar tanto em aspiração de realização espiritual e religação divina, como a sentir por quem mais se deve orar ou apoiar, como ainda  em silêncio apenas comungar no fogo do coração.

Na noite actual de tanto egoísmo e hubris, ignorância e ódio, divisão e da inveja, saibamos não deixar que o nosso fogo seja obscurecido demasiado por tais obscurecimentos da luz e, apelando seja aos seres que mais amamos ou admiramos, seja aos mestres e anjos, seja à Divindade, invoquemos e recebamos as correntes espirituais, os suplementos de alma que intensificam o nosso  tónus e lume interno e nos harmonizam.

Ad astra per aspera, aos céus e suas estrelas e luminárias vai-se por caminhos árduos, ásperos, estreitos, frequentemente de desilusão, doença e morte, para  depois renascermos numa nova vibração e transparência de alma que permite ao fogo do Amor brilhar melhor, de mais profundo.

Desilude-te pois lucidamente com o que se passa à tua volta ou no mundo, escapa dos meios de informação vendidos e facciosos, sabe escolher a verdade e  a justiça, e reforça antes o teu sistema imunitário, a tua irradiação interior, o alargamento do fogo solar de toda a tua alma e corpo, que o mestre Jesus Cristo na transfiguração manifestou na sua plenitude, visivelmente mesmo ao olhar dos discípulos mais sensíveis, segundo o relato verídico,  ou então mistificado, como sucede tanto nas ditas Escrituras Santas ou mesmo Divinas

Saberemos nós tornar-nos discípulos sensíveis ao caminho do meio, ao caminho, verdade e vida,  a uma maior unificação e iluminação da alma que Jesus, Buda, Lau Tseu, Pitágoras, Madhva, Ruysbroeck, Marsilio Ficino, Jacob Boehme, Ramakrisna, Bô Yin Râ e  outros mestres e santos e santas tanto desejam de nós?

Eis o grande desafio do Amor: conseguirmos tanto estar e interagir criativa, alegre e sabiamente, como sintonizar e comungar com as correntes divinas e com os seres mais despertos nelas, verdadeiros irradiantes da Luz e do Amor primordiais.

Consciencializemos e realizemos pois o Amor  pela vida activa sincera, harmoniosa e fraterna e pelo estudo, meditação, oração, canto e contemplação que nos abrem ao  mundo espiritual e divino, para que assim os raios luminosos do Amor Sabedoria resplandeçam e penetrem cada vez mais beneficamente na Gaia tão ferida e no Universo.  
                                
 Segue-se nesta pequena homenagem à alma amiga e tão luminosa, e já partida para os mundos espirituais, da Andreia Marques, que há conheci há uns anos,  a música  da sua harpa-lira pitagórica, com que fui redigindo o ensaiozinho. Muita Luz e Amor Divinos na Andreia!

                          

Breve ensaio sobre o Amor, já com uns anos e hoje finalizado e dinamizado.

                                      
Para mantermos o Amor, temos de o conservar vivo ou acesso, pois é ígneo, no nosso ser interior, na nossa interioridade mais íntima, e inextinguível mesmo que sob as maiores adversidades.
Devemos contrair ou controlar a nossa exteriorização dispersante, hoje tão intensificada pelos meios de informação e a internet, e assumirmos com força persistente a circulação divina que liga a terra e o céu nos seres humanos, seja pela vida harmoniosa no campo telúrico-celestial ainda natural, seja por lembranças e orações, mantras e meditações, gestos e sentimentos, plena atenção e actos...
Recebemos o Amor como dádiva que desce do alto, da Fonte Divina e do Sol, e que brota por dentro da alma e do peito e manifestando-se mais intensamente no relacionamento afectivo, na abnegação, na reciprocidade, na gratidão, na adoração.
Quando decidimos abrir mais as comportas da alma ao oceano do Amor este fluir apropriadamente mais e compreendemos quão importante é circularmos  natural e eticamente nos ambientes e universo, numa intencionalidade do bem e da verdade, e que então amarmos, sermos e darmos é o swadharma, o nosso dever e missão, que brota em interdependência sábia, justa e por vezes até inspirada.
Face às imperfeições e choques, defeitos e desilusões, crimes e mortandades, quem aspira e quer ser um espírito fiel do Amor deve situar-se acima dessas limitações e não se envolver demasiado criticamente nelas, pois assim é que poderá passar mais dos fenómenos sombrios do transitório para a luminosidade essencial de sermos centelhas do Amor divino, chamados a sermos luzes no mundo, desprendidas e incorruptas das ignorâncias facciosas e maldosas.
Como os seres têm vários corpo ou revestimentos, visíveis e invisíveis, físicos, subtis e espirituais, há que lembrar-nos que o centro ou núcleo deles é a pérola perdida ou esquecida do espírito, do amor, da paz e serenidade; e logo procurarmos unificar e mergulhar nas águas anímicas até chegarmos a ver tal estrela brilhante íntima , o que acontece sempre por graça dela e do Alto e Divino, embora sempre para tal seja preciso o esforço, a dádiva, a oração, a aspiração.
Amor, o conquistador; Amor, a Presença Divina; Amor, o cerne de quem somos, Amor, o Logos spermatikoi (a Inteligência Amorosa subjacente) que une todos os seres.
Procuremos nestes tempos tão bárbaros e manipulados, de tanta decadência do Ocidente da dignidade humana e dos seus direitos, por culpa de tanta corrupção e traição dos dirigentes políticos, preservar o fogo solar do amor divino brilhando desde o mais íntimo de nós e inextinguível, invencível.... 
Aum Agni Om Ignis Aum...

segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

Diálogo com Aleksandr Dugin:"Política Externa como Guerra Espiritual", por Edward Stawiarski, 25.XII.2023, e aperfeiçoado nesta edição em português.

                                   

Política Externa como Guerra Espiritual: Diálogo com Aleksandr Dugin, por Edward Stawiarski.   25.12.2023. Pelo seu interesse quanto ao embate entre o ser espiritual e a modernidade anti-tradicional, foi extraído da rede social alternativa vk.com, e  melhorado nesta edição em língua portuguesa.

«Filósofo, místico, estratega político, boémio radical e guru geopolítico russo, Aleksandr Dugin é notoriamente conhecido, mas poucos no Ocidente sabem muito dele. Descrito por alguns [erradamente...] como o cérebro do presidente russo Vladimir Putin, Dugin é frequentemente retratado [manipuladoramente...] pelos meios de informação ocidentais [russófobos] como uma figura rasputinesca, com um controle perigosamente assustador sobre a elite política e intelectual da Rússia.
Embora pudesse s
er verdade, como afirmam inúmeros artigos, [mas não é...] que Dugin tenha muito a ver com a actual estratégia geopolítica da Rússia na Ucrânia, menos exploradas são as crenças-ideias religiosas e espirituais entretecidas na sua filosofia. Essas crenças-ideias são informadas, por um lado, pelo perenialismo e pelo tradicionalismo esotérico do intelectual francês René Guénon, que tentam sintetizar a metafísica oriental com a filosofia ocidental e, por outro lado, pelo Cristianismo Ortodoxo Russo.
A filosofia política de Dugin tem como
objetivo a criação de um mundo multipolar no qual os EUA não sejam mais a única superpotência mundial. Ele também prevê uma quarta teoria política que não seja capitalista, comunista ou fascista, mas uma compilação totalmente nova que adote as boas facetas de todos os três sistemas. Mas, ao contrário da maioria dos teóricos políticos, as suas crenças estão imbuídas de hermenêutica oculta e mística. Aqueles que não se familiarizarem com suas crenças-ideias espirituais estarão condenados a uma compreensão superficial e sem alma de sua influência.
Entrevistei Dugin em
fevereiro de 2022 - algumas semanas antes da invasão russa na Ucrânia - e pedi que ele explicasse o seu Cristianismo e como tal influenciou a sua filosofia. Esse é um tópico que o interessa muito, e sua resposta refletiu a intensidade de seu interesse.
                                      
Dugin disse-me que o seu caminho para o Cristianismo se deu em três etapas importantes. A primeira foi o seu batismo quando era criança, a pedido de sua bisavó. Mas não deu muita atenção à fé enquanto crescia sob a influência de uma sociedade comunista e de um pai ateu.
O segundo
estágio ocorreu aos 18 anos, quando  entrou num círculo de radicais russos clandestinos que pretendiam rejeitar as máximas utópicas e os mitos do comunismo. Eles apresentaram ao jovem Dugin o mundo alienígena do tradicionalismo esotérico por meio de René Guénon (1886-1951) e Julius Evola (1898-1974), e tais ensinamentos  preencheram o seu vazio espiritual. O tradicionalismo esotérico defende que todas as civilizações e povos devem retornar ao espiritualismo dos seus arquétipos culturais tradicionais - os russos são cristãos ortodoxos naturais, por exemplo. Para Dugin, foram Guénon e Evola que lhe deram o alicerce a partir do qual começou a criticar a modernidade e a analisar profundamente o Cristianismo Ortodoxo Russo.
                                                                  
                                                    René Guénon (1886-1951) e Julius Evola (1898-1974).
Dugin disse que, durante o final do período soviético e nos primeiros cinco anos da década de 1990, não conseguia conciliar a "verdadeira tradição com o cristianismo intelectual" e que estava desanimado com a perspectiva dos crentes cristãos seus contemporâneos. Por fim, entregou-se à humildade de aceitar a Ortodoxia, submetendo-se à sua disciplina religiosa para ter acesso aos sacramentos.

Essa submissão acabou levando-o ao terceiro estágio: juntou-se a um pequeno ramo da Igreja Ortodoxa Russa, que, embora ainda em comunhão com o Patriarca de Moscou, praticava o antigo rito das reformas pré-Niceia. O velho rito atraiu a sua aspiração pela tradição e assemelha-se ao remanescente de tradicionalistas católicos que prefere a liturgia, as disciplinas e os sacramentos anteriores ao concílio Vaticano II. Dugin deixou-me claro que sentia uma grande semelhança entre o seu retorno à Igreja e o do tradicionalista guenoniano americano e sacerdote ortodoxo, Seraphim Rose (1934-1982), que foi batizado como metodista e se converteu do ateísmo.
                                    
Alexandre Dugin explicou que escolheu o Cristianismo Ortodoxo em vez do Catolicismo e do Protestantismo porque vê a Igreja Ortodoxa como incorporada ao mito da Rússia e como parte de uma tradição da qual ele não consegue se desvincular. Essa resposta levou a uma pergunta mais complicada: como  concilia  o absolutismo dogmático do Cristianismo com a abordagem aberta em relação às religiões orientais adotada pelo tradicionalismo esotérico, que poderia ser visto como indiferentismo-relativismo paraa mente ortodoxa?
                                 
Dugin respondeu que Evola e Guénon o ensinaram a respeitar as diferentes religiões sagradas e a não comparar as diferenças entre elas, mas sim compará-las com a Modernidade. Tudo que é antimoderno é bom, disse Dugin; ver as diferentes tradições religiosas em união com esse princípio permite que ele reconcilie tradições não cristãs e não ortodoxas. No entanto, ele admite, de forma paradoxal, a crença-ideia de que é preciso concordar totalmente com os ensinamentos da sua religião cristã, incluindo o seu ênfase de que todas as outras religiões estão erradas [algo discutível...]. Dugin indicou que ele contorna esse difícil problema encontrando pontos em comum ecuménicos. E afirmou que, por exemplo, se um católico vive plenamente a sua tradição religiosa, então é possível encontrar pontos em comum com outras religiões tradicionais, numa oposição mútua à Modernidade.
                                         
Dugin disse que sua abordagem para promulgar
sua filosofia de antiliberalismo e eurasianismo não é tão focada no Cristianismo quanto as suas outras ideias. O seu objetivo sempre foi criar uma linguagem filosófica que seja universalmente adaptável a todas as religiões, culturas e povos, independentemente das suas crenças religiosas. Para fazer isto, ele apela à ideia de Guénon de uma luta comunitária contra o mundo moderno. (E neste sentido bem mais longe foi ainda Jules Evola, com o seu valioso livro Revolta contra o Mundo Moderno).

Na opinião de Aleksandr Dugin, o Cristianismo é uma religião sagrada entre muitas existentes no que ele chama de "um tempo historicamente escatológico e apocalíptico" e, portanto, ele não deveria estar a lutar contra outras religiões, mas contra a Modernidade. Todas as forças devem ser usadas "para lutar contra a realidade ocidental escatológica moderna", que, segundo ele, não é apenas anticristã, mas também, em suas raízes, contra a tradição ocidental (ou seja, contra si mesma) e, portanto, ameaça todos os paradigmas religiosos.

Tendo permitido que Dugin deixasse claro que adota uma abordagem ampla e ecuménica, eu diria que, na verdade, ele enfatiza mais o cristianismo e o seu papel na luta contra a modernidade ocidental do que gosta, por razões pragmáticas, de declarar publicamente. Dugin  baseia-se fortemente na visão cristã do Apocalipse [um falso texto de S. João, provindo de imaginativos zelotas cristãos] e acredita que estamos a viver na era do Anticristo. Esta visão é essencialmente cristã e é por isso que Dugin expressa com veemência a ideia de que os cristãos devem combater a modernidade ocidental. É importante mencionar aqui que ele vê o inimigo como a modernidade ocidental, não o Ocidente em si, e que o cristianismo desempenhará um papel importante na derrota desse inimigo.

A civilização cristã não existe mais, na opinião de Dugin. Ele explica que essa desintegração ocorreu em vários estágios. A primeira foi o Grande Cisma, em 1053, do qual ele vê os dois ramos autênticos da Igreja Cristã, a Oriental e a Romana.
Em seguida, a Igreja Ocident
al tornou-se mais individualista e preparou um caminho para o liberalismo. De acordo com alguns, como Alain de Benoist, o cristianismo, por meio de um defeito inerente em sua concepção da salvação individual da alma, introduziu o perigo do individualismo no pensamento ocidental. Aqui, Dugin tem o cuidado de enfatizar a sua discordância com essa visão. Apesar de sua ênfase na salvação individual, "o cristianismo não destruiu o espírito comunitário", tal como é visto na Igreja Ortodoxa Oriental, disse Dugin. Em vez de ser uma criação do cristianismo, o liberalismo é a sua perversão.
A queda da Igreja Romana Ocidental no li
beralismo seguiu o padrão da promoção da [filosofia do] nominalismo por Guilherme de Ockham e pelos monges franciscanos no final da Idade Média, padrão que, segundo Dugin, criou uma "antropologia protoliberal e uma sociedade protoliberal" e culminaria no seu apogeu no protestantismo. Esse protestantismo e a sua ética de trabalho levaram ao capitalismo, conforme descrito por Max Weber em A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo (1903), e ao que Dugin chamou de criação de "uma sociedade totalmente secular e hedonista". Essa sociedade, na visão de Dugin, destruiu a religião, deu início a um estado puro de degenerações pós-culturais e está a tornar-se um mundo tecnológico pós-humano [ou transhumanista-infrahumanista, anti-ordem  natural cósmica].
Foi nesse momento que sugeri a Dugin u
m motivo de optimismo:  a partir de uma perspectiva reprodutiva e demográfica, parece que o secularismo pode acabar diminuindo, pois as famílias religiosas têm mais filhos do que as ateias. No entanto, Dugin rejeitou esse meu optimismo, considerando-o um exemplo da falsa esperança anglo-saxónica de que um número maior de pessoas resolverá por si só os problemas espirituais. Os cristãos, argumentou ele, deveriam concentrar-se em salvar almas [embora já Erasmo no séc. XVI dizia que os cristãos antes de querem converter turcos ou lapões (e isto por indicações do seu confabulator Damião de Goes) deveriam converter-se verdadeira ou profundamente.]
                                          
Dugin acredita que os ocidentais, em particular, têm a obrigação de combater a força do Anticristo - a modernidade - já que foi o Ocidente que criou a modernidade. Ele descreve essa luta como uma guerra espiritual na qual "não devemos vender as nossas almas ao Anticristo", mas estar dispostos a "lutar até o fim e morrer para vencer com Cristo".
A disposição de
lutar contra a modernidade é mais importante do que a probabilidade de vitória, disse Dugin. Deus "aprova-nos" e salvará os que forem testados na batalha espiritual. Essa luta deve ser dirigida para o que Guénon chamou de "Reino da Quantidade", que, segundo Dugin, se manifesta hoje como "liberalismo, cultura LGBT, inteligência artificial, bancos e capitalismo".
                                             
As dramáticas declarações religiosas de Aleksander Dugin certamente evocam ideias milenares. Em minha opinião, no entanto, elas são os [ou dos] exemplos mais claros do poder da fé cristã que anima a sua filosofia política e espiritual radical.
A vitória nessa batalha es
piritual contra a modernidade abriria caminho para a "quarta teoria política" de Dugin, que suplantaria os três sistemas políticos da modernidade: fascismo, comunismo e democracia liberal. A quarta teoria desconstruiria cada um desses sistemas apenas nos seus elementos positivos, e as respectivas combinações seriam moldadas de acordo com as tradições de cada civilização. A política nesse sistema não seria focada no materialismo individual, na luta de classes ou no nacionalismo, mas sim no que o filósofo alemão Martin Heidegger chamou de Dasein, ou ser em sua particularidade [ou no devir da sua specificidade].
                    
Como os Estados Unidos controlam uma força esmagadora no mundo, vivemos em um mundo unipolar. Dugin acredita que essa hegemonia deve ser quebrada para permitir diferentes "polos" da civilização mundial. Os exemplos incluem os polos islâmico, eurasiano (russo) e chinês, cada um incorporado a sua própria tradição civilizacional. Essa multipolaridade é uma alternativa ao globalismo; ela permitirá a diversidade sociológica e acabará com o absolutismo político em favor do relativismo cultural.
                               
A Ucrânia representa o Ocidente liberal, na opinião de Dugin. Isso está perfeitamente representado no apoio ou endossamento por Dugin de uma carta-epístola, escrita pelo oligarca cristão devoto e executivo dos meios de informação Konstantin Malofeev [n.1974], que descreve a entrada russa no Donbass como "um novo estágio na vida de uma Rússia milenar". Malofeev continua descrevendo Kiev como tendo sido "levada [ou tornada] cativa pelas forças do inferno". Com base nessa avaliação, ele considera o conflito como um meio de restaurar a justiça histórica numa "terra sagrada para todo o povo russo", e que é o catalisador de "uma nova grande Rússia". Após a publicação dessa carta, o Departamento de Justiça dos EUA apresentou acusações contra Malofeev por tentar, violando as sanções, criar novos meios de comunicação em vários países europeus. O FBI também emitiu uma declaração dizendo que Malofeev "continua a administrar uma rede de propaganda pró-Putin e recentemente descreveu a invasão militar da Ucrânia pela Rússia em 2022 como uma "guerra santa'".
                          
A carta de Malofeev demonstra como os russos e como Dugin veem o conflito na Ucrânia: como uma guerra santa que expurgará a modernidade da esfera eurasiática e acabará com o que René Guénon descreveu como Kali Yuga - o conceito hindu para uma era decadente de conflitos e pecado. É essa a profunda motivação religiosa e espiritual que está por trás da campanha da Rússia na Ucrânia a qual tem sido perigosamente ignorada pelos analistas ocidentais forçando-os a interpretar mal os motivos russos.
Na medida em que Dugin influencia [muito
relativamente...] Putin e outros líderes russos, essa influência é profundamente religiosa e enquadra os acontecimentos como uma batalha entre as ideologias da modernidade e do tradicionalismo. A conclusão deste conflito terá, sem dúvida, consequências inimagináveis sobre a religião, a cultura e a geopolítica nos próximos anos. A filosofia de Alexandre Dugin [e certamente entretecida na da sua filha Daria Platonova Dugina, com quem muito dialogou] está a deixar a sua marca ou cunho no mundo, bem diante de nossos olhos.»

domingo, 24 de dezembro de 2023

Why Bô Yin Râ is an important master and how he sees the "spiritual rebirth", in Jesus's teaching.

 Bô Yin Râ is one of the most important spiritual teachers from the XX century, even if only a few persons know him, or have read his books or contemplated his  paintings, drawings and ornaments.

Why is he so important, you will ask? Well, I will give you a few examples of his value: 1º he was a painter with such incredible capacity to catch and share his spiritual visions in a so beautiful and inspiring way. He made around 200 hundreds paintings in his life, from 1876 to 1943,  in the Mediterranean and mostly in Germany, - where he was born as Joseph Anton Schneider Franken, in a family of farmers - and Swizerland, and received his original spiritual name of Bô Yin Râ, in which the letters are like spiritual antenns,  after his stay in 1912 in Greece.

2º He affirmed to be a master, to have been initiated, in Greece, by  the primordial Masters of Mankind and so he could transmit the highest and most appropriate teachings in the first decades of the XX century. These masters have their center in the spiritual level of the Himalaias, which is called Himavat. It is from this inner Orient that come the highest spiritual currents to Mankind, he said.

 Himavat

3º He wrote 44 books of  very deep and harmonious knowdlegde that are now translated in some languages and many available online, in which he gave  new spiritual explanations  about the masters, the path, what super-sensible or spiritual experiences are important, the difficulties,  karma, the life after death,  the Cosmic manifestation, the unity of religions, love, war, the magic of the word, the true life and teachings of Jesus, etc.

4ª He was critical of the intelectual approaches to spiritual life, like  the scientific explorations, or the possibility of a science of the Spirit,  and so he explained how most of the informations given by esoteric groups  are generally incorrect, inadequate and even nefarious to the disciples and searchers. He wrote  critically about Theosophy,  Blavatsky and of mediunship, warning people about the dangers of the pratices of channeling whatever comes, and of occult exercices, astral travels, old magic secrets, fastings, regressions by hipnotism and past lives, one of the most controversial aspects of his teaching, as he considers as not the rule the need of reincarnation, etc.

 These criticisms of would become the main stream on New Age teachings and activities are probably an important factor in not becoming in our days so read (or so comercial) as he was in his times, when people coming out of the I great War, and wishing to go beyond materialism and normal superficial Christianism, were very eager and enthusiastic to read and assimilate his words and spiritual teachings.

On the search and union of God, he was adamant that the Divine Being can be contacted only within the soul, and that is indeed a deep and perseverant process for all life: beginning by having a balanced and creative life, striving to unify  thoughts, acts and sentiments, and so to have control of them,  achieving the needed self-transmutation and empathy in order to have supersensorial or unitive experiences  and so to feel in the individual spirit that each one his, and in the spiritual organism that potentialy has, as well as the spirit of God,  or the realization of the living God within.

In these days of Advent and approching Christmas, so darkened in sadness and soaked in blood by what is happening in Palestine, let us meditate one of the highest mysteries of the spiritual path, about which very few persons have right ideas or true experiences, because since long have lost their ways to the deeper inner knowdledge and  most of the teachers who are teaching, and some very famous, are just half blind ones, pretending to be enlightened or sat gurus, leading blinds or craving ones in unimportant directions, many times exploring  their emotionally needs and weakening their true realization.

So, we will listen Bô Yin Râ on the mystery of being reborn again, spoken by the old masters sometimes as initiation, and specially by Jesus in his famous words: «If you want to enter in the Kingdom of God, (or in the spiritual and divine worlds), you have to reborn again,» or «be born by the water and spirit», where he is not speaking of the baptism in water and rivers, but in the spiritual realm of the primordial waters or energies of the spirit.

In some passages of his books, or opera omnia, called Hortus Conclusus, Bô Yin Râ speaks about so important rebirth, but  the most explicit and didactic passage is  in the book Wisdom of John, in fifth chapter, The pure Teaching, the one entrusted by Jesus to his most intimate disciples.  Let us listen this initiatic teaching:

«A human spirit can not enter in any spiritual world of the manifestation  - and all that lives in the realm of the Spirit is only aprehended as a spiritual manifestation - unless he is born into it.

 Originaly, the human spirit is given birth eternally at the most intimate of this "Realm  of God", engendered by God, but he lef the spiritual organism born of God - to keep this image - in the innermost  of the realm of the Spirit, where this organism has been merged another time in the potentiality of the Godhead. So an individual ‘rebirth’ must occur if one day the human spirit will  find himself conscious and active in that "realm of God".

Before the human spirit, even if he has attained the highest degree of development by his earthly life, is only conscious of himself  and of his Living God,  And he finds himself after the death of his earthly body  only in the lower spiritual worlds, for wich the correspondent organism has been preserved, even after his fall in the world of the animal manifestation, in a embryonic state,  - and it constitutes the only form of spiritual existence that he still posseses  and that he has the faculty to develop by his actions or behaviour during his terrestrial life.

About this higher and ultimate aim of life the author [St. John] of the ancient message of Master says: "When someone  is not reborn of the water in the spirit" - of the spiritual seed - "he can not enter the Kingdom of God".

To confirm and clarify these words he lets the Master says another time: "What is born from the  flesh, that is flesh, and what is born of the spirit, that is spirit."

In order that no doubt exists that here it is the achievement of generation of a real organism,  as also of the flesh, so of the Spirit...

But the only  ones of this earth that, already during their terrestrial life  attain this  "rebirth" in the Spirit, and thus, simultaneously  live and act consciously in the world of the terrestrial manifestation and in the  inmost realm of the Spirit, are the  Bearers of the Primordial Light, from whose the Master of Nazareth was one.»

So, the teaching is simple, we have a embrionary spiritual body with which we can't reach  the higher spiritual levels or realms of the Cosmos, and that is developped by a right way of living and by the inner spiritual path of connecting ourselves with our individual spirit and then with the Divine being in our own face or personnal relation, in certain way in India called ishta devata

This two  realizations, already so rare to be seen in normal beings, should be culminated with the true initiation on the spirit, being born again in a spiritual body of the highest quality and capacity (which form he hints in the book Welten, or Worlds, to be as a star), something only seen in the true masters, through their connection with the Father, as Jesus said: "I and my Father are one. Who sees me, sees also the Father", or "Truly who has sent me is with me, and he does not forsake me, because I always do what pleases him", culminating with the "I am the path, the Truth, the Life. No person comes to the Father except through me", a so foundational saying, or even a mantra, of Jesus, well explained by Bô Yin Râ, in this way: "For the spirit born identity, and which he calls the Son, and he experiences as his proper self as a Bearer of Primordial Light, remains the same reality for every human spirit, and only in his Son can any human spirit ever find eternal life within the world of Spirit."

So let us  have deeper communion with compassion-love, the individual Spirit, or the Son in us, the Masters or bearers of the Primordial Light and the Divine Being, for the well being of Mankind and of the Cosmos!