De Nicholas Roerich...Pelos pés, as mãos e a palavra do coração entramos no Templo... |
Falar, comunicar, conversar é uma arte, um trabalho, de certo modo uma agricultura (cultura do campo), mesmo nas cidades em que as terras foram abafadas pelo cimento, pedra ou alcatrão, que assenta no contacto dos pés e raízes com o húmus da terra e, simultaneamente, na humildade de sabermos sentir, ouvir e simpatizar com o outros, abertos ainda às associações de ideias que pelo alto circulam, pois tanto nós como os astros resplandecemos num espaço vivo inter-comunicativo infinito, outrora chamada anima mundi, ou inconsciente universal e hoje campo unificado de energia consciência informação que a todos entretece e influi.
Infelizmente vemo-nos e conhecemos imperfeitamente nestes níveis, seja a nós seja aos outros, pois a nossa visão e conexão interna e externa é muito condicionada pela manipulação informativa omnipresente; mas se a aspiração e o amor da verdade são mais acesos, tudo o que vier de obstáculo ou acontecer mesmo de desencontro ou negatividade será uma acha ou sopro para a lareira, um desbastar da pedra bruta, um perder de ilusões, um desmascarar de hipocrisias ou opressões, um desprendimento libertador, uma fonte de renascer e perseverar.
Caminhamos e avançamos com as aprendizagens que fazemos e é a misteriosa essência, ignorada ainda na sua subtileza pela própria ciência moderna, e que é cada um de nós em si mesmo, misteriosa consciência e sentir subjectivo ou pessoal, quase impenetrável mas presente em todos os seres e unificando-os, o que no mais íntimo galvaniza o verdadeiro conversar e despertar, que é então unificar ou convergir para a mesma taça ou graal, para o mesmo campo unificado no aqui e agora e que a palavra, os olhos, o sorriso, o pensamento, a aspiração ígnea da alma e o sentimento geram, enchem, intensificam e, por vezes subitamente, transfiguram e metamorfoseiam.
E assim saímos das periferias labirínticas e das conversas e redes sociais superficiais, para encontros reais e geradores de estados mais iluminados, conscientes, abnegados, ainda que em geral tudo esteja depois sujeito a oscilações temporárias.
Na sua pluridimensionalidade imensa a vida é relação dinâmica, ora mais amorosa e unitiva, ora mais conflituosa e repulsiva, ora mais estabilizada e rítmica e e são o discernimento justo, a palavra sentida, o ideal ou intenção elevada que determinam a eficácia ou poder gerador da magia da conversa, da meditação, da palavra e no fundo do criatividade, alegria, graça, amor, plenitude que cada um pode sentir ou despertar em si e nos outros.
E assim sob os raios de uma conjunção planetária lá no alto, dos Deuses antigos e espíritos de sempre, e que são arquétipos, raios e influxos sempre actuais, vou escrevendo com as mãos descalço na Terra Lúcida, e respirando fundo nela de alívio ao comungar assim da Unidade do Cosmos.
E, se vibrar mais tempo nesta Unidade, reconhecendo-a como um Todo de Beleza, de Amor e de Verdade, ergue-se da profunda gratidão a taça ou cálice do coração e do Graal, e que é fonte e acção hábil na solaridade diurna e de recolhimento silencioso no céu nocturno azulado, tépido e tingido pela luz leitosa dourada que Dona Lua derrama reflecte nos rios, tágides, mares, ondas e veias.
E como ela se veste por vezes numa grande aura ou auréola de três ou quatro círculos concêntricos, à sua semelhança e unidade gero em mim a palavra perfeita e reverberante, Aum ou Amen, e que, de perdida e seca, desabrocha como flor e fruto de subtis colorações que no coração resplendem e pela boca pronunciadas aos outros e ao Cosmos são transmitidas .
Assim, através da nossa especificidade única e missão swadharma, e pelo nosso corpo subtil e espiritual, podemos e devemos pela arte da palavra, da oração e da conversa transfigurar-nos e na ampla auréola comungarmos mais no Amor desvendante da essência e dos outros, na Unidade e mais abertos à Divindade.
Aum, Amen, Hum, Hri.
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