segunda-feira, 15 de maio de 2023

Leonel Costa, " Introdução à Numerologia", manuscrito inédito dum astrólogo e numerólogo do Bairro Alto.

                                                                                     Creio ter conhecido o Leonel Costa em alguma conferência que proferi ou a que assisti, ou quando trabalhava na livraria antiquária do Calhariz, junto ao Bairro Alto lisboeta, onde ele costumava aparecer. Como tínhamos amigos e interesses comuns dialogámos, por vezes enquanto eu descrevia alguma raridade bibliográfica ou decifrava um manuscrito, o que o dono da livraria, o Zé Manuel Rodrigues, não apreciava tanto. O Ocultismo e o Esoterismo, Fernando Pessoa, a Espiritualidade, as fraudes da nova Era, eram temas, já que ele era grande leitor, além de sensitivo. O que o Leonel dominava mais era porém a astrologia e embora só o conhecesse provavelmente no final de 80, ele já era  astrólogo desde os meados da década de 70, dando consultas para ajudar pessoas e talvez ainda porque o que ganhava como funcionário administrativo, e depois reformado, do Ministério dos Negócios Estrangeiros, não fosse tanto como necessitaria para comprar constantemente livros para si ou para quem oferecia, já que era bastante abnegado e divulgador.

O reverso da medalha era ele, volta e meia, aparecer para vender livros da sua grande biblioteca de astrologia, numerologia, ocultismo, teosofia, religiões, auto-ajuda, nova Era, os quais não sendo apreciados pelo livreiro alfarrabista, acabavam alguns por ser adquiridos por mim, a um preço equilibrado. Vivia num andar muito pequeno típico do Bairro Alto, na rua Luz Soriano, a que se acedia por umas escadas de madeira muito empinadas e apertadas e onde nada mais podia ter do que a sua mãe e muitos, muitos livros que ocupavam quase tudo. Foi amigo de algumas pessoas, como a Maria Ferreira da Silva, o meu irmão João que trabalhou no mesmo Ministério, e que ainda o consultou por indicação da comum amiga Vera Fuscher Pereira que morava também no Bairro Alto, para lhe fazer o horóscopo, tendo-lhe então dito que a interpretação do horóscopo era como uma poalha subtil que lançava na sua alma para ele ir depois desenvolvendo. No seu caminho espiritual deverá ter ido à Sociedade Teosófica algumas vezes e entrou na Subud, nas fases iniciais deste movimento do mestre Bapak ou Pak Subuh [1901-1987] em Portugal, onde recebeu o nome de Ricardo e se destacou pela sua solidariedade dinâmica.
Encontrávamo-nos como já disse na livraria do largo do Calhariz, mas também na galeria Matos Ferreira, na sua rua, onde fiz algumas conferências, outras vezes ao acaso na zona e creio que duas ou três vezes em sua casa onde fui ver os livros que ele bem amava e onde, curiosamente, inseria no interior uma ou duas folhas brancas quase transparentes. Um dia desafiei-o a escrever um pequeno texto sobre a astrologia, numerologia, os fenómenos psíquicos, a espiritualidade, o que quisesse, para eu vir a publicar mais tarde. Algum tempo depois, entrou na livraria, com aquele seu andar discreto e rápido e o olhar de quem está a ver para além da visualidade física, e passou-me o texto seguinte, desculpando-se de ser apenas uma introdução leve. Mas fica na sua modéstia como um testemunho da passagem pela Terra e das suas leituras e reflexões, crenças e visões, já que era um sensitivo, com intuições ocasionais. Quando partiu do corpo e plano físico, não sei bem (embora possa vir a saber por alguma anotação num diário, onde pelo menos no de Abril de 2006 registo um duplo encontro em três dias), mas certamente desejamos-lhe muita luz, amor e sabedoria na sua alma espiritual onde quer que esteja, quem sabe se nas vizinhanças da estrela super-gigante branca Deneb, na constelação Cisne, e a 19º mais brilhante do céu, já que assinou com tal nome cósmico...  
                                                       
                                         Introdução à Numerologia
«Tudo indica que a Numerologia remonta à mais alta Antiguidade. Começando pela menção dos 7 dias da Criação nas Escrituras, havia um ditado antiquíssimo de que a Numerologia, “tinha começado quando o homem caminhava na companhia de Deus” - o que é um modo delicado de expressão, antes de adoptarmos o nosso horário moderno, extremamente comercial e tecnológico.
Não se conhece a origem exacta da Numerologia, existindo, no entanto, fortes indícios, acerca disso.
As escolas de numerologia mais usadas são a pitagórica e a caldaica. Esta última é mais antiga, sendo a pitagórica a mais usual.
Pitágoras foi um grande matemático. Nasceu na Grécia no sexto século A. C., demonstrando possuir um grande talento para os números, sendo conhecidos, pela maioria das pessoas, os seus teoremas de geometria.
É também considerado o pai da Numerologia moderna [ou uma das fontes mais consagradas a que se filiam os numerólogos, nomeadamente o irlandês Cheiro].
Existem registos de que passou [ou referências a ter passado] muito tempo no Egipto e noutras partes do mundo, aprendendo a antiga ciência dos números [entre outras], tendo levado mais tarde esse ensinamento para a Grécia onde ensinou durante cerca de quarenta anos [alguns anos apenas, já que emigrou por volta de 535 a.C., para Crotona, no sul da Itália, onde desenvolveu o seu ensinamento científico e espiritual], além de criar uma faculdade [escola] e uma filosofia dos números, que ficou com o seu nome até aos nossos dias [é completamente hipotética a origem nele de tais especulações ou doutrinas quanto às associações de números e letras do alfabeto para caracterização ou adivinhação, já que os números eram sobretudo princípios e símbolos]. 
                                                                 
Diz-se que Pitágoras ensinava secretamente. Que cada aluno, escolhido com cuidado, tinha que passar por um período de cinco anos de contemplação em total silêncio, para desenvolver uma fé profunda [ou ainda uma capacidade de escuta e compreensão, receptividade e intuição mais profunda].
Além disso, os discípulos tinham de decorar os seus ensinamentos, pois era proibido escrevê-los [ensinamento acromático, oral e esotérico, entre nós mencionado e de algum modo realizado por Sant'Anna Dionísio, discípulo de Leonardo Coimbra, conforme já escrevi neste blogue.] Somente depois da sua morte, por volta do ano 500 A. C., os seus fiéis seguidores romperam essa tradição. [Sabe-se que Platão (428-348) esteve em Crotona para comprar os manuscritos pitagóricos que Filolau (475-385) escrevera e passara a Dion.]
 O Sistema numérico Caldeu – mais conhecido como Numerologia Mística [designação arbitrária] – oferece uma pista, bastante interessante, para determinar a idade da Numerologia. 
A Astrologia, a Numerologia e outros estudos ocultos eram considerados como religião mas não de maneira como a consideramos actualmente. Muitos sacerdotes caldeus também foram astrólogos famosos. Acreditaram que todas as coisas faziam parte da Providência Divina e que todos os planetas eram simplesmente interpretes celestiais. Na época de Alexandre, o Grande, por volta de 356 A.C., os caldeus acreditavam que o seu conhecimento de Numerologia e Astrologia, já existia há pelo menos 473. 000 [datação proveniente da tradição indiana, de um tratado de astrologia solar, e que o Leonel deve ter recebido do astrólogo Cheiro]. Talvez não tenha sido por acaso que com o tempo os Caldeus e as ciências ocultas se tornaram sinónimos [e no Renascimento a publicação dos Oráculos Caldaicos, do II e III d.C. e constituídos de frases dos neoplatónicos, relançou-os]. Ainda se usa actualmente o sistema caldeu de numerologia.
Também existem outras escolas de numerologia, e todas reflectem seus locais de origem, assim como a aplicação. Existiram por exemplo os antigos bramânes na Índia. Cheiro [1866-1936, ocultista e teósofo irlandês, e que esteve na Índia], quiromante famoso, numerologista e estudante dos fenómenos psíquicos dessa época, atribui grande parte do que sabia a esses místicos do Oriente. 
 Havia no Japão antigo um sistema que se baseava em determinados padrões numéricos encontrados na data do nascimento das pessoas. Existe ainda o sistema sagrado de Numerologia hebraica, mais conhecido como cabala, que se fundamenta no significado das letras e sons. E há ainda outro sistema originário da África, que emprega os números na arte da adivinhação (lançar os búzios, ossos, etc.)
Não importa para que região voltemos a nossa atenção, lá existirá um sistema de Numerologia que teve a sua origem no início dos tempos [mais reflectivos ou intuitivos...]»
22:59 de 31/07/2001
             Deneb.... [
nome místico-astronómico escolhido por Leonel...]

A estrela super-gigante branca Deneb, na constelação Cisne, e a 19º mais brilhante do céu. Lux!

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