terça-feira, 16 de maio de 2023

"ARTE. Da Índia e do Eterno Oriente". Texto para a revista Arteopinião, da Escola de Belas Artes de Lisboa. 1981.


Ordenando papéis, diários e revistas, reencontrei numa delas o texto publicado para o nº 16 da Arteopinião, Revista da Associação de Estudantes de Artes Plásticas e Design da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, em 1981, quando era dirigida e co-coordenada por dois amigos e companheiros de estudos liceais e universitário, o Filipe e o Ico, e escrito quando chegara há pouco de peregrinações no Oriente e na Índia, onde estivera, por exemplo, e porque refiro no texto, a meditar em cima da cabeça de uma das famosas estátuas gigantes (então em reparações) de Budha em Bamiyan no Afeganistão, como sabemos lastimavelmente destruída em Março de 2001 pelo fanatismo de alguns talibans (ditos estudantes...) mais ignorantes, insensíveis e iconoclastas. Uma tragédia para o património cultural da Humanidade mas a que tornamos a sofrer no Iraque e na Síria mais recentemente. A falta de uma educação ecuménica...
                                         
A mesma revista contém uma notável entrevista de Afonso Cautela, pelo António Correia Teles e o Francisco Teixeira da Mota, e inclui  ainda uma bela fotografia do Afonso Cautela, com 50 anos, e que já inseri na biografia que o homenageia neste blogue: https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2018/07/afonso-cautela-vida-e-obra-com-um-video.html... Muita luz e amor na sua alma!
O texto é mais aforístico, ou de pensamentos ígneos ou espirituais, e levou agora uns leves acrescentos, que poderá até comparar se quiser.
A imagem muito bela e ondulante do deus Shiva patrono dos Yogis foi a escolhida, pois foi nessa qualidade que peregrinei e vivi na Índia e ensinei depois Agni Raj Yoga em Portugal por uma dúzia e pouco de anos. Boas inspirações e realizações na religação ou yoga com a Natureza e a Anima Mundi, com o Espírito e a Divindade, para que a sabedoria, a ecologia (do nosso grande amigo Afonso...), o amor, a verdade e a Divindade vivam cada vez mais em muitos...
 
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                                                        ARTE

                           DA ÍNDIA, DO ETERNO ORIENTE..
"As cores desgastadas pelo tempo conseguem ainda, na geometria do seu desenho, estabilizar a nossa alma e lançá-la no horizonte mais vasto da própria Natureza, Mãe primordial de toda a arte".

Comentário: Por detrás de forma que o artista modela encontra-se a vida que sustenta todo o seu processo criativo. Fazer da obra um reencontro possível a qualquer momento da história com a Realidade é uma das visões e intenções do autor ou do futuro espectador desta recriação ecológica e anímica que é criar e contemplar a arte.

"Tão alto como o cimo da cabeça em pirâmide de Buda, pináculo da natureza humana, ou como as montanhas geladas de Bamiyan, onde por entre grutas inumeráveis as mais altas estátuas cavadas na rocha se erguem imponentes, num desafio ao poder do tempo e à fragilidade dos corpos, está a obra de arte no que ela é de eterno, de plasmação no sensível das harmonias subtis intuídas ou desvendadas".

Como o corredor que nos leva ao tholoi das nossas antas já cobertas, ou aquele que mais profundo faz-nos penetrar no interior da terra ou do coração, para reinvenção das ocultas lápides descobertas, assim a arte existe como raiz do passado, tronco do presente e certeza desabrochante do futuro.

A arte, o meio vindouro da paz, o abraço da fraternidade lançado pelos artistas na sua entrega ao que é condição humana, terrestre e cósmica, representa-se numa progressão sem limites de cores, materiais, técnicas, significados e propósitos até à grande síntese do concreto e do abstracto, do racional e do irracional, do demoníaco e do angélico, do ser humano e o seu ambiente, até às intuições do divino.
Desafio perene a todos os criadores de harmonias figuradas, para  saberem desempenhar bem o seu papel de descobridores da beleza e reveladores dos acordes perdidos de momentos conscienciais claros, intuitivos e unitivos. Como nas cores do nascer e do pôr do sol, ou no ritmo das estações naturais, ou mesmo dos comboios do metropolitano numa urbe, a mesma constante: sempre o movimento, o ritmo e a unidade subjacente...
E na base de tudo o desejo, quase sempre alimentado do egoísmo, apegando-o aos corpos, às posses, aos prazeres, às ideias e criando obstruções ao livre fluxo de energias, donde as doenças e desequilíbrios - expoente máximo: o ódio e a guerra.

Arte - reorientação, - flecha de paz que acerta no alvo do nosso coração, abrindo a flor que jaz em cada ser à espera do encantado cujo beijo a fará despertar.

  Arte:
          - Uma janela ou estrada aberta sobre a eternidade
          - As asas bem abertas na inspiração
          - O círculo traçado, mesmo quadrado
          - O raio da harmonia... »

Pedro T. Mota

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