segunda-feira, 8 de maio de 2023

Analogias da Natureza com o Caminho Espiritual, escritas no campo nos meus vinte e tal anos, e completadas hoje.

    
Gerês transmontano, barragem de Paradela, cujo leito fundo bem conheço...

                                                    

Nós somos como peregrinos, que se dirigem para Meca e se perderam no Caminho, e já não sabem sequer para onde vão, de tão distraídos do essencial eles estão.

Assim como as águas dum lago têm de estar paradas para se poder ver o fundo, assim os nossos pensamentos devem estar acalmados para podermos ver o nosso interior, nos seus vários níveis e até aos mais sublimes.

A nossa vida e evolução é como uma trepadeira que, ainda que se desvie, sobe sempre. Assim devemos manter uma profunda confiança em nós próprios, seres espirituais que aspiram à verdade e a Deus, trabalhando rumo a tal Sol.

Um terço dos nossos pensamentos são do passado. São como os remorsos de criminosos. Devemos esquecê-los, aprender de tais erros as lições para o futuro e estarmos mais conscientes da dimensão eterna que somos e que nos atravessa subtilmente, chamando-nos a estarmos mais religados amorosa, espiritual e divinamente.

Um terço das nossas flutuações internas são sobre o futuro. São como as preocupações do lavrador, se as sementes vão crescer ou não. Actuemos com firmeza e bem, na linha dos nossos deveres ou vocações, abandonemos a expectativa de resultados e do futuro e confiemos nas mãos da Providência divina, ou, se quisermos, dos seus subtis agentes e das afinidades e sincronicidades que interligam ou aproximam os seres.

Nós somos como peixes profundos. Para vermos a luz, temos de vir lentamente ao de cima, sem o que o nosso ser não a conseguiria receber. É toda a metodologia da meditação específica ou própria de cada um, uma arte de perseverança, de ora e labora, de lege et relege, de religião como religação pela consideração (cum siderus) bem feita, a aspiração persistente e a unificação.

Nós somos Filhos e Filhas de Deus. Ou seja, como as chamas das velas, brilhantes em cima, no apex e no centro, luz da Luz.

Assim como alguns animais hibernam no Inverno, assim também nós seja nessa época, seja de tempos a tempos ou quando mais sofremos, devemos procurar entrar na interioridade, recolher-nos o mais possível e assim podermos harmonizar-nos e sararmos em contacto com as energias subtis e as fontes íntimas e numinosas.

O Amor é como a temperatura do corpo. Se persistentemente estivermos radiantes, seremos como uma lareira para as pessoas. Daremos Luz e Calor a quem nos rodeia, visível e invisivelmente, na grande campo unificado de energia consciência e informação que a todos interliga.

                                       

Assim como as vacas e os burros ruminam os seus alimentos para serem fortes e calmos, assim nós também devemos mastigar lentamente, para assimilarmos melhor as energias e significados de cada alimento ou erva medicinal, ou ainda livro e pensamento, imagem, informação e mantra. Mas tal tarefa meditativa é bem difícil e desafiante hoje, com tanto excesso de informação e rapidez a circular por entre todos.

Assim como as plantas dão frutos nuns terrenos e noutros não, assim também devemos consciencializar-nos da receptividade dos ambientes e seres e estar firmemente decididos nos nossos sim, e nos nossos não, de forma a sermos verdadeiros e a elevar-nos integramente, fazendo resplandecer a estrela.


2 comentários:

Anónimo disse...

Grata Pedro, muito certo! O ser lento é meditativo. Aprendendo sempre. Abraço

Pedro Teixeira da Mota. disse...

Graças. Sim, de certas formas, nomeadamente a diminuição da agitação mental é fulcral para a meditação permitir o desvendar do ser e ser-se...