Fernando Leal, grande amigo de Antero de Quental e notável poeta, militar e explorador dos sertões africanos, em 1880, publicava em Lisboa, na Tipografia de J. H. Verde, uma obra de poesia, dedicada à memoria do seu tio o Coronel Fernando da Costa Leal, intitulada Reflexos e Penumbras. Traduções de Victor Hugo e versos originais, num in-4º de VIII-240-9 páginas, a qual continha um poema intitulado Mens Sana in Corpore Sano, o qual resolvemos ler (pela 1ª vez) e comentar no dia 3 de Maio de 2022, do que resultou o vídeo de 12 minutos que pode ouvir no fim.
Fora em Margão, Índia, a 15 de Outubro de 1846, que nascera Fernando Xavier da Costa Leal, e não era ele (como disse no vídeo) mas os seus antepassados que eram originários de Caminha, no Minho, filho e neto de militares portugueses que serviram na Índia. A sua biografia, com a transcrição da bela dedicatória desta obra ao seu tio "soldado valente" e cidadão, encontra-a em https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2014/10/fernando-leal-oficial-cientista-e-poeta.html
Quando publica este livro em 1880 está com 36 anos de idade, e os versos que lemos foram escritos em 1878 para serem lidos e distribuídos na festa do encerramento do ano escolar na Casa de Correção em Lisboa, a pedido do professor de ginástica. Mais uma folha volante raríssima, tais como as de Antero Quental, pela sua fragilidade e efemeridade.
Anote-se que foi pelo envio deste livro a Antero, que os dois iniciaram uma amizade profunda, pois a carta de agradecimento enviada a 2 de Junho de 1880 por Antero foi preservada por Fernando Leal e nela podemos ler o o seu agradecimento pelo livro «e ainda mais pelas palavras, que, com mão sumamente benévola, traçou na primeira página. A leitura do livro, revelando-me um bom e nobre espírito, tornou para mim aquelas palavras, de gratas, preciosas. Há, por todo ele, um perfume de boa vontade - no sentido evangélico da expressão - e de elevação moral que me encantou. A alma é e será sempre a essência das boas letras. Por este motivo, e ainda por outros secundários, prefiro no seu livro a parte original às traduções. (...)».... "A alma é e será sempre"...
Os versos e páginas do livro abrem-se com a dedicatória ao heroico tio, com quem serviu, e patenteiam na 1ª parte as traduções de Vítor Hugo, e a partir da página 173 as suas próprias composições, onde encontramos a Mens san in corpore sano, sob uma citação em francês de Lamartine "A Poesia será amanhã o Logos (ratio, raison) cantado", estando dedicada a Ramalho Ortigão, na altura também preocupado com a higiene e o equilíbrio dos corpos e almas. Incluiu ainda numa nota de rodapé um extrato de Michelet (Louis XI e Charles le Temeraire, 6ª ed. p. 132) acerca dos Descobrimentos e o fazer-se a luz sobre tantos mistérios e estranhezas. E são quatro páginas de versos para os jovens escolares.
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