domingo, 24 de agosto de 2025

Um poema espiritual: Como partir para o mundo onírico subtil e espiritual?

Escrito há já algum tempo e transcrito agora... Sê!

Pouso à borda da nau
da minha cama
os despojos do dia.

A camisa aberta escorrega
e o  corpo jazerá por fim.

O silêncio da noite é aparente:
as almas estão cheias da vida
e das vistas e emoções do dia.

Vou passear em torno da nave
antes de a abordar,
  desprender-me de todos os fios
e correntes inúteis
e lançar as energias para o alto,
para bem longe,
Lá para o Infinito e para Deus,
mistérios das origens
e dos destinos finais, 
que desejo melhor conhecer.

Por isso luto, escrevo, medito, 
durmo e restauro a Vida.

Dispo a camisa na noite fria,
 esfrego os braços tímidos
e arremesso bem longe
os pesos e tensões.

Invoco o fogo do Alto
e assimilo-o intimamente.

Percorro os cantos do quarto
e os símbolos que são janelas
por onde saúdo e chamo 
esses seres e energias
que nos antecedem e guiam.

Não estou só no Cosmos
e com o corpo e alma firmes,
  saúdo os mestres do passado
e vou sonhar e despertar para o futuro. 


sábado, 23 de agosto de 2025

Face ao sofrimento e ao mal, irradie o Amor divino. Contemple e emane as energias ígneas do Coração espiritual.

Entrar mais no coração, orar, silenciar, ser e emanar melhor o Amor..

Nestes tempos de tão grande decadência do Ocidente, de tanto sofrimento causado por dois extremismos bastante diabólicos, o dos sionistas anti-palestinianos e desumanos de Israel e o dos ultranacionalistas anti-russos da Ucrânia e do Ocidente, todos sofremos, uns mais outros menos, uns maisconscientemente  outros menos , mas todos sofremos e fazemos sofrer.

Desta soma imensa de sofrimento, muitas energias negativas de dor, indignação, revolta, ódio, crueldade, mentira se desprendem para a atmosfera psíquica da Humanidade, envolvendo certas zonas de forma bastante mais pesada e concentrada, que uns ignoram, ou tentam ignorar ou então negam-nas, tentando assim manter tal mal, seja por exemplo enquanto alistamento forçado e bombardeamentos indiscriminados por parte da Ucrânia, seja enquanto genocídio deliberado perpetrado pelos militares e colonos israelitas. Mas é inegável que qualquer alma e coração sensível sofre e, se ela é sã e não já infrahumanizada, tenta de um modo ou outro fazer diminuir ou parar as causas desse sofrimento nos locais, em si e principalmente nos responsáveis  militares. políticos e dos meios de informação que o provocam, estimulam, defendem.

Sabemos contudo que cada vez mais os cidadãos pouco contam, a maioria dos partidos está alinhada com quem (da alta finança e oligarquia) lhes paga, e que o autoritarismo ou  autocracia dos que governam, nomeadamente sem mandato, caso dos primeiros ministros da Ucrânia e de Israel, ou dos irresponsáveis e impunes, tal a dirigente-mor da União Europeia, reduz a nossa capacidade de influenciarmos pelas vozes, petições,  manifestações e comentários nas redes sociais ou mesmo nos meios de comunicação,  a marcha dos acontecimentos.

Poderemos encontrar outros meios de acção, talvez mais subtis e indirectos, mas com alguma eficácia? - Sim, tal sempre aconteceu e tanto o livre pensamento, como sobretudo a magia e a religião tiveram essas funções de tentarem influenciar a matéria e as mentes, e religarem aos mundos ideais ou espirituais de modo a diminuírem ou vencerem o mal que possa envolver uma pessoa,  um país, ou mesmo a Humanidade.

Na religião católica ocidental houve um símbolo de uma realidade universal que se destacou nos século XVII-XVIII e teve um enorme desenvolvimento popular e devocional nos séculos XIX e começo do XX, gerando imensas fraternidades e irmandades e milhões de imagens devotas que enriqueceram a iconografia cristã,  abençoaram os lares de muitas famílias e encantaram almas mais sensíveis ou inocentes: eram imagens belas e impressas em gravuras, registos, estampas, litografias, lenços e santinhos que enchiam as lojas de impressores religiosos e de locais de peregrinação e devoção, e depois, escolhidos e acolhidos, viajavam para as paredes de casas e famílias enquanto estampas e para livrinhos devocionais enquanto santinhos, alguns tornando-se ícones para quem os sabia sentir, amar ou contemplar melhor.

As características e efeitos de tais imagens e santinhos ao alcance de todos são quase infinitas mas nestes tempos de intenso sofrimento, e de tão pouco tempo para as pessoas lerem, rezaram e contemplarem, resolvemos escolher algumas poucas imagens desse símbolo riquíssimo e agora bastante esquecido, a não ser pelos mais sensídveis ao amor e os tradicionalistas que ainda o cultuam, nomeadamente os católicos na primeira sexta-feira de cada mês. 

É ao sagrado Coração, que me refiro, em especial de Jesus, em seguida de Maria, mas também o de qualquer santo, santa ou ser que manifestou mais o fogo do amor no seu coração espiritual, dissipando com a sua luz abnegada as trevas do sofrimento e desespero, do erro e do mal.

Este é um dos trabalhos que qualquer pessoa que esteja no caminho do auto-conhecimento e do aperfeiçoamento, isto é, no caminho espiritual, pode realizar. E de um modo simples, educativo, ao contemplar tais imagens belas com devoção e aspiração, faz  crescer, pelas partículas e ondas  subtis dinamizadas, o Amor, diminuindo o ódio, a crueldade, o mal, o sofrimento, a ignorância em si, nos outros e na aura e alma colectiva dos povos e da Humanidade. Estamos todos interligados no vasto campo unificado de energia, consciência, informação...

Partilho então agora sete imagens valiosas para contemplação e assimilação dos seus conteúdos, virtudes e energias, seis tradicionais do séc. XIX, outra realizada nos nossos dias, mas com forças bem luminosas e benéficas, para que a ignorância, a crueldade e o mal diminuam e  a paz e a fortuna  da Humanidade fraterna e multipolar cresça e se expanda...

"Pare o Mal". Chega de opressão dos corações inocentes e puros. Que o Amor Divino e do mestre Jesus brilhem mais na Terra!
 O Amor Divino, e em particular o de Jesus nestes tempos tão sombrios ou diabolizados da sua Palestina, está preso, encarcerado. As pombas ou almas que são alimentadas por ele e que voam pelo mundo como mensageiras da paz fraterna são poucas. O que podemos fazer para pelo menos haver algum amor e compaixão entre tantos seres desumanizados?
O coração do mestre Jesus continua a sangrar, em especial pela  opressão da Palestina. Apesar do seu poder espiritual, o empedernimento do coração dos  mais maldosos tem efeitos muito negativos neste mundo físico no qual os humanos dispõem do livre arbítrio para fazer o que querem egoísta e cruelmente. Com esta imagem do mestre Jesus, de auréola irradiante, tal como o coração ainda que sangrante, oramos, e as pessoas consagram-se a não fazer sofrer ou sangrar o coração de Jesus, ou do Amor, e quer-se a misericórdia, a compaixão e a fraternidade entre os seres.

    O coração elevando-se a Deus pede que o Amor circule entre os seres, e atrai os anjos que nos inspiram na realização do Bem...                                                                 

A escala ascendente e descendente do Amor entre  os devotos cristãos e Deus, desde a sacrificial inserção na sociedade até à adoração divina, passando pelos polos do axis mundi.



 Maria, avatarização cristã da Deusa Mãe, ou do Feminino na Divindade entre nós, com o coração bem central no peito, ardente e misericordioso, potencial de cada mulher.
Reconhecer e entrar no coração espiritual, árdua demanda. Saibamos orar, silenciar, meditar, ser e emanar melhor o Amor.

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

A luta actual pela Verdade, Amor, Logos ou Sentido que nos deve animar. E de Nicolas Berdiaeff, um dos últimos mestres russos, breves pensamentos do seu "Reino do Espírito e Reino do César".

A luta para que venha ao de cima a Verdade, perene e actual, e os ensinamentos para tal dos mestres da Rússia: Nicolas Berdiaev....

Confrontamo-nos sempre como uma dualidade entre o mundo   ideal e espiritual de verdade e amor que desejaríamos, sentimos ou intuímos, e o mundo social e político, que tanto desfigura e oprime presentemente a Natureza e as melhores virtudes do ser humano.
Não são suficientes os sinais e ensinamentos éticos e espirituais que as religiões, os grupos, ou a nossa  própria experiência nos deram ou dão, e geram de efeitos na nossa interelação com o gigantesco e tão atomizado mundo, para que a nossa aspiração a uma maior harmonia de vida, do amor, da verdade e da realização espiritual se cumpra facilmente.
Caem muitos em cepticismos ou materialismos consumistas, em seitas ou partidos frequentemente alienadores, partindo-se do todo e perdendo a unidade prodigiosamente diversificada da vida e morte, do amor e da violência, da sabedoria e da ignorância, da luz e das trevas, esquecendo-se que na Terra os contrários devem ser criativamente  trabalhados, vencidos, harmonizados, unificados, na comunhão com o Logos, a Verdade, a Inteligência e Amor cósmicos e divinos, nossa essência e substância...
O que podemos fazer nestes nossos dias em que interesseira e manipuladoramente a mentira e a hipocrisia são abundantemente utilizados pelos políticos e governantes ocidentais, cada vez mais avençados à oligarquia ocidental infrahumanista, numa luta contra a Verdade, a Justiça, a Multipolaridade, o Amor, a ligação Divina, contribuindo para a diminuição do discernimento e  amor à Verdade nas populações sujeitas à lavagem do cérebro que os meios de informação intensamente lhes impõem?
 
 Pois devemos armar-nos de forte energia psíquica flamejante, invocarmos ou ligarmo-nos aos mestres e seres celestiais, e repelirmos e  suplantarmos os seres, energias e informações mais negativas. E perseverantemente meditar e assimilar  as energias e os ensinamentos dos sábios que nos antecederam, e em especial os da grande alma Russa, tão sacrificada na História e agora em luta de morte com a oligarquia ocidental infrahumanista opressiva e que tem no Fórum Económico Mundial, na Open Society, no Fundo Monetário Internacional, e em alguns grupos financeiros mais ou menos sionistas os chefes que manipulam, avençam e corrompem os dirigentes políticos ocidentais, ou as instituições ocidentais, máxime a desgraçada da direção da União Europeia. e da NATO verdadeiramente de seres demasiado arrogantes, insensíveis ou mesmo criminosos, no seu apoio ao terrorismo ucraniano e israelita.

Donald Trump, após ter sido instruído por Vladimir Putin sobre a Verdade do que se passa,  puxa as orelhas aos avençados escravos do Fórum Económico Mundial, cheios de ódio à Rússia. 16/8/25
Entre os filósofos e espirituais russos Nicolas Berdiaeff (1874-1948), que já abordámos neste blogue por duas vezes (tal:  https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2025/08/os-mestres-universais-russos-nicolas.html), é um farol de luz, pois conhecia profundamente tanto a filosofia e a religião como a vida social, as ideologias e a política. 
 Oiçamo-lo num breve pensamento, do seu último livro, Reino do Espírito e Reino do César, pela  sua actualidade, e pelo seu apelo a não nos deixarmos alienar pela  internets e as bases de dados das Inteligências artificiais, nem desanimar face à  hipocrisia e mentira, desinformação e manipulação em que a maioria  dos dirigentes políticos e jornalistas e comentadores vivem e tentam impor-nos ou infectar-nos o mais possível.       

                                     Nikolai Berdyaev - Personalism.com

«Vivemos numa época em que não se ama a Verdade nem se a busca; a verdade é, e cada vez mais frequentemente, substituída pelo interesse, e a utilidade pelo desejo do poder. A falta de amor pela verdade  manifesta-se, não só numa actividade nihilista ou céptica em relação a ela, como também na sua substituição por esta ou aquela crença dogmática, nomeadamente nas que admitem a mentira e a consideram, não como um mal, senão como um bem. 

Já no passado, a indiferença em relação à verdade expressava-se numa fé dogmática que não admitia a livre indagação da verdade. A ciência desenvolveu-se no seio do mundo europeu, enquanto buscou e rebuscou a verdade, independentemente da utilidade e do proveito que podia proporcionar. Pois mais tarde a própria ciência começou a transformar-se em uma arma para uso dos sistemas dogmáticos anti-religiosos, tais como o marxismo, ou então num instrumento do poderio técnico» [como os do capitalismo ou do neoliberalismo infrahumanista opressivo actual.]

«O caos em que se encontra submerso o mundo na actualidade, e com o mundo também o pensamento, deve levar-nos a reconhecer o vínculo indissolúvel entre a verdade e a existência do Logos, do Sentido. A dialéctica perde todo o sentido se não existe o Sentido, o Logos [a Inteligência-Amor, Divina], que deve triunfar no processo dialéctico. Por isto é que o materialismo dialéctico é uma contradição de términos. O desenvolvimento histórico que engendra o relativismo é impossível se não existe o Logos, o Sentido, do processo histórico.»

Saibamos pois abrir-nos mais ao Sentido da Vida, ao Logos, Palavra e Verbo,  Amor e Inteligência, manifestado pelos santos, heróis e mestres, maxime por Jesus o Cristo, que subjaz o Cosmos e  todos os seres e partículas num vasto campo unificado de energia consciência informação, outrora denominado Anima Mundi, ou mesmo o Reino dos Céus, ou do Espírito como Berdiaev lhe chama, que está dentro de vós, ou ainda o corpo Místico da Humanidade, da Igreja, da Mátria, da Tradição espiritual de cada povo e a Perene universal.

                                

 Hoje este Logos aspira e tende fortemente a ser reconhecido e vivido no amor à Humanidade, à Terra, à Divindade e na  multipolaridade fraterna e equitativa, o que os mestres russos tanto desenvolveram, de Soloviev e Berdiaeff, de Sergei Boulgakov a Pavel Florensky, de Nikolai, Helena, Yuri e Svetoslav Roerich a Boris Abramov, e nos nossos dias bem presentes nos líderes políticos Vladimir Putin e Sergei Lavrov, ou sobretudo nos filósofos e geo-estrategas Aleksander Dugin e na sua filha, já nos mundos espirituais, Daria Dugina.
Muita força, luz e amor Divinos nele
s, e deles para nós!

"Optimismo escatológico" ou a luta actual pela Verdade,  Logos ou Sentido que nos deve animar no fogo do Amor Inteligência invencível na sua essência...

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

A homenagem (1ª parte) plena de amor de Alexander Dugin a Daria sua filha, e uma valiosa hermenêutica da sua visão e incarnação do Logos. Do prefácio ao livro "Optimismo Escatologico".

 Na continuação da homenagem à Daria Dugina, no aniversário do seu martírio, traduzimos um extracto do prefácio que o seu pai fez à recente edição do Optimismo Escatológico (Eschatological Optimism. PRAV Publishing, 2023) e que me chegou através do Alexander Dugin Substack, uma das suas páginas, e onde o pode encontrar. É bastante valioso mas, atarefado, apenas me esforcei por traduzi-lo bem e uns breves comentários (nomeadamente acerca da intuição ou iluminação do Logos Divino) virão no fim da partilha do texto. Apenas realço que ninguém senão o seu pai poderia fazer uma apresentação tão perfeita do ser, vida, obra e livro de Daria Dugina, na qual o amor e a filosofia brilham tão unidos. E sim, o que Aleksander Dugin nos diz sobre o Logos e o raio do Logos nela são parágrafos sublimes dignos da nossa meditação contemplativa! Invoquemos as correntes cósmicas e divinas de  Luz, Amor e Força do Logos, para a família e em especial para Daria, e também para os seus amigos e amigas, sobretudo na Rússia, para quem ela é Dasha.

  !

Última fotografia, umas horas antes de ela desincarnar, após participarem num Festival da Juventude,

                                         O Momento de Sophia

É muito difícil para mim escrever sobre Daria porque nos últimos tempos em especial  ela tornou-se tudo para mim: uma amiga, uma pensadora, uma alegria a ser valorizada, uma parceira no diálogo, uma fonte de inspiração e um pilar de apoio. A dor da sua perda não ousa diminuir; pelo contrário, toda ela persiste em ressurgir com força sempre renovada. Contudo, compreendo que é necessário abrir o seu livro, Optimismo Escatológico, com palavras que ela mesma teria gostado de ouvir e que podem ser úteis ao leitor.

                                                 

Daria Dugina era uma pensadora, uma filósofa. Ela era assim  organicamente e de todo o seu coração. Sim, estava no início de seu caminho filosófico, e alguns pensamentos e ideias exigem muito tempo, às vezes muitos anos (e outros muitos séculos), para serem elaborados, mas isso é outra questão.
Antes de tudo, decide-se algo
 fundamental: se se é filósofo ou não. Daria era uma filósofa. Isso significa que, seja qual for o caminho que ela pudesse ter trilhado pelos mundos da filosofia, o início de seu caminho já é valioso, importante e digno de atenção. O mais difícil de tudo é entrar no território da filosofia, encontrar uma entrada no palácio fechado do rei. Podem-se sitiar os seus muros quanto se quiser, mas ainda assim permanecer-se-á do lado de fora. Para romper e encontrar-se no  tão bem guardado palácio depende da vocação, do Chamamento, que o verdadeiro pensador ouve nas suas profundezas. Daria ouviu este chamado.
Aristóteles distinguiu entre dois tip
os de pensamento sistemático envolvidos na filosofia. O primeiro é o momento de sophia (σοφία), o lampejo súbito e instantâneo da mente, a intuição [insight] iluminadora do Logos. Tal relâmpago pode ocorrer na juventude, na idade adulta ou na velhice. Pode não acontecer de modo algum. De acordo com a lenda, Heráclito afirmou que até certo momento ele nada sabia, e de repente ele conheceu  imediatamente tudo. Este é o momento de sophia. Para Heráclito, assim como para Aristóteles, o Logos é uno e indivisível. Se alguém foi agraciado com a honra de experimentar a sua presença, a partir de então torna-se um tipo diferente de ser humano: um filósofo. Doravante, tudo o que tal pessoa pensar, para onde quer que dirija o seu olhar, age e vive agora nos raios do Logos, em comunhão com a sua unidade. É isto que acontece quando alguém é iniciado na filosofia. Na República de Platão, isso é chamado de noesis (νόησις), a capacidade de elevar as conclusões intelectuais individuais ao mundo primordial e supremo das ideias eternas. Daria Dugina tinha em si [ou carregava] esta marca. Ela passara pelo momento da sophia, e tal era irreversível.

                                     A sua Phronesis
Há ainda outro, segundo tipo de pensamento. Aristóteles chamou isso de phronesis (φρόνησῐς), e Heráclito pejorativamente chamou de “polimatia,” ou seja, “ter muito conhecimento” (que, em sua opinião, “não ensina a mente”). Em Platão, isto corresponde à dianóia (διάνοια), ou àquele pensar racional que não reúne tudo num só, mas divide tudo em partes, classes e categorias. Se a sophia vem instantaneamente (ou nunca), então a phronesis necessariamente requer tempo, experiência, estudo, leitura, observação, exercício e diligência. A phronesis é também importante. O cerne da questão está neste ponto: se a experiência da sophia ocorreu, então o exercício adicional da mente é sempre construído em torno do eixo imutável do Logos. Se não o tiver, então a phronesis torna-se algo como uma sabedoria comum e mundana, que é, claro, valiosa, útil e digna de todo tipo de louvor, mas que não tem nada a ver com a filosofia. Não importa o quanto as pessoas phroneticas possam exercitar a leitura, a análise e as operações racionais, se elas não tiverem anteriormente entrado no palácio fechado da filosofia, pois a sua atividade — não importa o quão obstinada e intensa — permanecerá como o vaguear pelos arredores. Isso pode ser tecnicamente útil, mas ainda assim permanece algo de completamente externo e, de certa forma, profano.
É nesse sentido que a phronesis de Daria estava apenas no início de um grande caminho filosófico. Ela estava apenas a começar a dominar a filosofia num nível fundamental, a aprofundar o seu conhecimento de teorias e sistemas, a familiarizar-se plenamente com a história do pensamento, a teologia e o infinito campo da cultura.
Aqui, talvez, esteja o ponto mais importante deste livro, Optimismo Escatológico. Este é um livro de pensamento vivo. O que é importante aqui não é a escala, profundidade ou o mero volume das teorias, nomes e autores citados nele. O que é importante é como um verdadeiro filósofo revela, vive e incorpora o que pensa no seu próprio ser. O que é importante é que eles pensem filosoficamente, à luz da Sophia. Aqui reside a novidade e a frescura deste livro. No fim [de contas], Daria escreve e fala não para se mover para o exterior para encontrar divergentes linhas  de interpretações e observações de detalhes, mas para convidar aqueles a quem se dirige a fazerem a sua jornada interior, a viverem a filosofia, a comprometerem-se com um "virar-se" (ἐπιστροφή), como os neoplatonistas a chamavam, e que Daria,  sem ser por acaso, reitera. Esta virar-se é fundamental para ela. Tendo experimentado Sophia, ela queria ajudar os outros — leitores, ouvintes, todos nós — a vivenciar a mesma intuição iluminadora pelo Logos. O seu livro consiste em abordagens multifacetadas e amplamente diferentes para o fechado tribunal do rei — num lugar há uma brecha imperceptível na parede, noutro há um túnel subterrâneo, noutros há uma cerca baixa. Quem já esteve lá dentro sabe como entrar, como sair e como voltar.
Portant
o, o livro de Daria Dugina é iniciático e dedicatório. Para alguém que tem o dom, a vocação, a vontade de filosofar, este livro pode tornar-se uma revelação. Para as pessoas phronéticas, pode ser uma enciclopédia útil e concisa do Platonismo. Para os estetas, pode ser um modelo de pensamento gracioso. Para aqueles que buscam o mistério da Rússia, este livro pode ser um humilde marco ao longo de um caminho tão difícil e nobre.

                                                               
                                            Daria como um Sinal

O livro de Daria Dugina também é um sinal. Martin Heidegger reclamava que as pessoas que são surdas ao verdadeiro chamamento do Logos tendem a considerar o signo, o ícone, como algo  que aponta para outra coisa e que é em si autos-suficiente. Nisto reside uma idolatria filosófica. O significado, a importância e o propósito predestinado de um sinal é que ele não aponta para si mesmo, mas para algo mais. O seu apelo é este: não olhe para mim, mas para o que eu aponto, pois nisso é o que eu sou, a minha missão, a minha natureza, o meu chamamento; eu não sou a resposta, mas conheço o caminho para a resposta e estou a trazê-lo para conhecê-la; eu não sou o conteúdo, mas apenas o mapa, que por o seguir você pode deixar o reino da superficialidade omnipresente e abrangente e mover-se para as profundezas e até as alturas do ser vivo e significativo. Não é coincidência que o segundo livro de Daria Dugin se chama As Profundezas e Alturas do Meu Coração (Topi i vysi moego serdtsa, Moscovo: ACT, 2023).
Daria sempre se via como um s
inal e as suas obras filosóficas como um guia compilado. Ela não fingia nem afirmava que este sinal seria o final e conclusivo, ou que o seu mapa estava completo e mostrava a todos os nódulos e objetos mais importantes no mundo das ideias. Ela era uma pensadora modesta, sabia o que é o tacto filosófico, o que é um limite e o que acontece quando se ultrapassa esse limite. Daí a sua atenção ao tema da Fronteira (a que outra obra de Daria é dedicada). Nos seus textos, palestras e apresentações, ela apontava apenas para os segmentos do caminho filosófico que ela conhecia, ou que ainda não havia percorrido mas que a atraíam, prometendo revelações, encontros, compreensões e talvez até mesmo amargas decepções. Mas assim é a vida filosófica. Qualquer uma e todas as suas experiências nesta vida são inestimáveis.

                                          O Herói Filosófico

Daria é uma filósofa, além disso, porque toda a sua vida, desde o seu nascimento até a sua trágica morte, desenrolou-se em  harmonia completa com o elemento primordial da filosofia. O principal ponto de orientação na nossa família é a Tradição, e isto significa que a filosofia é concebida principalmente como religiosa, vertical, orientada para Deus e o céu, onde os começos e os princípios do pensamento devem ser buscados. A verdade absoluta que nos é transmitida no Evangelho de João, “No princípio era o Verbo” (Ἐν ἀρχῇ ἦν ὁ λόγος), é a estrela guia. Daria Dugina foi morta pelo inimigo quando voltávamos do Festival da Tradição [nos subúrbios de Moscovo]. A tradição é o começo e o fim, o alfa e o ómega. No seu destino filosófico, o ómega de Daria, o ponto final, foi atravessado pelo mesmo raio, o raio do Logos.
Daria Dugina tornou-se uma heroína filosófica. Ela desceu ao mundo com o raio do Logos e subiu 
com  dele de volta  ao céu. O selo do martírio foi colocado no seu pensamento, na sua missão, na sua vida intelectual. Tal é valioso - e custa - muito.
Os antigos gregos
 não podiam aceitar que um verdadeiro pensador pudesse partir para sempre, morrer e desaparecer. Eles tinham certeza de que um devoto do Logos, leal até o fim, ao ómega, não morre, mas se torna uma nova estrela no horizonte eterno e celestial das ideias, ou até mesmo se torna um deus. Sócrates e Platão foram reverenciados por gerações inteiras de seguidores sensíveis à filosofia como sendo encarnações de Apolo, e o neoplatónico Plotino era visto como a figura de Rhadamanthus, o juiz eterno que veio ao mundo para lembrar as pessoas submersas no tempo do brilho imutável da eternidade.
O cristianismo deixou essas noções pagãs para trás, mas elevou o feito a um pedestal ainda mais alto, anteriormente impensável. Agora Deus em si mesmo, o Logos em si mesmo, veio ao mundo corpóreo, tornou-se homem, sofreu, foi morto, ressuscitou e ascendeu ao céu, ao trono eterno que lhe é devido. Após Jesus Cristo, este caminho foi seguido por uma infinidade de santos e mártires cristãos. Eles partiram para seguir o Logos, sofreram por Ele, morreram n'Ele, foram ressuscitados n'Ele e ascenderam ao céu. No cristianismo, além disso, ninguém simplesmente desaparece sem deixar rastro. Aqueles que deram as suas vidas por seus amigos, por Cristo, o Filho de Deus, pelo Logos e pelo pensamento luminoso e vertical, estão ainda mais vivos e brilharão dos céus eternos para aqueles de nós que permanecem aqui.
Não basta nascer e viver como um filósofo, é preciso morrer como um filósofo. E fazê-lo em plena conformidade com o próprio espírito, a própria fé, com o sinal apontando para os céus é a essência do verdadeiro pensador. Um verdadeiro filósofo não pode deixar de ser um herói. O selo trágico impresso na vida do filósofo é o mais alto reconhecim
ento.
Somente aquilo que cre
sce a partir do sofrimento é genuíno e digno. Tal é o destino daqueles no mundo que carregam dentro de si algo que não é deste mundo. Esta é a fonte da dor filosófica que Daria viveu de forma tão penetrante, e que ela perseguiu não como uma rapariga, não como uma criança, mas de maneira cavaleiresca e corajosa. (...)»  Continua...... Anote-se que hoje 21 há poucas horas foi inaugurada a sua estátua evocadora entre nós em Moscovo...

                                                                                   

quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Daria Dugina, três anos desde a sua partida. O testemunho tocante de Balbino Katz, e as interrogações que suscita e só o futuro, Fortuna nos desvendará-

Já decorreram três anos desde que Daria Dugina Platonova, com trinta anos de vida pulsante, ardente, pura, foi arrebatada ao nosso convívio terreno por uma traiçoeira bomba de uma assassina paga pelo regime extremista de Kiev. Todavia há almas que embora partindo   permanecem presentes seja pelas memórias seja pelas obras e ideias que continuam a ser lidas, reflectidas, apreciadas, seja pelo carisma que as assinalava e o martírio ainda mais reforça...

Neste blogue encontra outros artigos dedicados a ela, com entrevistas e textos de Daria Dugina, e neste vamos traduzir do francês, e que recebi através do Vk.com (a valiosa rede social russa que recomendo) o recentíssimo testemunho de quem, Balbino Katz, a conheceu bem  e que quis partilhar o seu afecto e respeito por ela e realçar que embora tivessem ideias diferentes em certos aspectos da visão geo-estratégica civilizacional,  o génio, o amor e o carisma de Daria suplantavam tudo.

Tentemos clarificar as divergências: enquanto Dara acreditava na missão essencial da Rússia tradicional e imperial, religiosa e multipolar, desvalorizando o papel e contributo actual da União Europeia, Baldino Katz, investigador e jornalista francês,  no diálogo com ela recusava tal supremacia de missão histórica actual da Rússia e acreditava que a Europa, semi-pagã, semi-católica, alma faustica e prometaica, ainda que ferida na sua essência, continuaria a ter um papel importante ou liderante na marcha do mundo.

Talvez fosse bom interrogá-lo, se passados estes anos, em 2025,  ainda continua a acreditar na Europa dirigida pelas ineptas direcções afiliadas ao Fórum Económico Mundial, e se o  papel que ela tem desempenhado ou continua a querer desempenhar não será indiscutivelmente negativo, mau,  tal como não aceitando as condições justas da Rússia para terminar a sua operação especial militar, e antes tentando prolongar o conflito, e enfraquecer ou, na sua hubris imensa, vencer a Rússia?

 Talvez fosse bom perguntar-lhe também se pensa que a Europa está unida atrás dos seus desgovernantes políticos, a tal "coligação dos dispostos", dos quais vários são cocainómanos, que lutam pelos interesses da oligarquia a que estão avençados ou escravizados há muito, mas que em nada defendem os interesses dos seus cidadãos, cada vez mais apertados pela inflação que decorre da péssima política da União Europeia. sempre em sanções cobardes contra a Rússia e as suas energias que tanto invejam, como a pindérica Kaja Kallas manisfesta no seu afã de querer retalhar a Rússia?

É pena que Baldino Katz se afirme ainda contra o que chama o  "sonho euroasiático" de Daria Dugina, quando ele é também de Alexandre Dugin, de Vladimir Putin, de Lavrov, de Xi Ping, de Modi, de Lula, de Pezensky, Traoré, e de tantos outros milhões de seres, entre os quais me incluo,  que desejam que  a civilização euroasiática, o BRICS, a multipolaridade mundial se desenvolvam e triunfem sobre as diversas formas de hegemonias oligárquicas ou neocolonialismos opressivos ocidentais. É pena que fique à espera que a Europa celta e etno-diferenciada nacionalista, reivindicada e sonhada pelo seu grupo GRECE, fundado em 1960 que teve o seu valor intelectual e o dos dois pensadores citados,  mas que está hoje bastante ultrapassado pelas dinâmicas de partidos de direita, e que pense conseguir algumas vez influenciar os burocratas e anti-russos de Bruxelas e da oligarquia nos destinos da Europa?

 Oiçamos então, parecendo-me ainda hoje algo limitado pelo chauvinismo francês e europeísta ocidental, o testemunho mesmo assim cheio de amor de Balbino Katz:

 «Terça-feira de manhã, céu nublado sobre o porto de Guilvinec, o vento do mar já traz a mordidela precoce do outono. No bar do Oceano, onde gosto de me abrigar dos caprichos do tempo, deixei ressurgir a lembrança de uma jovem mulher cujo nome permanece gravado em mim como um luto que não passa: Daria Dugina, morta aos trinta anos, em 20 de agosto de 2022, na explosão criminosa do carro de seu pai.

                                      
Conheci o seu pai, Alexandre, no dia seguinte à queda do muro de Berlim. Ele saía de uma Rússia exausta, estrangeiro aos nossos costumes, tacteando na Europa atlântica. Vi-o a aprender rapidamente, estabelecer conexões, forjar sua influência. Com o passar dos anos, os nossos caminhos se afastaram-se, pois seu sonho eurasiático que ele não cessava de construir era-me estranho. Eu permaneci fiel à escola do GRECE, o Groupement de Recherche et d'Études pour la Civilisation Européenne, a Alain de Benoist, a Guillaume Faye, a essa Europa faustiana, prometaica, que deve o seu futuro a si mesma [Que ilusão: pobre população e civilização europeia tão manipulada, oprimida e alheia a si mesma]. Mas se nossas visões divergiam, a amizade permaneceu.

                                                  
Foi assim que conheci no início dos anos 2010, alguns anos depois, a sua filha, que veio a Paris com sua mãe [Natalia Melentyeva]. Elas tinham feito questão de rever os amigos que, na época das dificuldades, souberam acolhê-las. Eu fui um deles, e recebi-as para jantar. Revejo a mãe, atenta, feliz por nos reencontrarmos, e Daria, ardente, ávida, perscrutando as nossas palavras como se fossem fragmentos de verdade. Ela era  ainda apenas uma estudante, mas já carregava aquela intensidade de olhar que sinaliza um destino.

                                                
Revi-a em Paris nas instalações da TVLibertés, em Aix-en-Provence, em uma Domus amiga, e especialmente na Moldávia, em dezembro de 2017. Um fórum eurasiático reunia lá os não-alinhados contra o globalismo. Eu tinha ajudado Daria e sua mãe a fazer a viagem. Foram dias de fraternidade, de conversas profundas, de risos também. Lembro-me dos seus passos nas ruas de Chișinău, da sua alegria e gravidade misturadas. Foi a última vez que a beijei.

 Os nossos desacordos eram conhecidos. Ela acreditava em Moscovo como uma Terceira Roma, messiânica, ortodoxa, a única portadora da Tradição frente ao Ocidente materialista. Acredito na Europa, mesmo ferida, como um organismo vivo, pagão e cristão ao mesmo tempo, múltiplo, trágico e heroico. Ela colocava a sua fé em uma Rússia imperial projetando sua força sobre o continente; eu esperava o despertar de uma Europa senhora de seu destino. Mas essas divergências não abalavam nosso vínculo: nós dois sabíamos que a amizade supera as divisões nas nossas visões de mundo.
Quando soube da sua morte, foi como se me arrancassem um dos meus filhos. Ela não era apenas a filha de Dugin, não era apenas uma voz ideológica. Ela era uma presença luminosa, uma promessa, um futuro. Seu sangue derramado numa uma rua obscura de Moscou foi como uma luz que se apaga na noite.
Então, neste 20 de agosto que retorna a cada ano como uma ladainha, eu penso nela como uma estrela quebrada muito cedo, mas cujo brilho continua a alcançar-nos. Ela carregava em si essa ardência que as nossas juventudes europeias perderam [nem todos graças a algumas linhas de força ainda vivas], essa certeza de que a vida tem um sentido e que é preciso arriscar a própria existência para realizá-lo. Seu desaparecimento é uma ferida aberta para a Rússia, mas também para todos nós, pois ela encarnava, à sua maneira, uma esperança comum.
                                              
Sim, seu nome permanece, o seu rosto  impõe-se, a sua memória arde. E eu, que a conheci, posso dizer que ela não desapareceu apenas num atentado, ela permanece em nossa memória como uma chama que, apesar do tempo que passa, desafia o esquecimento e não se apaga.

Balbino Katz, cronista dos ventos e das marés

Impossível mencionar Alexandre e Daria Douguine sem mencionar Christian Bouchet e suas Edições Ars Magna, que publicam em francês as obras desses dois autores russos, incluindo "Optimismo Escatológico", escrito por Daria e disponível no site da editora: https://www.editions-ars-magna.com 

Crédito da foto: DR (foto de ilustração)
[cc] Breizh-info.com, 2025

Mardi matin, ciel bas sur le port du Guilvinec, le vent de mer apportait déjà la morsure précoce de l’automne. Au bar de l’Océan, où j’aime à m’abriter des caprices du temps, je laissai remonter le souvenir d’une jeune femme dont le nom demeure gravé en moi comme un deuil qui ne passe pas : Daria Douguine, morte à trente ans, le 20 août 2022, dans l’explosion criminelle de la voiture de son père.
Je connus son père, Alexandre, au lendemain de la chute du mur de Berlin. Il sortait d’une Russie épuisée, étranger à nos usages, tâtonnant dans l’Europe atlantique. Je l’ai vu apprendre vite, nouer les liens, forger son influence. Au fil des années, nos chemins se sont éloignés, car son rêve eurasiste qu’il ne cessait de bâtir m’était étranger. Je suis resté fidèle à l’école du GRECE, à Alain de Benoist, à Guillaume Faye, à cette Europe faustienne, prométhéenne, qui doit son avenir à elle seule. Mais si nos visions divergeaient, l’amitié demeura.
C’est ainsi que j’ai rencontré au début des années 2010, quelques années plus tard, sa fille, venue à Paris avec sa mère. Elles avaient tenu à revoir les amis qui, au temps des épreuves, avaient su les accueillir. Je fus de ceux-là, et je les reçus à dîner. Je revois la mère, attentive, heureuse que l’on se retrouve, et Daria, ardente, avide, scrutant nos paroles comme des éclats de vérité. Elle n’était encore qu’une étudiante, mais déjà portait cette intensité de regard qui signale une destinée.
Je la revis à Paris dans les locaux de TVLibertés, à Aix-en-Provence dans une Domus amie, et surtout en Moldavie, en décembre 2017. Un forum eurasiste y réunissait les non-alignés contre le globalisme. J’avais aidé Daria et sa mère à faire le voyage. Ce furent des jours de fraternité, de conversations profondes, de rires aussi. Je me souviens de ses pas dans les rues de Chișinău, de sa gaieté et de sa gravité mêlées. Ce fut la dernière fois que je l’embrassai.
Nos désaccords étaient connus. Elle croyait à Moscou comme à une Troisième Rome, messianique, orthodoxe, seule porteuse de la Tradition face à l’Occident matérialiste. Je crois à l’Europe, même blessée, comme à un organisme vivant, païen et chrétien à la fois, multiple, tragique et héroïque. Elle plaçait sa foi dans une Russie impériale projetant sa force sur le continent ; j’attendais le réveil d’une Europe maîtresse de son destin. Mais ces divergences n’entamaient pas notre lien : nous savions l’un et l’autre que l’amitié surpasse les clivages dans nos visions du monde.
Quand j’appris sa mort, ce fut comme si l’on m’arrachait un de mes enfants. Elle n’était pas seulement la fille de Douguine, pas seulement une voix idéologique. Elle était une présence lumineuse, une promesse, un avenir. Son sang versé sur une rue obscure de Moscou fut comme une lumière qui s’efface dans la nuit.
Alors, en ce 20 août qui revient chaque année comme une litanie, je songe à elle comme à une étoile brisée trop tôt, mais dont l’éclat continue de nous parvenir. Elle portait en elle cette ardeur que nos jeunesses européennes ont perdue, cette certitude que la vie a un sens et qu’il faut risquer son existence pour l’accomplir. Sa disparition est une plaie béante pour la Russie, mais aussi pour nous tous, car elle incarnait, à sa manière, une espérance commune.
Oui, son nom demeure, son visage s’impose, son souvenir brûle. Et moi, qui l’ai connue, je peux dire qu’elle n’a pas seulement disparu dans un attentat, elle demeure dans notre mémoire comme une flamme qui en dépit du temps qui passe défie l’oubli et ne s’éteint pas.

Balbino Katz, chroniqueur des vents et des marées

Impossible d’évoquer Alexandre et Daria Douguine sans mentionner Christian Bouchet et ses Éditions Ars Magna qui publient en Français les oeuvres de ces deux auteurs russes dont Optimisme eschatologique écrit par Daria et disponible sur le site de la maison d’édition : https://www.editions-ars-magna.com

Última fotografia de Daria com seu pai, umas horas antes de se tornar uma mártir da Santa Rússia,  de S. Sergio de Radonega, St. Serafim de Sarov, Dostoievsky, Tolstoi, Soloviev, Berdiaef. .. Espero brevemente escrever nais sobre ela e a sua obra. Que Daria Dugina desperte mais no seu corpo glorioso e nos possa inspirar.

terça-feira, 19 de agosto de 2025

Um desenho espiritual ou yantra, da manhã do dia 19 de Agosto de 2025.

 

Ama, sê, desperta    Vence, persiste   Vê, alcança, entra 

 Caminhemos na aspiração à Divindade, ao Amor, ao Bem Comum, sempre renascendo de dentro em tal fogo unitivo.

Respiremos e assimilemos as energias subtis do Cosmos: partículas, raios, ondas, cores, formas, imagens, ideias que de olhos fechados podemos ver no olho espiritual, e sentir no coração, com admiração e gratidão.

Acima da agitação e desinformação, dos conflitos e crueldades, ergue-te, aquieta-te, concentra-te e avança firme e destemido na comunhão das almas afins vibratória e ideologicamente, no corpo místico ou dharmico da Humanidade, rumo a maior consciência e ligação harmoniosa ao Espírito e à Divindade. Aum...

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Francisco Soares Toscano. A Sibila Comana ou de Cumes em Portugal. Os "Parallelos de principes, e varões illustres antigos, a que muitos da nossa naçam portuguesa se assemelhàrão em suas obras, ditos, & feitos."

 Em 1623 era dado à luz em Évora na oficina tipográfica de Manuel de Carvalho uma obra de grande erudição, boa psicologia e sagaz comparativismo. Do seu autor, Francisco Soares Toscano, pouco se sabe hoje, a não ser que era natural de Évora, estudou filosofia e humanidades, estava a escrever uma história de Portugal intitulada  Teatro Latino, deixou um manuscrito inédito no qual transcrevera  uma paródia ao Canto I dos Lusíadas, intitulada Festas bacchanais, copiado por T. Norton no séc. XIX, e em 1623 publicou os Parallelos de principes, e varões illustres antigos, a que muitos da nossa naçam portuguesa se assemelhàrão em suas obras, ditos, & feitos: com a origem das armas de algumas familias deste reinoAmbas as obras estão hoje acessíveis na Biblioteca Nacional Digital
A obra, com 199 fólios (ou folhas e portanto quase 400 páginas) incluiu 152 capítulos  sucintos mas bem formados e instrutivos paralelos entre grandes seres da antiguidade e portugueses, pelas suas virtudes e heroísmo, tendo ainda no fim nove paralelos entre as vidas e virtudes de mulheres da antiguidade e portuguesas.
Cento e dez anos depois, em 1723, a obra era reimpressa em Lisboa, na Oficina Ferreiriana
,   já com 432 páginas, pois acrescentaram-se (o impressor, ou algum erudito ou patriota?    quarenta e oito paralelos de príncipes e varões ilustres, e onze de mulheres ilustres. E há muitos anos o querido amigo prof. José V. de Pina Martins  ofereceu-me um exemplar  truncado: na encadernação, e na falta do frontispício, folhas preliminares e as duas últimas do índice, mas enriquecido com anotações suas que reconstituem o título em falta e mencionam o paralelo com Francisco de Sá de Miranda (28-VIII- 1481 a 17-V-1558), que foi um dos seus autores preferidos e mais trabalhados, e que sendo antepassado da minha mãe fora uma das razões da sua oferta, tal como a dum desenho moderno do busto de Sá de Miranda.
Anote-se q
ue graças ao amigo Tiago Henriques, possuidor dum exemplar completo, podemos afirmar que os acrescentos foram ditados pelo 4º Conde da Ericeira, a quem a 2ª edição está dedicada, a par do Duque de Bragança, sendo transcritos por José Miguel Ferreira o preparador da reimpressão.

A obra tem sido pouco estudada, talvez pelo seu carácter de recolha de grandes feitos guerreiros, derivada das obras de história, que em geral cita abreviadamente no fim dos capítulos, mas há nela  aspectos valiosos a destacar pois ele era um humanista muito lido, sensível, cultuando os valores morais, nacionais e perenes, nisso sendo até corajoso, ao citar, mais de uma vez exemplos ou ditos das obras do mestre dos Humanistas dos séc. XVI e seguintes, Erasmo, então ainda algo censurado pela Inquisição, embora por outros bem estudado e cultuado.

Mesmo a sua dependência grande de fontes livrescas não deve ser desvalorizada, pois para além da copiosa informação que hauriu dos mais conhecidos da história de Portugal, da Bíblia e da Antiguidade greco-romana-persa, menciona também obras menores, sermões impressos e mesmo alguns manuscritos, que de outro modo não conheceríamos.
Embora se possa considerar excessiva a descrição de feitos valerosos nas armas por portugueses heroicos, sem dúvida o predominante na obra, embora também haja vários cultores esforçados das letras e religião, tal mensagem guerreira e patriótica era importante na época dos Descobrimentos e foi muito útil e valiosa porque estávamos submetidos à dominação castelhana, e assim se podiam galvanizar os ânimos para a tarefa da Restauração. Infelizmente, nada sabemos do sucesso da obra nem de quem a leu e se ela frutificou em alguns dos portugueses mais activos na reconquista da independência, nomeadamente até de descendentes dos varões ilustres convocados na obra, seja de reis, príncipes ou heróis.
Anote-se que a principal razão de ser dos acrescentos na segunda edição derivam de se terem realizado a notável Restauração em 1º de Dezembro de 1640 e as batalhas vitoriosas posteriores, pelo que vários dos quarenta e oito acrescentos imortalizam heróis dessa gesta.
Na dedicatória prefacial a D. Teodósio, 7º Duque de Bragança, menciona Valér
io Máximo (séc. I), com os seus Ditos e Feitos memoráveis, da Antiguidade, como um dos seus inspiradores, e no prólogo ao Leitor menciona outro inspirador, Plutarco (46-120) com as suas Vidas Paralelas e os tratados de filosofia moral e espiritual,  Moralia, repletos de erudição, especulação oculta e espiritualidade, já que era um sacerdote e iniciado nos Mistérios gregos e romanos.

Início do capítulo I: Imperador Constantino e D.Afonso Henriques, fundadores sacralizados.

O Índice da obra mostra os factores, por ordem alfabética, que o guiaram nesta escola de exempla: as virtudes ou qualidades humanas, as pessoas, pelos nomes, e as armas ou famílias. Nuno Álvares Pereira é o herói mais citado em  exemplo paralelo, dezassete vezes, seguindo-se Alexandre Magno (8) D. João II (8) Afonso de Albuquerque (7), Júlio César (7). E D. Afonso Henriques, embora apenas cinco vezes, é contemplado extensamente com o I e II exemplos ou capítulos. Aborda 14 armas heráldicas, três colectivas - Portugal, Algarve, Évora e Duques de Bragança -, e dez de famílias: Pereiras, Faria, Vasconcellos de Villa Lobos, Cortes Reaes, Costas, Macedos, Bandeiras, Cogominhos, Gamas e Condes da Vidigueira. Quanto às virtudes morais, o Amor é a mais citada, nas suas variantes de amor de pátria, fraternal, filial e conjugal, neste sendo invocado Francisco Sá de Miranda, que "amou extraordinariamente" sua mulher Briolanja d'Azevedo, mais velha do que ele e "de pouca formosura exterior".  Quanto a D. Pedro I é citado em paralelo exemplar quatro vezes com os imperadores Antonino Pio, Tito e Aureliano, e Teseu, pela "generosidade e magnificência", e por castigar asperamente mas criando segurança no reino,  e pelo seu amor até ao fim do mundo por Inês de Castro, de uma forma bastante bela, que transcreveremos brevemente.

Dos Paralelos das Mulheres destacaremos  não tanto as do heroísmo guerreiro, e várias convocadas são dos dois  célebres cercos de Diu, de 1538 e 1546, mas mais as que se notabilizaram pelo studium ou esforço nas letras, ética e religião, tal Luísa Sigeia;  Dona Joana de Menezes, Condessa da Ericeira; a famosa soror poetisa Soror Violante do Céu, comparada a Sapho; a rainha D. Luísa de Gusmão; Dona Isabel de Castro, condessa de Assumar; Soror Maria Magdalena de Jesus, do convento da Madre de Deus em Xábregas, por cerca de 70 anos, escritora religiosa; Dona Bernarda Ferreira de Lacerda, autora das famosas Soledades do Buçaco; e por fim Dona Luiza Maria de Faro, condessa de Penaguião. E vamos transcrever o paralelo que Soares Toscano estabeleceu entre ela e nem mais nem menos que a famosa Sibila Comana, ou de Cumas, que até em Portugal se avatarizou num paralelo do licenciado eborense Francisco Soares Toscano: 

«Ou fossem muitas, ou uma só, que profetizou em diversas partes, às Sibilas se lhes atribui, principalmente à Sibila de Cumas, que esteve em Roma no tempo de Tarquino o Soberbo, uma grande ciência, uma grande virtude, e inteira aplicação aos  Mistérios Divinos, e quase graça profética, sendo consultados os seus oráculos, e depois seus livros. nos maiores negócios da República. Galeo, de Sibilis e Petit de una Sibila.
                                  
                                    

«Dona Luísa Matia de Faro, filha dos Condes de Atouguia, e mulher do seu primo o conde de Penaguião Camareiro Mór d'El Rey D. João IV, se aplicou aos estudos, e com grande fervor à assistência  dos Tempos, e vivendo mais de oitenta anos foi sempre consultada pelas Rainhas, e ainda pelos Reis e seus ministros, e pela nobreza, e pessoas doutas em todo o cerimonial da Corte, e em muitos negócios importantes, e com a memória mais firme, e a verdade  mais sólida, dava notícia de tudo o que leu, e viu com tanto acerto, que suas decisões eram veneradas e seguidas de todos. Memórias do tempo »

A sibila de Cumas no chão da catedral de Siena, por Giovanni di Stefano, final do séc. XV

 Destaquemos, no ensinamento humanista de Francisco Soares Toscano de resgatar a memória da vida da quase sibila portuguesa Dona Luísa Matia de Faro, a aplicação aos estudos,  a memória firme do que lia e meditava, e a formação dentro de si de uma verdade  sólida, o que lhe permitiam transmitir o que aprendera com grande acerto  e ser bem acolhida. Sem dúvida, um bom plano de trabalhos para as gerações mais novas, hoje tão confrontadas com tantos imediatismos facilitadores mas superficializantes e que impedem o desenvolvimento de inteligência sensível, de vontade determinada e de capacidade de obtenção da verdade fundamentada e mais profunda que possa ser transmitida para o bem de todos.

Na linha de assimilação das virtudes da Antiguidade no Cristianismo está a pintura de Rafael, de 1511, sediada na igreja de S. Maria del Pace, em Roma, onde as Sibilas são inspiradas por dois Anjos e acompanhadas de pequenos Eros, amor, amores, puti ou anjinhos.
 Quanto ao que ele discerne na sábia e clarividente  Sibila de Cumas, que viera da Grécia para a Campânia itálica, a mais referida historicamente e imortalizada por Vírgilio na Eneida, deixaremos para outro artigo, já que é uma linha tradicional  que tenho trabalhado e só realçarei para nossa meditação o que a mulher e a parte feminina ou anima deve desenvolver: "uma grande ciência, uma grande virtude, e inteira aplicação aos  Mistérios Divinos, e quase graça profética"