
Uma grande alma, que amei muito e com quem trabalhei bem espiritualmente e pitagoricamente, a Sandra Pinheiro, formada em Línguas e Literatura Clássicas, professora, leitora de Português na Áustria e harpista, partiu hoje dia 25 de Maio para os mundos subtis, pelas 4 horas e tal da madrugada, sincronicamente com a maior explosão solar registada neste ano. Acompanhara-a no hospital fortemente (tal como a sua amiga Susana) umas horas antes, e depois tive sinal disso num sonho. Escrevera reflexões quando fora informado do seu estado na véspera, depois da visita antes de me deitar e de manhã por causa dos sonhos e, finalmente, estas já de tarde e agora à noite:
- Quando alguém que conhecemos e amamos sofre muito, também sofremos e quando ela morre sentimos muita tristeza por terem terminado os seus projectos na vida, seja criativa, profissional, relacional, familiar, maternal e psico-espiritual. E sentimos um certo e vazio, como se também morresse uma parte nossa ou os fios de ligação que tínhamos, ou mesmo a confiança de que ela iria vencer a dificuldades.
Quando o corpo está mesmo no fim e as dores são muitas a morte é uma libertação e devemos consolar-nos que pelo menos esse aspecto tão difícil da dor terminou. E se a pessoa era alma luminosa e benéfica, mais nos deveremos desprender da tristeza, e darmos graças (mesmo que dolorosamente ou quase chorando) por ela estar agora em transição no seu caminho ascensional, que apenas conseguimos ao de leve imaginar ou intuir.
Mesmo assim o nosso coração permanece tocado e só deseja sintonizar com o coração da alma que partiu, pois ela, se já está desperta no além, pode até desejar ou realizar tal ligação-comunicação. Frequentemente ela tem os seus guias ou antepassados a ajudarem-na, mas ignoramos muito quanto ao que ela está mais receptiva, embora nas primeiros tempos esteja mais perto do corpo e do plano físico
Podemos lamentar as circunstâncias diversas que nos afastaram, e não seguimos então a ideia de que foi o karma ou que já estava predestinado, e antes atribuímos a causalidades diversas os caminhos divergentes e que agora terminaram para ela com uma morte aparentemente precoce, pois fazemos escolhas e enveredamos por caminhos, de facto independentes e por isso difíceis de conciliar, e assim cada um acaba por fazer a sua vida profissional, relacional ou familiar com outros e abrir a sua própria via para o além. Por isso o preceito de Garcia Resende com que ele conclui a descrição da vida e morte de Inês e de Pedro, na sua Miscelânea, é tão valioso e actual face à morte e às amizades: "Quem poder fazer o bem, que o faça". Apoia ao máximo os que mais te apreciam, necessitam, amam...
Assim, quando alguém está para partir despede-te bem dela, dando o máximo de ti, e depois encontra-a nos mundo subtis, tal como os sonhos te darão imagens ou vivências, e comunga uns dias mais recolhido com a sua alma no subtil processo do desprendimento do corpo e identidade física e recuperação da identidade espiritual e funcionamento no seu corpo de luz ou glória.
Essa transição opera-se naturalmente podendo ser mais demorado o desprender dos efeitos no corpo sofridos ou a desidentificação com ele, dependendo ainda do desenvolvimento consciencial, ético, compassivo e espiritual realizado em vida, e assentará (nos seus níveis mais elevados) na identificação à estrela pentagonal do espírito e no eclodir da crisálida em borboleta, ou seja o desabrochamento das asas luminosas e da capacidade de mover-se, de voar. Certamente tal pode ser auxiliado externamente pelas energias de mestres, anjos, pessoas amigas e as bênções divinas.
Quanto ao amor, ou à potencialidade e capacidade de amor, de interesse, de envolvimento na vida, quanto morre alguém diferentes resultados ou consequência podem acontecer, embora as pessoas não se deem conta dos aumentos ou diminuições, pois não há uma regra geral e tudo depende das interelações das pessoas e dos seus envolvimentos, idades, trabalhos e projectos e da nossa capacidade de auto-gnose.
Assim quando alguém de quem estamos próximos na vida exterior ou na alma e amor parte, recebemos forças subtis ora estimulantes do nosso trabalho na Terra, ora o contrário, como se o nosso envolvimento na vida terrena diminuísse e uma parte substancial da nossa capacidade de amor ou se evola com ela ou então se concentra inicialmente mais no vazio ou na dor interior e tenta comunicar o seu amor com ela, orando, meditando, ouvindo os leves toques vibratórios, ou intuindo fugazes imagens ou pensamentos, e logo evitando dispersar-se e distrair-se com o mundo, as noticias, as redes sociais, as conversas superficiais. A morte de alguém é um corte na ilusão da vida mais permanente e um aviso da sua fugacidade, pelo que é natural cortarmos ou desligar-nos de certos envolvimento externos menos importantes.
O processo de transição demora dias e nunca se sabe bem os resultados, e assim em certos momentos a nossa alma ergue-se e comunica com a alma amada já partida, seja nos pôr do sol rosados, seja no caminhar, seja em lembranças, por vezes materializadas em objectos ou escritos, seja sobretudo na escuta interior que brota por entre os momentos de oração e meditação. Mas a partir de certo momento são intuições de pensamentos ou vozes internas que assinalam a nossa relação comunicação com uma alma bem luminosa e agora mais ágil no seu caminho e missão.
- Musa, que tanto pairas sobre nós como te recolhes e elevas, que os raios de luz e amor divinos estejam contigo. Avança luminosamente no teu caminho de criatividade e alegria, harmonia e amor, e inspira-nos:
- Quem segura a Lua?
Concluamos ainda com Luís Camões, um Cavaleiro e Fiel do Amor, tal como ela, ecoando a ideia de que há pessoas que pela sua grande sensibilidade e amor a Vida humana terrena não as consegue merecer por muito tempo, na elegia iniciada, "Chorai Ninfas, os Fados Poderosos (...)
''Mas o mundo não era digno dela,
Por isso mais na terra não esteve;
Ao Céu subiu, que já lhe devia.''


















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