Bô
Yin Râ, e o seu
ensinamento espiritual e pictográfico perene. Traduzido e resumido da sua obra e parafraseado por ....
É
através da totalidade da nossa vida que nos qualificamos para termos
ou não acesso ao mundo espiritual, e para podermos ou não sermos
considerados discípulos dum mestre espiritual, em geral vivente no mundo espiritual.
Incluem-se
neste merecimento os pensamentos, as palavras, os sentimentos, os actos, as
intenções, a vontade. Neste sentido já
no seu tempo Jesus confessou que muitos diriam que eram seus discípulos e não o eram, e que outros só por palavras o reverenciavam ou seguiam mas
não por actos e realizações.
Assim,
quando se lê um ensinamento, não basta recebê-lo mentalmente mas
há que o tornar vivo em nós, pela acção, pelos modos de
ser, as atitudes e formas de vida. Devemos pois organizar a nossa vida
em função das ilações e consequências que resultam do
ensinamento. E face a críticas externas há que discernir de que tipo de pessoa ela vem, que
atenção merece e como tirar partido das apreciações ou críticas para
as nossas posições e trabalhos futuros. Mas um
ensinamento só pode ser bem julgado se quem o critica o conhece bem, ou se está ou esteve a seguir as suas metodologias. Não devemos contudo
dispersar as nossas forças internas, que exigem a mais íntima
concentração para atingirem os níveis espirituais, entrando em discussões ou dispersando-nos demasiado.
Um
erro cometido com
frequência pelas pessoas que entram no caminho espiritual é quererem logo converter outras, ou pelo menos
indicar-lhes o caminho, impingindo, por exemplo, os livros do seu
ensinamento ou mestre, o que pode ser contraproducente, pois
a pessoa pode não estar preparada e ficar mesmo traumatizada, pelo que é melhor deixar a propaganda comercial da editora e a
distribuição normal dos livros os levar a quem deles necessita.
É inútil para o nosso caminho espiritual acrescentarmos, de constantes
leituras esotéricas, novas linhas de força que amalgamos num todo. Face
aos muitos instrutores que papagueiam teorias e doutrinas cabalísticas ou ocultistas mais ou menos mirabolantes, ou face às modalidades mais modernas de seminários e cursos online, por pessoas que apenas falam em geral sem grande realização espiritual, será bom lembrar-nos
que só podemos avançar no caminho pela meditação interior, a vida harmoniosa e justa e pelo conhecer ou viver Deus em nós através do espírito
substancial e eterno cuja irradiação penetrante em si é o próprio Deus.
Não
podemos pois reduzir o Espírito a um produto cerebral, já que pelo
contrário foi Ele próprio quem engendrou o cérebro e dele não
depende. E assim há um elevado conhecimentos que não provém dum trabalho cerebral, mas
sim duma experiência vivida do Espírito substancial e eterno.
Para
conhecer o Espírito, para o aprofundar e o vivenciar do interior,
temos de estar nele, pois ele penetra-nos dum modo vivo, e vive em
nós, mesmo se nós não conseguimos ainda viver conscientes nele. Cada
pessoa chegará a esta experiência dum modo diferente, condicionada pelas suas disposições kármicas, ou resultantes das suas acções anteriores. Mas o caminho não é
feito segundo o gosto ou apetite de cada um, e os autênticos iniciados dos
antigos Mistérios sempre falaram dos obstáculos, os quais chegaram até
nós tipificados como as provas dos quatro elementos. Em verdade, só
as pessoas que tiveram acesso ao espírito conseguem discernir os
sinais que diferenciam a superstição e a mistificação do conhecimento ou vivência da realidade
espiritual.

O Espírito é o Ser Original donde provém toda a existência, e donde
esta recebe a sua vida. Mas para
experimentarmos a presença deste Ser Original em nós, precisamos de
participar conscientemente em tal demanda, desenvolvendo a faculdade
de o experimentar ou vivenciar, do que resulta o desvendar do que nos
é acessível do mundo do Espírito real e substancial, o qual é um
cosmos ordenado, com as suas formas sempre em mutação mas que
permanecem na sua essência idênticas a elas próprias.
Para
desenvolvermos estas capacidades temos de perceber que o organismo do
corpo espiritual pode ou deve se tornar activo e que os
sentidos puramente espirituais desenvolvem-se, tal como os sentidos
corporais. E
assim no mundo espiritual conforme os sentidos estão mais
desenvolvidos assim se desenvolvem percepções específicas.
É
pois muito importante a escolha das forças da alma que unimos no
seio da nossa vontade mais profunda, ou seja, aquelas que nós
identificamos ou unimos a tal vontade. Temos então que as proteger
muito bem dos perigos que as ameaçam, dos quais um dos maiores é o
conhecimento friamente objectivo cerebral da realidade, tão
desenvolvido por alguns esotericistas, cientistas, materialistas...
Este
trabalho de despertar tem de ser já realizado em vida terrestre, e não depois de
morrermos, começando-se a desenvolver o
organismo espiritual substancial, tornando-o apto a vivenciar experiências pessoais. Podemos
assim dizer que não é o Espírito que se desenvolve, mas sim o
organismo espiritual, ou seja, a combinação alma-espírito
individualizada em que nos tornamos e somos, a que corresponde o Jivatman, ou atman individualizado, da Índia...
Para
isto temos de educar o corpo terreno para ele se tornar a expressão
do espírito substancial que nos anima, sem cairmos nos extremos quer
de procura só de prazeres e confortos corporais quer de
mortificações exageradas, pois estas ao enfraquecerem o corpo e o
cérebro podem provocar males, tais como alucinações e fantasias, e também passividade aberta a influências
de subtis e quase desconhecidas entidades invisíveis, sempre
desejosas de se alimentarem de seres humanos a elas abertos, algo disto sucedendo com os mediums no espiritismo, algo que entre nós portugueses, por exemplo, o próprio Fernando Pessoa praticou mas depois se alarmou e algo melodramaticamente renunciou...
Para
se percorrer o caminho para o espírito é preciso muita paciência, e
muitos erram quando pensam que podem galgar fases e chegar à meta muito cedo. A
experiência do Espírito eterno substancial não se atinge em meses, antes implica uma determinação perseverante na qual a única
violência que se pode exercer é contra os obstáculos que a
própria mente e a personalidade criam a essa experiência.
Quando
se chega ao fim do caminho percorrido passo a passo, esse caminho não
será abandonado como qualquer coisa de que já não se precisa
mais, mas torna-se a propriedade espiritual daquele que chegou ao fim
da sua demanda.
Percorrer
o caminho que permite chegar ao espírito é “andar” no tempo
exterior, mas também no seu próprio espaço interior espiritual. E o
que diferencia a progressão no caminho interior são estados ou estações de
sensibilidade, os maqam tão tipificadas e desenvolvidas pelos filósofos místicos islâmicos, que se sucedem uns aos outros. E
perante as dificuldades da ascensão só podemos dizer que uma certeza
ou confiança tranquila e uma fé dinâmica na própria força
de cada um aproximam mais do
fim supremo que as pressas, precipitações e crispações de
vontade.
Ao
longo dos séculos e em todos os povos sempre houve uma minoria de
seres que conseguiram elevar-se ao conhecimento das realidades pré-existentes no Espírito Eterno, e que se tornaram discípulos ou
iniciados pelos seus esforços.
Para
além deles houve muitas pessoas que não deixaram atrofiar as forças
com que organicamente se formou a alma, e que se mantêm abertas às forças
da Anima mundi, ao oceano infinito das forças anímicas
livres, ao omnisciente, omnisentiente e omnivivente Divino.
Não
se trata dum inconsciente colectivo, como algumas escolas
psicológicas nomeiam, mas do que a alma eterna sempre conheceu, mas
que a consciência cerebral ainda não conhece. Devemos pois com perseverança apelar ao que é conhecido da alma, sem ter
ainda atingido a consciência cerebral, se queremos abrir as portas
de acesso ao espírito.
Quanto
à expressão "substância espiritual" importa que cada vez que se fala
do espírito substancial, - por oposição a uma concepção do
espírito correspondente ao entendimento humano e aos produtos dos
movimentos ou operações do cérebro – se compreenda por substância
espiritual que tal é o que há de mais real, ou seja, a plenitude de todas as
forças do ser original!
Esta
substância do espírito não está fixa ou presa em nada. É, por
essência, o que há de mais livre, não conhece qualquer obstáculo,
é eternamente móvel, eternamente em movimento. Não é criada mas, sem intervenção particular da vontade, ela é dada
unicamente pela presença do Ser Original, tal como é necessário
designar, para o descrever, o mais íntimo do que É.
A
verdadeira tomada de consciência na substância do Espírito eterno,
situa-se sempre fora ou para além de toda a ciência ou comprovação científica e mesmo os
mais vastos e mais elevados conhecimentos científicos não poderão
aproximar o ser humano um centímetro que seja da experiência vivida do espírito substancial, algo que nunca será demais repetir perante tanto endeusamento da ciência, que tantas limitações têm, para não falar dos cientistas, frequentemente tão arregimentados...
O
ser humano não pode ser ajudado directamente por nenhum Deus, mas
somente pelo homem, e quando se trata de ajuda divina, unicamente por
um homem que se tornou um transformador de forças espirituais
substanciais. A
ajuda espiritual que ele obtém então é proporcionada à sua
faculdade de recepção e permanece assim até que possa viver nele próprio, no seu organismo espiritual desperto do
seu estado latente, o que é do domínio do Espírito eterno e
substancial.
Existem
inumeráveis graus de desenvolvimento e isto é igualmente
verdadeiro quanto à única experiência da Divindade que é possível ao ser
humano e que é realmente autêntica, - a experiência que faz, no
interior da sua alma, do seu Deus vivo.
Esta
experiência única e verdadeiramente real de Deus, de Deus que não
é somente o Espírito mas que pode-se dizer que é de certo modo a
auto-criação mais subtil do Espírito Absoluto, não está unicamente
dependente do pleno desenvolvimento do organismo substancialmente
espiritual, mas este já deve ter sido ou estar desperto de
maneira a poder fazer brilhar na alma a consciência distinta do
Eu espiritual, enquanto forma de experiência singular de todos os domínios
eternos. Que
um ser humano consiga vivê-la numa só vez, dum modo repetido, ou
dum modo ininterrupto, só depende da pessoa, ou seja do desenvolvimento das suas possibilidades anímicas.»