segunda-feira, 24 de maio de 2021

Ensinamentos de Bô Yin Râ sobre o Caminho para o Espírito e para Deus. Resumo parafraseado por Pedro Teixeira da Mota.

Bô Yin Râ, e o seu ensinamento espiritual e pictográfico perene. Traduzido e resumido da sua obra e parafraseado por ....

É através da totalidade da nossa vida que nos qualificamos para termos ou não acesso ao mundo espiritual, e para podermos ou não sermos considerados discípulos dum mestre espiritual, em geral vivente no mundo espiritual.

Incluem-se neste merecimento os pensamentos, as palavras, os sentimentos, os actos, as intenções, a vontade. Neste sentido já no seu tempo Jesus confessou que muitos diriam que eram seus discípulos e não o eram, e que outros só por palavras o reverenciavam ou seguiam mas não por actos e realizações.

Assim, quando se lê um ensinamento, não basta recebê-lo mentalmente mas há que o tornar vivo em nós, pela acção, pelos modos de ser, as atitudes e formas de vida. Devemos pois organizar a nossa vida em função das ilações e consequências que resultam do ensinamento. E face a críticas externas há que discernir de que tipo de pessoa ela vem, que atenção merece e como tirar partido das apreciações ou críticas para as nossas posições e trabalhos futuros. Mas um ensinamento só pode ser bem julgado se quem o critica o conhece bem, ou se está ou esteve a seguir as suas metodologias. Não devemos contudo  dispersar as nossas forças internas, que exigem a mais íntima concentração para atingirem os níveis espirituais, entrando em discussões ou dispersando-nos demasiado.

Um erro cometido com frequência pelas pessoas que entram no caminho espiritual  é quererem logo converter outras, ou pelo menos indicar-lhes o caminho, impingindo, por exemplo, os livros do seu ensinamento ou mestre, o que  pode ser contraproducente, pois a pessoa pode não estar preparada e ficar mesmo traumatizada, pelo que é melhor deixar  a propaganda comercial da editora e a distribuição normal dos livros os levar a quem deles necessita.

É inútil para o nosso caminho espiritual acrescentarmos, de constantes leituras esotéricas, novas linhas de força que amalgamos num todo. Face aos muitos instrutores que papagueiam teorias e doutrinas cabalísticas ou ocultistas mais ou menos mirabolantes, ou face às modalidades mais modernas de seminários e cursos online, por pessoas que apenas falam em geral sem grande realização espiritual,  será bom lembrar-nos que só podemos avançar no caminho pela meditação interior, a vida harmoniosa e justa e pelo conhecer ou viver Deus em nós através do espírito substancial e eterno cuja irradiação penetrante em si é o próprio Deus.

Não podemos pois reduzir o Espírito a um produto cerebral, já que pelo contrário foi Ele próprio quem engendrou o cérebro e dele não depende. E assim  há um elevado conhecimentos que não provém dum trabalho cerebral, mas sim duma experiência vivida do Espírito substancial e eterno.

Para conhecer o Espírito, para o aprofundar e o vivenciar do interior, temos de estar nele, pois ele penetra-nos dum modo vivo, e vive em nós, mesmo se nós não conseguimos ainda viver conscientes nele. Cada pessoa chegará a esta experiência dum modo diferente, condicionada pelas suas disposições kármicas, ou resultantes das suas acções anteriores. Mas o caminho não é feito segundo o gosto ou apetite de cada um, e os autênticos iniciados dos antigos Mistérios sempre falaram dos obstáculos, os quais chegaram até nós tipificados como as provas dos quatro elementos. Em verdade, só as pessoas que tiveram acesso ao espírito conseguem discernir os sinais que diferenciam a superstição e a mistificação do conhecimento ou vivência da realidade espiritual.

O Espírito é o Ser Original donde provém toda a existência, e donde esta recebe a sua vida. Mas para experimentarmos a presença deste Ser Original em nós, precisamos de participar conscientemente em tal demanda, desenvolvendo a faculdade de o experimentar ou vivenciar, do que resulta o desvendar do que nos é acessível do mundo do Espírito real e substancial, o qual é um cosmos ordenado, com as suas formas sempre em mutação mas que permanecem na sua essência idênticas a elas próprias.

Para desenvolvermos estas capacidades temos de perceber que o organismo do corpo espiritual pode ou deve se tornar activo e que os sentidos puramente espirituais desenvolvem-se, tal como os sentidos corporais. E assim no mundo espiritual conforme os sentidos estão mais desenvolvidos assim se desenvolvem percepções específicas.

É pois muito importante a escolha das forças da alma que unimos no seio da nossa vontade mais profunda, ou seja, aquelas que nós identificamos ou unimos a tal vontade. Temos então que as proteger muito bem dos perigos que as ameaçam, dos quais um dos maiores é o conhecimento friamente objectivo cerebral da realidade, tão desenvolvido por alguns esotericistas, cientistas, materialistas...

Este trabalho de despertar tem  de ser já realizado em vida terrestre, e não depois de morrermos, começando-se a desenvolver o organismo espiritual substancial, tornando-o apto a vivenciar experiências pessoais. Podemos assim dizer que não é o Espírito que se desenvolve, mas sim o organismo espiritual, ou seja, a combinação alma-espírito individualizada em que nos tornamos e somos, a que corresponde o Jivatman, ou atman individualizado, da Índia...


Para isto temos de educar o corpo terreno para ele se tornar a expressão do espírito substancial que nos anima, sem cairmos nos extremos quer de procura só de prazeres e confortos corporais quer de mortificações exageradas, pois estas ao enfraquecerem o corpo e o cérebro podem provocar males, tais como alucinações e fantasias, e também passividade aberta a influências de subtis e quase desconhecidas entidades invisíveis, sempre desejosas de se alimentarem de seres humanos a elas abertos, algo disto sucedendo com os mediums no espiritismo, algo que entre nós portugueses, por exemplo, o próprio Fernando Pessoa praticou mas depois se alarmou e algo melodramaticamente renunciou...

Para se percorrer o caminho para o espírito é preciso muita paciência, e muitos erram quando pensam que podem galgar fases e chegar à meta muito cedo. A experiência do Espírito eterno substancial não se atinge em meses, antes implica uma determinação perseverante na qual a única violência que se pode exercer é contra os obstáculos que a própria mente e a personalidade criam a essa experiência.

Quando se chega ao fim do caminho percorrido passo a passo, esse caminho não será abandonado como qualquer coisa de que já não se precisa mais, mas torna-se a propriedade espiritual daquele que chegou ao fim da sua demanda.

Percorrer o caminho que permite chegar ao espírito é “andar” no tempo exterior, mas também no seu próprio espaço interior espiritual. E o que diferencia a progressão no caminho interior são estados ou estações de sensibilidade, os maqam tão tipificadas e desenvolvidas pelos filósofos místicos islâmicos, que se sucedem uns aos outros. E perante as dificuldades da ascensão só podemos dizer que uma certeza ou confiança tranquila e uma fé dinâmica na  própria força de cada um aproximam mais do fim supremo que as pressas, precipitações e crispações de vontade.

Ao longo dos séculos e em todos os povos sempre houve uma minoria de seres que conseguiram elevar-se ao conhecimento das realidades pré-existentes no Espírito Eterno, e que se tornaram discípulos ou iniciados pelos seus esforços.

Para além deles houve muitas pessoas que não deixaram atrofiar as forças com que organicamente se formou a alma, e que se mantêm abertas às forças da Anima mundi, ao oceano infinito das forças anímicas livres, ao omnisciente, omnisentiente e omnivivente Divino.

Não se trata dum inconsciente colectivo, como algumas escolas psicológicas nomeiam, mas do que a alma eterna sempre conheceu, mas que a consciência cerebral ainda não conhece. Devemos pois com perseverança apelar ao que é conhecido da alma, sem ter ainda atingido a consciência cerebral, se queremos abrir as portas de acesso ao espírito.

Quanto à expressão "substância espiritual" importa que cada vez que se fala do espírito substancial, - por oposição a uma concepção do espírito correspondente ao entendimento humano e aos produtos dos movimentos ou operações do cérebro – se compreenda por substância espiritual  que tal é o que há de mais real, ou seja, a plenitude de todas as forças do ser original!

Esta substância do espírito não está  fixa ou presa em nada. É, por essência, o que há de mais livre, não conhece qualquer obstáculo, é eternamente móvel, eternamente em movimento. Não é criada mas, sem intervenção particular da vontade, ela é dada unicamente pela presença do Ser Original, tal como é necessário designar, para o descrever, o mais íntimo do que É.

A verdadeira tomada de consciência na substância do Espírito eterno, situa-se sempre fora ou para além de toda a ciência ou comprovação científica e mesmo os mais vastos e mais elevados conhecimentos científicos não poderão aproximar o ser humano um centímetro que seja da experiência vivida do espírito substancial, algo que nunca será demais repetir perante tanto endeusamento da ciência, que tantas limitações têm, para não falar dos cientistas, frequentemente tão arregimentados...

O ser humano não pode ser ajudado directamente por nenhum Deus, mas somente pelo homem, e quando se trata de ajuda divina, unicamente por um homem que se tornou um transformador de forças espirituais substanciais. A ajuda espiritual que ele obtém então é proporcionada à sua faculdade de recepção e permanece assim até que possa viver nele próprio, no seu organismo espiritual desperto do seu estado latente, o que é do domínio do Espírito eterno e substancial.

Existem inumeráveis graus de desenvolvimento e isto é igualmente verdadeiro quanto à única experiência da Divindade que é possível ao ser humano e que é realmente autêntica, - a experiência que faz, no interior da sua alma, do seu Deus vivo.

Esta experiência única e verdadeiramente real de Deus, de Deus que não é somente o Espírito mas que pode-se dizer que é de certo modo a auto-criação  mais subtil do Espírito Absoluto, não está unicamente dependente do pleno desenvolvimento do organismo substancialmente espiritual, mas este já deve ter sido ou estar  desperto de maneira a poder fazer  brilhar na alma a consciência distinta do Eu espiritual, enquanto forma de experiência singular de todos os domínios eternos. Que um ser humano consiga vivê-la numa só vez, dum modo repetido, ou dum modo ininterrupto, só depende da pessoa, ou seja do desenvolvimento das suas possibilidades anímicas.»

2 comentários:

Maria de Fátima Silva disse...

Um texto excepcional, tudo é claro e consigo sentir a veracidade. Muitas graças Pedro

Pedro Teixeira da Mota. disse...

Bom, Fátima. Boas inspirações e realizações!