terça-feira, 8 de junho de 2021

Da memória silenciosa da mina de São Domingos, Alentejo, em Junho de 2021.

A mina de São Domingos, no Alentejo, concelho de Mértola, formou-se geologicamente há cerca de 350 milhões de anos e viveu discretamente até começar ser exploradas nos dois últimos milénios, e mais particularmente a partir de 1858, quando se estabeleceu a extracção industrial dos minérios, com electricidade, vagões e até caminho de ferro de 15 km até ao pachorrento rio Guadiana

O material extraído, a céu aberto, no tempos dos fenícios, cartagineses e romanos foi mais o ouro, a prata e o cobre  e depois sobretudo a pirite, com forte teor de enxofre, a galena, a blenda e a calcopirite, e durante uma centena de anos deu rendimento aos seus donos e ao Estado. Em 1965 foram desactivados os trabalhos por esgotamento do minério, já a ser buscado a 500 metros de profundidade, certamente com momentos dantesco ou pelo menos de perigosas derrocadas como ainda me narraram familiares de quem lá trabalhou. 

A degradação dos edifícios  foi depois rápida mas mesmo assim conserva-se hoje uma nobreza misteriosa, talvez associada à muita energia ali consumida na decantação dos minerais procurados e valiosos, numa febre interior e exterior que tanto queimou como purificou e uniu numerosas almas trabalhadoras, o seu carácter ígneo ainda se sentindo, sobretudo se a peregrinarmos nos meses quentes e caminharmos sobre as escórias do minério fundido e deixarmos a nossa imaginação intuir a vida que em toda a ampla zona se desenrolou.

Uma visita breve com a Alice Baptista, a ensinar e a morar em Serpa, em 5 Junho de 2021, levou-me a conhecer e a recolher estas imagens da paisagem fortissimamente intervencionada ou mesmo esventrada pelo homem e oferecendo-nos espelhos de água da sua grandeza e miséria, ou talvez mais até da fugacidade e transitoriedade da vida manifestada neste plano físico da existência cósmica, tão reflectida nos azuis do céu e da lagoa, questionando-nos mesmo: - O que extrairemos da combustão da nossa vida? O que resultará de valor eterno? Quantos restos, ruínas, charcos, incompletudes? Que futuro espera a Humanidade nestes tempos de tanta opressão e manipulação dos seres?

Avancemos e não tenhamos medo de confrontar as sombras ameaçadoras actuais, armados da nossa aspiração ardente à verdade, ao bem, ao belo, à liberdade, nas esteira dos ideais que nortearam alguns dos poetas e trabalhadores, idealistas e amantes, que nestas fornalhas arderam...










Há uma certa religiosidade ou espiritualidade no ar, na terra, nas escórias vulcânicas, no lago iridiscente, nas falésias e esporões, e sobretudo nos edifícios em ruínas, ainda conservando certa grandeza e geometria sagrada, arcos, nichos e óculos ou olhos, assinalando no erguer e  passar do tempo da História como devemos ser bem responsáveis dos nossos actos, pensamentos, construções, intenções e realizações..


Quais entradas e saídas para planos mais luminosos ou subtis...

Os jogos de sombra e de luz também nos atraem e encantam, seduzem e iniciam neste tabuleiro de xadrez por onde peregrinamos no jogo da vida, lila, na tradição indiana, e na qual devemos buscar a iluminação, relativa claro, mas que nos abra para a Realidade consciencial e divina primordial e subjacente...








Descodificar os sinais, discernir muito da história intensa e difícil das vidas humanas no trabalhar da mina certamente exige mais estudo e horas de visita e de meditação e assim cobrimos este artigo sob o manto diáfano "Da memória silenciosa da mina de São Domingos", pondo-a sussurrar pelas imagens das configurações ou morfismos que as fotografias espelham e sugerem...







 





Assim na terra como no céu, as nuvens e o seres passam cruzam, transmitem, iluminam...








Um veio azulado que irrompe na encosta em grande parte sepultada pela escória mineral




A pequena pedrada no charco, de água algo acidificada, e que vai irradiar por todo o lago.... Assim na nossa mente e alma, os mantras ou orações curtas tanto ajudam a aquietar e ritmizar as ondulações mentais como a criar ressonâncias integradoras e iluminadoras em nós, no nosso campo psico-mórico, e no todo, na anima mundi, em que estamos interligados..




Que as cascatas das bênçãos espirituais e divinas nos inspirem e guiem sempre....

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