sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Dos Anjos tocheiros com e sem asas. Santuário de N. Senhora do Pilar, no afloramento granítico do Castelo de Póvoa de Lanhoso.

Os Anjos são em geral representados com asas em quase todas as tradições planetárias mas tal não aconteceu na cristã que no seu início  herdou a ideia dos anjos sem asas, tal como surgem no Antigo Testamento e  assim nas primeiras representações da arte paleo-cristã e nas catacumbas eles surgem como jovens mancebos. É possível que tenha havido também uma vontade de demarcação dos deuses, ou daimons, ou espíritos celestiais do Paganismo, que eram alados, e que rapidamente foram considerados infernais. Pobre do filósofo Sócrates, que escutava ou falava com o seu daimon, voz da consciência, génio ou anjo, tal como Plutarco e Apuleio e outros se interrogaram e desenvolveram posteriormente, numa questão mistérica que ainda hoje não está clarificada.
 Será a partir do séc. IV, provavelmente por o Paganismo estar praticamente vencido, que as asas passam a ser crescentemente a característica formal dos Anjos, embora ao longo dos séculos encontremos representações sem asas,  despidos delas, seja por simplificação e questões de espaço seja por outras razões ou intencionalidades dos artistas ou dos mandatários. 
Nestes casos passam os seus atributos de elevação, subtileza e protecção, tão evidenciados pelas asas, para outros aspectos ou símbolos que devemos então discernir, contemplar e com eles aprender e nos elevar. Os anjos apontam para seres e estados de consciência mais sensíveis, mais espirituais e portanto  estimulam-nos a sintonizar, alinhar e comungar com certas qualidades do espírito e do Divino, e com eles.
                                      
Este Anjo, na igreja-capela do santuário de N. Senhora do Pilar, qual coluna ou eixo do mundo,  dentro do recinto sagrado imemorialmente (com um castro muito próximo) que é o topo do  monte granítico onde se ergue o Castelo de Póvoa de Lanhoso, ao estar perto da bandeira de Portugal pode não só aproximar-nos deles como estimular-nos à nossa ligação ao Arcanjo de Portugal, ao Divino, ao Bem, ao Amor, em Portugal  e no Mundo, aqui sem dúvida tendo um seu pilar e eixo, um axis mundi...
E assim, pela nossa aspiração e devoção, em espiral, tal como indica o seu tocheiro luminoso, poderemos desabrochar as energias ígneas amorosas do íntimo da alma espiritual  para o para o alto e o divino em nós e logo para ambiente e Portugal.
Os Anjos portadores de fachos ou tochas, para além de na época (ou actualmente em certos casos com electricidade) serem utilizados para dar luz ao templo e às pessoas com velas (que podiam até ser oferecidas como graças desejadas ou obtidas), simbolizam além da nossa dimensão subtil ígnea, sobretudo quando empunham a cornucópia espiralada, que a abundância da vida, ou as forças pródigas da Natureza, tem o fim último de dar luz, ou mesmo arder e sacrificar-se pela fonte da Luz, a Divindade. Mas também nos lembram no dia a dia que não estamos sós e que os santos, mestres e anjos procuram inspirar, iluminar e apoiar os nossos esforços espirituais.
                                     
Quando entramos num templo, quando na nossa casa nos tornamos templos, quando construimos invisivelmente e adoramos no templo divino interno, ao quereremos cultuar Deus, comungar com o Anjo ou orar pelo bem de alguém e da Humanidade, devemos acender ou intensificar a Luz do Amor Divino, na qual os Anjos, melhor que nós, ardem, conhecem, desfrutam e partilham. Aum, Amen...
                                  
Esta luz amorosa é não só psíquica ou anímica, dos nossos sentimentos, pensamentos e intenções  e, portanto, energia subtil quase imperceptível  que emana de nós, mas também fogo que arde dentro de nós, e nomeadamente nos centros de força denominados chakras na tradição indiana que frequentemente surgem parcialmente assinalados na simbólica artística cristã, em especial na testa, coração e ventre.
                                      
Ora nos corpos visíveis e invisíveis destes Anjos tocheiros dois centros de força  surgem assinalados: a concha ou vieira da geração e da regeneração, sobre o centro do ventre, sede ou depósito de energias psico-físicas mais terrenas e de força e, à altura do coração, um colar com um berloque em forma da pinha da imortalidade, sugerindo-nos que os laços de amizade e de amor podem servir para a destilação maior da consciência imortalizante ou seja, que pela amizade, compaixão e amor  certos laços ascensionais se podem criar, certas realizações se podem alcançar, na vida terrena e que poderão estender no mundo espiritual.
                                    
Não iremos aqui filosofar sobre a ideia antiga da imortalidade condicional, que por exemplo Fernando Pessoa admitiu quando leu a obra de John Robertson sobre ela, nem do papel da saudade-aspiração na reconquista da ligação ao mundo espiritual e a Deus, mas apenas aludiremos a que a aspiração ao Amor divino e à Divindade e à Unidade é o melhor fogo para o destilar do elixir da imortalidade, o desabrochar do corpo espiritual consciencializado e unificado, no qual os anjos vivem tentando inspirarem-nos e apoiarem-nos nos momentos seja mais difíceis seja  mais luminosos, presencialmente ou por correntes divinas...
                                      
A cor de rosa da coração, o ar puro e inocente do anjo, devem inspirar-nos a renascermos sempre na nossa caminhada de auto-realização espiritual. E o tufo de cabelos ao centro-alto da testa, qual crista de galo crístico reluzindo ao Sol, pode ser também visto como um sinal de ligação ao alto, ao Divino e de alongamento da percepção subtil  e espiritual ...
                                        
Erga então perseverantemente ao longo do dia a cornucópia espirálica ou irradiante dos seus centros, capacidades e dons para o Divino e para a Humanidade, numa comunhão de Luz e Amor, harmonia e felicidade, na qual os Anjos vivem e que na Humanidade desejam implementar, sugerir, intensificar, dar a beber... 
Confiantemente, não se deixando prender ou enlear em tantos grupos e seitas, assembleias e igrejas, cabalices e esoterices, morra e renasça, sofra e purifique-se, interiorize-se e realize-se, abnegue-se e ame e religue-se mais à musica das esferas, ao campo unificado de eneria consciência, aos antepassados, aos Anjos, aos Santos e Santas, aos Mestres, à Divindade...
E se, ou quando, estiver no alto do grande afloramento granítico do  castro, castelo e igreja de Póvoa de Lanhoso expanda a sua consciência com vista quase infinita e comungue com os mundos e seres espirituais... 
Mundos espirituais, por Bô Yin Râ..

domingo, 20 de janeiro de 2019

Museu da Guarda: núcleo, exposições e Santa Rita Pintor. 19 de Janeiro de 2019.

Umas horas antes da «Conversa Aberta: "Santa Rita Pintor: 100 anos da sua Morte"», no dia 19 de Janeiro,  uma visita rápida ao Museu da Guarda, muito bem gerido e dinamizado pelo João Mendes Rosa e em profícua interacção com o notável vereador da Cultura, Vítor Amaral, a trabalharem também para a Guarda vir a ser Capital Europeia da Cultura 2027, proporcionou estas breves imagens e legendas.
Imagens de partes do núcleo museológico antigo.  E do III Salão de Outono, que tem estado a decorrer , destacando-se as exposições de escultura "Corpo Sólido/Corpo Aquoso", de Susana Miranda, a de fotografia «Cruciformes na urbe alta», do Fotoclube da Guarda, a de esculturas em ritual de um artista espanhol e, em colaboração com a Universidade de Salamanca, a de gravuras, resultantes de um curso de iniciação e de artistas.
E fotografias da exposição de obras de Santa Rita Pintor,  pano de fundo da «Conversa Aberta» em que participaram Vítor Amaral, João Mendes Rosa, um professor da Universidade de Salamanca, Guilherme de Santa Rita, Fernando Rosa Dias, João MacDonald, Luís Lyster Franco e Pedro Teixeira da Mota.
                                       
Pátio de entrada do Museu da Guarda, com imagem da escultura de Susana Miranda. Está instalado no que foi o Paço e Seminário Episcopal, do séc. XVII.
                                               
Um ídolo de fecundidade, talvez a peça mais emblemática do Museu.
                                                
Talvez pelo decorrer do tempo ou pelo seu contacto humano, surgindo com um dupla face.
                                                  
Não é uma Vénus de Milo, mas um belíssimo sílex talhado nas duas faces (biface), do Paleolítico, com cerca de 100.00 anos, embora na vitrine em réplica...
Da doçura do embelezamento, pelo árduo labor criativo dos artistas: quantos sentimentos e tactos tais metais e continhas coloridas, certamente bem viajadas, nos gostariam de transmitir?
                            
Argola ou víria lusitana em bronze, datada de 350 a 250 a. C.,proveniente de Póvoa do Mileu, Guarda, qual anel de amor perene.
                               
 O Tesouro do Passado e Memória, ou mesmo da Primordialidade, quem o demanda, quem gostaria mesmo de encontrar?
                                     
                                    
                                                
A célebre inscrição (aqui cópia) do Cabeço das Fráguas onde estão evocadas cinco deidades do panteão pré-romano: Trebaruna, Reva, Trebopala, Lebo, Icona Loimina..
                                          
Aras, pequenos altares de oferendas à Divindade, e às entidades invisíveis, familiares ou outras...
                                  
                                     
Da Serpente da Eternidade, ou dos reflexos luminosos no tempo e no espaço, ligando a Terra e o Cosmos, a Humanidade e a Divindade..
                                  
Foral da Guarda
                                          
"Sorri mais, está mais em amor e gratidão..."
                                                

                                        
O belo foral, manuelino, sobre pergaminho, da Guarda...
                                      
                                             
Demos graças à Divindade, estejamos em solidariedade sábia e amorosa...
                                    
                                            
                                             
                                               
                                     
Rainha Santa Isabel, derramando rosas do seu peito e ser
                                 
"Sintoniza e comunga mais com o alto e o Divino", diz-nos Santo António com os dedos e a flor desabrochada ao alto...
                                    
"Mistura um pouco de loucura na tua sabedoria", diz Horácio...
                                              
e o mocho de Minerva, vigilante sobre os ombros ou sombras dos livros...
                      
A modernista descrição de Santa Rita Pintor, como se chamasse Gervásio, por Mário de Sá Carneiro...
                                     
                
"Orfeu nos Infernos", um dos poucos e misteriosos quadros que escaparam à ordem dada ao seu irmão Augusto, quando Santa Rita Pintor partia deste mundo (em Abril de 1918), de queimar as obras que estavam em casa.
                               
Dois dos três desenhos-esboços de Santa Rita Pintor até agora desconhecidos do público, proveniente da colecção de Américo Marques, representado por sua mulher e filhas.
                          Um esboço, de Santa Rita pintor....
                                 
De José Gil:  o ser interrogando o seu percurso na vida
                                       
Algumas das obras expostas geradas no Curso de iniciação à Gravura
                                 
Gisele Antunes, Vítor Amaral, Luís Lyster Franco e Fernando Rosa Dias, em diálogo e contemplação.
                       
                                   
                                           
Num bom estado meditativo, ou seja, sentiente e consciente de ser um espírito para além de estar num corpo físico
                                           

                                      
Qual ressurreição das almas no ritual eterno da Primavera, com oferenda devocional à Força da Vida e à Divindade desconhecida...