domingo, 13 de novembro de 2016

Dia dos Cogumelos e Duendes na Herdade do Freixo do Meio. 5º Encontro do Outono 2016

Cerca de duas  centenas ou mais de pessoas convergiram para a biológica Herdade do Freixo do Meio, no Alentejo, não longe de Montemor-o-Novo,  em busca de um dia bem passado com corridas, caminhadas, provas de cães e rebanhos, vendas de produtos e comidas, palestra e debate e sobretudo uma demanda de cogumelos e anões por entre os vasto montado e salutares energias da Herdade, realizada com bons diálogos e momentos de solitude. 
Havia muitas crianças e conversou-se com algumas sobre  os espíritos da natureza e se eles existem mesmo, tal como a capa deste livro e algumas fotografias sugerem:
Quanya gente já viu os anões? Quanta acredita na sua existência?
Este cartaz estava no chão para as pessoas não se fiarem nele, pois as aparências iludem em todos os reinos e quem vê caras mas não os corações arrica-se a ser enganado. E entrar mesmo no coração ou na essência dos cogumelos não é fácil...
O Alfredo Sendim, alma e director dos projectos do Freixo, explicando a demanda micológica.
A Catarina, mulher do Alfredo, à direita, certamente outra alma angélica a abençoar a Herdade e a terra...
Futuros luminosos...
Um dos momentos mais impressivos foi a participação da tuna dos perus veteranos que vieram mais uma vez dizer em coro que praxes já não é com eles
Haverá cerca de centena e meia de variedades na Herdade. As fotografias que se seguem mostram algumas
  Caminhos em s, espiralicos, serpentinos, energetizantes, infinitizantes....
Lux Dei
As bolotas de que a Herdade faz o seu famoso pão, que comercializa no Mercado da Ribeira, associaram-se a esta esbelta cogumelica entidade solar
Terra profunda, corações ardentes
Um espírito da natureza parece ver-se no cogumelo da direita
O diálogo entre o cogumelo e a pedra por vezes quase que petrifica o cogumelo
Não havia muitos avermelhados, um rosa suave por vezes tocava-nos

Árvore bem animada e com algumas faces de espíritos da Natureza
Acariciar, comensurar...
Uma rara fada dos cogumelos
Uma aparição shamânica que só eu fui testemunha...
Cogumelos divertidos
Um espírito da natureza, com as habituais ligações aos animais da região, manifestando-se numa parte de um cogumelo
Casas de anões, saudações...
Pequeno oceano de neve
Ondulações verdes
Pedra, árvore e os cogumelos aproveitantes
Cogumelo carneiro
Cogumelo livro ou esfoliado...
Árvore seca mas ainda dialogante...
Regressando luminosamente à cidade...
Um casal muito especial...
 
Danças dialogantes entre as dríades
Recolhas, ou da vida transitória dos cogumelos. Quanto aos anões, terão ou não apreciado tanta recolectagem, ainda que bem retirada e tratada (terra calcada) para permitir o ressurgimento deles?
Quais conchas do Oceano.. 
Entre a vintena de participantes, duas bancas vegans destacavam-se na oferta de alimentos e de produtos. Esta é a do Projecto Romã, da Tatiana e do Cláudio, já com muita experiência e em busca de uma  nova terra ou quinta. Magníficos os queijos de caju-amêndoa-óleo de coco-especiarias, e que foram o meu almoço, com um bom copo probiótico.
Uma das sábias explicadoras das variedades e comestibilidades micológicas, com um simpático casal e suas duas filhas recolectoras.
Um cogumelo cortado que se mancha de vermelho, ou do sangue vegetal, da sua evolução e potencial, sinal. E nós, se cortados, de que cor está tingida a alma?
Tau, ou duplo machado, a sangrar,
Almas bem entusiastas da música órfica, a que abranda as feras, amacia os penedos e abre os corações, aqui numa cantiga ao desafio...
Ainda houve o excelente rancho de Montemor a bailar, mas já a bateria estava a falhar....
A Lua Cheia ainda se deixou fotografar quando estávamos a começar a deixar o reino encantado do Freixo do Meio, lembrando-nos que no meio está a virtude e que a Lua segue o seu caminho bem acima da mutabilidade conflituosa humana e que  Dona Luna deve estar bem viva em nós...

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Livros antigos belos, sábios, raros e valiosos em exposição para leilão na Livraria Ecléctica.

                          
Livros antigos belos e sábios, raros e valiosos em exposição.
Realiza-se no dia 9 de Novembro pelas 19 horas um leilão de livros na Ecléctica Livraria Alfarrabista, sala de Leilões na Trav. André Valente, 26, Lisboa. Tel. 968088216.
Pela sua insigne beleza e substância reproduzimos algumas obras com a autorização do Nuno Gonçalves, autor do magnífico catálogo.

Destacaremos:
nº 2 de Pedro de Alcalá, a Arte para ligeiramente saber la lengua raviga emendada y anadida... Granada, Juan Varela de Salamanca, 1505.
Obra que assinala o universalismo da época e do 1º arcebispo da cidade de Granada (reconquistada em 1492), o humanista Hernando de Talavera,  que aprendeu o árabe e fez que surgisse esta gramática.
nº 6 A Elegia à deplorável morte do insigne poeta Manoel Maria de Barboza du Bocage, por Manuel Pedro Tomás Pinheiro e Aragão. Lisboa, Impressão Régia, 1805. Já que deixaram os ossos de Bocage ir para a vala comum fiquem-nos ao menos alguns prantos d de amigos na ocasião da sua partida para os Campos Elíseos.

nº 27  As Imagini delli Dei de gl'antichi, de Vicenzo Cartari. Venetia, 1647, muito ilustrada com imagens dos deuses e deusas das diversas religiões, com maior ou maior fidelidade, mas com bastante conhecimento nos deuses e personificações greco-romanos.

nº 32. As Epistole et Orationes de Cataldo Sículo, impresso em Lisboa, por Valentim Fernandes, em 21 de Fevereiro de 1500, contendo várias cartas para D. João II e D. Manuel e para outras personagens importantes da época.
nº 43. Uma das obras consideradas das mais belas e profundas de sempre da História do Livro e da Psique humana é a atribuída ao frade Francesco de Colonna e intitulada Hypnerotomachia Poliphili, traduzível por O Sonho de Polifilo, ou ainda A Batalha Onírica de Polifilo, aqui na sua primeira edição, Veneza, pelo famoso  e sábio impressor Aldo Manucio, em 1499. Narram-se os amores e aventuras de Polifilo e Polia, em sonho, com belíssimas imagens amorosas, arquitectónicas e de procissões alegóricas. Aldo Manúcio recebeu Erasmo durante alguns meses e obrigavam-se a falar em grego, sob pena de pagarem alimentos para os convívios da academia aldina de impressores e escritores, todos eles humanistas em grande camaradagem.
nº 69. De Robert Holcot, o Super Librum Sapientie. Basileia, 1489. Um incunábulo, livros publicados na cunha ou berço da tipografia, de comentário ao livro bíblico da Sapiência.
nº 86. De Raimundo Lulio,  Arbor Scientia venerabilis celitus illuminati patris... Lugduni: opera Gilberti de Villiers, 1515.
nº 92. Calendário e Regra de S. Bento, manuscrito iluminado de finais do séc. XIII, a 1ª parte e a 2ª parte do séc. XV, realizado por Frei Pedro de Salamanca, no mosteiro de S. João de Tarouca, perto de Viseu.
nº 117 de D. Leonor de Noronha, a Coronica Geral Marco Antonio Locio Sabelico des ho começo do mundo au nosso tempo. Coimbra, João Alvarez e João Barreira, 1550-1553. Humanista, discípula de Cataldo Sículo, traduz do latim esta Crónica ou História do mundo, muito assente nas lendas bíblicas e nos cronistas grecos-latinos; obra de grande labor de D. Leonor.
nº 119. De Cesar Oudin, Refranes o Proverbios Castellanos. Traduzidos en lengua Francesa. A Paris, Pierre Billaine, 1624. A sabedoria paremiológica castelhana em edição bilingue.
nº 122. De António Pinto Pereira, História da India no Tempo em que a Governou o VisoRey Dom Luis de Ataide. Coimbra, na impressam de Nicolao Carvalho, 1616. Cerca de 400 páginas dedicadas ao vice-reinado de um dos grandes heróis e estrategas da presença portuguesa no Oriente.
nº 123. De Fernando Pires, a Cronica da fundaçam do moesteyro de san Vicente dos cónegos regrantes: da hordem do aurelio doctor scto Augustinho, em a cidade de Lisboa. Coimbra: Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, 1538. Um dos poucos livros quinhentistas impressos no mosteiro conimbricense de Santa Cruz, o frontispício e a última folha com xilogravuras belas.
nº 140. De Hartmann Schedel, a famosa Crónica de Nuremberga, Registrum huius operis libri cronicarum cum figuris et ymagibus ab initio mundi. Nuremberg: Anthon Koberger, 1493. Obra chave do séc. XVI  ao narrar a história do mundo, com mais de 1800 gravuras no seu interior, uma obra prima para a época, certamente com bastante irrealidade ou pouca fidelidade em muitas das personagens ou cidades representadas, tal como a de Lisboa, pela 1ª vez  em gravura.
nº 149. As Relaciones de Pedro Teixeira d'el origem, descendencia y sucession de los Reyes de Persia, y de Harmuz, y de un viage heccho por el mismo autor desde la India Oriental hasta Italia per tierra. En Ambres: En casa de Hieronymus Versussen, 1610. Importante clássico da literatura de viagens na época dos Descobrimentos, muito apreciado pelas descrições pioneiras das gentes e da história Persa, por um português.


Antero de Quental e Jaime de Magalhães Lima. Carta de 13-X-1886. Lida, e em vídeo

Na arejada ou mesmo ventosa mas tão simpática Vila do Conde, em 13 de Outubro de 1886, Antero de Quental, imaginamos que sentado à sua secretária, ou de pé, escreve a Jaime de Magalhães Lima a agradecer-lhe a sua apreciação do novel livro Sonetos, tecendo algumas valiosas considerações não só auto-biográficas como também futurantes  para a Tradição Espiritual de Portugal, na qual participamos e temos o nosso ser, em especial quando escreve: «Outros virão, cheios de uma vida fresca e ágil, receberão sem esforço o tesouro do novo Idealismo, tão dolorosamente desentranhado das profundezas da Razão, por nós outros, seus antecessores; e, ricos sem trabalho, poderão ser pródigos de cantos, fecundos como tudo que brote fácil e espontâneo...».
Em verdade, estamos pouco conscientes de como os que caminham nas sendas evolutivas da Tradição Espiritual Portuguesa têm uma dívida de gratidão bem grande e profunda pelos antepassados e antecessores, os quais desentranharam com dificuldades e lutas por vezes grandes o que para nós já é inato, natural e evidente, seja no domínio social, psíquico e cultural, seja no religioso e espiritual.
Pouquíssima gente tem percepção das finas camadas de ideias forças que compõem o ambiente anímico de Portugal e como nele se abrem, formam e crescem ou enfraquecem e morrem os psicomorfismos (as ideias e crenças que modelam as formas) mais importantes e necessários em épocas sucessivas e como cada geração se eleva à custa do sofrimento dos outros, não tendo já que repetir os mesmos erros ou fazer as mesmas batalhas...
Antero de Quental, tal como Jaime de Magalhães Lima, este um vegetariano, pacifista, agricultor biológico, amante das árvores, tolstoiano, foram seres muito empenhados em usarem o seu tempo terreno na busca e realização da Verdade (Magalhães Lima foi mesmo até à Isnaia Poliana, na Rússia, para dialogar com Tolstoi) e deixaram-nos múltiplos testemunho das suas realizações ou sinais das suas intuições e cabe a nós hoje avançarmos em sintonia com eles.
                                                               
Esta carta de Antero foi então lida e comentada em homenagem e sintoni
a com Antero de Quental e Jaime de Magalhães Lima e com a aspiração de clarificar melhor, para os portugueses (ou os que compreendem a nossa língua e cultura), a Tradição Espiritual Portuguesa e o Caminho espiritual presentes nestes dois nossos escritores, ainda hoje presentes subtilmente e dialogantes...
Link para o vídeo, já que o antigo surge como indisponível:  https://youtu.be/UnhPP_n0Yxk
                            

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Visita a Antero de Quental no jardim da Estrela no 1º dia de Novembro de 2016

Ida ao jardim da Estrela para comungar um pouco com a Natureza e em seguida visita à estátua de Antero de Quental no dia 1 de Novembro de 2016, com breve improviso relativo a este dia do Samahin, celtam de ligação entre incarnados e desencarnados, gravado no pequeno vídeo que se encontra no fim das imagens...

                               
Árvores que ligam o céu e a terra humildemente e a tempo inteiro, e que nos permitem encostar-nos, lermos, meditarmos e darmos-lhes graças lá para o alto, onde as folhas abanam levemente...
Como Antero de Quental nos diz: «o trabalho é santo, porque é o modo de amar da inteligência. Não sei ainda se é para isso que nos deixaram cair lá de cima sobre este planeta ridículo»
                    
Antero de Quental, no crepúsculo de todos os santos, na gruta anteriana do Jardim da Estrela lisboeta, recebe-nos, escuta os nossos pensamentos e sentimentos e fala-nos pioneiramente do campo unificado de energia consciência:«As obras do bem, ligadas indissoluvelmente à substância do Universo, absorvidas, desde o momento da sua produção, para nunca mais saírem dele, vinculadas, pela cadeia duma casualidade superior, a todas as suas evoluções através dos tempos, dos espaços, dos mundos, vão aumentar o tesouro da energia espiritual das coisas fecundá-las nos seus mais íntimos recessos e, sempre presentes, sempre activas, eternizam, nessa sua perene influência, a alma donde uma vez saíram. O Universo só dura pelo bem que nele se produz».
                  
Grave, o sonhador e pensador da Justiça, da Liberdade e da Verdade anima a estátua, e diz-nos: «o que nos salva é a obediência cada vez maior às sugestões daquele demónio interior, é a união cada vez maior do nosso ser natural com o seu princípio não-natural, é o alargamento crescente da nossa vida moral nas outras vidas não morais, é a fé na espiritualidade latente mas fundamental do universo, é o amor e a prática do bem, para tudo dizer numa palavra».
                          
Como que retraído na sua sensibilidade imensa, Antero de Quental contempla o estado do mundo moderno, e diz-nos: «sem paixão nem cegueira não há um único acto da vida real que não se possa fazer com um ânimo sereno e superior, conservando-se o espírito virado para a contemplação do absoluto no meio das ocupações mais estreitas e particulares do viver comum».
                            
No peito do ser humano está a potencialidade Divina, diz-nos Antero... Ou ainda: «Lá no fundo do seu coração há uma voz humilde, mas que nada faz calar, a protestar, a dizer-lhe que há alguma coisa porque se existe e porque vale a pena existir. Escute essa voz: provoque-a, familiarize-se com ela,e verá como cada vez mais se lhe torna perceptível, cada vez fala mais alto, ao ponto de não a ouvir senão a ela e de o rumor do mundo, por ela abafado, não lhe chegar já senão como um zumbido, um murmúrio, de que até se duvida se terá verdadeira realidade. Essa, meu amigo, é a verdadeira revelação, é o Evangelho eterno, porque é a expressão da essência pura e última do homem, e até de todas as coisas, mas só no homem tornada consciente e dotada de voz. Ouça essa voz e não se entristeça».
                   
Pela ética e justiça e pelo amor e a aspiração ressuscita, sê uma luz nas trevas! «Meu amigo, tenho visto que a mais árdua das ciências, a mais difícil das artes, não é a metafísica nem a poesia - é a Moral», lembra-nos ainda Antero
                      
Numa carta enviada de Coimbra em 7-VIII-1861: «Bem sabes: quem crê na Arte crê no belo, no bom, isto é, no Amor e em Deus, e com estes elementos pode tudo perder-se mil vezes, que mil vezes será tudo salvo. É por isso que tantas esperança ponho na arte; é já um culto antecipado da religião que ainda está por nascer para uma sociedade de que só por aqui terão alguns uma vaga intuição. Desses alguns quero eu ser, como tu és, meu apóstolo e precursor de novos mundos, como são todos os que, depondo ambições do dia, viram os olhos da sua alma para o horizonte longínquo, aonde tem de raiar a Aurora do Dia novo».
                               
Numa carta de 1884: «A nossa vida, verdadeiramente, é só a vida da nossa alma, do misterioso e sublime eu que somos no fundo: ora esse eu ou essa alma tem a sua esfera na região do impessoal: o seu mundo é o da abnegação, da pureza, da paciência, do contentamento, na renúncia do indivíduo natural e de tudo quanto o limita, algema e obscurece é que consiste a sua misteriosa individualidade»